Como esconder o filho do imperador - Capítulo 131

Astella caminhou pelo corredor até o Palácio do Imperador.

Os jardins do Palácio Imperial podiam ser vistos em ambos os lados do longo corredor.

Os oficiais que passavam encontraram a Imperatriz e curvaram-se educadamente.

Embora já tenha passado muito tempo desde que ela voltou ao palácio, poucas vezes tinha percorrido esse caminho.

Astella raramente ia ver Kaizen.

Mesmo que não fosse, Kaizen ia ao palácio da Imperatriz todas as noites, então ela não precisava ir vê-lo.

Ao chegar ao Palácio do Imperador, um oficial de meia-idade saiu correndo com uma cara de surpresa.

─ Cumprimento a Vossa Majestade a Imperatriz.

Ele foi extremamente educado, mas seus olhos mostraram sinais de surpresa. Parecia uma loucura Astella ter vindo visitar o imperador pessoalmente.

Ele pediu a compreensão de Astella com um olhar um pouco envergonhado.

─ Espere um momento. Sua Majestade o Imperador está agora recebendo Sir Lyndon.

─ Eu disse a ele de antemão que iria visitá-lo neste horário.

Claro que ela não veio sem avisar. Astella enviou uma mensagem para Kaizen com antecedência.

─ Sir Lyndon solicitou uma audiência, dizendo que tem algo urgente para relatar. Peço perdão, Vossa Majestade. É urgente.

‘Se for urgente, é sobre a bomba?’

Felizmente, ela não teve que esperar muito. Depois de um tempo, Lyndon apareceu.

Ele encontrou Astella e a cumprimentou com cortesia.

─ Vossa Majestade a Imperatriz.

─ Sir Lyndon, fez um ótimo trabalho.

Ao receber o jeito amigável de Astella, Lyndon abaixou a cabeça com um olhar vazio e apologético.

─ Majestade, queria me desculpar pelo que aconteceu da última vez. Foi tudo minha culpa. Sinto muito.

Lyndon estava falando sobre o dia em que foi ao teatro.

─ Não, eu não me importo.

Quando a bomba explodiu no caminho para a carruagem do Imperador, foi por seu descuido como comandante da Divisão de Guardas.

Ainda assim, não foi possível determinar se a culpa era dele. Teria sido difícil encontrar pequenos explosivos nas aberturas das grades.

Na verdade, não tinha sido muito perigoso.

─ Astella.

Durante essa conversa, a porta se abriu e Kaizen apareceu. Ele parecia não conseguir esperar depois de ouvir a voz de Astella.

Astella educadamente cumprimentou-o.

─ Perdão por ter interrompido sua reunião.

─ Não, já tínhamos terminado.

Kaizen entrou para que ela pudesse segui-lo. Astella entrou no Salão Oval com ele.

Depois que a porta se fechou, Astella perguntou a Kaizen.

─ Foi por causa do último acidente?

─ Sim.

Kaizen respondeu com um olhar sombrio.

─ Procurei a pólvora e encontrei sua origem.

─ Descobriu tão rapidamente.

─ Não foi difícil. De qualquer forma, apenas algumas pessoas seriam suspeitas.

O número de suspeitos poderia ser contado nos dedos de uma mão. Então, foi um trabalho muito rápido.

─ Na verdade, tenho que te fazer um pedido.

─ Um pedido?

─ Posso dar uma olhada nos registros fiscais da geração anterior?

─ Os registros fiscais?

A biblioteca subterrânea do palácio mantinha registros de seus assuntos políticos.

Claro, haveria registros fiscais de cada região. Tais materiais não poderiam ser acessados sem a permissão do Imperador.

─ Ah, sim. Você disse que era necessário para o assunto do seu pai. 

Kaizen pareceu se lembrar da última conversa. Ele franziu a testa como se não conseguisse entender.

