Como esconder o filho do imperador - Capítulo 63
─ Lembro da resposta que te dei antes.
Tinha um olhar de autocrítica no seu belíssimo rosto.
─ Eu…
Os olhos poderosos de Kaizen estavam terrivelmente enfraquecidos.
─ Por acaso também não me é permitido nem dizer que me arrependo do que te causei?
Havia uma dor na sua voz profunda. Astella ficou um pouco envergonhada.
─ Por que você diz isso?
Kaizen começou a rir, no lugar de se irritar.
─ Não sei…
Kaizen, que desde jovem começou a ser educado para se converter no futuro Imperador, nunca se permitiu ser influenciado desse modo por suas emoções. Cresceu pensando em política e poder.
Foram essas as razões políticas pelas quais ele deixou Astella assim que virou Imperador. Mas agora, Kaizen lamentava sinceramente o que fez naquela época.
─ Não imaginei que teria esse sentimento por alguém…Nunca me senti assim por ninguém.
Era um sentimento complexo e confuso, que vencia o seu ego. Até em momentos assim, ele não queria admitir ou acreditar, mas agora podia dizer claramente uma coisa.
─ Te amo, Astella. Me dê mais uma oportunidade para compensar o que aconteceu no passado.
Astella ficou sem entender nada, escutando a sua sincera declaração.
‘Não posso acreditar que esse homem pode fazer essa expressão.’
Foi surpreendente e impactante. Ela não esperava que ele expressasse seus sentimentos com um olhar tão desesperado, por mais que tivesse descoberto que ele a amava na noite da tentativa de assassinato. Não podia acreditar que ele também tivesse um lado assim.
Sentiu que estava vendo algo surpreendente. E estaria mentindo se negasse isso. Astella sabia que Kaizen não tinha nenhuma razão para lhe sussurrar um falso sentimento de amor.
Mas não acreditava que seus sentimentos fossem tão profundos. Poderiam ser só uma emoção do momento. E não queria se apegar à esperança dessas emoções, que podiam ser passageiras.
─ Sinto muito, Vossa Majestade.
Astella respondeu com calma a Kaizen, que a olhou com olhos desesperados.
─ Aqui não é onde eu pertenço.
Ela pensou ter escutado um suspiro, que não sabia se era de tristeza ou de resignação.
Kaizen olhou fixamente Astella. Parecia querer dizer outra coisa. Mas no final, ele não conseguiu dizer nada.
Se virou e falou calmamente.
─ Enviarei uma carruagem e um guarda amanhã de manhã… Se precisar de mais alguma coisa, peça ao mordomo responsável.
Astella deu um último agradecimento a Kaizen, que se virou fracamente.
─ Obrigada, Majestade.
* * *
─ Lady Astella.
Alguém chamou Astella, justo quando estava a ponto de sair do templo. Era um aristocrata de meia-idade. Tinha longos cabelos castanhos e caminhava em sua direção.
Ele foi um dos ministros que viu quando ela assinou o testamento no templo.
Embora fosse mais velho, ele tinha um rosto bonito. Uma pureza estava gravada em seus olhos.
Ele curvou-se educadamente na frente de Astella.
─ É uma honra conhecê-la, Lady Astella.
─ Me perdoe, mas quem é o senhor…?
─ Ah, me desculpe. Minha apresentação está atrasada. Eu sou o Conde Ecklen. Sou o Ministro de Assuntos Militares do Exército.
Conde Ecklen, Ministro dos Assuntos do Exército, padrasto de Serbel…
Astella curvou ligeiramente os joelhos e o cumprimentou.
─ É uma honra conhecê-lo. Eu ouvi muito sobre o senhor do meu avô.
‘Esse homem era o ajudante do avô. Entendo.’
No entanto, a atitude de seu avô em relação a essa pessoa foi um pouco duvidosa. A caminho da capital, Astella perguntou ao avô por que ele teve tal reação ao ouvir o nome do conde Ecklen.
─ Ele era apenas meu assistente, mas cometeu alguns erros e eu o demiti. Não é que as coisas tenham acabado mal, mas essa memória ficou comigo todo esse tempo.
Embora o vovô tivesse dito isso casualmente, Astella notou intuitivamente que havia mais histórias ocultas. Mas como foi há muito tempo e seu avô não parecia querer falar, então não fez mais perguntas.
O conde Ecklen perguntou sobre seu avô com um olhar preocupado.
─ Como está o Marquês, seu avô? Ouvi dizer que está doente.
─ Ele agora já recuperou completamente sua saúde.
‘Ele nunca esteve doente, na verdade.’
─ Isso é um alívio. Eu queria visitá-lo e cumprimentá-lo de qualquer maneira. Se não se importa, posso visitar a mansão onde vocês estão hospedados?
Astella, com a consciência pesada, pediu sua compreensão.
─ Obrigada, mas vamos sair cedo amanhã de manhã, e acho que não podemos lidar com os convidados hoje, já que precisamos fazer as malas. Sinto muito.
─ Oh… bem, então não se pode evitar… Não, não se preocupe.
