Como esconder o filho do imperador - Capítulo 60
Ela pensava em ir embora que o testamento fosse resolvido. Kaizen já tinha dado a permissão para fazer isso. Mas como ocorreu a tentativa de assassinato, Theor se viu obrigado a vir para a capital.
Mas eles tinham que sair da capital o quanto antes. Por isso, Astella não se importava aonde teriam que ficar pela breve estadia. Ao entrar na mansão, ela se surpreendeu.
— Isso é demais…
‘Só ficarei por mais ou menos dois dias.’
O interior da mansão era ainda mais deslumbrante que o exterior. O piso era de mármore reluzente e um impressionante candelabro estava pendurado no teto. Várias esculturas e ornamentos exuberantes decoravam o lugar. Era ainda mais colorido e luxuoso que o castelo de Dentz, onde ela esteve durante algum tempo. O lugar era tão luxuoso que não parecia ser a mansão de um nobre qualquer.
Astella disse, enquanto olhava as estátuas alinhadas no corredor:
— Tudo parece completamente novo.
Quando ela olhou a parede com adornos de ouro e murmurou espantada, o servente do mordomo, que lhe abriu a porta da mansão, respondeu rapidamente:
— Sua Majestade mandou carta ao Palácio Imperial com antecipação, solicitando que a mansão fosse redecorada.
‘Isso… é realmente demais.’
Era só um lugar para eles ficarem durante dois dias. Astella não podia acreditar que Kaizen mobilizou tantos servos só para isso. O dormitório ao qual o servente os guiou era ainda mais incrível. Estava cheio de luxuosos móveis e roupa de cama, e tudo era novo. Era um luxo equiparável ao quarto da Imperatriz no palácio, onde Astella tinha ficado no passado.
A mansão não era a única coisa que estava recém decorada.
Ao entrar no quarto que seria de Theor, tinha uma montanha e caixas de presente sobre a mesa.
— O que é isso?
— São presentes de Sua Majestade.
‘Para Theor?’
Theor segurou uma das caixas de presente com ambas as mãos e perguntou a Astella:
— Posso abrir?
— Está bem. Vamos abri-lo.
A caixa estava cheia de bonecos soldados, prateados e do tamanho de um dedo. Também tinha um pequeno canhão para as pequenas figuras de soldados. O canhão parecia verdadeiro, e acompanhava era um conjunto de pequenas armas, eram tão bem detalhadas que pareciam reais.
Na outra caixa tinha um barco veleiro, do tamanho de um melão, que se assemelhava muito a um barco real, e na caixa grande tinha um elaborado castelo de três andares.
— Uau…
Theor se encantou com os brinquedos.
Kaizen estava sendo estranhamente amável com Theor há algum tempo.
Era por que estava se apegando a ele? Ou talvez…Inconscientemente o fazia porque Theor era seu filho?
— Tem que agradecer a Sua Majestade mais tarde.
— Sim!
Astella sorriu, ocultando sua inquietude.
‘Tudo ficará bem. Theor vai ficar dentro da mansão na maior parte do tempo. E só será por dois dias.’
Astella repetiu para si mesma, e logo foi ao seu quarto desfazer as malas.
Hannah a seguiu para ajudar. Ela apresentou formalmente sua renúncia ao Palácio Imperial e retornou à capital com Astella. Depois que terminasse seus deveres na capital, ambas decidiram regressar juntas ao campo.
— Hannah, arrumarei as coisas sozinha. Pode ir para o seu quarto descansar. Você deve estar esgotada.
— Não, Senhorita Astella.
— Estou bem. Já não há mais nada o que fazer.
O Imperador já tinha organizado tudo o que era preciso. Como só ficariam por dois dias e partiriam novamente, ela não tinha que desempacotar tudo. Só organizou o que iria usar nos próximos dois dias, e o resto, guardou na bolsa e a deixou no armário.
* * *
Fora da janela, Astella pôde ver Theor brincando no jardim com o seu avô e o cachorro de caça, Blynn. Ver a cara sorridente de Theor de repente a fez se lembrar de Kaizen.
Depois do que aconteceu no castelo de Dentz, ela e Kaizen não tinham tido uma conversa adequada. Parecia que Kaizen sempre estava ocupado, sem importar quantas vezes tivessem a oportunidade de se encontrarem.
‘Isso é bom. Teria sido desconfortável se estivéssemos nos encontrando frequentemente.’
Ela decidiu ir ao templo pela manhã.
Depois de se reunir com Kaizen e terminar com a questão do testamento, já não teria mais oportunidades para tais coisas. Devia encontrar um novo lugar para escapar quando voltasse ao campo? Retornar à mansão evitaria que fosse revelada a identidade de Theor.
Mas, e a tentativa de assassinato? Ela não estava certa do que poderia acontecer no futuro. Se o caso viesse a público, e o culpado disso fosse descoberto mais tarde, Astella iria estar em sérios problemas.
‘Deveria encontrar um lugar para escapar? Mas se me escondo de repente, poderia prejudicar meu avô e Theor novamente.’
Astella arrumou sua bolsa com uma série de pensamentos preocupantes. Então, desceu as escadas e decidiu ir ao jardim.
Ao passar no salão, uma criada se aproximou e a deteve.
— Senhorita. Um convidado está aqui.
— Convidado?
Astella, sem se dar conta, virou para o salão e encontrou um homem parado junto da porta. E então seu corpo congelou.