─ Já vi diversas vezes a renda familiar e os impostos da família Reston, mas estão impecáveis. Durante centenas de anos, nem um centavo estava incorreto. O que você vai fazer com isso?

Kaizen também examinou secretamente os registros do Território Oeste na biblioteca do Palácio Imperial para encontrar um meio de punir a família Reston.

Os livros fiscais podiam estar um pouco errados, até mesmo por engano, mas o registro da família Reston não estava nem um pouco errado.

‘O histórico era tão perfeito que era admirável’, disseram diversas vezes funcionários do governo.

Astella apenas riu sem responder.

─ Te aviso mais tarde.

─ Deve ser segredo de família.

Embora ele quisesse ficar com raiva naquele momento, o rosto de Kaizen não parecia bravo.

Se fosse igual a antes, ele ficaria triste por ela não ter lhe contado os detalhes. Mas, agora, sentia que havia uma relação de confiança entre eles.

─ Não é segredo de família. É o segredo do meu pai.

Outros não sabem. O único que sabia era seu pai, o duque de Reston.

Astella conhecia esse segredo simplesmente porque teve sorte.

De qualquer forma, Kaizen deixou esse assunto de lado, sem fazer mais perguntas.

─ E quanto a Theor?

─ Ele está estudando no palácio.

Kaizen disse de repente.

─ Ah, sim. Acho que deveria enviar Serbel para o norte.

─ O que aconteceu?

─ Não é sério. Mas ainda preciso ter cuidado… É melhor encontrarmos outro professor temporariamente.

Se fosse por esse motivo, era inevitável.

─ Entendo.

Kaizen disse tristemente.

─ Tenho certeza que quando Serbel for embora, ficará ausente por um tempo. Theor ficará muito triste, e terei que chamar um grupo de bonecos para ele não desanimar muito.

Kaizen enviaria a mesma trupe de fantoches para Theor que se lembrou de ter visto no espetáculos de marionetes da praça no passado.

─ Theor ficará muito feliz.

Astella olhou para Kaizen novamente, um leve sorriso no rosto.

Na verdade, o propósito de vir aqui foi outro assunto. Mas ela se sentiu um pouco tímida ao dizer isso.

─ Esqueci de dizer a parte mais importante. Estou aqui para agradecer pelas joias que me enviou.

Era educado vir agradecer ao Imperador pelo seu presente. Mas, nas vezes anteriores, Astella não manteve essa cortesia e simplesmente mandou uma empregada.

Kaizen arregalou os olhos, um pouco surpreso com as palavras de Astella. Então ele deu um passo mais perto.

─ Você gostou?

─ São bons demais para mim.

─ Não há nada no mundo que seja bom demais para você.

Era uma voz calma, mas cheia de carinho. Astella olhou para Kaizen com um olhar ligeiramente surpreso.

‘Não acredito que ele disse algo tão embaraçoso como se fossem simples palavras.’

Kaizen também desviou o olhar ligeiramente para o lado com uma expressão suave, como se tivesse percebido isso.

Ele parecia envergonhado do que disse. Astella conteve o riso.

Ao olhar as joias, lembrou-se do pai, que disse que era um desperdício entregá-las à Imperatriz.

Na verdade, essa seria uma avaliação lógica.

‘Ele disse que o carinho cega os olhos das pessoas?’

Astella se virou, evitando os olhos de Kaizen.

─ Eu tenho que voltar. Theor vai me procurar depois da aula.

Kaizen disse suavemente com uma voz ligeiramente arrependida.

─ Ok, te vejo à noite.

Astella saiu. Ela não odiava esse ambiente confortável.

Mas estava com um pouco de medo de se acostumar com esse relacionamento suave com Kaizen.

* * *

Ela voltou usando Theor como desculpa, mas quando foi para o palácio, ele estava brincando no jardim.

─ Theor saiu com sua empregada para o jardim norte.

Astella ficou surpresa ao ouvir as palavras de Hannah. Tal jardim ficava distante do Palácio da Imperatriz.