O conde Ecklen tranquilizou Astella, dizendo que estava bem e que entendia. Sua impressão e comportamento eram simples e tranquilas.
‘Parece um bom homem.’
Seu avô lhe contou algumas coisas boas sobre esse homem. Que era bom em esgrima e de bom caráter, não era de uma família de prestígio e, quando jovem, ia sempre para o campo de batalha.
Mas, por algum motivo, seu avô parecia se sentir muito desconfortável com essa pessoa. E parecia que não queria se reunir com ele.
‘Eu prefiro não convidá-lo.’
─ Fiquei sabendo sobre a pensão. Estou neste posto e não sabia… Se soubesse, teria falado com Sua Majestade e ele teria devolvido a pensão dele. Foi realmente vergonhoso.
Ela originalmente pensou que tudo isso era uma mera cortesia, mas o conde Ecklen pareceu expressar seu mais sincero pedido de desculpas.
─ Não. De qualquer forma, cuidar das pensões é assunto para funcionários administrativos. O Ministro dos Assuntos Militares não se pode dar ao luxo de cuidar de tudo isso.
Como o avô dela não contou a essa pessoa, parecia que o relacionamento deles realmente estava fragilizado.
Apesar de ter sido negada a visita, o conde Ecklen fez uma oferta amigável após dispensar Astella.
─ Vou levá-la em minha carruagem.
─ Obrigada, mas posso caminhar. Na verdade, eu caminhei até aqui quando vim.
A mansão onde Astella estava hospedada ficava próxima.
Poderia ter chegado lá se caminhasse um pouco. Mas o conde pediu a Astella que o acompanhasse na carruagem.
─ Não posso deixar você ir sozinha. Para sua própria segurança, vá com a carruagem.
Dizendo isso, ordenou que trouxessem a carruagem. Ele mesmo abriu a porta da carruagem antes que o criado o fizesse.
Era embaraçoso recusar tal oferta. Com isso, Astella foi forçada a ir na carruagem.
─ Obrigada.
Com isso, Astella voltou para casa em sua carruagem.
* * *
A tarde já tinha terminado quando chegou na mansão. Ela estava tão cansada por ter levantado cedo e por ter que ir ao templo. Mas se sentia à vontade, pois agora que a questão do testamento foi encerrada, poderia sair amanhã de manhã.
─ Lady Astella. Como está?
─ Bem. Hannah, onde está meu avô?
─ O senhor está na biblioteca.
Tinha que dizer ao vovô que as coisas já foram resolvidas e que o testamento estava concluído.
Astella tirou o casaco e foi para a biblioteca. Seu avô estava procurando algo entre os livros.
─ Vovô, o que você está procurando?
─Astella. Você voltou…
O Marquês Calenberg olhou por trás da cortina e viu Astella se virar.
─ A questão do templo ocorreu bem?
─ Sim, está tudo acabado agora. Inclusive recebi a permissão de Sua Majestade para partir amanhã de manhã.
Embora no último momento ele tenha pedido que ela ficasse. Felizmente, ela recusou, e então Kaizen desistiu.
‘Finalmente acabou. Agora podemos ir para casa.’
─ Eu estava brincando com Theor.
O marquês sorriu e olhou embaixo da escrivaninha.
Estava vazio lá também.
─ Theor está escondido. Devo encontrá-lo, mas esta mansão é tão grande que não consigo achá-lo.
Astella riu também.
Quando estava em uma casa de campo, Theor costumava jogar esse tipo de jogo.
A mansão de campo de seu avô materno era pequena e todos os quartos não utilizados estavam trancados, então Theor poderia ser facilmente encontrado em qualquer lugar que ele estivesse escondido.
Este lugar era grande demais para um jogo de esconde-esconde.
─ Vou encontrá-lo.
Indo para a próxima sala, Astella começou a vasculhar todos os cômodos do primeiro andar.
Enquanto vagava, encontrou Theor escondido debaixo da mesa da sala. Sobre a mesa, arredondada com madeira de mogno, havia uma toalha verde clara de linho.
Theor estava debaixo da toalha de mesa.
Astella levantou a toalha de mesa e o cão lá dentro latiu e sacudiu o rabo.
─ Tia Astella?
─ Theor, você estava escondido aqui.
Havia livros, vasos, tinteiros e bonecos decorativos sobre a mesa.
E de um lado estava Panqueca. O mesmo cheirava a soldados de brinquedo, eles estavam alinhados um a um como se protegessem algo misterioso.
Theor, sentado no meio da sala com um ursinho de pelúcia, se emocionou e disse.
─ Este é o meu castelo.
─ Castelo?
─ Sim. Esta é a muralha do castelo.
Theor apontou para os livros ao seu redor.
Os livros pareciam ser uma fortaleza defensiva própria. Astella sorriu e foi para debaixo da toalha. A mesa era tão grande que havia espaço suficiente para Astella se sentar.
Era bastante aconchegante sentar lá dentro.
Parecia uma das tendas de um acampamento.
‘O castelo dele…’