Como esconder o filho do imperador - Capítulo 56
Mas Astella entregou o sanduíche para o velho Marquês, sentado do outro lado, sem nem mesmo olhar para Kaizen.
— Por favor, vovô, coma.
— Sim, obrigado.
Kaizen baixou sua mão, impotente.
— …
Foi uma cena muito triste e vergonhosa.
‘Sua Majestade deve ter pensado que era para ele.’
Observando a pobre imagem do seu senhor, Vellian sentiu uma sincera simpatia por Kaizen. Cuidadosamente, ele estendeu o bolo de carne na frente de Kaizen.
— Eu… Vossa Majestade. Pegue isso.
— Não precisa.
Kaizen não tocou a comida e simplesmente bebeu o vinho que Vellian serviu. Diferente de Theor, os quatro adultos que se sentaram juntos não tinham o que conversar enquanto comiam. Estavam simplesmente desconfortáveis e envergonhados.
Vellian, que trabalhava para Kaizen, não era do agrado do Marquês Calenberg, Astella e Kaizen eram um casal divorciado, e Vellian e Astella tinham suas diferenças…
Astella não queria estar em contato com Vellian por muito tempo, desde que ele a levou para o banheiro público e revistou sua roupa e equipamento.
Estavam desconfortáveis uns com os outros e sem um tema em comum. Naturalmente, só restava o silêncio desconfortável e pesado.
— Isso é muito gostoso. Posso comer mais um?
No meio do silêncio, só Theor desfrutou da refeição.
— Sim, pode comer o quanto quiser.
Theor comeu um sanduíche inteiro e um pedaço do bolo de carne que Vellian tinha lhe dado. O bolo doce e os sucos se derretiam suavemente na boca.
— Oh, é verdade. Senhorita Astella, conheceu o Sir Serbel no baile, certo?
Foi Vellian quem rompeu com o desconfortável silêncio.
— O cavaleiro comandante dos Lamberg?
— Sim. Somos melhores amigos desde crianças.
— Sério?
Um jovem do norte de cabelo prateado e olhos azuis celeste lhe veio à mente.
Era cortês, gentil e dava uma boa impressão. Mas, diante das palavras de que ele era o melhor amigo de Vellian, sua boa impressão diminuiu.
O marquês, que ainda escutava tudo em silêncio, chamou a sua atenção:
— Se tem mais ou menos a sua idade, deve ser jovem, mas já é um cavaleiro?
— Sim, ele é realmente muito bom.
Vellian falou com orgulho e adicionou no final:
— Bom… O conde Ecklen é o novo oficial militar do exército.
— Quem?
— O oficial militar, o Conde Gerald Von Ecklen, ele é o padrasto de Serbel.
Astella lembrou de algo quando escutou o seu nome.
— Oh, sim. Vovô, ele te enviou cumprimentos durante o baile, me desculpe por esquecer.
Passaram tantas coisas depois do baile que ela se esqueceu completamente. Mesmo que tivesse entregado os cumprimentos tarde, o marquês não deu resposta.
Astella se surpreendeu um pouco ao ver o seu avô sentado com um rosto chocado.
— Vovô?
— Gerald von Ecklen se converteu em servidor do serviço militar?
— Sim, o conhece?
Diante da pergunta de Vellian, o Marquês estava assustado e alerta.
— Oh, não. Costumávamos nos conhecer. Foi meu tenente no passado.
— Sério? Essa informação é nova.
O Marquês ainda parecia estar perdido em pensamentos.
Astella estava preocupada com a reação estranha de seu avô.
‘O que aconteceu?’
Estava pensando em lhe perguntar mais tarde, quando estivessem sozinhos, mas a chuva começou a diminuir.
— Parou de chover.
Astella, que estava arrumando a cesta, falou olhando o céu levemente brilhante.
Theor, que ainda desenhava no chão ao lado de Kaizen e de Vellian, que observavam os desenhos do menino, levantou o olhar.
A chuva era cada vez mais fina e o dia foi se limpando gradualmente.
Theor perguntou, olhando do lado de fora da tenda:
— Posso sair para brincar?
— Sim.
Animado, Theor saiu correndo da tenda. A grama estava ainda úmida pela água da chuva.
— Vou procurar algumas ervas. Por favor, olhem Theor para mim.
— Sim, tenha cuidado.
Astella pegou a cesta e saiu, escutando as palavras de preocupação do seu avô, talvez, porque a chuva parou mas o vento ainda soprava. Astella pegou a cesta e desapareceu no profundo bosque. Assim que ela foi, Kaizen também se levantou de seu assento.
— Vossa Majestade? Aonde vai?
Vellian lhe perguntou, mas Kaizen caminhou na direção de Astella, sem responder.
Enquanto olhava para o bosque onde os adultos tinham desaparecido, Theor perguntou:
— Aonde eles vão?
— Bom… Sua Majestade deve ter algo para falar com a Senhorita Astella.
Vellian suspirou, com um pouco de pena.
O Marquês, que observava a cena, tinha seus sentimentos confusos. O Imperador estranhamente se preocupava por Astella, já que os tinha seguido até ali hoje.
Astella lhe disse que ele se sentia culpado, mas o Marquês não pensou que essas eram ações de alguém com consciência pesada.
