Como esconder o filho do imperador - Capítulo 59
─…
‘ Ah, maldição. Definitivamente lavei meu rosto.’
Astella tocou sua bochecha com as mãos, se perguntando se tinha ficado algum rastro das lágrimas.
Kaizen falou, como se para tranquilizar Astella:
─ Não se preocupe. Tudo ficará bem.
─ …
Podia ser que não ficasse bem, caso fosse revelada a verdade por trás dessa tentativa de assassinato. Afinal, se fosse revelado o verdadeiro culpado, a própria Astella não estaria a salvo. Ela se sentiu terrível consigo mesma, pensando nessa situação, e se afastou de Kaizen.
─ Está bem, a ferida?
─ Sim. Como pode ver, estou muito bem.
─ O que disse o doutor?
─ O médico disse que não vai acontecer nada comigo.
‘Pensei que tinham o ferido profundamente. Talvez não tenha sido tão grave porque ele é muito saudável. ‘
Foi uma sorte grande que não tivessem sequelas. Astella inclinou sua cabeça para ele.
─ Não pude agradecer da forma correta. Muito obrigada por me proteger.
─ Não tem que agradecer. É natural eu te proteger.
Kaizen lhe disse em um tom tranquilo.
De repente, a cena que viu no bosque voltou a sua mente. O momento em que Kaizen se machucou enquanto a protegia. Nesse momento de crise, Kaizen lutou desesperadamente para proteger Astella, sem nem pensar na própria segurança.
Astella respondeu em voz baixa, com seus sentimentos um pouco confusos:
─ Sim, me alegro de que Vossa Majestade não tenha se machucado severamente.
Em resposta a isso, Kaizen se virou para Astella com um olhar surpreendido.
Seus olhos estavam chocados.
Astella olhou Kaizen, e se perguntou por que suas palavras o tinham surpreendido tanto.
─ Você… Estava preocupada comigo?
‘Como poderia não me preocupar? Ele é o Imperador.’
─ Me preocupava que a ferida fosse grave. Seria um grande problema caso ficassem sequelas.
Astella falou com a maior calma possível. Mas Kaizen ainda parecia surpreso.
─ Vossa Majestade? Por que está tão surpreso?
─ Você realmente se preocupa comigo. Me surpreende ouvir isso. Sinceramente, não pensei que isso fosse possível.
Ela não sabia se ele estava brincando ou falando sério.
Astella pensou em contradizer as palavras de Kaizen e então suspirou.
─ Vossa Majestade salvou minha vida, é óbvio que iria me preocupar.
Tinha uma mistura de culpa na sua gratidão.
Foi o pai de Astella, o Duque de Reston, quem tentou matar Kaizen. Astella sabia disso, mas não podia dizer a Kaizen a verdade. Não podia falar honestamente que tinha salvo a sua vida hoje graças a sua ajuda.
─ Astella.
Kaizen, que ainda estava vendo a expressão complexa no rosto de Astella, se dirigiu a ela.
E em um instante a distância entre os dois se reduziu.
─ Vossa Majestade?
Kaizen estava perto o suficiente para alcançá-la se esticasse sua mão.
Tinha um grande calor nos seus sempre frios olhos vermelhos.
─ Fico feliz de que você esteja bem.
O afeto sincero que mostravam seus olhos a deixou sem palavras.
Kaizen estava se aproximando cada vez mais. Astella, que tinha ficado aturdida, tardiamente tentou retroceder. No entanto, antes de se retirar, para sua surpresa, Kaizen pegou nos ombros de Astella e a segurou em suas mãos.
─ Vossa Majestade?
Astella estava envergonhada, e uma voz trêmula chegou no seu ouvido quando ela tentou fugir.
─ Pensei que ia desmaiar quando o assassino veio para perto de você.
A voz, que sempre era forte e fria, tremia constantemente.
─ Tive medo de cometer um erro.
A trêmula voz de Kaizen era incomum o suficiente para fazê-la se sentir estranha.
Astella continuava nos seus braços, escutando-o falar. Ela perdeu toda a energia do seu corpo, não conseguindo afastá-lo.
─ Vossa Majestade, eu …
Kaizen a olhou.
Seu rosto estava próximo o suficiente para sentir sua respiração.
Tinha olhos de íris vermelha, perspicazes, um nariz afiado, e um rosto incrivelmente bonito. O que o tornava perigosamente sedutor.
Astella recuperou seus sentidos tardiamente. Depois de ficar assim, parecia influenciada pela atmosfera por um momento. Então, empurrou Kaizen e saiu de seus braços.
─ Vossa Majestade.
Astella se virou.
─ Pare, por favor.
Ela não devia passar dos limites com Kaizen, não dessa maneira. Astella deveria estar sempre alerta e com a cabeça fria.
─…
Kaizen a observou em silêncio e logo saiu.
* * *
De pé no corredor, esperando o Imperador, Vellian correu para encontrar Kaizen do lado de fora do anexo.
─ Vossa Majestade.
Kaizen se afastou, sem olhá-lo, indo para o palácio principal.
Vellian se apressou para segui-lo.
─ Bom, recuperamos todos os corpos dos assassinos.
O informou enquanto o seguia, mas não teve resposta.
‘Deve estar de mau humor.’
Vellian lamentou profundamente ter feito a sugestão de acompanharem o grupo ao piquenique. Isso nunca teria acontecido se ele não tivesse feito essa sugestão. Mas não tinha mais como voltar atrás de algo que já tinha acontecido.
