Como esconder o filho do imperador - Capítulo 52
— Não!
—Hã?
Astella levantou a cabeça surpresa.
Kaizen, que vinha sendo muito educado com Astella até agora, rapidamente se pôs rígido como uma estátua.Seus olhos vermelhos, que a olhavam, se encheram de ira.
´Espera… Por que ele está irritado?´
— Vossa Majestade, não só é somente meu avô, o jovem Theor também teve uma febre recentemente…
— Se ambos não estão em boas condições então deveriam esperar até que melhorem para transportá-los.
Kaizen refutou as palavras de Astella com um tom irritado.
— Como propus antes, será melhor todos irem juntos à capital, e assim ver um médico e ser tratado de maneira correta. Me pergunto se também seria bom procurar um médico para atender o menino.
— Vossa Majestade, mas…
— Basta!
Kaizen interrompeu severamente as palavras de Astella, como nunca tinha feito antes.
Os olhos cheios de amargura a olharam.
— Isso é uma ordem.
Era uma expressão decidida, que não deixava lugar para nenhum tipo de contestação. Astella fechou a boca com um olhar perplexo. Estava incomodada.
As pessoas que os observavam, também estavam em pânico.Não entendiam porque o Imperador não estava dando sua permissão. Até mesmo Vellian, que estava ao lado de Kaizen escutando, quis lhe perguntar porque não permitia.Mas o Imperador estava tão furioso que não se atreveu a intervir.
Todos se calaram e observaram a situação.
Kaizen olhou Astella com um olhar intenso, e depois deu a volta e saiu do salão de banquetes sem mais nem menos.
Astella não teve outra alternativa que virar. Quando o Imperador desapareceu, as pessoas começaram a consolar Astella, que continuava assustada:
— Não fique tão desolada Senhorita.
— Estarás bem.
— Obrigada a todos por se preocuparem.
Astella recebeu as palavras de consolo das pessoas e saiu.
Se dirigiu ao criado que a tinha trago a festa, para que a levasse de volta ao anexo, mas ele se negou.Astella então caminhou pelo caminho do jardim, pisando nas pedras no meio do frio orvalho da noite.
Um frio refrescante corria pelo jardim escuro. Quando respirou o ar fresco, se sentiu um pouco mais renovada.
́Meu coração ainda está fervendo, mas um “Não”, por que demônios um não?´
Astella estava paralisada. Por que Kaizen a olhava tão irritada e recusou seu pedido?
Não entendia o que tinha dito que deixou o homem tão irritado. Se só era necessário que ela estivesse presente para receber a última vontade da Imperatriz viúva, por que teria que levar o vovô e Theor?
Tinha esperado que essa péssima reação, não aconteceria se falassem só os dois em meio a um público. E foi por isso, que escolheu o salão de baile.Nunca pensou que a obrigaria a ficar plantada no meio de tantas pessoas.
Acreditava que agiria com a seriedade de um Imperador se tivesse muitas pessoas os observando. Nunca imaginou que negaria a petição de enviar seu avô e Theor.Estava surpresa e irritada. Foi tão inesperado que não tinha nem energia para pensar no que fazer agora.
Depois de uma longa caminhada chegou até o salão de chá.O teto azul claro do salão de chá era visível debaixo da luz da lua.
E então, Astella respirou fundo para se acalmar.
Depois de sair do salão de banquetes e respirar o ar fresco, sentiu-se com muito mais energia. Astella acalmou brevemente sua frustração, uma vez que estava perto do salão de chá vazio.Estava tão apertada na sua roupa, cheirando a comida e álcool a noite inteira, que sua cabeça doía.
O cheiro das ervas e árvores no jardim a fizeram sentir-se mais livre e calma.Ainda era muito cedo para conseguir dormir. Assim que Theor poderia estar a esperando.
Não pode mostrar diante do seu filho tanto ódio.
Astella respirou lentamente e levantou o olhar.
A primeira coisa que chamou sua atenção foi a lua branca e brilhante no alto. E em seguida viu as pétalas brancas que cobriam o céu noturno. Era as acácias que cresciam no alto do teto, e cobriam o salão de chá com cheirosas flores brancas. A brisa noturna atravessava as pétalas suavemente e as mexia como penas.
Assim que o vento tranquilo sacudiu as ramas, os cachos de flores pendurados um em cima do outro se sacudiam ao som da paisagem.O aroma de acácia branca se infiltra silenciosamente no grande salão de chá.
A ira de Astella diminuiu com a presença das flores brancas. E nesse momento escutou uma voz familiar:
— Astella.
Quando olhou para baixo surpresa, tinha uma figura familiar entre as sombras escuras. Era Kaizen, que estava parado debaixo da Acácia.
— Me deixe falar por um momento.
Seus olhos vermelhos, sob a luz da lua, eram de uma tonalidade tão escura como o preto.
Ainda tinha fúria neles.
— O que quer dizer?
Passava o mesmo com Astella, que continuava irritada.
— Só vieste por isso.
Kaizen riu sarcástico, enquanto se aproximava de Astella.
