Como esconder o filho do imperador - Capítulo 164
—Meu pai não pode dormir aqui conosco também?
No momento em que Astella ouviu a voz inocente de Theor, ela entrou em pânico e perdeu a chance de responder.
—Quê?
Theor olhou para Astella com olhos ainda brilhantes e perguntou novamente.
—Não pode?
‘Não. É muito estreito. Três pessoas não conseguem dormir na mesma cama.’
Ela poderia ter dito isso, mas não conseguiu porque as criadas tinham acabado de terminar
de verificar se a cama era suficiente para os três, e era.
‘O que eu faço…?’
A voz calma de Kaizen interveio enquanto Astella estava em agonia.
—Seria desconfortável três pessoas dormirem juntas.
Kaizen tentou convencer Theor, se aproximando. Mas o menino não ficou convencido pela persuasão.
—Então vou dormir na cadeira!
—Quê?
— Antigamente, meu avô e minha mãe dormiam no mesmo quarto no inverno. Naquela época, meu avô dormia no sofá.
Kaizen olhou para Astella com um olhar curioso. Ela respondeu rapidamente.
—Tínhamos que economizar lenha.
O inverno no leste era frio e duradouro. Também era caro obter lenha no inverno.
Às vezes, quando a lenha estava prestes a acabar, eram obrigados a dormir juntos num quarto. O jovem Theor adorava dormir juntos.
—Não podemos dormir juntos…?
Theor murmurou com uma cara desamparada. Kaizen também ficou envergonhado porque sentiu a decepção em sua voz.
Astella disse, suspirando.
—Então, vamos dormir juntos hoje?
De qualquer forma, dormir num quarto não seria difícil.
Astella e Kaizen estavam agora em um relacionamento romântico. Mas eles ficavam envergonhados e desconfortáveis porque ainda não haviam compartilhado a cama.
Mas eles não se sentiriam envergonhados ou desconfortáveis tendo Theor no meio.
—Ok, por um dia.
—Sim!
Esse foi o fim da história.
A governanta chamou as outras empregadas e ordenou que preparassem o quarto.
Enquanto isso, eles voltaram para o corredor.
Olhando para Theor andando à frente, Kaizen se aproximou de Astella.
—Você vai estar bem?
Kaizen perguntou, como se estivesse preocupado.
—Não posso evitar.
Seria estranho continuar insistindo que não funciona.
—Vossa Majestade está bem?
Astella estava bem, mas estava preocupada em como seria para Kaizen. Ele a confortou com um tom calmo.
—Não se preocupe. Eu não me importo onde vou dormir.
—…
Essas não eram palavras que um mestre do Império deveria dizer.
Ao ouvir isso, Astella sentiu um pouco de pena de Kaizen.
Até agora, ele suportou inconvenientes para tentar deixá-la confortável.
‘Seria bom estarmos juntos por um dia em família.’
Astella caminhou pelo corredor familiar pensando nisso.
Depois de dar uma olhada na mansão e desfazer as malas, era hora do jantar.
Astella, Kaizen, Theor e até o vovô. Com a mesa repleta de pratos deliciosos, os quatro comeram juntos.
— Vovô, vou dormir com minha mãe e meu pai esta noite!
Durante o jantar, Theor disse ao avô que os três dormiriam no mesmo quarto.
O avô materno olhou para os dois com um olhar muito preocupado.
—Eu preparei um quarto para o Imperador com antecedência…
O avô olhou ansiosamente para Astella. Ele ainda achava que os dois estavam um pouco incomodados.
Astella respondeu para que ele não precisasse se preocupar.
— Decidi fazer isso só hoje.
Vovô não disse mais nada sobre isso, mas ainda parecia preocupado.
‘Devo dizer a ele que não me sinto mais desconfortável com Kaizen.’
* * *
Após terminar a refeição, eles voltaram para o quarto, Astella se lavou e também lavou Theor.
O quarto de sua mãe estava aconchegante e pronto. Roupas de cama novas e limpas haviam sido colocadas e a lenha queimava na lareira.
Kaizen também vestiu o pijama e entrou no quarto.
