Como esconder o filho do imperador - Capítulo 65
Astella sabia qual era a causa das palavras do seu avô. Quando sua mãe deu à luz a Fritz, se debilitou, e já não poderia ter mais filhos.
Seu pai, o Duque, no entanto, ignorou a advertência do médico de não dar à luz a outra criança e obrigou a sua mãe a ter Astella.
‘Você tem que ter uma filha para que seja a imperatriz, portanto cumpra com o seu dever…’
Dizem que depois de tentar todos os dias, ela ficou grávida de Astella. O seu avô recomendou que ela não desse a luz à criança, mas sua mãe queria ter o bebê que já tinha em seu ventre… No entanto, ela morreu pouco depois de dar à luz a Astella.
Quando era menina, seu pai sempre dizia a Astella que sua mãe morreu por ela, razão pela qual ela deveria trabalhar duro e tornar-se uma grande imperatriz para assegurar de que a morte de sua mãe não fosse em vão.
Astella se sentia culpada pela morte da sua mãe, e seguiu as ordens do seu pai.
Seu avô, apesar de perder sua filha, não odiava Astella de forma alguma.
─ Vovô, não preste atenção e vá com Theor. Ele está me esperando sozinho debaixo da mesa do salão.
Astella estava preocupada de que Theor não aguentasse mais esperar e decidisse buscá-la.
‘Felizmente, quando Fritz esteve aqui, não houve problemas…’
O Marquês se virou rapidamente ao compreender o significado das palavras de Astella.
─ Está bem. Não vale a pena tratar com esse cara.
Quando saiu o Marquês, o duque de Reston olhou para Astella e franziu a testa.
─ Quem é Theor?
─ Acabou de falar nele, acaso nem sequer sabia seu nome? O filho de Sigmund, Theor.
O duque Reston estalou a língua como se estivesse ofendido.
─ Por que deveria lembrar o nome de um filho que contém a mistura de um sangue tão vulgar?
─ Quando terminar de falar, deixe as relíquias e vá embora. Antes que eu chame os empregados para te expulsarem.
Ele pensou que isso não foi uma ameaça real. O duque acreditou que, se dissesse algo mais, poderia tirar o verdadeiro propósito dessas palavras.
Ele fez um movimento com as mãos para ver se lia a verdade no rosto de Astella.
─ As relíquias foram trazidas aqui. Realmente isso é tudo o que te deram. As deixarei aqui, guarde-as ou pode jogá-las em uma esquina da cidade, faça o que quiser.
Logo chamou aos serventes que o acompanhavam.
Dois dos serventes saíram e trouxeram uma caixa grande que tiraram da carruagem.
─ Isso é tudo?
─ Acha que poderia ter escondido algo?
─ Você é quem os tinha depois de tudo.
O duque se surpreendeu ao ver que Astella respondia sem perder a compostura.
─ Você realmente mudou muito.
Kaizen também disse isso.
─ Então pensou que seria a mesma depois destes seis anos?
‘Não tem como as coisas não mudarem.’
Ela foi abrir a caixa, mas de repente entrou uma empregada da mansão.
─ Um presente chegou para você, Lady Astella.
─ Presente? Quem o enviou?
‘Kaizen me enviou algo outra vez?’
Havia deixado todos os vestidos e joias que recebeu de Kaizen no castelo de Dentz. Mas a empregada disse um nome completamente diferente.
─ É um presente do conde Ecklen para a senhorita.
─ Ecklen? O conde Ecklen? Por que está te enviando um presente?
O Duque perguntou de repente, furioso pelo nome de Ecklen.
‘Parece que eles não se dão bem.’
De qualquer forma, o conde Ecklen foi apoiado por Kaizen e se tornou o Ministro do exército. Não deveria ter uma boa relação com seu pai, que perdeu seu poder enquanto lutava contra Kaizen.
Partindo deste contexto, estas duas pessoas eram tipos completamente diferentes, pelo que pensou que era por isso que não se davam bem.
Astella deu uma resposta mordaz ao seu pai.
─ Não sei, o encontrei no templo e ele escutou que eu me iria amanhã. Parece que ele amavelmente decidiu dar-me algo.
O duque Reston pensou por um momento e perguntou de novo.
─ Disse algo mais?
─ O que mais teria que dizer?
A razão pela qual o oponente político de seu pai, o duque Reston, foi amável com ela foi porque conhecia seu avô.
─ Neguei sua visita, e parece que me enviou um presente.
Ele era uma pessoa muito amável. Quando estava em Dentz, ela conheceu seu filho adotivo, Serbel.
Serbel também tratou a Astella amavelmente e teve bons modos. Mas o duque Reston não pensava de maneira tão simples.
Seus pálidos olhos verdes, os mesmos que os de Astella, brilhavam com interesse.
Astella olhou para seu pai e o alertou.
─ Não sei o que está pensando, mas vou embora daqui amanhã, e não me importa o conde Ecklen nem ninguém…
─ Se precisa de dinheiro, te dou mais, então por que não fica por aqui um tempo?
─ Não, não preciso. Pai, volte para sua casa. Estou ocupada fazendo as malas.
