A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V3 02 - Os gêmeos da corda bamba (8)
“Vai ficar tudo bem, direi a todos que você é um menino interpretando uma personagem feminina! E de qualquer forma, a peça será exibida no orfanato, não no teatro da cidade. Alunos da academia não apareceriam lá sem motivo, e como ninguém anunciará seu nome, o público não saberá quem você é! Além disso, tenho uma peruca para você usar no palco. Não há nenhum risco para você, confie em mim.”
Cecilia não acreditou na afirmação de Lean, mas sua amiga era perita em convencer os outros de que tudo daria certo.
Cecilia olhou para os sapatos e parou.
“Acho que vai ficar tudo bem…”
Mesmo presumindo que Lean não estava sendo totalmente transparente sobre seus motivos, ela realmente queria fazer algo em benefício do orfanato. Nesse caso, poderia contar com a ajuda de Cecilia. Também era inegável que ela devia um favor a Lean.
Ela respirou fundo. Assim que ela estava prestes a começar a andar novamente…
“Eh?”
…Algo caiu bem na frente de seu nariz. Houve um barulho ensurdecedor que parecia o de um prato quebrando. Era um vaso de flores que quebrou com o impacto no chão. Assustada, Cecilia olhou para cima e notou a silhueta de uma pessoa – ela não sabia dizer se era menino ou menina – em uma das janelas da escola. Percebendo o olhar dela, o estranho rapidamente desapareceu de volta para dentro.
* * *
Durante a pausa para o almoço, um dia depois de alguém tentar deixar cair um vaso de flores em sua cabeça, Cecilia foi ver o Dr. Mordred. Não foi porque ela se machucou.
“Doutor, você tem lembranças claras da noite passada?”
“Com licença?”
Cecilia pressentia que poderia ter sido o Assassino quem deixou cair o vaso de flores. Sentada em um banquinho para pacientes, ela se inclinou na direção do médico, que a observava com curiosidade.
“Se por acaso você tiver uma lacuna em suas memórias, por favor me diga! Eu prometo que não vou ficar com raiva! Eu também quero ajudar você, doutor!”
“Receio não saber do que você está falando.”
Sem saber que ele mesmo era o Assassino, Mordred suspirou, depois tirou os óculos e esfregou a ponta do nariz. Ele tendia a fazer isso sempre que surgia algo problemático.
“Você vem ao meu escritório e faz acusações bizarras contra mim. Sempre que é você, sei que tenho que me preparar para os problemas…”
“Bem…”
“E o que você quer dizer com não vai ficar com raiva de mim se eu tiver uma lacuna em minhas memórias? Você está insinuando que eu não lembrar das coisas causa problemas para você?”
‘Sim, é exatamente isso que estou dizendo!’
Ela não poderia dizer isso a ele, é claro. Mordred colocou novamente os óculos, ajustando-os com o dedo médio. Ele estreitou os olhos com suspeita por trás das lentes, mas Cecilia não deixaria que isso a desencorajasse.
“De qualquer forma, onde você estava ontem à noite?”
“Eu jantei com Emily e Grace.”
“Entre que horas?”
“… Nos encontramos pouco antes das seis e ficamos juntos até cerca das oito.”
Isso lhe daria um álibi…
Cecilia não tinha relógio, então não sabia a hora exata do incidente do vaso de flores, mas tinha certeza de que já passava das seis quando se separou de Lean.
‘Isso significa que não foi o Assassino quem fez isso?’
Mas ninguém além da outra personalidade do Dr. Mordred teria qualquer motivo para querer machucar uma candidata a Donzela Sagrada neste momento, presumindo que o Assassino não tivesse desaparecido completamente da psique de Mordred.
“Você ficou surpreso ao descobrir que havia passado mais tempo do que você pensava em qualquer momento do jantar? Ou você de repente estava em um lugar diferente do momento anterior e não conseguia se lembrar de como chegou lá?”
“Não.”
“Tem certeza?”
“Sim.”
A última resposta veio com uma voz diferente. Cecilia se virou para encontrar Grace, observando-a com uma sobrancelha levantada. Ela tinha acabado de entrar e estava fechando a porta atrás de si sem olhar. Ela estava carregando um casaco de homem.
“Olá, Grace!”
“E o que você pode estar fazendo aqui, Cecil?”
Grace lançou-lhe um olhar cansado. Cecilia levantou-se para cumprimentá-la.
“O que você está fazendo aqui, Grace?”
“Eu vim devolver isso.”
Ela ergueu o casaco para Mordred e entregou-o antes de agradecer.
“O doutor Mordred me emprestou ontem, já que era uma noite bastante fria.”
“Ah, é mesmo?”
“Como eu te disse, jantamos juntos…”
Cecilia não estava tentando lançar dúvidas sobre esse fato, mas decidiu deixar o assunto de lado, então apenas respondeu “Certo!”
Ela tocou o queixo, pensando.
Parece que realmente não poderia ter sido o Assassino desta vez.
Grace confirmou o álibi de Mordred. Por um lado, se Mordred tivesse realmente sido libertado do Assassino, isso seria fantástico. Mas, por outro lado, isso a deixou adivinhando a identidade do misterioso atacante do vaso.
“Aconteceu alguma coisa incomum?” Grace perguntou em um sussurro, notando a expressão desconcertada de Cecilia. Cecilia assentiu. A outra garota pensou por um momento e então pegou a mão dela.
“Por que não vamos conversar em outro lugar, Cecil?”
“Hein? Hum, está bem!”
“Espere, onde vocês estão indo?”
Elas prontamente deixaram a enfermaria, ignorando os apelos de Mordred.
