Como esconder o filho do imperador - Capítulo 108
— Fez o quê?
Kaizen olhou para a garota na frente dele com um olhar que deixava nas entrelinhas que o que ele estava ouvindo era a coisa mais ridícula que poderia haver, e os outros olhos que a observavam pareciam pensar a mesma coisa.
Naen disse apressadamente as falas que haviam sido preparadas para ela antecipadamente.
Essas foram as linhas que Florin escreveu e disse a ela para memorizar.
— Eu estava errada, Vossa Majestade…
Naen relatou sinceramente as circunstâncias que memorizou. Ela disse que pegou a carta secreta enquanto espionava o duque.
Assim que viu seu conteúdo, ficou chocada e a enviou ao palácio sem dizer nada ao seu pai.
Primeiro, disse que enviou um espião para observar a família da Imperatriz porque tinha inveja de sua posição.
Que sua segunda irmã e pai não faziam ideia disso. Que ela não sabia que a carta secreta era falsa.
Naen falou sério, mas nenhum dos ouvintes acreditou nela.
Alguns riam abertamente, e outros ainda pareciam envergonhados de suas tentativas.
Muitos ficaram perplexos e surpresos com o ato do marquês Croychen, que usou sua filha mais nova como escudo.
— Não pensei que seria um grande problema…
Houve olhares significativos. Ninguém poderia acreditar que um ex-secretário de Estado de meia idade teria sido acusado por uma carta secreta falsa por puro ‘erro’.
Mas ainda se uma dama nobre de 17 anos, menor de idade, acidentalmente encontrasse uma carta secreta falsa e a enviasse ao Palácio Imperial, poderia ser chamado de ato de uma adolescente imatura.
Claro, nenhum dos nobres aqui acreditava seriamente nesse absurdo.
— Senhorita, eu…
Astella deu um passo à frente, chamando a atenção de todos.
Naen olhou para Astella com olhos assustados.
— Então foi a senhorita Naen quem enviou para cá o envelope com a carta secreta?
— Sim? Sim, sim. Claro…
Com a pergunta repentina, Naen gaguejou de vergonha e respondeu afirmativamente de novo.
— Foi, isso mesmo. Vossa Majestade, eu mesma a enviei.
— Então, claro, deve ter lido a carta, certo?
— Sim, fiz isso.
Antes de chegar ao palácio, Florin contou-lhe tudo o que sabia sobre a carta secreta. Naen memorizou desesperadamente o que sua irmã lhe ensinou. O que quer que perguntasse a ela, tinha certeza de que sabia.
— Entendo…
Astella fez a seguinte pergunta em um tom calmo.
— Então se lembra de como a carta foi dobrada?
— Hein…?
— Foi dobrada de uma forma bastante incomum. Não se lembra?
Para serem preciosos, no Império, havia muitas maneiras de dobrar cartas entre damas aristocráticas.
Assim como o menor gesto de dobrar e abrir um leque tem um significado, o método de dobrar cartas também tem diferentes significados.
Naen estava chocada.
Florin ensinou-lhe tudo sobre a carta secreta e como decifrá-la, mas não contou a ela como o papel havia sido dobrado.
— Bem, isso é…
— O que está acontecendo? Você não deveria saber, se a viu?
Naen olhou em volta com um olhar perplexo.
Parecia que ela estava procurando alguém para ajudá-la, mas ninguém a ajudou. Quando se trata de descobrir mentiras, se deve mergulhar nos pequenos detalhes.
Não importa o quão completa uma história falsa seja, ela não pode ser preparada para tudo com perfeição.
— Isso é…
Naen não conseguiu responder à pergunta de Astella.
Kaizen, que estava olhando para as duas, a repreendeu friamente.
— Disse que enviou a carta, então por que não pode responder?
— Vossa Majestade, é…
Suas bochechas brancas ficaram azuis o suficiente para fazer os presentes sentirem pena dela. Mas ela continuou insistindo que sim.
— Eu realmente a enviei. Eu juro…!
Naen chorou e implorou fervorosamente. Ela tinha apenas 17 anos.
Astella não sabia muito sobre a família Croychen, mas nunca tinha ouvido falar de uma terceira filha.
‘Não parece ser muito querida por sua família.’
Astella sentiu pena de Naen. Ela queria punir Florin por perjúrio, mas não sabia que Florin iria entregar sua irmã mais nova como bode expiatório.
Naen era uma senhorita tímida que não aparecia na sociedade e vivia sempre naquela casa.
‘Quem vai acreditar que uma garota como essa roubou uma carta secreta?’
Ela podia ser enquadrada por falsas acusações, mas punir uma senhorita aristocrática menor de idade também pioraria a reputação de Astella e do Duque.
Não poderia simplesmente mandá-la para o exílio ou algo assim.
Astella pensou por um momento, mas Kaizen acenou como se não tivesse a intenção de ouvir mais nada.
— Tirem ela daqui…
Os guardas vieram para levar Naen embora. Astella tomou uma decisão rápida após um breve pensamento.
— Vossa Majestade, acho que a senhorita aqui entendeu mal a situação.
Ela inclinou a cabeça para Kaizen e falou educadamente.
— Deve estar chocada porque de repente obteve uma carta secreta que comprometia o Duque. É compreensível que a tenha mandado para o palácio sem ter conferido os detalhes.
— É verdade.
Kaizen também parecia ter captado a ideia de Astella.
— Acredito que foi outra pessoa que falsificou a carta secreta.
Astella falava como se não soubesse de nada.
