Como esconder o filho do imperador - Capítulo 64
Aparentemente, Theor havia se familiarizado com os castelos, já que esteve dormindo e comendo neles desde que começaram sua jornada para a capital.
Antes disso, Theor nunca havia estado em um castelo ou palácio, somente os tinha visto de longe. Astella olhou para Theor e perguntou.
— Você gostaria de morar em um castelo?
— Sim. É legal, o jardim de lá é espaçoso, e sempre tem muita comida deliciosa…
Theor começou a listar os pontos positivos nos dedos.
— E Sua Majestade é muito gentil.
— …
— Você sabia, tia Astella, que dizem que todos os castelos em que estivemos são de Sua Majestade?
─ Sim.
Astella respondeu e olhou para Theor.
Como a lâmpada giratória, que passava de verde claro para azul na mesa, os olhos azuis de Theor mudaram para vermelho, e a luz brilhando neles não poderia ser ignorada.
Theor perguntou, tocando Levin, seu ursinho de pelúcia.
— O vovô disse que temos que sair amanhã. Voltaremos para algum castelo?
— Não. Agora vamos voltar para casa.
Ver os olhos de Theor voltarem à sua cor natural avermelhada a fez lembrar de Kaizen, que pediu para ela ficar aqui.
— Te amo. Me dê uma chance de compensar o que aconteceu no passado.
Se ela deixasse a capital, nunca mais iriam se ver? Ou eles se encontrariam novamente?
Para o bem e a segurança de Theor, ela preferia que eles não se vissem novamente.
‘Se o culpado da tentativa de assassinato for descoberto, é possível que tenhamos que nos encontrar de novo, mesmo que você não queira mais me ver.´
A única esperança que tinha era que já se passaram mais de 10 dias desde que o incidente ocorreu e as identidades dos assassinos ainda não foram identificados.
Foi uma sorte que todos os assassinos morreram no local.
Por causa disso, não foi revelado quem ordenou o assassinato.
‘Não é a primeira vez que meu pai deve ter tentado matar Kaizen, como disse o vovô. Ainda estou bem, então vou conseguir superar isso.’
Quando Theor viu a expressão de Astella escurecer, ele falou com ela, para tranquilizá-la
— Não se preocupe, mamãe… eu gosto dos castelos, mas ainda gosto mais da nossa casa.
─ Huum.
Um menino adorável. Theor era agora a coisa mais preciosa para Astella.
Ela gostaria de poder viver no interior, tão confortavelmente quanto eles costumavam fazer. Mas ela não achava que poderia ter aqueles momentos de paz novamente.
Astella suprimiu sua ansiedade, aproximou-se de Theor e segurou seu lindo filho firmemente em seus braços.
─ Não está com fome? Quer que eu traga bolo?
─ Sim! Eu quero um pouco de bolo!
─ Então espere aqui.
Astella colocou Theor debaixo da mesa e saiu.
Ela foi ao salão pegar bolo, de repente uma empregada veio correndo ver Astella.
— Senhorita, chegou uma visita.
─ Visitante? Quem é?
Era o Conde Eklen que ela conheceu antes no templo?
Ela havia negado a visita… mas da boca da empregada saiu um nome inesperado.
─ O duque de Reston veio nos visitar.
─ Quem?
Astela franziu a testa.
— O Duque Esteban von Reston está visitando.
Depois de ter sido abalada pela tentativa de assassinato há 10 dias, ouvir o nome completo de seu pai depois de tanto tempo lhe fez ferver de raiva.
Era óbvio por que seu pai veio.
Deve ser por causa dos pertences da imperatriz viúva. De qualquer forma, ela esperava enfrentá-lo de uma vez por todas. Depois disso, nunca mais queria vê-lo em sua vida.
‘Se ele veio pessoalmente, seria melhor se eu fosse vê-lo.’
─ Onde ele está agora? Por favor me guie.
* * *
Seu pai, o duque de Reston, estava sentado na cadeira da sala de estudos esperando por Astella.
Entrando pela porta do escritório, Astella parou ao ver o homem de meia idade com cabelos loiros sentado com um comportamento arrogante.
─ Faz muito tempo.
Seu pai, que não a via fazia seis anos, não mudou nada.
Embora ele parecesse um pouco mais velho do que antes, tinha feições limpas e uma aparência refinada em todo o corpo. Esse olhar arrogante, como se estivesse ignorando o adversário, era o mesmo de seis anos atrás.
Em sua juventude, seu pai foi um dos homens mais bonitos da capital, e agora que ele havia entrado na meia idade, sua aparência ainda era atraente para a idade.
‘É porque ele envelheceu sem sofrer?’
De repente, ela se lembrou do Conde Eklen, quem ela havia encontrado no templo.
Ele devia ter a mesma idade de seu pai. Mas ao contrário de seu pai, ela podia sentir que o fluxo do tempo tinha deixado sua marca nele.
O conde não projetava um espírito nobre como o de seu pai, mas sim uma impressão simples e sincera.
O Duque de Reston olhou Astella de cima a baixo, desenhou no canto de seus lábios curvatura em um sorriso e então se pôs a rir.
— Você parece uma camponesa. Se você já está tão velha, deveria cobrir as marcas do tempo com maquiagem.
‘O conde Eklen é muito melhor, sem dúvida.’
Era triste que uma pessoa que ela conheceu hoje a fez se sentir melhor do que seu
verdadeiro pai.
Astella perguntou sem rodeios.
─ O que te traz aqui?
─ Você esqueceu suas boas maneiras enquanto vivia no campo?
