Como esconder o filho do imperador - Capítulo 69
Velian, que estava de casaco e saindo pela porta do escritório, suspirou, olhando para o céu noturno cinzento e nublado através da janela.
Era uma noite sombria, com nuvens negras contra o céu azul índigo.
Velian estava pronto para voltar para a mansão, e balançou os ombros. Estava cansado, sem dormir e todo o seu corpo doía.
‘Ah, estou morrendo.’
Ele havia trabalhado horas extras por quatro dias e, aparentemente, teria que ficar acordado a noite toda amanhã.
Isso era terrível, e o que era ainda mais preocupante é o fato de que Astella iria para o interior amanhã.
‘Se Lady Astella for embora, Sua Majestade ficará irritado…’
A imagem do Imperador, que trabalhava com uma expressão desagradável, era terrível de assistir.
Velian suspirou para si mesmo.
‘Ah, eu realmente não quero ter que trabalhar amanhã.’
Ele engoliu um suspiro enquanto caminhava pelo corredor.
De repente, um criado apareceu do outro lado.
Ao ver o que estava acontecendo, ele notou que o imperador caminhava em sua direção.
─ Vossa Majestade?
─ Velian.
Kaizen olhou para ele e parou.
Ele se sentiu confuso. Estava confuso desde que deixou a mansão de Astella.
Tinha que estar equivocado.
O menino desmaiou com a bebida que deu a ele. Isso foi chocante o suficiente, mas Kaizen se sentia ainda mais confuso toda vez que pensava nisso.
Isso porque o que aconteceu hoje reviveu uma de suas memórias do passado.
‘Tenho certeza que isso já aconteceu antes…’
Astella não parecia se lembrar, mas Kaizen havia passado por algo semelhante.
* * *
Astella, de 12 anos, usava um vestido colorido adornado de joias como de costume, e como de costume perseguia Kaizen.
─ Vossa Alteza, onde está indo?
─ Só vou dar uma volta.
Astella sorriu brilhantemente e caminhou ao lado de Kaizen.
─ Então irei acompanhá-lo ao jardim.
Andaram pelo caminho do jardim juntos. Os servos e nobres que passavam pelas redondezas os cumprimentavam educadamente.
Alguns deles sorriram um pouco depois de abaixar a cabeça.
Era bonito ver como o príncipe de 12 anos era seguido pela pequena senhorita. Mas Kaizen estava realmente chateado porque Astella o estava seguindo.
Ele não teve escolha a não ser ir ao palácio da imperatriz viúva para livrar-se de Astella. A Imperatriz, que amava Astella, não a deixaria ir assim que a visse.
Ele pensou que poderia levá-la lá e deixá-la com a Imperatriz viúva. Já havia feito Astella cair nessa armadilha muitas vezes antes.
Mas hoje, até isso falhou.
─ A Imperatriz foi ao templo. Ela me pediu para recebê-los com bebidas quando viessem.
Disse uma empregada do Palácio Imperial.
─ Isso é…
As damas da corte do Palácio da Imperatriz Viúva trouxeram-lhes chá, biscoitos, docinhos e bolos com muito carinho para o jovem casal adorável.
Kaizen, incapaz de escapar, se viu forçado a sentar-se frente a frente com Astella no terraço do palácio da Imperatriz viúva.
Kaizen, que estava irritado, tomou apenas um chá gelado. Astella cortou cuidadosamente seu bolo de morango com um garfo.
Kaizen pegou um pedaço de bolo. Era um bolo colorido com várias frutas. Ele experimentou um pedaço, mas tinha um gosto azedo e sem gosto. E isso piorou seu humor.
Do lado oposto, Astella ainda estava muito cautelosa em não derramar qualquer coisa ou sujar seu vestido.
Era só comer um bolo, mas ela parecia fazer isso como se fosse um grande ritual.
Kaizen apontou para a torta azeda.
─ Astella, você deveria experimentar essa.
Era só uma piada.
A torta não estava boa, então ele queria que ela experimentasse também. Ele estava sendo rude.
Astella, que não sabia suas verdadeiras intenções, corou. Ela pensou que Kaizen estava cuidando dela e obedientemente colocou um pedaço de bolo em seu prato.
Mas em vez de comer, apenas olhou para ele com cuidado.
─ O que você está fazendo?
Astella olhou surpresa.
─ Eu estava olhando quais frutas tem nele.
─ Por quê?
Kaizen também examinou tardiamente o bolo.
Era apenas uma torta feita de frutas coloridas. Havia uvas descascadas, maçãs e ameixas.
Ele não sabia qual era o motivo de suas ações. Os pequenos pedaços de fruta se misturavam na torta.
Astella mordeu o lábio inferior.
Ela parecia envergonhada de dizer qualquer coisa, mas Kaizen não ligava para Astella.
─ O que há de errado com você?
Astella, que hesitou, conseguiu responder.
─ Eu só… eu estava com medo de que houvesse alguma fruta que eu não gostasse no meio.
Foi uma resposta patética.