O bosque do norte era um lugar vigiado por guardas, pelo que ele pensou que seria seguro.
Mesmo que acontecesse algo perigoso, Kaizen era um dos melhores espadachins do Império. Vellian estava aliviado ao saber que não tinha sido um perigo real para Sua Majestade, o Imperador.
‘Não deveria ter sido tão descuidado.’
Lamentou muito tarde. Não podia acreditar no que tinha acontecido na presença de Senhorita Astella e Theor. Devido a isso, o estado de ânimo do Imperador estava no fundo do poço.
Vellian o seguiu, observando-o. Quando estava na metade do corredor, Kaizen disse firmemente:
─ Vou levar Astella ao Palácio Imperial.
─ Sim.
‘Não, o que quer dizer com isso…?’
Vellian se deteve surpreso, mas Kaizen continuou caminhando, sem esperar. Vellian se apressou para voltar ao seu lado, só depois de dez passos de distância.
─ Vossa Majestade, Vossa Majestade…
Vellian seguiu Kaizen e disse em voz baixa o que antes não podia mencionar:
─ Vossa Majestade, se o Duque de Reston morrer como um traidor, ela não poderá retornar ao palácio.
O autor intelectual desse incidente sem dúvida foi o Duque de Reston. Mesmo se esse não fosse o caso, Kaizen tinha a intenção de matar um dia o Duque por traição e purgar assim toda a sua família pecadora. Não importava quão boa fosse Astella, caso se convertesse na filha de um traidor, não poderia ser a Imperatriz.
Isso era algo natural.
Kaizen respondeu friamente, enquanto caminhava impetuosamente.
─ Se o Duque morreu antes de ser declarado traidor, Astella não teria porque ser a filha de um traidor.
Vellian, que o seguia, se deu conta então do significado dessas palavras e parou assustado.
Significava que o imperador mataria o Duque de Reston sem revelar seus crimes. Também significava que ele levaria Astella de volta ao Palácio Imperial.
* * *
O grupo foi imediatamente para a capital no dia seguinte, e o ambiente era mais tenso do que nunca. Todos estavam alertas pela tentativa de assassinato.
Quando ficaram em uma pousada por um tempo, ninguém teve permissão para sair. Tomaria dez dias para chegar até a capital pela rota mais rápida possível. Enquanto isso, Astella foi confinada na carruagem baixo uma atmosfera tão tensa que era como se fosse uma prisioneira sendo transportada para a sua cela.
Estava feliz de ter feito muito do remédio para a cor dos olhos de Theor anteriormente.
Do contrário, teria que fugir dos cavaleiros para recolher mais ervas. Ela não conseguiria ir ao bosque procurar ervas sem ser pega. Afinal, os guardas que vigiavam o Imperador estavam mais alertas do que nunca.
─ …
Todas as lembranças dela no bosque retornaram a sua mente ao pensar na tentativa de assassinato. A reunião com Kaizen naquela noite também chegou a sua mente.
Astella lamentava profundamente que seu coração tivesse se sentido tão aliviado por um momento.
‘Não deveria ter passado dos limites assim.’
Astella tinha muitas razões para não poder se aproximar de Kaizen. Incluindo a verdade sobre o nascimento de Theor e o crime de seu pai.
No entanto, ela não entendeu porque se sentiu daquela maneira.
‘Por que…’
Nesse momento, Theor, que estava dormindo sobre os joelhos de Astella, se sacudiu e virou.
Astella acalmou sua mente confusa quando viu Theor, que estava profundamente adormecido. De qualquer forma, o passado era irreversível.
Tudo o que lhe faltava era terminar o trabalho o quanto antes e poder retornar para casa. Astella olhou pela janela da carruagem e fez uma promessa: assim que chegasse na capital, terminaria a questão do testamento e iria embora.
Tudo o que ela tinha que fazer era terminar o trabalho o mais rápido possível e voltar para casa.
* * *
Na manhã do décimo dia, após a partida do castelo de Dentz, a barulhenta carruagem atravessou a porta oriental da capital.
Finalmente tinham chegado. Astella engoliu seus amargos pensamentos enquanto olhava o caminho que lhe era familiar.
‘Estou de volta.’
Fazia seis anos que ela se foi dali… E jurou nunca mais retornar.
O mundo se regia através de leis indomáveis.
Não podia acreditar que estivesse voltando para a capital com o Imperador. A carruagem do Imperador entrou no palácio, mas a carruagem que levava Astella e Theor se dirigia para uma mansão próxima. Quando Astella se negou a ficar no Palácio Imperial, Kaizen ordenou que preparassem uma mansão.
A carruagem entrou por uma grande porta. E Astella sacudiu Theor para acordá-lo.
─ Theor, estamos aqui, levante-se.
─ Hmmm, hmm…
Theor, que tinha adormecido sobre os joelhos de Astella, abriu os olhos.
─ Essa é a capital?
─ Sim. Agora chegamos à capital.
Quando desceram da carruagem, estavam no pátio dianteiro de uma grande mansão.
Tinha dezenas de janelas decoradas com ouro e prata e uma parede branca que estava esculpida com uma besta sagrada.
Era uma mansão magnífica. Era tão deslumbrante e grandiosa como a residência Reston, onde Astella tinha crescido.
Pensando bem, essa era a mansão de um duque caído.
Seu avô, que desceu da carruagem junto com sua neta e Theor, também franziu a testa, como se tivesse agora se dado conta.