A voz clara de recusa fez com que o duque Reston ficasse irritado. Mas Astella não se importou.
─ Sim, vai para algum lugar nos cafundós e viva bem com esse velho moribundo!
─ Não se preocupe. Serei muito mais feliz lá do que vivendo aqui com meu pai.
O duque olhou Astella, deixou o assento e se foi.
‘Não quero voltar a te ver.’
Astella ficou sozinha, e abriu a caixa que tinha os pertences. O primeiro que ela encontrou foi um quadro com uma imagem.
Era uma pintura de flores blancas de acácia. Era uma pintura que Astella desenhou e presenteou a imperatriz viúva.
‘Ela guardou.’
Recordava tê-lo pintado quando tinha dezessete anos. Não era uma pintura tão boa.
Os nobres das famílias aristocratas só aprendiam algumas artes por cultura. Mas não adquiriram habilidades profissionais como as de um pintor da corte.
No entanto, a imperatriz viúva amava tanto esse quadro que sempre o mantinha pendurado no seu quarto.
Sempre elogia as pinturas de Astella por sua delicadeza e lindas cores. Astella não sabia que a mantiveram até mesmo depois que ela se foi.
Astella tirou a pintura e a pôs sobre a mesa.
Toc. Toc.
Girando a cabeça para o som na parte de trás, viu um jovem de cabelo prateado que estava de pé junto à porta.
Astella se levantou e ficou surpresa.
─ Lorde Serbel?
Era Serbel, quem ela conheceu no baile de Dentz. O chefe dos cavaleiros de Lamberg, e filho do conde Ecklen, quem ela conheceu durante o dia.
Serbel a cumprimentou educadamente.
─É uma honra vê-la de novo, Lady Astella.
─ O que o traz por aqui?
─ Estou aqui para te dar um presente por ordens de meu pai.
‘Ah. O Lorde Serbel foi quem trouxe o presente.’
─ Pensei que ia para o norte.
─ Ah… sim, eu irei.
Serbel sorriu sem jeito enquanto tocava o queixo.
─ A ordem mudou repentinamente e regressei à capital.
─ Estou vendo…
O presente que Serbel levava era um livro que narrava a história do Oriente, forrado de couro suave, decorado com abóboras douradas e pequenas gemas entre a parte posterior e na capa.
─ Meu pai disse que queria te dar esse livro porque irá voltar para o campo.
Astella pensou que era um presente bastante considerado.
‘Creio que ele sabia que seria difícil e queria ajudar.’
Se ele tivesse enviado dinheiro sozinho ou joias, ela teria devolvido sem nem recebê-las.
Não podia aceitar as ouro de um homem nobre a quem mal conhecia. Mas se enviasse um livro como este, seria grosseiro não recebê-lo.
Também seria um bom acompanhante para a viagem.
Apesar das gemas na frente do livro serem pequenas, eram muito valiosas. Funcionariam como um fundo de reserva, podendo ser vendidas se necessário…
─ Meu pai me pediu que entregasse este livro à Lady Astella.
─ Diga-lhe que estou muito agradecida.
─ Fico feliz de ter cumprido meu dever.
Serbel tinha um sorriso agradável.
‘Olhando de novo, ele é bonito.’
Astella havia ficado impressionada desde a primeira vez.
Era um homem bonito ao que não lhe faltava nada, nem sequer se comparava com seu irmão Fritz.
Era ainda muito mais jovem.
Serbel, que estava a ponto de baixar a cabeça, se deteve quando viu a pintura na mesa.
─ Isso é…
─ Oh… é uma pintura que pintei faz muito tempo.
─ Sim, eu sabia.
─ Você sabe?
‘Ele soube que pintei a acácia do templo e a dei para a imperatriz viúva?’
Era uma história famosa? Não era um segredo que Astella fazia pinturas para a Imperatriz viúva, mas também não era uma história tão popular, tanto que quase ninguém sabia.
Não era algo muito bonito para se propagar tão amplamente. Serbel sorriu e falou sobre o que aconteceu.
─ Fui candidato a cavaleiro faz uns sete anos e estava a cargo de proteger o templo.
Um candidato a cavaleiro. As crianças de famílias prestigiosas não passam por esse processo, simplesmente se tornam cavaleiros.
‘É porque ele não é de uma família de nobres.’
O conde Ecklen havia se mudado para outro país, o que havia sido difícil para seu filho adotivo chegar a uma boa posição.
Serbel falou com uma voz rouca e tranquila, enquanto recordava antigas memórias.
─ Então vi a senhorita Astella pintar este quadro no templo.
─ Ah, entendi.
Era uma conexão estranha.
Nesse momento, Astella estava focada na pintura, e nem sequer sabia que alguém a estava olhando. As pessoas da Santa Sede perambulavam pelo templo. Podia ser que a tivessem visto sem que ela se desse conta.
Astella ia dizer que era um lugar estranho para passear, mas o som de passos chegou pela porta.
─ Astella.
Do outro lado da porta aberta estava a pessoa a quem pertencia a voz.
Kaizen.
Nesse momento, Astella quase não o reconheceu. Kaizen levava um lindo traje com um fundo negro e bordado com seda dourada no pescoço e nas mangas.