* * *
Poucos minutos depois, Grace e Cecilia estavam nos fundos da escola. O lugar parecia um tanto abandonado e, na verdade, os estudantes raramente ficavam lá. Foi aqui que Cecilia salvou Zwei e Coco dos valentões.
As meninas estavam encostadas na parede.
“…E isso me fez pensar que o Assassino havia atacado novamente, então fui falar com o Doutor Mordred.”
“Eu entendo o que você estava fazendo, mas por que você se colocaria em perigo assim?”
“Colocar-me em perigo? O que você quer dizer?”
Cecilia arregalou os olhos para Grace, que franziu a testa em resposta.
“Você não considerou o que teria acontecido se o Doutor Mordred realmente ainda tivesse resquícios do Assassino dentro dele?”
“Oh…”
“E ainda assim você foi vê-lo sozinha? Isso daria ao Assassino a oportunidade perfeita para te atacar. Você quer morrer?”
“Agora que você mencionou isso, você está absolutamente certa…”
Ela inconscientemente presumiu que o Assassino não era mais uma ameaça e se sentiu segura ao ir ver Mordred. Mas se ela estivesse errada, isso teria mudado a situação totalmente. Trazer à tona o incidente do dia anterior teria sido suficiente para Mordred mudar para o Assassino e apagá-la da existência. Ele não era um personagem que ela podia encarar levianamente.
“Pelo menos agora você provou conclusivamente que não há nenhum vestígio do Assassino no Doutor Mordred. Devo dizer, porém, que estou chocada que Gilbert aprove esse plano imprudente.”
“Hein? O que isso tem a ver com Gil?”
“Eu teria pensado que, no momento em que você contasse que ia fazer isso a ele, ele teria dado o alarme sobre o quão ridiculamente perigoso era.”
Grace elaborou pelo bem de sua amiga, que sempre foi lenta em entender. Ela parecia ter percebido que Gilbert era o guardião de Cecilia e que Cecilia precisava cuidar de tudo com ele primeiro.
Cecilia coçou a bochecha, confusa.
“Na verdade, ainda não disse uma palavra sobre isso ao Gil.”
“O quê?”
“Eu não queria deixá-lo ansioso por nada quando eu nem mesmo entendia o que realmente aconteceu, sabe? Eu ia contar a ele depois de investigar um pouco.”
A expressão de Grace ficou dura. Agora ela não estava apenas desaprovando, mas visivelmente indignada com Cecilia.
“Esse tipo de pensamento é o que deixa as pessoas tão preocupadas com você.”
“Mas Gil tem estado ocupado ultimamente, então eu não queria incomodá-lo…”
Como herdeiro da Casa Sylvie, seu irmão já tinha muitas coisas para fazer. Acrescente a isso suas recentes visitas à Casa Coulson, e sobrou muito pouco tempo para cuidar de sua irmã problemática. Este era um período muito importante da sua vida, que decidiria o seu futuro. Cecilia não queria ser uma distração.
“É justo, mas você poderia ter pedido a Oscar para acompanhá-la. Ele ficaria feliz em ajudá-la com qualquer coisa.”
“Mas ele parece ocupado com suas próprias coisas também. Além disso, eu me sentiria mal por pedir favores a ele quando não posso contar o que estou fazendo e por quê.”
“Tive a impressão de que você estava tentando salvar sua vida a todo custo – me enganei sobre isso?”
Grace olhou para ela. Cecilia riu nervosamente, coçando a bochecha.
“De qualquer forma,” Grace percebeu que ela não estava chegando a lugar nenhum ao tentar fez Cecilia refletir sobre sua atitude, então ela seguiu em frente. “Nós estabelecemos que não foi o Assassino quem deixou cair aquele vaso. Posso garantir isso. Como você sabe que não foi um acidente? Alguém poderia tê-lo derrubado e fugido do local porque estava preocupado em quase atingir alguém?”
“Isso também passou pela minha cabeça no começo…”
Ela pensou na pessoa que vislumbrou pela janela. Ela teve a impressão de que ele a olhava com hostilidade.
‘Talvez eu só tenha imaginado, mas foi essa a vibe que recebi…’
Se ao menos tivesse sido um acidente. Cecilia certamente esperava que nada disso acontecesse novamente.
Grace parou de se encostar na parede.
“Quer a pessoa tenha más intenções com você ou não, se você quiser encontrá-la, pedir ajuda é a maneira mais eficiente de localizá-la. Tenho certeza de que você tem muitos amigos que não se importariam em lhe ajudar, então aproveite isso.”
“Sim, você está certa. Vou falar com Gil primeiro.”
“Soa como um bom plano.”
Assim que terminaram de conversar, Cecilia sentiu algo entrar em contato com sua cabeça e sua visão ficou turva. Assim que ela percebeu que era água, um balde vazio bateu em sua cabeça.
“Argh!”
Cecilia caiu de joelhos, o balde de metal tilintando ao fazê-lo.
Seu corpo estava queimando. “Ai! Essa água está quente!”
“Você está bem?!” Grace gritou, agachando-se ao lado de Cecilia. Sentindo que o chão molhado ao redor da amiga estava quente, ela começou a verificar Cecilia.
“Isso queimou você?!”
“Não, não estava fervendo…”
Cecilia ergueu os olhos e tentou sorrir, mas sua pele parecia dolorosamente vermelha.
“Felizmente, não parece sério, mas devemos pegar uma compressa gelada.”
Grace examinou as janelas diretamente acima de onde Cecilia havia estado. Ela estreitou os olhos com desconfiança e falou em voz baixa.
“Parece que alguém está realmente mirando em você…”