Como esconder o filho do imperador - Capítulo 132
A empregada ruiva ergueu o rosto ao ouvir as palavras de Astella.
Não havia sinais de vergonha, embora ela tenha entrado no palácio sem permissão e estivesse sendo repreendida pela Imperatriz.
Em vez disso, ela olhou para o Astella como se não fosse grande coisa. Seus olhos cintilantes olhavam Astella de cima a baixo, que ficou pasma.
— Você não vai responder minha pergunta? Por que uma empregada do Palácio do Imperador está aqui?
Após a pergunta, a criada abriu gentilmente a boca como um gato satisfeito.
— Sinto muito, Vossa Majestade. Já faz muito tempo que não vejo minha amiga, e vim pedir um favor a ela.
Foi uma atitude tão desdenhosa que Astella se perguntou brevemente se ela teria esquecido a etiqueta da Corte Imperial.
— Amiga?
Naen endureceu como gelo, apenas mordendo os lábios. Mesmo de relance, Astella percebeu que elas não pareciam ser próximas.
— Sim, Majestade. Naen e eu somos amigas íntimas desde que éramos crianças.
Naquele momento, Astella percebeu quem era essa jovem. Ela a viu algumas vezes há cerca de seis ou sete anos.
Era definitivamente uma parente colateral da casa Burgen.
‘Senhorita Daphne. Tem a mesma idade de sua majestade.’
Olhando para as memórias de uma época antiga, Astella não conseguiu identificá-la rapidamente como adulta, porque sua aparência agora era muito diferente daquela de quando ela era criança.
‘Era fofa antes de atingir a idade adulta.’
Como Astella sabia, esta jovem era sobrinha do Ministro do Interior.
Ela também era a mulher trazida ao Palácio do Imperador pelos aristocratas para se tornar concubina de Kaizen.
Por isso ela incomodava Naen, e por isso queria entrar no Palácio da Imperatriz.
Daphne respondeu calmamente.
— Sim, estou cuidando dela como se fosse sua irmã mais velha.
‘Parecia que estava apenas gritando com ela.’
—A senhorita Naen é minha dama de companhia, alguém que me ajuda. Podem se sentir confortáveis em particular, mas uma criada não deve levantar a voz para uma dama de companhia no palácio.
Uma empregada era literalmente uma criada, mas as damas de companhia eram uma espécie de nobres de baixa patente, que ocupavam cargos como o de secretária ou funcionária, que auxiliavam a Imperatriz.
Havia claramente uma diferença de posição.
Daphne, que manteve a boca fechada, sorriu suavemente e disse:
—Já somos próximas há muito tempo, por isso esquecemos nossos modos e nos tratamos sem nenhuma formalidade. Por favor, compreenda generosamente.
Olhando para esta jovem, ela a lembrou da irmã de Florin, Marianne.
Marianne era odiosa, mas era mais sutil. Daphne era muito mais descarada que Marianne.
—Você disse que é empregada do Palácio do Imperador. Quem te deu permissão para entrar aqui?
Daphne gaguejou, fingindo estar envergonhada, como se esperasse por isso.
— Sinto muito, Majestade. Bem, eu… eu simplesmente não sabia que precisava de uma permissão para entrar no Palácio da Imperatriz. Por favor, me perdoe.
Astella percebeu que ela parecia ter praticado isso com antecedência.
—Eu sei que já faz mais de um mês desde que você entrou no palácio. Você tem se movido à vontade?
— Como eu disse, ainda não sou boa com a etiqueta imperial…
Daphne respondeu com um olhar atrevido.
— Achei que poderia visitar durante o dia sem permissão. Sinto muito, Vossa Majestade.
Astella estava realmente curiosa para saber por que essa jovem pensava que poderia agir de forma tão descarada. Ela estava confiante no poder de seu tio?
Bem, o Imperador tinha total confiança no Ministro do Interior. Os olhos com que ela olhou para Astella eram um pouco hostis.
—Não posso deixar no palácio uma criada que nem sabe ficar na sua respectiva área. Direi ao mordomo para escoltá-la para fora do Palácio da Imperatriz.
—Vossa Majestade, comecei a trabalhar no Palácio Imperial com a permissão de Sua Majestade o Imperador.
Daphne de repente fez uma cara triste.
—Se me permitir, gostaria que me deixasse pedir perdão ao Imperador já que fiz algo errado.
