Como esconder o filho do imperador - Capítulo 31
Kaizen, que tentou se levantar depois de beber o vinho restante, virou-se para Theor.
— …O que?
‘Ele acabou de dizer mãe?’
Theor estava profundamente adormecido com os olhos já fechados. E se escutava o pequeno fôlego da sua respiração.
Seu rosto adormecido estava relaxado.
— O menino está buscando a sua mãe.
Kaizen voltou o olhar para Astella para então lhe falar.
Astella recolheu o pequeno urso de pelúcia que estava perto da cama.
— Sim, não importa quão jovem seja, as crianças já sabem o que é mamãe e papai.
Astella falou com a voz tranquila.
Kaizen dirigiu sua atenção para Theor, que dormia profundamente.
— Escutei que sua mãe era uma criada. Foi amante do falecido Sigmund e deu a luz ao seu nobre filho, mas devido ao seu baixo status, logo que deu a luz ao menino. Foi embora eliminando qualquer rastro ou notícias sobre o caso.
Essa foi toda a informação que Velian conseguiu.
— Pobre…
Kaizen nasceu com o sangue mais nobre do Império, mas odiava os costumes aristocráticos de aceitarem apenas o orgulhoso sangue da nobreza.
‘É um comportamento desumano manter uma criança longe da sua mãe biológica devido o seu baixo status.‘
Levantou a sua mão e acariciou cuidadosamente o cabelo de Thor, que ainda seguia dormindo.
O fino cabelo negro envolveu seus dedos.
‘É um menino lamentável.’
As crianças pequenas não tem alternativa a não ser sentir saudades dos seus pais.
Inclusive Astella fica ao seu lado todos os dias e o cuida como se fosse sua mãe, pode ser que não seja o suficiente para suprir essa saudade.
Kaizen acariciou a cabeça de Theor e perguntou com tristeza.
— Ele sente tanta saudade dos pais?
Kaizen por um momento sentiu que Astella o estava encarando.
Mas quando girou para ela, Astella estava colocando o velho urso de pelúcia em uma cadeira.
— As vezes me pergunto o mesmo.Theor nunca conheceu seus pais biológicos.
Astella respondeu com uma voz fraca.
Houve um momento de silêncio na sala.
As chamas da lareira acesa desenhavam sombras nas paredes escuras e tragam a lenha como bruxas dançando.
A imagem de Astella foi refletida nessa luz instável.
Havia uma atmosfera um pouco solitária em seu rosto inexpressivo como uma estátua.
‘Por que está assim?’
Kaizen não podia entender o que Astella estava pensando.
‘Talvez seja pelo pobre menino. Pensando nisso, Astella está em uma situação muito similar a dessa criança.’
Viviam em um lugar remoto, sem pais,irmãos ou amigos.
‘A devoção de Astella por esse menino, pode ser que seja justamente porque não tem ninguém que a cuide e ame.’
Astella estava parada no escuro quarto, parecia extraordinariamente sozinha.
Kaizen, estava desolado ao ver Astella com esse aspecto solitário.
Abraçou a Theor com cuidado para que não despertasse.
— O levarei para o seu quarto.Fique aqui e descanse.
Kaizen abraçou Theor e saiu.
Astella observou as costas do homem que levava Theor.
***
Ao amanhecer, os olhos de Astella se abriram mesmo mal tendo despertado totalmente.
Acendeu a vela e olhou para as manchas que tinha no pulso.
Já não tinha sinais das manchas claras de antes.
Astella então pegou o frasco de medicamento que tinha escondido junto da sua cama. E saiu pelo corredor com um candelabro na mão.
Não tinha ninguém no corredor escuro.
Abriu a porta e entrou no quarto de Theor.
Blynn dormia sobre uma almofada redonda, olhou para Astella e balançou o rabo.
— Shhh…
Astella o silenciou. E se aproximou de Theor, que estava dormindo na cama.
Theor estava coberto com uma manta e profundamente adormecido.
Astella segurou o frasco do medicamento que tinha e deixou cair sobre os olhos adormecidos de Theor.
Theor incomodado se mexeu.
—Hmmm…
— Theor, está tudo bem.
O menino que estava dormindo abriu lentamente os olhos, franzindo o cenho, e logo depois olhou o rosto de Astella para então voltar a adormecer.
O olhar que apareceu brevemente através das pálpebras era de olhos azuis claros.
***
Astella se recuperou sem problemas e as manchas se apagaram em dois dias.
Kaizen ficou na pousada por mais dois dias após o desaparecimento das manchas do corpo de Astella.
A razão era que não podia viajar até terem certeza de que estava completamente saudável.
— Agora que está completamente curada. Sua Majestade não tem possibilidade de que se retrase.
O grupo começou de novo a ir até o seu destino, o castelo de Dentsu. Apenas após o médico responder várias vezes as mesmas perguntas.
Depois de mais três dias de uma longa viagem, o castelo de Dentsu finalmente apareceu na frente deles.
As pousadas que tinham ficado antes eram construções antiquadas construídas com pedras encontradas nas elevações até o céu.
O castelo de Dentsu, por outro lado, era um palácio construído em pradarias.
Tinha um colorido jardim e vários palácios separados ao redor do palácio principal que se encontrava no meio deles.