— Estava aqui para dizer isso. A única razão pela qual vieste foi para obter minha permissão, certo?
Evidentemente que foi só por isso. Do contrário, não teria razão para assistir ao baile.
Nesse momento, Astella por fim notou que Kaizen estava verdadeiramente irritado. A própria Astella não estava contente com a ideia de assistir ao baile com uma intenção oculta.
— Foi por causa disso que se negasse a enviar primeiro o vovô e Theor para casa?
Ainda que soubesse da resposta não podia entender ainda.
—Deveria fazer isso?
— Quê?
Kaizen perguntou com uma risada:
— Por que é tão importante para você enviar seu avô e o menino de volta tão urgentemente?
— Por que queres levar o vovô e Theor para a capital? Por que quer que os dois estejam na capital?
Astella, que foi apunhalada com a pergunta certeira, contra-ataca com as perguntas contrárias.
— Se o menino e o velho não forem, você irá sair da capital assim que resolvermos as pendências.
— É por acaso estranho querer voltar para a minha casa?
— Sua casa? Estás vivendo na casa do Marquês!
Kaizen estava irritado e frustrado, assim como Astella.
Mas diferente de Astella, Kaizen não podia reconhecer um motivo para estar irritado.
— Quer voltar a viver na mansão do Marquês? Por quanto tempo planeja viver na casa do Marquês, assim, cuidando do menino?
Kaizen usou Theor para expor a raiva inexplicável.
— O que acontecerá quando Theor crescer? O que acontecerá se mais tarde ele se casa e leva sua esposa? Vai ficar nessa casa observando com um olhar meticuloso de um militar o desabrochar de uma nova família.
Sabia que era uma besteira, apesar de continuar falando.
Astella estava tão surpresa que nem sequer pôde responder por um momento.
‘Está irritado porque está preocupado com meu futuro? Bem, podia ter feito isso a vinte anos atrás.’
— Obrigada por se preocupar tanto com meu futuro, Vossa Majestade. Está fazendo tudo isso porque não quero viver na mansão da sua avó?
— Sim, se estivesse ali poderia…
Kaizen que gritava de deu conta tardiamente dos erros que estava falando e abruptamente interrompeu suas palavras.Queria que Astella vivesse na capital. Queria mantê-la ao seu alcance.Sabe que quando essa viagem acabar e chegarem à capital, Astella irá embora novamente. E para longe, até o extremo oriente e se apartaria da sua vista.
Cada vez que pensava nesse fato, de que poderia nunca mais voltar a vê-la na sua vida, se sentia irritado e confuso.
— Quer que eu viva na capital?
Astella perguntou como se não conseguisse entender.
— Por quê?
Até mesmo o próprio Kaizen queria saber o porquê.
Quando Astella estava envolvida não podia entender porque estava fazendo o que fazia.No entanto, ironicamente, no momento em que Astella lhe perguntou, Kaizen finalmente encontrou a razão pela qual se preocupava tanto por ela.Porque estava tão feliz de ver Astella no baile e porque era tão doloroso cada vez que a imaginava deixando-o outra vez.
Então confessou seus sentimentos honestamente:
— Desejo que esteja comigo.
Astella não entendeu a situação por um momento.
— O que eu acabo de escutar?
A fria luz da lua brilhava sobre as pétalas brancas.Próximo ao salão de chá escuro tinha o refrescante aroma de acácia.Os dois estavam parados um ao lado do outro na pitoresca paisagem da noite.
No entanto, a sensibilidade entre os dois era forte.
— Quer que eu fique de novo ao seu lado?
Kaizen olhou Astella com olhos nublados. Não imaginou dizer dessa maneira, não esperava se confessar carinhosamente…Mas dessa forma…
— Isso mesmo.
No momento em que pronunciou essas palavras sentiu uma tensão no seu coração.
— Quero que esteja ao meu lado.
Não queria expressar assim seus sentimentos, mas vindo dele isso era realmente algo carinhoso.
Era uma declaração.
No entanto, não tinha tempo para ficar nervoso enquanto esperava uma resposta.
E então, imediatamente, Astella cuspiu uma resposta friamente.
— Não.
O rosto de Astella iluminado pela luz da lua, estava tão pálido e frio como o de um cadáver.
— Não quero voltar, especialmente não para o seu lado.
Ainda que estivesse respondendo com calma, Astella ainda sim sentia vontade de vomitar.
— Me desculpa, quer que eu fique ao seu lado?
Essas maravilhosas palavras, a seis anos atrás, talvez, a teriam enchido de alegria quando as ouvisse. Seu coração teria ficado tão feliz.
Sim, teve uma época que não queria deixar o lado desse homem mesmo que isso custasse a sua vida.Nessa época teria preferido morrer por ele a ser abandonada, porque era estúpida o suficiente para amá-lo tanto.
— Vossa Majestade me disse a seis anos atrás que me fosse.
Mas o homem que tinha amado durante toda a sua vida lhe disse para ir e nesse dia o mundo de Astella se desmoronou.
Tradutora: bússola
Revisão: