Como esconder o filho do imperador - Capítulo 114
— Irmão?
Reagindo ao termo inesperado, Theor sacudiu o urso e piscou. Havia curiosidade nos olhos vermelhos.
O duque começou a convencer Theor com um sorriso gentil no rosto.
— Nosso príncipe. Não se sente triste por estar sozinho todos os dias?
— Não estou sozinho. Tenho o Levin… E Panqueca.
— Levin? Panqueca?
— O cachorro.
Theor apontou para o cão dourado deitado de bruços ao lado da mesa.
— Mas bonecos e cachorros não falam, não te aborrece? Se tivesse um irmão mais novo, poderiam se divertir todos os dias, conversar com ele, estudar com ele e, claro, teriam muitas coisas em comum.
Theor ouviu ansiosamente a doce voz. No entanto, as palavras do duque não continuaram.
— Não fale besteiras.
O Marquês de Calenberg, que estava abraçando Theor, avisou o duque ameaçadoramente.
— Está dizendo absurdos na frente do pequeno príncipe. Se isso é tudo o que você tem a dizer, vá embora.
Essa última palavra foi dita com desprezo. Seus olhos pareciam estar olhando para um monte de lixo.
O Marquês só não podia dizer nada rude porque Theor estava presente. O menino, que estava parado, interveio de repente.
— Eu não quero um irmão.
— Hein?
— Não gosto de ter um irmão. Eu não preciso de um irmão.
Theor lembrou alguns meses atrás, quando morava no interior, antes de conhecer o Imperador.
Havia uma cidade perto da mansão onde viviam. Era uma cidade pequena, mas havia crianças da idade de Theor.
Theor costumava andar com as crianças que vinham brincar perto da mansão. Muitos deles traziam seus irmãos mais novos.
Theor aprendeu o conceito de um irmão mais novo lá, quando ele viu os irmãos e irmãs partirem de mãos dadas.
Naquele dia, ele implorou à mãe que lhe desse um irmão mais novo. Naquela época, tia Gretel também estava na mansão.
Gretel agarrou Theor e explicou passo a passo.
— Há momentos em que você não pode ter um irmão mais novo. Às vezes sua mãe pode ficar muito doente e seria perigoso ter outro bebê.
O avô, que ouviu a situação, concordou. Nenhum deles explicou a ele por que sua mãe ficaria doente.
Mas Theor teve medo de ouvir a explicação e desistiu rapidamente.
Ele não gostava quando sua mãe estava doente. Então não precisava de um irmão menor. Ele não queria que sua mãe ficasse doente e corresse perigo, porque ele gostava de estar com a mãe.
O duque murmurou atordoado enquanto ouvia a história.
— Por que os adultos dizem bobagens para uma criança?
— O que você diz é ainda mais inútil.
O marquês pegou Theor nos braços e o colocou no chão, longe do Duque.
— Theor, vá até Hannah agora.
— Sim, vovô.
Theor partiu sem se despedir do duque.
O cão, que estava sentado imóvel, seguiu Theor.
— Não é inútil.
Assim que Theor desapareceu, o Duque de Reston mudou de expressão em um pequeno instante e disse com uma voz séria.
— Nunca pensei que poderia obter muita ajuda do pequeno príncipe.
Era o velho marquês, não o príncipe, quem poderia ser de maior ajuda agora. O duque continuou sua explicação de maneira educada.
— Como meu pai sabe, Sua Majestade está perdendo o interesse em Astella neste momento.
— Eu não sou seu pai.
— Infelizmente, não apenas o estado de Astella, mas também nossa família e a segurança do jovem príncipe dependem do amor que o imperador tem por Astella. Não é assim?
O marquês Calenberg fechou a boca com um olhar desagradável.
Recentemente, o Imperador passava no palácio da imperatriz, mas voltava para o próprio palácio em pouco tempo.
Tudo o que ele fazia era olhar para Theor por um momento e ter breves conversas com Astella.
A situação começou a mudar após a disputa sobre os assuntos da família Croychen.
— Muitos acham que seu relacionamento conjugal está em perigo.
No entanto, o Marquês sabia que tal relacionamento nunca existiu em primeiro lugar. Astella se recusou a aceitar as intenções de Kaizen desde o princípio.
A princípio, o marquês achou que era uma coisa boa. Ter que conviver com um homem que nem gostava como casal seria o pior.
Mas, de repente, Kaizen teve uma mudança repentina de atitude que fez o Marquês também ficar um pouco irritado.
As palavras do duque Reston não estavam erradas.
O contrato entre Astella e Kaizen, e a situação de Astella e Theor, dependiam completamente da maneira como Kaizen pensava.
Se Kaizen perdesse o afeto pelos dois, ele poderia expulsá-los sem cumprir o contrato.
‘Que situação ridícula.’
Não bastava ser forçada a se casar, mas agora Astella também tinha que tentar manter o coração de Kaizen.
Só de pensar nisso o fazia querer chorar. O duque apenas olhou para o marquês.
— Os funcionários do imperador já trouxeram outra mulher. Isso não é uma situação em que podemos apenas sentar e assistir.
— Eles trouxeram uma mulher?
O Marquês perguntou, surpreso.
O ex-imperador, a quem servia, demonstrava grande desejo por mulheres.
Naquela época, não havia um dia tranquilo no palácio por causa das amantes do Imperador.
O Duque estalou a língua, sem nenhuma surpresa em seu rosto.
—Bem, eu esperava que um dia o Imperador perdesse o interesse em Astella… Mas isso foi mais rápido do que eu pensava.
O duque precisava de mais tempo para recuperar terreno.
Até lá, a Astella tinha que prender a atenção do Imperador.
— No entanto, ainda estamos bem. O imperador pode ter perdido parte do interesse por Astella, mas ainda tem um filho com ela.
O mesmo tinha acontecido com o próprio duque. Jacqueline, sua esposa e mãe de Astella, era uma senhora bonita e elegante.
No entanto, seu relacionamento como casal nunca foi muito amigável. Sua esposa era uma dama perfeita, mas sempre teve um lado bobo parecido com Astella, e os dois brigavam frequentemente porque não tinham a mesma personalidade ou valores.
Ainda assim, a razão pela qual o casamento foi mantido foi por causa de Fritz.
Toda vez que o Duque estava com raiva de sua esposa, ele se segurava, pensando que havia um filho entre eles que herdaria a família.
Claro que ele tinha um objetivo mais macroscópico, ter uma filha para ser a Imperatriz.
— Acha que é uma boa coisa para dizer na minha frente?
Ao ouvir isso, o Marquês Calenberg ficou furioso. O duque se virou apressadamente com um olhar sombrio.
— Fritz está no oeste, então sou o único que pode ajudar.
Eles não tinham a menor confiança no duque, mas o marquês concordou.
Os dois deveriam se reconciliar de qualquer maneira. Se continuassem se dando bem, seria tudo melhor para sua neta e bisneto.
Marquês de Calenberg levou um momento para se acalmar e perguntou em voz baixa.
— Então, o que vai fazer?
— Eu cuido disso, e só precisa me emprestar seu nome.
O duque olhou pela janela.
Havia uma única nuvem no jardim ao pôr do sol.
— Hoje está um lindo dia.
* * *
Astella tomou banho e vestiu o pijama depois do jantar.
Ela sempre ia ver se Theor estava dormindo antes de ir deitar.
— E Theor?
— O príncipe foi ao pavilhão no jardim por um tempo.
— No Jardim? A essa hora?
— O Marquês foi com ele.
‘Ele saiu para brincar um pouco antes de dormir?’
Na época em que Kaizen dormia no palácio da imperatriz, ele brincava com Theor até altas horas da noite.
Mas agora Kaizen estava saindo assim que terminava de comer, então Theor sentia-se solitário todas as noites.
Nesses dias, seu avô materno ia ler histórias de contos de fadas até ele adormecer, ou Theor espalhava seus soldadinhos e brincava com eles.
— Vou lá também.
Quando Astella se levantou, Hannah rapidamente agarrou o seu xale para colocá-lo no ombro de Astella.
Astella saiu para o corredor vestindo um xale fino sobre o pijama.
Gotas de chuva caíam silenciosamente no jardim escuro. O pavilhão no jardim do palácio da Imperatriz era ligado por um longo corredor que ia até a porta de vidro da sala de descanso.
Graças a isso, poderia ir sem guarda-chuva.
Theor, de pijama, veio correndo em direção a Astella.
— Mãe!
— O que está fazendo aqui, Theor?
Dentro do pavilhão, Theor e seu avô estavam juntos.
Ela viu alguns brinquedos e uma xícara de chá quente.
O avô sorriu e disse:
— Nós saímos um pouco porque Theor disse que não conseguia dormir. Também me
doi a cabeça, então o ar fresco ajuda.
Havia sinais de exaustão ao redor dos olhos enrugados de seu avô materno. Devia estar cansado de sempre cuidar de Theor. Astella se sentiu mal por ele.
— Vovô, durma primeiro. Eu cuido disso.
— Tem certeza?
O Marquês se despediu de Theor e voltou primeiro.
Como era de se esperar, devia estar muito cansado. Então, Astella se sentiu ainda pior.
— O que estava fazendo, Theor?
— Brincando com meu urso de pelúcia.
Theor apontou para um ursinho de pelúcia na cadeira.
— Este é o irmão menor de Levin.
— Hein?
— Irmão de Levin. Ele é o irmão mais novo de Levin.
O outro urso fofinho estava entre os brinquedos preparados quando eles chegaram ao palácio. Ele era um pouco menor que Levin.
‘Por que de repente ele está falando sobre irmãos mais novos?’
— Theor, você quer um irmão? Você já pediu um antes.
— Não. Não quero um irmão. Mãe, eu não quero que você fique doente.
Astella sorriu e deu um tapinha na cabeça de Theor.
— Quando você se acostumar com a vida aqui, vou arrumar um amigo para você brincar.
Ela sentia que Theor precisava ter um amigo de sua idade, que pudesse brincar com ele.
Ela podia ver o jardim encharcado de chuva pela janela. A garoa encharcava o jardim tranquilo. Na grama molhada, a luz prateada da lua se refletia.
— Theor, está na hora de ir para a cama.
Astella agarrou os brinquedos de Theor.
Naquele momento, a luz brilhava no corredor do Palácio Imperial. Alguém estava vindo.
Depois de algum tempo, uma pessoa conhecida apareceu.
— Vossa Majestade?
Kaizen entrou com seu servo.
— Majestade!