Este era o segundo palácio Imperial, onde o Imperador ficou a muito tempo atrás, quando chegou ao leste.
A carruagem do Imperador e seu grupo entraram na sala principal do castelo através da porta principal.
Já a carruagem que levava Astella se dirigiu para o oeste através de um exuberante jardim.
— Senhora, por aqui.
O lugar pelo qual Astella foi guiada era um belíssimo edifício no oeste do castelo.
Era um edifício de só um andar com um grande jardim, um lugar bonito e sofisticado o que se adaptava à elegância do castelo.
‘Sim, creio que esteja fazendo bem.’
A hospitalidade não foi ruim, assim como prometeu Kaizen.
Tinham organizado um lugar como esse.
Enquanto caminhava pelo corredor com Theor, um jovem servente que estava a frente olhou Astella e inclinou a cabeça com o rosto envergonhado.
— Sinto muito senhora.
— Ah? Por que se desculpa?
— Eu… Não creio que esteja servindo o marquês corretamente.
O jovem se desculpou com Astella e confessou o ocorrido.
O marquês lhe tinha dito que não gostava de ser cuidado por terceiros e por isso, sempre dizia ao servente que se retirasse.
Ele queria cuidá-lo, mas o marquês continuava dizendo que desejava dormir sozinho sem que ninguém estivesse em seu quarto, assim que não podia cuidar adequadamente e apenas entrava no quarto para limpar ou levar o seu remédio.
Se desculpou com um rosto cheio de lamentações.
— Creio que é por minha culpa que não se recuperou totalmente, é tudo minha culpa. Me desculpe por isso.
—…
Astella permaneceu em silêncio por um momento.
Era evidente o porquê do seu avô materno continuar afastando o criado.
Não estava doente, devia ser um pouco difícil para ele, ficar quieto devido a farsa da doença e se não se cuidasse e fosse descoberto teria problemas.
Theor, que continuava segurando a mão de Astella, se surpreendeu ao escutar a conversa e perguntou.
—Tia Astella, vovô está doente?
— Não, o vovô está bem agora.
—De verdade?
— Sim, ele está bem.
Astella acalmou Theor rapidamente e se dirigiu até o jovem servente.
—Não, ele não gosta de ter pessoas que não conhece o cuidando e devia ficar desconfortável que estivesse ali.
Na verdade, não está doente, portanto se tivesse uma pessoa ao seu lado poderia ter estado incomodado.
Tentou vir o mais rápido possível, mas devido aos contratempos, fez seu avô esperar bastante.
Para o seu avô deve ter sido difícil fingir ser um doente com um corpo saudável nos últimos dias.
Astella sorriu ao falar para o servente.
—De agora em diante, cuidarei do meu avô, para que não tenha que se preocupar.
—Obrigado, Senhora.
O servente estava realmente agradecido de que Astella o ajudasse no seu trabalho sem se enfurecer.
Depois da conversa, chegaram à frente da porta do quarto.
O servente abriu a porta.
E quando entrou no quarto, o avô que jazia na cama, se levantou.
—Vovô!
Theor correu e se lançou nos braços do seu avô.
Astella enviou o servente de volta e se aproximou do seu avô materno.
Uma aparência magra e esbelta herdada por sua mãe estrangeira, Calenberg.
O irmão de Sigmund, que é seu primo materno, também era um homem atrativo quando jovem.
Assim como, seu avô materno, o marquês, também provinha de uma rama dessa família estrangeira, mas sua aparência era gentil como de um erudito.
Tinha o porte de um velho cavaleiro inteligente e amável.
Ainda se podia sentir através dele a atmosfera solene e opressiva dos militares aristocratas.
Astella se dava bem com seu avô desde a juventude.
‘Costumava enviar secretamente uma carta a casa da minha mãe, evitando o olhar do meu pai.’
Theor, que esfregava o rosto nos braços do seu avô. Levantou a cabeça e perguntou.
—Vovô, estás doente?
— Não meu filho. Esse velho está muito bem.
Ele riu e acariciou a cabeça de Theor.
Astella se aproximou da cama.
— Sinto muito, demorei para chegar…Foi muito difícil, não?
— Não me senti muito desconfortável pela hospitalidade. Mas foi muito difícil ficar deitado. Tentar fingir estar doente quando estou saudável… Não sei como esse seu velho avô conseguiu fazer isso.
Seu avô paterno, o Duque de Reston, foi o primeiro ministro do país quando estava o Imperador Gilbert vivo, o avô de Kaizen.
Era um homem muito capaz, mas… Sua ética era um pouco covarde.
Cada vez que tinha uma instabilidade política ou uma razão para se manter afastado do corpo militar, ele fingia estar doente e não saia de casa.
O velho Imperador chegava a perguntar sarcasticamente se o primeiro ministro voltaria a adoecer.
—Suponho que esse talento herdou o meu pai.
O vovô com o cenho franzido.
—Foi muito difícil me desfazer do servente, porque ele me dizia que estava aqui para me servir. Não creio que seja um homem mau, mas podia ser muito irritante…
—Escutei que o servente te trouxe remédios. O que fez com eles?
—Os derramei no banheiro, abria a janela e os jogava nessa cama de flores.
O vovô sinalizou uma janela próxima da parede.
Tradutora: Bússola
Revisão: Michi