Como esconder o filho do imperador - Capítulo 62
— Obrigado por sua generosidade, majestade.
— E de agora em diante, espero que suas filhas não sigam os passos da mãe.
Um olhar inquieto se moveu sobre a mesa, diante da voz fria de Kaizen.
Todos os residentes daqui sabiam que Florin, da família Croychen, era a candidata mais provável para ser a Imperatriz. Os olhos violeta do marquês Croychen tremiam inquietos, já que o Imperador disse que não queria ver as filhas dele.
O marquês aceitou a ordem sem nem uma queixa.
— Sim, Vossa Majestade, minhas filhas não darão mais preocupações.
Mas além desse olhar assustado, frio e rígido, era difícil calcular os verdadeiros pensamentos do Marquês. Kaizen mantinha esse homem ao seu lado porque confiava na sua lealdade e inteligência, mas quanto mais o olhava cada uma de suas ações se tornavam mais e mais ambiciosas.
Estava agora mesmo tentando fazer com que Florin fosse a Imperatriz. Até pouco tempo, ele não tinha dado atenção à quem pessoas consideravam como candidatas para a nova Imperatriz.
Estava muito ocupado resolvendo os problemas que a guerra civil deixou no Império, e dirigindo assuntos estatais. Não tinha tempo para se preocupar com coisas como essa.
‘Florin é uma garota que apenas acabou de se tornar adulta.’
Aquela ação ambiciosa, feita através da primeira oportunidade, o fazia se irritar. Kaizen tinha a intenção de cortar tais ideias antes que tivesse um problema maior. Se ele se encarregasse da Marquesa e Marianne corretamente, o marquês não poderia empurrar Florin para ele. A reunião terminou rapidamente com um ambiente desconfortável.
* * *
— Vossa Majestade.
Depois da reunião, Velian, que voltou para o escritório, se aproximou cuidadosamente de Kaizen, que estava olhando seu trabalho.
— Majestade, realmente vai manter o assassinato em segredo e sem investigação?
Kaizen ordenou que não investisse a tentativa de assassinato que aconteceu no castelo de Dentz, e que mantivesse tudo em segredo. Então, o que aconteceu não foi divulgado à população da capital.
Kaizen respondeu sem afastar a vista dos documentos.
— Isso mesmo. Não deixe que a notícia vaze.
Se a verdade sobre a tentativa de assassinato fosse revelada, ele teria que castigar os envolvidos. No passado, teria identificado e executado os criminosos sem duvidar.
Teria ordenado que revelassem quem orquestrou tudo. Mas, agora, ele não podia castigá-los abertamente.
Se o verdadeiro culpado fosse revelado, Astella se converteria na filha de um traidor. E se isso acontecesse, nem sequer o Imperador poderia protegê-la completamente das acusações das pessoas, e tanto sua identidade quanto sua desonra seriam públicos.
Velian o observou, preocupado,mas Kaizen deu sua ordem firmemente decidida.
— A tentativa de assassinato nunca deve ser conhecida pelo mundo exterior. Mantenha as coisas estritamente em segredo.
* * *
No dia seguinte, Astella foi para o templo logo pela manhã.
O local ficava um pouco distante do Palácio Imperial. A mansão em que Astella estava hospedada era mais próxima do templo do que do palácio imperial. Como se fosse um tecido no fundo, o céu do amanhecer iluminava a água clara.
O templo estava em silêncio. Ainda era cedo, e não havia muitos visitantes. Astella desceu da carruagem, viu uma pequena flor e cuidadosamente moveu seus pés, para não pisá-la, e entrou no templo.
— Senhorita Astella.
— Passou muito tempo, Sumo Sacerdote.
O sacerdote já era um ancião e cumprimentou Astella com um sorriso de boas vindas. O velho sacerdote era próximo da Imperatriz viúva morta e era um homem que conhecia Astella desde a infância.
— Chegou cedo.
— Sim, queria me adiantar e cumprimentar o altar de Sua Majestade a Imperatriz viúva.
Astella disse, mostrando o ramo de flores que tinha trazido. Era um ramo de flores brancas de acácia, que tinha preparado na noite anterior.
— Como esteve? A imperatriz viúva estava realmente preocupada por você.
O sumo sacerdote sorriu. Astella caminhou com ele pelo caminho do jardim até o santuário. Caminharam pelo caminho de azulejos brancos que a Imperatriz viúva deixou.
—Sua Majestade, a Imperatriz Tar, me deixou o testamento e uma mensagem que dizia: “As terras do sul eram originalmente minhas, mas que nunca as governei com minhas mãos, nem uma só vez na minha vida…Vou dá-las a Astella”.
Ela se sentiu desolada quando escutou a última vontade da Imperatriz pessoalmente.
A Imperatriz viúva foi uma mulher dedicada. Ela nasceu como herdeira das terras do sul, mas foi obrigada a se casar e adentrar na família real quando era jovem, e nunca pôde governar sua própria terra.
— Ela disse que Astella era mulher inteligente e que sabia usar astutamente os termos e condições de um testamento.
— …
Devido a vontade da Imperatriz, ela tinha percorrido um longo caminho para chegar até aqui, e muitas coisas tinham acontecido no caminho. No entanto, apesar de tudo, Astella se sentiu agradecida com a Imperatriz viúva. Nunca tinha pensado que ela se preocupava tanto por ela.