─ Acho que ele já cansou desse jardim e queria ir para algum lugar novo.

Era de se esperar, já que ele estava preso no Palácio da Imperatriz.

Theor tinha apenas cinco anos, mas tinha uma personalidade extrovertida e curiosa. Parece que ele estava mais curioso desde que foi levado ao teatro há pouco tempo.

Não havia perigo algum, pois o jardim norte ainda pertencia ao palácio da Imperatriz.

─ Então aproveitarei esta oportunidade para ir conhecer também.

Astella organizou o resto do seu trabalho e foi.

Hannah disse que iria junto, mas ela recusou.

Astella caminhou para o leste ao longo do canteiro de flores lindamente decorado.

Depois de passar pelo jardim familiar, uma paisagem um tanto desconhecida apareceu.

Ela podia ver quão largo era o novo Palácio da Imperatriz. Vários meses se passaram desde que ela veio para lá, e ainda havia lugares desconhecidos.

Ao passar pelo lago que viu pela primeira vez, ouviu uma voz familiar na grama.

─ Não, não posso!

Em tom agudo, Astella parou de andar. Uma voz familiar foi ouvida de dentro do canteiro escondido pela grama.

Era Naen.

Outra voz respondeu, rindo.

─ O que você quer dizer com não? Você já esteve ao lado da Imperatriz.

Era a voz de uma jovem.

‘Quem é?’

Era a primeira vez que Astella ouvia essa voz.

─ O que você quer que eu faça?

A voz de Naen parecia chorar. A expressão era de pânico.

─ Você serve a Imperatriz, você consegue, certo? Coloque-me lá como uma empregada.

Era autoridade da Imperatriz contratar criadas.

‘Por que ela pediria a Naen para fazer isso?’

─ Como posso…

Assim que a voz de Naen se interrompeu, a voz estranha gritou.

─ Faça mesmo assim! No Palácio do Imperador não tenho chance de me encontrar com Sua Majestade!

‘Uma mulher que não pode ver o Imperador, então quer ir ao Palácio da Imperatriz…’

Astella ficou intrigada. Claro, Kaizen parecia estar mais no Palácio da Imperatriz do que em seu próprio palácio.

Ainda assim, ouvir isso era surpreendente. Por outro lado, foi constrangedor.

Astella perguntou calmamente em direção à grama.

─ Senhorita Naen, o que está acontecendo?

As palavras interromperam a conversa entre as duas pessoas. Naen apareceu quando ouviu a voz de comando.

─ V-Vossa Majestade.

Naen estava com o rosto pálido. Uma jovem criada de cabelos ruivos foi vista atrás dela.

A empregada também ficou surpresa ao ouvir Astella.

─Quem está aí?

─ Ah… ela é…

Naen não conseguiu responder e mordeu os lábios. Astella se aproximou da empregada ruiva.

─ Não acho que você seja uma criada do meu palácio. Aonde você pertence?

─ Estou a serviço de Sua Majestade, no palácio do Imperador.

A maioria diria que pertencia ‘ao palácio do Imperador’, mas a forma como ela disse isso foi incomum.

A empregada ruiva parecia ter a mesma idade de Marianne. Um rosto esguio com olhos ligeiramente levantados. Era uma beleza que parecia um pouco fria.

Ele cumprimentou a Imperatriz com um olhar arrogante e orgulhoso, para uma mera criada.

Neste momento, Astella percebeu a identidade desta empregada.

‘Disseram que os nobres trouxeram uma jovem para se tornar concubina do Imperador.’

Esta empregada era provavelmente a pessoa mencionada.

Astella olhou diretamente para ela com um olhar calmo.

‘Não importa o que ela faça no Palácio do Imperador, é inaceitável vir ao Palácio da Imperatriz e fazer barulho.’

─ Parece que uma empregada que serve o Imperador pode ir a qualquer lugar, já que você entrou em meu palácio sem minha permissão neste momento.