Daphne quis dizer que ela não poderia ser demitida pela Imperatriz, porque era uma serva contratada pelo Imperador.
Ela também expressou descaradamente sua vontade de ir ver o Imperador, discutir a situação com ele e chamar sua atenção.
‘É tão descarada que é até admirável.’
Naen, por outro lado, estava apenas olhando para elas.
Na verdade, o Palácio do Imperador era uma área especial, pois todos os criados e empregadas que ali trabalhavam eram nomeados pelo próprio Imperador.
É claro que o Imperador estava ocupado demais para cuidar de todos os seus servos, então a maioria deles era inspecionada pelo mordomo-chefe.
Em qualquer caso, mesmo os assistentes da Imperatriz não podiam ser demitidos livremente sem primeiro consultar o Imperador.
Daphne parecia pensar assim.
— Não, não posso deixar você incomodar o Imperador. Ele está ocupado com assuntos políticos, não tem tempo para assuntos tão triviais.
Astella falou em tom moderado.
—De qualquer forma, o Imperador me deu controle total sobre os assuntos do Palácio da Imperatriz. Não há necessidade de contar a ele.
— Quê?
—O Imperador me deu permissão para assumir o comando. Portanto, está ao meu alcance lidar como quiser com alguém que está no Palácio Imperial há um mês, mas ainda não conhece as regras básicas de etiqueta.
Poucas pessoas sabiam desse fato, mas de qualquer maneira não era mentira.
Kaizen disse a Astella no seu casamento.
‘Faça o que quiser com o Palácio Imperial.’
Era estranho que a Imperatriz recebesse tanta autoridade sobre o palácio. Então, como era incomum, Astella não disse nada a ninguém.
Depois de dizer isso, o belo rosto de Daphne ficou pálido.
—Eu estava errada, Vossa Majestade. Por favor, me perdoe.
De repente ela se tornou educada. Talvez ela realmente pensasse que poderia ser expulsa.
Na verdade, Astella não tinha intenção de expulsar esta senhorita.
Se a nobreza descobrisse que a Imperatriz havia expulsado a empregada que trouxeram para o Imperador, isso abriria a porta para rumores de que ela estava com ciúmes e foi por isso que a expulsou.
Ela não iria deixar essa jovem arrogante ir tão longe.
—Conte ao mordomo-chefe o que aconteceu hoje e peça para ele te enviar para um treinamento em etiqueta.
Havia uma madame no palácio que ensinava boas maneiras. Astella ouviu dizer que a educação de etiqueta que ministrava era tão rigorosa quanto as aulas dos professores em treinamento militar.
Daphne também parecia assustada, como se soubesse desse fato.
— Sim, Vossa Majestade.
— Pare de zanzar por aí.
Daphne franziu os lábios, mal se curvou e saiu.
Astella sentiu como se seu rosto estivesse quente por causa do trabalho inútil que a obrigavam a fazer.
Então ela voltou pelo jardim.
— Sinto muito, Vossa Majestade.
Naen se desculpou enquanto seguia Astella.
—A Irmã Daphne não é uma pessoa má…
Naen deixou o final de suas palavras em aberto.
‘Ela não é uma pessoa má, mas você gostaria de dizer que ela é muito pretensiosa?’
Astella achava que era isso o que Naen quis dizer. Ela caminhava imóvel sem responder, ela só conseguia sentir a presença de Naen atrás dela.
Naen hesitou e disse novamente.
— Daphne parece querer ser concubina do Imperador.
Astella respondeu sem se virar.
— Bem, essa é uma decisão de Sua Majestade.
Na história do império, houve poucos imperadores que não tiveram uma concubina. Ainda que não houvessem concubinas oficialmente aceitas, ainda tinham casos com amantes e as deixavam de lado.
— Além do mais…
Astella estava prestes a falar, mas fechou a boca novamente.
Naen parecia estar preocupada com Astella. Ela continuou andando para frente e então disse.
—Diga-me se mais alguma coisa te incomodar. A Senhorita Naen é minha responsabilidade, então cuidarei de tudo.
— Obrigada, Majestade.
—Você sempre pode falar comigo, mesmo que haja outras coisas difíceis.
Ela disse isso porque achava que seria desconfortável para Naen ficar no Palácio da Imperatriz, mas Naen balançou a cabeça imediatamente.
— Nada é difícil. Eu gosto daqui.