─ Tem muitas pessoas por aqui. Eu só vou manter a cortesia com aqueles que a merecem.
O duque simplesmente olhou para Astella por um tempo.
─ Mesmo com tal aparência, você ainda é tão orgulhosa.
Astella olhou para o pai.
Quando jovem, Astella obedeceu cegamente à vontade de seu pai.
Em qualquer caso, era dever dos pais escolher o casamento dos filhos de uma família nobre. E inclusive, era um costume que uma grande família nobre como a de Astella praticasse isso, então seu casamento foi decidido de acordo com os desejos de seus pais.
Por mais bonito que pareça um casamento arranjado, eles não eram nada mais do que
o caminho amargo de uma vida cheia de confissões vazias e sem amor.
Ainda assim, Astella achou que teve sorte. Ao contrário de outras jovens, ela amava seu noivo, Kaizen, com todo o seu coração.
Ela estava até grata a seu pai por comprometê-la com Kaizen.
‘Pensando nisso agora, eu fui tão estúpida.’
O duque zombou de sua filha que estava em silêncio.
— Ouvi dizer que você assinou a renúncia do testamento conforme ordenado pelo Imperador. Você não tem orgulho? Se eu fosse você, acharia melhor terem me matado.
─ Diferente do meu pai, acho que é um desperdício morrer por apenas uma assinatura.
Astella sorriu um pouco, amargamente.
— Tenho que sair amanhã, então não tenho tempo para conversas inúteis. Eu gostaria de dizer algo para você rapidamente e voltar.
─ O que é?
─ Ouvi dizer que você está com os pertences da Imperatriz. Eu sei que você estava pensando em me pedir algo usando isso de pretexto.
Se não fosse por esse propósito, ela tinha certeza que seu pai não os teria guardado. Muito provavelmente ele já os teria vendido.
Astella conhecia bem o pai. E podia entendê-lo porque viveu toda a sua vida com ele.
‘Meu pai é o tipo de homem que guardaria qualquer coisa que possa ser uma fraqueza
para os outros no futuro.’
Ele devia ter guardado os pertences da Imperatriz Viúva porque pensou que eles seriam uma fraqueza para Astella.
No entanto, Astella não pretendia fazer o que seu pai queria em troca dos pertences.
─ Eu não vou mais fazer nada por você, se é isso que você pensa. Traga as relíquias da Imperatriz e mande entregar aqui na mansão.
─ Você disse que me denunciaria se eu não os devolvesse? Certo?
Era uma zombaria, mas os olhos verdes claros do duque brilhavam.
Mas os olhos de Astella se encheram de raiva.
─ Você ousa dizer isso ao seu pai.
─ É óbvio, você não sabe? Se você tem as coisas de outra pessoa e não as devolve, isso faz de você um ladrão… E posso denunciá-lo.
Astella respondeu calmamente.
— Acho que você não quer ser acusado e humilhado pela sua filha. O que você vai fazer se
perder o emprego hein? Dessa forma eu não acho que você pode defender seu orgulho.
Nesse momento, o rosto elegante do duque estava distorcido pela raiva. A maior fraqueza de seu pai era perder. Cada vez que achava que detectou a fraqueza da outra pessoa, a usaria contra a mesma.
O furioso duque olhou indignado para Astella. Uma voz com ódio saiu de sua boca.
─ Como você ousa… Você é apenas a Imperatriz que foi expulsa da noite para o dia…!
Assim que Astella tentou responder aos comentários ofensivos de seu pai, alguém abriu a porta e entrou.
Era seu avô materno, o Marquês de Calenberg.
─ Avô.
Duke Reston sorriu e levantou a cabeça.
─ Ah, faz muito tempo que não te vejo.
Ele olhou para o duque com desprezo e cuspiu palavras amargas.
— Você já está tão velho assim e ainda sem modos?
─ Não entendo. Um homem que teve a filha de outra pessoa escondida por seis anos, sem nunca entrar em contato com o verdadeiro pai para avisá-lo, ainda se atreve a falar sobre boas maneiras?
O duque respondeu, sem perder a sua frieza. O marquês franziu a testa cada vez mais diante das suas palavras.
─ Por que eu deveria dizer a você que Astella estava comigo? Eu ouvi que você rompeu relações com ela e a expulsou da mansão. Por que, agora que você perdeu o poder, está tentando recuperar sua filha e tirar vantagem dela?
Ao tom sarcástico do Marquês, o Duque de Reston atirou nele um olhar desdenhoso.
— Bem, agora que penso nisso, Astella é mais necessária para você do que aqui comigo. Você é apenas um velho que perdeu o emprego e depois perdeu os seus filhos, e depois seu neto. Pensa que ainda terá muito tempo para viver?
O Duque zombou do Marquês e sorriu descaradamente.
─ Oh, sim, eu ouvi que Sigmund te deixou com um bastardo de uma criada. Suponho que quer que minha filha crie esse projeto de criança, e por isso quer levá-la com você.
As palavras foram ficando mais duras, o Marquês de Calenberg não as suportou. Sem dizer uma palavra, ele se aproximou do Duque em um único passo.
Embora velho, o Marquês ainda tinha a dignidade de ter comandado um exército de uma geração antiga. O duque de Reston deu um passo para trás com um olhar sombrio.
O Marquês, que se aproximou dele, disse com um olhar amargo de ódio.
— Se você não fosse o pai dos meus netos, eu teria te matado quando minha filha morreu. Como bem disse, eu não tenho mais muito tempo de vida, então eu me sentiria bem se pudesse te matar e depois morrer.