A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V4 04 - Confronto (3)
“Como isso soa?”
O tom de voz suavemente sedutor de Janis teria ficado menos deslocado se ele estivesse convidando Lean para um encontro. Ela cerrou os dentes. Que escolha ela tinha? Mesmo que concordassem com os seus termos, não teriam garantia da segurança de Mordred.
“Não sou um homem muito paciente. Você tem dez segundos para se decidir.”
“Não, espere-”
“Dez… Nove… Oito…”
Janis estava em contagem regressiva incansavelmente. Gotas de suor frio se formaram na testa de Lean. Não havia uma boa escolha a fazer, e ela e Huey não tinham meios de reverter a situação.
Eu tenho que pensar em algo…
“Seeete… Seeeis… Ciiincoo…”
Mas Janis não lhe daria tempo para pensar. “Quaaatro… Três…”
Lean tinha que fazer algo.
“Dois…”
“Vamos-“
“Opa! Minha mão escorregou!”
Janis disse com falsa preocupação na voz, erguendo a adaga. Ele estava pronto para atacar.
Lean percebeu que, desde o começo, ele não pretendia poupar Mordred e estava apenas brincando com eles. E agora iria perfurar a garganta de Mordred com a adaga cerimonial. Lean fechou os olhos.
“Espere!” veio uma voz atrás deles, ecoando pela floresta.
Janis congelou quando alguém que não deveria estar ali apareceu atrás do grupo.
“Eh? Cecilia?!”
Era ela, vestida novamente com sua roupa de Cecil para facilitar os movimentos. Ela correu até Janis, chutou a adaga da mão dele e lançou uma barreira protetora no formato de uma cúpula transparente ao redor de Mordred usando o Artefato de Gilbert. Pega de surpresa, Janis demorou a reagir. De repente, ele viu uma espada voando em sua direção. Foi a habilidade de Oscar desta vez. A espada circulou em torno de Janis e prendeu-o pela capa em uma árvore. Enquanto isso, Cecilia pegou o Punhal do Destino. Janis gemeu.
“Ufa! Parece que chegamos a tempo!”
“Não faria mal nenhum se tivessem chegado um pouco mais cedo…”
“De qualquer forma, parece que salvamos o dia.”
Não foi apenas Cecilia quem se teletransportou para trás de Lean, mas Gilbert e Oscar também. Todos foram enviados por Zwei para o local marcado com o lenço de Lean. Três pessoas era o máximo que Zwei conseguia transportar dessa forma.
Cecilia olhou feio para Janis, que estava sentado no chão, debaixo da árvore onde sua capa estava presa.
“É hora da vingança, Janis!”
“Hmm, eu estava certo. Você é divertido.”
Apesar de ainda estar no chão, Janis recuperou a compostura e voltou a zombar. Cecilia olhou para ele.
“Eu não achei que seria fácil tirar você do meu pé, mas, cara, você continua puxando o meu tapete! Que bom que vim bem preparado.”
“Oh, sério?”
“Sou um homem muito cauteloso, sabe.”
Ele tirou a capa e se levantou. Eles ouviram um farfalhar próximo.
“O que é isso?!”
Só então, figuras começaram a aparecer entre as árvores. Alguns pareciam ser soldados, enquanto outros vestiam vestimentas religiosas. Todos olhavam vagamente para o espaço e tinham marcas em forma de videiras espinhosas nos pulsos ou no rosto. O grupo de Cecilia deu um passo para trás, intimidado pelo grande número de oponentes que surgiram do nada. Havia muitos para eles enfrentarem.
“Minha habilidade tem esse recurso extra útil, você sabe.”
“E o que é?”
“Posso dar ordens simples aos possuídos. Eles não podem ir contra suas crenças arraigadas, mas enquanto houver um pensamento ou sentimento que eu possa explorar, posso usar isso para que eles cumpram minhas ordens.”
Janis deu um tapinha no ombro de um soldado que estava próximo. Ele devia ter vindo da própria escolta do templo. Cecilia lembrou que alguns soldados foram designados para guardar a carruagem durante a visita.
“Todas as pessoas aqui são crentes da Caritade… mas não são simpatizantes da Donzela Sagrada. Para alguns, é difícil sentir lealdade para com uma líder que só se mostra durante cerimônias especiais.”
Agora Janis apontou para Lean.
“Olha, meus amigos temporários. Aqui temos uma candidata a Donzela Sagrada e seus cavaleiros. Por que vocês simplesmente não matam todos eles?”
Os olhos vazios dos soldados e clérigos possuídos focaram imediatamente no grupo de Cecilia e, como um só, começaram a correr em direção a eles. Huey rapidamente carregou Mordred em suas costas. Todos eles se viraram na direção oposta aos atacantes que chegavam.
“Nós pegamos o punhal, então vamos ao santuário!” Cecilia gritou.
Eles começaram a correr. O plano era usar o Artefato de Jade para esconder a presença deles e entrar furtivamente no santuário sem que as freiras dessem alarme, mas isso teria que ser descartado. Eles teriam que forçar a entrada.
Em vez de escalar o muro ao redor do santuário, eles fizeram Oscar abrir um buraco com o poder de seu artefato. O barulho alertou os guardas que patrulhavam nas proximidades e eles correram, gritando sobre uma invasão. Mas quando viram a horda seguindo o grupo de Cecilia, ficaram em silêncio, em estado de choque ou terror. Huey os nocauteou antes que eles tivessem tempo de entender o que estava acontecendo.
Apesar de estar carregando Mordred, ele ainda era tão rápido quanto o vento.
A porta do santuário estava trancada, então eles a derrubaram. Entraram na magnífica capela. Uma grande estátua da deusa parecia estar olhando para eles, parada contra o fundo de uma parede com o mito escrito nela. Entre os pilares à esquerda e à direita havia bandeiras com símbolos religiosos. O luar iluminava a capela, colorida pelos vitrais.
O complexo do santuário foi dividido em três áreas. A primeira área compreendia a capela onde os clérigos e freiras residentes faziam as suas orações diárias. A área central era a residência da Donzela Sagrada e suas freiras. Por último, havia o santuário interno localizado nos fundos do complexo, que só era aberto quando chegava a hora de uma candidata ascender ao título de Donzela Sagrada.
Cecilia e seus amigos precisavam chegar àquele santuário. Eles quebraram uma porta lateral e saíram da capela por um corredor que levava aos aposentos das freiras. Eles ouviram muitas vozes atrás deles, mas continuaram correndo sem olhar para trás. Quando chegaram à zona central, trancaram a porta às suas costas e as vozes dos seus perseguidores foram silenciadas. Sentindo-se temporariamente segura, Cecilia se agachou para recuperar o fôlego. Todos, exceto Huey, que carregou Mordred o tempo todo, estavam sem fôlego.
“Você acha… que poderíamos descansar aqui por alguns minutos?”
“Não tenho certeza se é uma boa ideia,” Gilbert respondeu, tenso.
Assim que ele disse isso, ouviram um baque forte e a porta dobrou um pouco. Seus perseguidores estavam batendo seus corpos contra a entrada, tentando atravessá-la.
“Caramba!” – guinchou Cecilia.
“Eles não vão desistir tão facilmente”, disse Lean com uma voz calma.
A barra da porta era feita de madeira. Era resistente, mas acabaria quebrando sob o ataque frenético da horda possuída.
“Temos que ficar o mais longe possível deles antes que invadam…”
A porta gradeada estava rangendo enquanto os perseguidores continuavam batendo nela. Cecilia se levantou e elas estavam prestes a começar a correr pelo corredor quando uma porta se abriu e uma freira colocou a cabeça para fora dela.
“Tem alguém aí?”
As portas em ambos os lados do corredor levavam aos aposentos das freiras e parecia que tinham acordado uma delas. Ela estava vestida com uma camisola simples, esfregando os olhos sonolenta. Outra porta se abriu à frente.
“Quem está fazendo esse barulho tão tarde?” E outra.
“Já é de manhã?”
E outra…
“Falem baixo!”
Mais e mais freiras estavam acordando. Cecilia engasgou.
‘Isso é ruim… não quero arrastá-las nisso!’
Janis ordenou que os possuídos atacassem a candidata à Donzela Sagrada e seus cavaleiros, mas quem poderia garantir que eles não prejudicariam outras pessoas que estivessem no caminho?
“O que foi aquele barulho? Estou tentando dormir aqui…”, disse outra freira que acabava de sair de um quarto ao lado de onde Cecilia estava.