— Talvez uma pessoa astuta tenha tentado incriminar a minha família e falsificado deliberadamente a carta, fazendo esta senhorita inocente levar a culpa no lugar do suposto proprietário.
O homem astuto que fez a carta secreta falsa e vazou para os Croychen era seu pai, o duque de Reston.
Naquele momento, os olhos vermelhos de Kaizen se encheram de diversão, zombando.
Astella ficou um pouco envergonhada e desviou o olhar.
— Mas esse fato quase incriminou a mim e à minha família. O comportamento e imprudência desta jovem é imperdoável.
Naen estava tremendo de medo enquanto ouvia a conversa entre os dois. Astella olhou para Naen e voltou para Kaizen.
— Então deixe o castigo dela comigo até eu descobrir o verdadeiro culpado.
Havia um ar de frieza. Mesmo os aristocratas que observavam a situação deram a Astella olhares cautelosos.
Eles mostraram como estavam assustados com a atitude fria da Imperatriz.
Naen estremeceu com uma cara ainda mais assustada quando viu os cavaleiros do imperador
‘Eu pareço tão cruel assim?’
Todos pareciam pensar que esta seria uma situação terrível quando Astella disse que ela mesma a puniria.
Mas Kaizen deu a ordem, olhando curioso para Astella.
— Bem, está em suas mãos fazer o que quiser para castigá-la…
* * *
A cálida luz do sol penetrou na pequena biblioteca de Theor.
Hannah trouxe suas tintas pela manhã. Theor pegou as tintas e pintou no papel branco.
— Você desenha bem.
O avô de Astella, Marquês Calenberg, que estava ao lado dela, admirou a pintura de Theor. Na pintura estavam os pequenos Theor, Astella e o Marquês um ao lado do outro.
Ao lado de Theor estava Panqueca e o ursinho de pelúcia.
Eram desenhos de uma criança de cinco anos, mas havia muita habilidade para alguém de sua idade.
O pelo dourado de Panqueca e os detalhes do vestido de Astella foram muito bem representados.
— Nosso Theor é um bom observador.
Theor pegou tinta novamente e desenhou outra pessoa em um canto. Ele era um homem alto de preto.
— E este é…?
— Sua Majestade, o Imperador.
Olhando para ele de perto, tinha cabelos pretos e olhos vermelhos, assim como Kaizen.
Kaizen estava no canto mais distante dos três.
O boneco de cabelos pretos e olhos vermelhos na pintura parecia muito com o Theor do desenho, igualmente pintado com cabelos pretos e olhos vermelhos.
O marquês engoliu um sorriso amargo.
Theor gostava muito dele e seguia Kaizen à sua maneira.
‘Não pode deixar de ser atraído pelo sangue.’
Também se parecia com Astella, mas era inegável o quanto o menino se parecia com Kaizen.
‘Talvez, quando crescer, se torne uma verdadeira cópia de Kaizen.’
— Você gosta de morar no Palácio Imperial?
— Sim! Este lugar é espaçoso, posso comer delicioso lanches, e tem um cavalo com quem posso brincar…
Theor parou de falar de repente, depois de listar um por um todos os bons pontos com a mão.
— O que está acontecendo?
Theor baixou os dedos sem energia. Havia um olhar sombrio em seu rostinho.
— Mas minha mãe não acha que é bom aqui…
— Hum?
— Mamãe parece estar de mau humor desde que chegou aqui.
— …
Aliás, a observação foi boa demais, e uma triste exclamação se filtrou.
— Não posso voltar para nossa casa com mamãe?
Theor disse depois de pensar sobre isso por um momento.
— Não pode. Sua mãe se casou com o imperador e se tornou a Imperatriz. Vocês terão que morar aqui.
Astella contou ao avô sobre seu contrato de casamento com Kaizen.
Mas ele soube imediatamente que Astella não poderia sair daqui mesmo depois do término do tempo do contrato. Ela não ia deixar o pequeno Theor sozinho no Palácio Imperial e ir para o interior sozinha.
Felizmente, Theor rapidamente se esqueceu disso.
Pegando o pincel novamente, Theor desenhou árvores e flores no papel. O marquês ficou um pouco aliviado.
Logo, Theor levantou a cabeça de novo.
— As pessoas se casam porque se gostam, não é?
— Correto.
Os olhos límpidos de Theor olharam para ele com perguntas profundas.
— Mamãe e sua Majestade se casaram há muito tempo, então por que disseram que eles não tiveram um bom relacionamento?
— O que significa isso?
— Mamãe e sua Majestade se casaram novamente porque o antigo casamento deu errado.
— Quem disse isso?
Theor respondeu, tocando o pincel.
— O avô mau.
— …
Theor sempre chamou seu avô, o duque de Reston, assim. Bem, ele era o único que ousaria dizer isso ao menino.
As criadas e serviçais do Palácio Imperial sempre tiveram muito cuidado com suas palavras na frente de Theor porque Astella as instruiu claramente.
O Marquês decidiu pedir a Kaizen que proibisse a entrada do Duque de Reston.
— Isso foi… Antes de você nascer. Os dois se casaram e depois você nasceu. No entanto, houve uma situação e o Imperador teve que se afastar por um tempo.
Ele não conseguiu explicar em detalhes, então explicou da maneira mais simples
possível.
Ainda assim, não queria mentir ao menino, já que ouviu a verdade. E iria descobrir algum dia, de qualquer maneira.
— Sim, entendi.
Felizmente, Theor pareceu convencido depois de ouvir a explicação do avô.
Theor, que havia terminado de pintar as pétalas, voltou a pintar o cachorro.
— Minha mãe gostava de Sua Majestade?