Os dois ficaram lado a lado, com Theor entre eles.
Ela pensou que seria constrangedor e desconfortável estar na mesma cama, mas tudo tinha sido uma preocupação inútil.
Talvez seja porque chegaram ao seu destino depois de uma longa jornada. Assim que Astella se deitou na cama, ela relaxou e sentiu sono.
Graças a Theor estar no meio, não houve tantos inconvenientes. A atmosfera poderia ter sido um pouco estranha se fossem apenas os dois.
— Mãe, conte-me um conto de fadas.
Theor virou-se para Astella e perguntou. Ela começou a falar, tentando se livrar da sonolência.
—Havia um gato que falava…
— Eu conheço a história.
— O sapo que mora no poço…
— Também já ouvi essa.
‘Ele já conhece todos eles.’
Ela disse mais algumas, mas para todos a resposta foi a mesma: ‘eu a conheço’.
Pensando bem, Astella não lia um único livro de contos de fadas há meses.
Ela deixou o vovô e as empregadas cuidarem disso para Theor porque ela estava ocupada com seu trabalho.
Astella olhou para Kaizen com olhos sonolentos. Foi para pedir ajuda. Mas ele murmurou, impotente.
—A única que sei é sobre um soldadinho de chumbo. Acho que Theor não gosta disso…
— Eu já conheço essa também.
Kaizen permaneceu em silêncio. Astella procurou em suas memórias uma história.
Mas por mais que procurasse em sua memória, não conseguia pensar em mais nada.
Astella examinou suas memórias, turvas pelo tempo, e contou uma história apressada.
—Havia uma garota que morava em um castelo alto. A menina estava em um quarto lindo e colorido, mas não conseguia sair. Então, todos os dias, ela passava o tempo olhando pela janela. Ansiosa para ver seu príncipe favorito.
A história apressada continha memórias antigas.
Na puberdade, Astella costumava ficar no Palácio Imperial. Ela ia para lá para ajudar a Imperatriz viúva.
Quando ela estava no palácio, Astella se oferecia para ajudá-la em seu escritório no terceiro andar.
Porque a entrada do Palácio Imperial era visível de lá.
Havia apenas uma pessoa que Astella esperava ver passar. Sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro.
Kaizen, que segurava o coração de Astella desde os 10 anos de idade. Mas Kaizen não ia ao Palácio da Imperatriz viúva com frequência.
Às vezes, quando ele chegava, Astella o via entrando pela janela do escritório.
Mas quando Kaizen passava, ela só conseguiu olhar seus cabelos e roupas antes de ele entrar, e esperava ansiosamente que ele a chamasse.
Mas Kaizen muitas vezes não tinha tempo e voltava sem ver Astella. Ela escondia sua decepção e sorriu, confortando a Imperatriz viúva.
—Ele não sabia que a garota gostava dele?
—Sim.
—Por quê?
Ela não sabia na época, mas agora Astella podia ver claramente o porquê.
—Ela não sabia como expressar isso corretamente.
Eles sempre elogiaram Astella por cumprir suas responsabilidades como noiva sincera e fiel, mas ela nunca expressou seus sentimentos honestamente para Kaizen.
O pai de Astella, o duque de Reston, era um homem que poderia tirar vantagem de sua filha, devido à sua enorme ambição, e matar sua própria filha junto com o príncipe herdeiro.
Em retrospecto, não era de admirar que Kaizen tivesse entendido mal as coisas e a odiado.
Uma voz baixa quebrou o silêncio da sala, era Kaizen.
—É porque eu era jovem e estúpido naquela época.
Ela olhou para cima e direcionou para Kaizen. Na sombra escura, ele ficou na frente de Astella.
—Se eu tivesse entendido bem, teria visitado você sem fazer você esperar.
Sentimentos de amargura fluíram nos olhos vermelhos.
— Claro, nada muda se eu disser isso agora.
Ele não podia desfazer o que aconteceu antes.
Astella ficou sem palavras com a expressão desesperada de remorso nos olhos de Kaizen.
—Está bem. Agora tudo está no passado.
Astella o confortou com paciência e calma.