Cecilia virou-se para ela e agarrou-a pelos ombros.
“Por favor, volte para o seu quarto e não saia!”
“P-Príncipe Cecil?! O que você está fazendo aqui?!” a freira exclamou com uma voz estridente.
“Príncipe Cecil?”
“Alguém disse que o Príncipe Cecil estava aqui?!”
“Onde ele está?”
O grito de surpresa da freira já havia acordado quase todo mundo, e mais freiras estavam saindo de seus aposentos para verificar o que estava acontecendo. Não demorou muito para Cecilia ficar cercada por elas.
“Aconteceu alguma coisa? O que te traz aqui?”
“Príncipe Cecil, é tão bom ver você de novo!”
“Hum, tods poderiam voltar para seus quartos e trancar as portas?…”
“Já faz muito tempo desde sua última visita, Príncipe Cecil!”
“Você está tão esplêndido como sempre!”
“Quando você chegou?”
Elas tinham muitas perguntas, mas não ouviam uma palavra que Cecilia lhes dizia. Todas as freiras que moravam aqui estavam lotando o corredor. Isso era ruim. Muito ruim.
“E-ei! Por favor escutem!”
“Por favor, voltem para seus quartos!”
Oscar e Gilbert juntaram-se a ela, implorando às freiras que voltassem para um local seguro, mas quase ninguém os notou. Para piorar a situação, Cecilia poderia jurar que a barra de madeira da porta rangia mais alto, mal conseguindo resistir. Ela mordeu o lábio. Só havia uma coisa que poderia funcionar. Sua habilidade especial.
Ela colocou a mão na parte inferior das costas da freira mais próxima dela e puxou-a para perto.
“Gostaria que eu começasse com você?”
“O que você está dizendo…?”
O rosto da freira ficou vermelho com uma emoção que alguém que havia feito voto de celibato deveria ter evitado. Cecilia lançou à freira seu sedutor olhar de príncipe, passando os dedos pelos cabelos dela enquanto falava.
“Foi o meu desejo de falar com vocês, senhoritas, que me trouxe de volta ao santuário. Suas virtudes e beleza me deixaram apaixonado.”
“Oh, meu príncipe…”
“Convidem-me para seus aposentos para me falar sobre sua deusa, me eduquem sobre a Igreja – encontrarão em mim um aluno disposto, voraz por conhecimento. Que seus doces lábios me guiem aos céus.”
A insinuação fez as irmãs trocarem olhares antes de todas gritarem de alegria, envergonhadas.
“Eu gostaria de passar algum tempo sozinho com cada uma de vocês, se possível.”
“Eu… eu não quero mais nada!”
“Você pode me ver a qualquer hora!”
Cecilia inclinou a cabeça para o lado e olhou para as freiras emocionadas com um sorriso brincalhão.
“Então vocês poderiam voltar para seus quartos como boas meninas e esperar pacientemente por mim até eu bater na sua porta?”
“S-sim!”
“Eu estarei esperando! Não importa quão tarde seja, por favor, não se esqueça de mim!”
“As meninas más que se cansarem de esperar sua vez e saírem dos quartos para me procurar vão perder a vez.”
Cecilia lançou um sorriso deslumbrante para elas, tocando os lábios com o dedo. As freiras ficaram com um tom mais brilhante de vermelho, quase desmaiando. Então elas voltaram para seus quartos com pressa. Cecilia acenou para elas até que só ela e seus desconcertados companheiros ficaram no corredor.
“Não poupando nem mesmo as pobres freiras, hein”, disse Lean, irritada.
“Eu não queria fazer isso, sinceramente, mas não tinha outro jeito!”
Cecilia respondeu em defesa própria.
“Vamos embora, antes que eles arrombem aquela porta!”
Oscar teve a presença de espírito de acabar com a briga e todos correram pelo corredor.
Eles saíram correndo e entraram em outro corredor, passando por uma lavanderia e vários depósitos. A vantagem deles sobre os perseguidores não era tão grande, já que as freiras os haviam segurado por tanto tempo e eles estavam bastante exaustos de tanto correr. Huey, carregando Mordred ainda inconsciente nas costas, gritou algo para Cecilia: “Tem certeza de que estamos indo na direção certa?”
“Não sei as direções, só estou correndo!”
“Você está brincando comigo?!”