Astella olhou em volta. Naen falou francamente.
—Se estou aqui, há trabalho a fazer e é conveniente.
Ninguém estava com raiva ou reclamando. Se fosse ao território, ela teria que ouvir as reclamações da primeira irmã mais velha ou da mãe, e estando na mansão, tinha que agradar o pai e a segunda irmã.
Comparado a isso, a vida com a Imperatriz era confortável.
Depois de ajudar Astella com a papelada durante o dia, Naen estava completamente livre.
Ninguém interferia em nada em sua vida no palácio.
—Estou feliz que você esteja bem.
Astella gostava de Naen porque ela era sincera e inocente.
Ela pensou em Daphne, que ela acabara de conhecer.
Burguen, o atual Ministro do Interior, era bastante próximo da família Reston.
Não era uma família poderosa, mas ela se lembrou que ele era um funcionário público de classe média ainda naquela época.
Com uma sobrinha tão linda que parecia querer apresentá-la ao Imperador.
‘Isso era inevitável.’
Astella não achava que Kaizen envelheceria olhando apenas para ela para sempre.
Além disso, o casamento dos dois era um casamento contratual, com prazo determinado.
‘Quando o contrato terminar…’
Mesmo ela não tinha certeza do que aconteceria a seguir.
Ele garantiu a ela que ela poderia ir embora, mas ela se perguntava se Kaizen realmente a deixaria ir.
Além disso, Astella estava preocupada se Theor estaria seguro se ela fosse embora.
‘Posso ir?’
Astella não conseguia tomar uma decisão facilmente, ao contrário do início. Ela tinha que pensar no futuro de Theor.
Para que Theor permanecesse na posição de Príncipe Herdeiro, ela teria que permanecer como Imperatriz.
Ela não sabia como seu relacionamento com Kaizen mudaria, mas a menos que algo especial acontecesse, ela achava uma boa ideia viver como a Imperatriz.
‘Algo especial…’
O que poderia mudar nessa situação era a opinião de Kaizen, e se ele continuasse assim, um dia ele perderia o interesse por ela e encontraria outra mulher?
Há algum tempo, seu avô materno, o Marquês de Calenberg, perguntou-lhe um pouco preocupado.
—Você está pensando em ficar assim?
Essa observação foi repleta de ansiedade em relação ao futuro da neta.
Ela tinha que decidir como se preparar para o futuro.
Astella caminhou pelo jardim, pensando de diferentes ângulos em como organizar sua vida.
Ela tinha que tomar uma decisão de qualquer maneira – se estava pronta para ir embora e se recusar a aceitar completamente os sentimentos de Kaizen.
* * *
O Ministro do Interior, Burgen, estalou a língua ao ouvir a notícia do Palácio Imperial.
—O que foi isso…
As notícias não foram nada de especial. Foi dito que Daphne ficou envergonhada porque a Imperatriz a repreendeu. Era ridícula e patética.
—Por que você atrai a atenção da imperatriz por razões tão patéticas quando não consegue nem atrair a atenção do imperador?
Sua sobrinha escreveu-lhe uma carta reclamando pateticamente.
Ele leu metade, rasgou e jogou fora. Estava chateado com o quão inútil sua sobrinha era.
Daphne deveria ter conseguido chamar a atenção do Imperador na época em que ele e a Imperatriz pareciam distantes.
Longe de chamar a atenção, o Imperador parecia ver Daphne como um ornamento dentro do Palácio do Imperador.
Depois que a família Croychen foi expulsa, Daphne sonhou em sentar-se ao lado do imperador e ganhar poder.
Mas esse sonho não deu em nada quando o Imperador e a Imperatriz se reconciliaram.
Daphne, como ele já esperava, também falhou violentamente e, no final, ele entrou em contato com o deposto marquês de Croychen e apenas observou os passos do imperador.
—Milorde.
O criado bateu na porta apressadamente.
—O que está acontecendo?
—É da família Croychen, chegou uma carta secreta.
—Carta?
Por que eles enviaram de repente uma carta secreta?
Há poucos dias ele viu o Marquês. Houve alguma novidade?
Ele a recebeu com um olhar misterioso.
O selo e a caligrafia usados no envelope eram claramente do Marquês de Croychen.
Então ele pegou a carta e leu, o que estava escrito o surpreendeu.
A longa carta tinha um conteúdo inesperado.