— Eles esperaram muito tempo, mas acho que os dois trabalharam muito bem juntos e podem finalmente fazer um ao outro feliz.
Houve muitos altos e baixos e lembranças dolorosas que eles não conseguiram esquecer.
Mas no final, essas três pessoas poderiam viver juntas uma vida pacífica.
Astella pensou que estava tudo bem agora.
Era uma história sem tema, mas ambos sabiam o que significava. Enquanto ouvia a história, Theor murmurou debaixo do cobertor, com os olhos cheios de sono.
—Isso não é divertido.
—…
Astella conteve o riso e Kaizen do outro lado da cama sorria fracamente.
Depois de um tempo, um som de respiração uniforme foi ouvido. Theor parecia ter adormecido.
— Está dormindo.
Astella disse suavemente, puxando a colcha para cima de Theor.
—Não está com frio?
—Estou bem.
A mão de Kaizen acariciou o pequeno ombro de Theor. Astella, observando a cena, segurou cuidadosamente a mão de Kaizen. O calor que segurar aquela mão lhe deu foi melhor do que o que a lareira.
* * *
Theor foi o primeiro a acordar na manhã seguinte. O sol brilhante da manhã entrava no quarto.
O menino saiu da cama com cuidado para não tocar nos pais.
Assim que ele desceu, Panqueca pulou em sua direção. O cão dormiu em um travesseiro ao lado da cama a noite toda.
—Shhh. Panqueca, mamãe e papai ainda estão dormindo.
Theor conduziu o cão para longe da cama.
Ao lado do quarto havia um pequeno banheiro. Ele abriu a porta com cuidado e entrou.
O quarto ao lado do dormitório estava sempre abastecido com água, bebidas e lanches.
A lareira também estava acesa e ainda havia um ambiente acolhedor.
Theor olhou ao redor da sala com Panqueca.
—Guoff guoff guoff!
Panqueca latiu baixinho, olhando atrás do armário.
—Cale a boca, Panqueca!
Theor rapidamente abraçou o pescoço de Panqueca. O cachorro enfiou o focinho no fundo do armário e choramingou.
Theor tentou colocar a mão. Não havia nada dentro. Mas assim que tirou sua mão, algo duro caiu.
—O que é isso?
Ele o agarrou com os dedos e conseguiu retirá-lo. Era um livro pequeno, com encadernação de couro.
Era muito mais fino e leve que um livro normal.
—Guoff guoff guoff!
Panqueca tentou mordê-lo e Theor segurou o livro nos braços.
— Não. Isto é um livro. Você não pode morder.
Esta foi a primeira vez que Panqueca se interessou tanto por um livro. Theor limpou a capa de couro com a mão pequena.
‘É feito de couro. Foi por isso que ele quis mordê-lo?’
Um farfalhar foi ouvido no quarto.
Sua mãe e seu pai acordaram com os latidos.
Astella, vestindo um roupão por cima do pijama, aproximou-se de Theor.
—O que você está fazendo aí, Theor?
—Mãe, aqui estava um livro assim.
Theor disse, apontando para trás do gabinete.
—Havia um livro aqui?
—Panqueca encontrou.
Astella pegou o livro que Theor lhe entregou. Um pequeno nome estava escrito na capa.
Jaqueline.
Era o nome da mãe de Astella.
‘O livro é da minha mãe?’
Quando ela abriu, pôde ver uma caligrafia elegante.
[Hoje saí para passear no jardim… pedi uma fita e… à noite… ]
Registros concisos de visitas, etc., foram escritos por data. As entradas eram curtas demais para chamá-lo de diário.
‘É como um caderno de sua rotina diária.’
Então por que ela o tinha escondido? Astella guardou o livro e colocou-o na cômoda.
Apesar de ser de sua mãe, ela se sentia desconfortável ao ler os registros diários de outras pessoas.
Também não queria olhar na frente de Theor.
—Este deve ser um livro da sua avó materna. É valioso e por isso está escondido, então não toque nele e vamos deixar aqui.
Ela disse que era valioso, então Theor concordou prontamente. Astella sorriu e acariciou a cabeça do filho.
—Então vamos para onde morávamos agora.