Não tinha outra opção que lhe agradecer pelas intenções. Astella atravessou o templo e foi até a sala de consagração, onde estavam as cinzas dos Imperadores e Imperatrizes passados.Os restos da defunta Imperatriz viúva também estavam ali.
O guia, que a levou, se retirou em consideração a Astella.
─ Voltarei ao templo primeiro. Pode assinar o testamento no templo quando Sua Majestade chegar. Ele estará aqui a qualquer momento.
─ Sim, obrigada por sua orientação.
Quando entrou, ela viu uma estátua de pedra talhada de deus. De baixo, tinha um altar para se colocarem oferendas. Astella colocou o ramo de flores de acácia no altar elaboradamente lapidado.
Caminhou através da névoa matutina, mas as abundantes árvores cheias de pétalas brancas não estavam sendo perturbadas pelo vento.
─São flores de acácia.
Surpreendida pela voz repentina, ela se virou e viu Kaizen que estava parado atrás dela.
Kaizen se aproximou de Astella.
Ela lhe falou com cortesia e com a voz tranquila.
─ Sim, a Imperatriz viúva as adorava. O jardim deste templo está cheio de acácias brancas.
A Imperatriz viúva costumava vir aqui para rezar e ver o jardim coberto de flores brancas. Mas quando sua saúde começou a se deteriorar, não pôde vir aqui novamente.
Astella lhe desenhou um quadro de acácias, como as que enchiam o jardim do templo, e lhe deu de presente.
‘Ainda lembro claramente que a vovó estava encantada, igual uma menininha, depois de receber a pintura.’
─ Sim, ela gostava dessa flor.
Não foi somente porque ela gostava da pintura das flores. A razão pela qual ela ficou tão feliz foi porque era um presente de Astella. A Imperatriz viúva amava muito Astella.
‘Deveria prestar mais atenção em Astella.’
Cada vez que a Imperatriz viúva via Kaizen, ela lhe dizia essas palavras. Uma vez, inclusive expressou sua tristeza quanto a isso.
‘Astella é muito inteligente, mas não parece ser feliz.’
Nesse momento, Kaizen disse:
‘O que tem a ver comigo se Astella é feliz ou não?’
A Imperatriz viúva derramou lágrimas, dizendo que estava magoada pelas terríveis palavras.
Depois que o casal se divorciou e Astella deixou a capital, a Imperatriz viúva continuou insistindo que Kaizen averiguasse onde estaria Astella. Mas a Kaizen não lhe interessava isso. Apenas se sentia irritado pela inútil amabilidade de sua avó.
Naquele momento, estava tão ocupado lidando com a guerra que não tinha tempo para se preocupar com essas coisas. Mas agora Kaizen lamentava profundamente o rumo que tomou no passado.
Quando pensava nessa época, e nas vezes que as palavras de sua avó, que pensava em Astella como alguém importante, foram ignoradas por ele, um remorso amargo o invadia.
─ Vamos agora.Todos estão esperando na recepção.
─ Já? Não é muito cedo?
─ Adiantei as coisas porque você disse que chegaria cedo.
Os dois foram ao edifício principal do templo. Vários nobres e ministros os esperavam de antemão.
A metade deles não tinham vindo ver a assinatura do testamento, mas sim a antiga Imperatriz. No entanto, Astella não reconheceu nenhum deles – nem mesmo um lhe resultava familiar. Notou que as coisas tinham mudado desde seis anos atrás.
Astella parou na frente do altar e diante de todos. O sacerdote abriu os papeis diante de Astella.
─ Bem, assine a procuração.
O sacerdote lhe disse e lhe entregou uma pena.
Ela levou muito tempo para chegar até aqui, quando tudo o que ela tinha que fazer era apenas assinar um papel. Um documento no qual entregava a vontade da Imperatriz viúva e o seu direito no testamento ao Imperador. Tudo acabaria assim que o assinasse. Astella segurou a pena e realizou sua assinatura com a sua letra cursiva, tão bonita como as impressas nos livros.
O sacerdote que confirmou a assinatura, e lhe perguntou.
─ Realmente está de acordo com delegar toda a autoridade para o Imperador, sem nenhuma condição?
─ Sim, estou de acordo.
Ela simplesmente aceitou os termos do acordo.
‘Me devolverão a pensão do meu avô e obtive a permissão para sair da capital imediatamente. Isso já é tudo que quero.’
O sacerdote entregou os papeis ao Imperador.
─ Está feito. Agora, Sua Majestade se converteu legalmente no dono de todo o território do sul.
A papelada do testamento finalmente terminou. As luzes das velas que enchiam o santuário coloriam os arredores com um sutil tom de dourado. Astella observou Kaizen debaixo da luz das velas, e a noite da tentativa de assassinato lhe veio a mente. Não sabia porque tinha se sentido tão desconfortável depois daquele abraço.
‘Inclusive estivemos casados e tivemos a primeira noite.’
Ela esperava que as coisas não se complicassem mais, e por isso estava satisfeita que tudo foi solucionado de forma mais fácil do que havia imaginado. Astella saiu rapidamente do templo, antes de que alguém a detivesse.
Do lado de fora, estava um lindo dia. A trilha do jardim estava vazia, e estava tudo tranquilo e silencioso.
─ Astella.
Kaizen a seguiu.
─ Vai voltar agora?
─ Sim, gostaria de ir embora amanhã, se me permite.
Kaizen a olhou, com um olhar sério.
─ Não me é permitido te pedir para ficar.