— Ah…
Astella estava sem palavras. Quando teve que encarar a pessoa parada junto à porta, não pôde fazer isso, porque as palavras não saiam de sua boca. Cabelo loiro platinado e olhos verdes claros, iguais aos dela. Era um padrão familiar, de uma pessoa alta, elegante e bonita.
Esses olhos verdes claro estavam cheios de surpresa e alegria. E, pouco a pouco, os olhos se umedeceram, como se seu coração transbordasse ao vê-la. Mas, pelo contrário, os olhos verdes claros de Astella estavam frios. O rosto dela, que por um momento demonstrou surpresa, se esfriou rapidamente.
Ao ver a expressão fria de Astella, o homem, que entrava no quarto, parou. Só então Astella o chamou por seu nome. Nesses seis anos, quase tinha se esquecido de como soava o nome dele…
— Irmão Fritz.
Fritz, o irmão mais velho de Astella. Ele era dois anos mais velho que ela, seu único irmão. Ambos observaram um ao outro. A voz fria de sua irmã fez com que o rosto de Fritz se distorcesse em remorsos e culpa por seus atos no passado.
— Astella…
Fritz pediu perdão com um rosto que parecia a ponto de explodir em lágrimas.
— Astella, me desculpe. Eu estava errado.
Para Astella, durante sua juventude, Fritz foi uma pessoa inalcançável. Apesar de ter os mesmos pais, desde o seu nascimento, foi Fritz quem se converteu no herdeiro da família. A diferença entre eles era tão grande quanto o céu e a terra. Afinal, Astella nasceu somente como a filha mais nova.
Além disso, Fritz sempre foi reconhecido por sua inteligência, tanto que o chamavam de superdotado, e era o filho perfeito em todos os aspectos.
‘Meu irmão era tão incrível que nem sequer podia me atrever a estar ciumenta.’
Fritz, que sempre se pareceu ao seu pai, era um nobre frio e orgulhoso, mas continuava sendo um irmão amável com Astella. Ele lhe ajudou nos estudos, e quando Astella queria sair escondida, ele a acompanhava sem se queixar. Depois de Kaizen, a pessoa a quem Astella mais amava era o seu irmão mais velho, Fritz.
Porque ele era o único em quem podia confiar, no lugar do seu frio e ambicioso pai.
Quando se divorciou e voltou para a mansão, Astella acreditou que seu irmão a entenderia. Mas Fritz não pôde compreender Astella.
‘Por que você se divorciou sem a permissão do nosso pai?’
Isso foi a primeira coisa que Fritz lhe disse quando ela voltou com um rosto cansado. Quando uma queixa exausta saiu da boca de Astella, Fritz se irritou.
‘Não seja teimosa, e peça perdão ao nosso pai.’
Os sentimentos de Astella nesse momento eram tão miseráveis que ela não podia expressá-los em palavras. A corda que a mantinha em pé estava se quebrando. Depois disso, Astella deixou toda a esperança e abandonou a capital.
— Você não tem que se desculpar comigo. Só vá embora.
— Astella…
O rosto de Fritz, que olhava para os olhos frios de Astella, estava cheio de tristeza.
— Pode me dar uma oportunidade? Podemos começar de novo?
— Não nos falamos nos últimos seis anos, então, por que quer uma oportunidade agora?
Astella recusou a solicitação de Fritz, com uma voz tranquila e sem emoção.
Fritz se viu ainda mais angustiado quando a escutou. Chamou Astella com uma voz dolorosa.
— Astella…
A porta se abriu nesse momento com um barulho.
Os dois viraram o rosto ao mesmo tempo para ver quem entrava. Theor estava colocando o rosto pela porta entreaberta.
— Tia Astella?
Astella se surpreendeu ao ver Theor. E seu coração afundou.
‘Será que ele poderia reconhecer a identidade de Theor?’
Fritz esteve brincando com Kaizen desde criança. Kaizen realmente não gostava de Fritz, que também era dois anos mais velho que ele, mas também não podia ignorá-lo, porque era o sucessor da família do Duque.
E já que sua irmã mais nova era a noiva de Kaizen, Fritz esteve entrando e saindo do Palácio Imperial desde a infância. Foi desse modo que se tornou o companheiro de brincadeiras de Kaizen. Se ele observasse Theor de perto, podia encontrar semelhanças com Kaizen quando ele era jovem.
Mas Fritz parecia estar um pouco surpreso.
Seus olhos pararam na porta onde Theor se encontrava.
— Ele é…
Astella respondeu rapidamente, antes que Fritz pudesse fazer qualquer ligação.
— É Theor, o filho do primo Sigmund. Não ouviu falar? Sigmund deixou um filho.
Fritz olhou ao seu redor e então para Astella.
Nesse momento, ela pôde ver vários sentimentos indescritíveis remoendo-se nos olhos do seu irmão. E depois de um instante, eles desapareceram.
‘O que é isso? Ele se deu conta?’
Antes que Astella pudesse dizer algo mais, Fritz se aproximou de Theor.
— Então, você é o filho de Sigmund?
Fritz se inclinou na frente de Theor com um sorriso de boas-vindas, ficando na altura dos olhos do menino.
— É bom te conhecer. Seu pai, Sigmund, era meu primo.
‘Não o reconheceu?’
Bom, Fritz e Kaizen tinham apenas dois anos de diferença de idade. Então, quando Kaizen era mais novo, Fritz também era jovem.
Talvez Fritz tenha se esquecido de como era o rosto juvenil de Kaizen.
‘Fico feliz.’
Astella, que estava olhando os dois, se sentiu aliviada.