‘Não me diga que isso é… Não agora.’
Ele não queria acreditar.
Devido ao interesse inútil do Imperador, Astella teve alguns maus momentos. Inclusive, da última vez, até mesmo Theor ficou quase em perigo.
O Marquês explodiu quando pensou no que aconteceu.
‘Que demônios o Imperador quer com a nossa Astella?’
Por que ele era tão indiferente quando ela o necessitou e agora vinha com esse incômodo interesse?
Agora, a melhor coisa que o Imperador podia oferecer era deixá-los ir. O marquês suspirou profundamente.
* * *
Enquanto caminhava pelo bosque procurando ervas, ela escutou passos vindo atrás.
— Astella.
Kaizen foi quem a seguiu.
— O que aconteceu?
Seus olhos vermelhos mostravam um mar sem fim de emoções.
Kaizen confessou com calma, enquanto se aproximava de Astella.
— Sinto muito pelo outro dia.
Astella se surpreendeu pela repentina desculpa.
Kaizen se desculpou em silêncio.
— Queria me desculpar pelo baile. Lamento ter arrastado Theor para essa situação pelos meus caprichos. Você tem razão, fui egoísta.
Astella se preocupava que Kaizen pudesse se irritar, por isso somente ficou escutando até que ele terminou suas últimas palavras.
— Não tem que se desculpar.
Depois de escutar o que tinha para falar, Astella respondeu secamente.
— Vossa Majestade é o Mestre do Império, portanto sempre se deve fazer o que Vossa Majestade deseja.
— Não quero escutar bajulações.
Kaizen empurrou o crescente desgosto para o lado.
Quando falava com Astella, ele sempre sentia emoções diferentes que o deixavam irritado. Fosse como fosse, ela o fazia se sentir emotivo.
Astella o olhou com um rosto inexpressivo, como uma estátua de pedra.
— Então, me permitirá enviar a Theor e meu avô de volta para casa?
Nessa situação, ele não podia negar.
— Sim. Envie os dois de volta para casa.
— Obrigada, Vossa Majestade.
A alegria se estendeu pelo rosto pálido de Astella.
Quando viu Astella tão feliz, ele sentiu uma amargura. Kaizen se viu obrigado a olhar para o outro lado.
— Deveria ter deixado você seguir em frente. Fui teimosamente obstinado.
— Já não se preocupe com isso, Vossa Majestade, não importa. De qualquer forma, Theor irá para casa com meu avô.
A voz de Astella era tão clara que soava como se ela já não tivesse mais nada com o que se preocupar.
‘Ela também regressará quando tiver terminado os seus deveres na capital?’
Kaizen queria perguntar isso. Mas, era uma pergunta tão tola que não tinha necessidade de ser feita.
‘Evidentemente, ela voltará.’
Sem Theor e o Marquês, Astella não tinha motivos para ficar na capital. Assim que terminassem a questão do testamento, ela iria embora, como um pássaro em busca da liberdade.
Não tinha como ele manter Astella perto de si, e se sentiu triste por essa amarga realidade, mas a ignorou e voltou a olhar entre a grama.
Olhando-a por trás, Kaizen se aproximou dela lentamente.
— Te ajudarei a encontrar as ervas.
Foi então que escutou um barulho estranho. Um grunhido muito suave que vinha de trás de Astella. Mas além de seus ombros, o bosque estava cheio de bétulas* que se elevavam até o céu.
E tinha uma sombra escura entre as enormes folhas. Devido à luz, ele não pôde ver quem estava a uns passos mais à atrás. Mas ninguém poderia entrar no bosque sem a sua permissão.
E os cavaleiros que tinham reunido esperavam do lado de fora do bosque.
‘É Vellian, ou o marquês?’
Kaizen escutou atentamente os passos silenciosos.
O sussurro se aproximava cada vez mais.
Tinha uma… Não, duas pessoas. Não eram nem o Marquês e nem o Vellian.
Kaizen caminhou para frente, cobrindo Astella com seu corpo. Atrás dela, que olhava a grama, tinha um denso bosque.
Um passo, dois passos mais perto, e então disse suavemente:
— Astella, baixe a cabeça.
Astella, que estava tentando encontrar ervas, leu a atmosfera de perigo e a tensão nas expressões de Kaizen.
Ela se inclinou rapidamente e instintivamente. Assim que Astella se abaixou, Kaizen sacou rapidamente uma adaga e a atirou entre o gramado.
— Grrrr…
Gritos explodiram entre as sombrias folhas dos arbustos.
Diante do som, assassinos mascarados saíram correndo da área. Todos puxaram suas espadas.
‘Isso é uma tentativa de assassinato?’
Esse tipo de situação não tinha ocorrido desde o fim da guerra no norte.
Kaizen puxou a espada.
Seis oponentes.
As probabilidades não eram boas. A menos que tivessem uma variável inesperada.
— Astella.
Kaizen estava de pé com Astella atrás e segurava a sua espada.
Ele pensou que deveria proteger Astella primeiro, que era quem estava desarmada.
— Fique perto de mim.
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*Bétula: é um género de árvores da família Betulaceae, à qual pertence também a aveleira, Corylus avellana.(Fonte google)
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