Não era como peixes ou vegetais que têm uma textura estranha, as frutas não escondem nada além de seu sabor natural.
O próprio Kaizen não gostava de comer vegetais na época, mas as palavras de Astella, que estavam encobrindo o verdadeiro motivo, soaram patéticas.
─ Apenas coma. É delicioso.
Ele queria forçá-la a comer o que Astella odiava.
─ Sim, alteza.
Astella pensou que ele estava com raiva e rapidamente pegou o garfo. E comeu metade do bolo em um instante.
Kaizen, que perdeu o interesse, voltou o olhar para a janela.
No jardim, as frescas folhas azuis espalham-se como uma densa floresta. Ele bebeu o chá gelado enquanto olhava para a vista.
Ele podia ouvir uma voz lenta ao seu lado, que parecia que ia quebrar a qualquer momento.
─ Vossa alteza…
─ O quê?
Quando Kaizen olhou para ela com indiferença.
Astella, que estava sentada, caiu no chão.
Então as empregadas entraram, chamaram o médico e foi um desastre.
Astella de repente teve uma febre alta.
Depois de um tempo, o duque enviou um criado e uma carruagem para levar Astella.
Kaizen não conseguia entender por que Astella teve uma febre repentina e desmaiou.
No dia seguinte, o duque Reston explicou o motivo ao Imperador e à Imperatriz viúva, que estavam preocupados.
─ Foi simplesmente uma febre repentina, Vossa Majestade.
Disse o duque.
Astella adoeceu devido a uma febre repentina. O imperador e a imperatriz acreditaram nele sem mais dúvidas.
Kaizen achou um pouco estranho, mas não prestou muita atenção nisso. Depois de uma semana ou mais, Astella voltou ao palácio como se nada tivesse acontecido.
E Astella não ficou doente novamente depois disso.
* * *
Agora, Kaizen, que se tornou imperador, estava pensando naquelas memórias de muito tempo atrás.
Antes de encontrar Astella, não havia nada que o fizesse lembrar sobre o passado.
Sem os eventos de hoje, nunca teria me lembrado.
A imagem de Theor, que teve febre depois de beber o suco de frutas, trouxe de volta memórias dos velhos tempos.
Lembrando-se do acontecimento daquele dia, Kaizen percebeu tarde demais. Do que havia no bolo que Astella comeu naquele momento.
A torta de frutas também tinha Lichia.
Ela sentiu sua mente ficar em branco.
‘Há algo que eu deveria investigar o mais rápido possível.’
Kaizen virou-se para Velian e lhe deu ordens.
Ele sentiu que algo não estava certo desde que aconteceu no mercado noturno.
─ Investigue secretamente o nascimento de Theor.
* * *
Astella ficou acordada a noite toda perto da cama. Tinha que ficar de olho para ver se a febre de Theor não subia mais, então cuidou dele.
O médico disse que o menino havia tomado antitérmicos e que não iria piorar, mas Theor tinha apenas cinco anos.
Havia uma boa chance de que algo pudesse estar errado.
Ela ficou perto de Theor a noite toda e adormeceu por um tempo. Logo o sol estava aparecendo.
A alvorada branca filtrava-se pelas cortinas. Astella arregalou os olhos e se virou, sentindo algo estranho. Acordou e viu que cobertores quentes cobriam seus ombros.
─ Lady Astella.
Hannah estava ao seu lado.
─Hannah. Você já acordou?
Ainda era cedo de manhã, mas Hannah estava completamente vestida com seu uniforme. Inclusive o cabelo dela não estava bagunçado e ela ainda estava com a bandana na cabeça.
Astella notou que Hannah passou a noite cuidando dos dois juntos.
─ Lady Astella, preparei chá e sopa quente. Coma um pouco.
Hannah colocou uma longa bandeja com bules e tigelas de sopa sobre a mesa ao lado da janela.
─ Obrigada.
Astella se levantou de seu assento.
Enquanto caminhavam para a mesa, ela e Hannah trocaram olhares.
Os olhos de Hannah em Astella eram profundos e escuros. Ela lembrou que Hannah estava quieta desde a noite passada e apenas estava ouvindo os cuidados médicos de Theor.
Astella então percebeu…
Havia cinco pessoas que conheciam a peculiaridade de Astella.
Seu pai e seu irmão, seu avô materno, o Marquês.
E sua empregada Hannah, sua confidente mais próxima desde a infância.
Hannah ponderou calmamente em direção a Astella com seus olhos profundos.
─ Não farei nenhuma pergunta até que Lady Astella diga.
— Hannah…
Astela ficou sem palavras.
‘Posso contar a Hannah?’
A resposta já era conhecida pela própria Astella.
Hannah era a pessoa mais confiável do mundo.
Assim como seu avô, Astella a considerava parte de sua família.
─ Não consigo mais esconder. Hannah, é como você pensa.
Como esperado, os calmos olhos castanhos de Hannah ficaram surpresos quando Astella lhe deu a resposta definitiva