A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V3 02 - Os gêmeos da corda bamba (2)
Oscar olhou para sua noiva, que estava fugindo dele a toda velocidade. Quando ela desapareceu na multidão, ele suspirou, com o coração pesado de uma solidão indescritível.
‘Eu sabia que ela não iria me contar…’
Ele sabia que Cecil era Cecilia disfarçada já há algum tempo e que ela precisava manter o motivo em segredo dele.
‘Ela deve ser uma candidata à Donzela Sagrada.’
Isso lhe ocorreu recentemente. Essa possibilidade ofereceu a única explicação de como Cecil conseguiu vencer a Obstrução na Cerimônia de Seleção e porque ele possuía um Artefato Sagrado. Mas mesmo que tudo isso fizesse sentido para ele agora, Oscar ainda se sentia desconfortável. O que mais o aborreceu nessa situação foi que Cecília não confiava nele o suficiente para lhe contar isso sozinha.
Oscar tocou o artefato em seu pulso. Cecilia devia ter obtido o bracelete dela com Gilbert. O simples pensamento de que ela confiava mais em Gilbert do que nele o perturbava muito, por algum motivo.
‘O que é isso que estou sentindo?’
“Oscar…”
“Hngh?!”
Ele pulou quando alguém falou em seu ouvido de repente. Cobrindo o ouvido como se estivesse doendo, ele se afastou do culpado, que encolheu os ombros como se Oscar fosse o estranho.
“Não gema assim no meu ouvido!”
“Você estava tão desanimado que eu precisava fazer alguma coisa.”
Dante passou o braço em volta do pescoço de Oscar e tentou confortá-lo.
“Não deixe isso afetar tanto você. Não é nada pessoal, tenho certeza.”
Oscar se lembrou de quando Dante usou “ela” para se referir a Cecil. Isto foi no final da primavera, quando eles estavam estudando juntos para os exames.
“Você conhece o segredo de Cecil?”
“Hum. Talvez.”
Dante estreitou os olhos como se estivesse considerando algo, antes de abrir um sorriso.
“Mas eu prometi com o mindinho não contar a ninguém, então infelizmente não posso contar a você também, Oscar.”
“Então você deveria estar dizendo isso?”
“O que você quer dizer? Eu não disse nada.”
Ele estava admitindo isso de forma indireta. Parecia que Cecilia havia jurado segredo a Dante. Oscar suspirou novamente, desviou o olhar de Dante e listou três nomes, dobrando um dedo para cada um.
“E você não é o único que sabe. Gilbert, Grace e Lean também.”
Talvez houvesse ainda mais pessoas que soubessem. Pensar nisso o deixou deprimido.
“Sou o único excluído desta sociedade secreta?” Ele bufou de exasperação.
* * *
“Eu não deveria ter recusado a oferta de Oscar…”
Cecilia estava deprimida depois de fugir de Oscar e Dante. Em sua corrida louca, ela parecia ter perdido Lean em algum lugar no meio da multidão. Ela provavelmente ficaria chateada com isso.
“Argh…”
Cecilia curvou as costas e suspirou.
‘Aposto que Oscar achou que eu estava sendo estranha…’
Ela entrou em pânico e fugiu porque estava ansiosa sobre como ele agiu na semana passada, mas pensando bem, a pergunta dele hoje não foi nada fora do comum. Se você pedisse a alguém para apresentá-lo a outra pessoa, era normal que essa pessoa quisesse saber o porquê.
‘Fico pensando em como o Oscar é no jogo, mas ele não é assim agora…’
O heroi do jogo, amante de Lean, que queria se livrar de Cecilia a todo custo, não existia neste mundo. No entanto, Cecilia internalizou esse medo dele, o que a levou a agir impulsivamente. Mas era injusto da parte dela ter tanto medo dele quando ele não tinha feito nenhum mal a ela.
“O Oscar deste mundo não odeia Cecília. Ele realmente gosta… dela…? Ah…!”
No momento em que ela disse isso, o calor tomou conta de seu rosto. Memórias do incidente na enfermaria da escola um mês antes voltaram à tona.
[É de você que eu gosto! Não é óbvio?!]
Mas mesmo depois daquela confissão apaixonada, ele continuou a tratá-la normalmente. Cecilia ficou feliz com isso, pois não sabia como responder a Oscar, mas não podia simplesmente confiar na boa vontade dele para sempre, ignorando seus sentimentos.
Outro fator complicador era que não foi a Cecilia a quem Oscar confessou seu amor, mas sim a seu alter ego fictício, Cecil.
‘Isso seria mais fácil de lidar se ele tivesse se aberto para o meu verdadeiro eu…’
Não que ela pudesse pensar no que dizer naquela situação também. Ela segurou a cabeça entre as mãos.
‘Eu gosto de Oscar, mas gosto dele dessa maneira? Não tenho tempo para romance. Minha vida está em jogo aqui… Ah, espera…’
As engrenagens de sua mente travaram por um segundo.
‘Fiquei tão impressionada com a minha morte iminente que não percebi na hora, mas… do jeito que as coisas estão indo, vou acabar me casando com Oscar?’
“Heeeein…?”
O choque dessa constatação a deixou congelada por um momento.
“Oscar e eu… vamos nos casar?”
Agora que ela disse isso em voz alta, finalmente parecia real. Sua cabeça começou a girar.
‘O que… o que… o quê?! Espere, então, como ele não me odeia, não anulará nosso noivado. Mas é por Cecil que ele está apaixonado, não por mim! Quer dizer, eu sou Cecil, mas…’
Ela se sentiu tonta. Suas pernas tremeram.
“Ack!”
Ela tropeçou em alguma coisa. Mas quando ela estava prestes a cair de cara no chão, alguém a pegou a tempo.
“Você está bem?”
“Hein? Um, sim…”
Quando Cecilia levantou a cabeça para ver quem havia agarrado sua parte inferior do tronco, ela arregalou os olhos surpresa.
Era um garoto de constituição pequena, mais ou menos da mesma altura que ela, com uma expressão tímida. Ele tinha grandes olhos verdes, com cílios tão longos que lhe davam uma aparência um pouco feminina, e seu cabelo castanho estava trançado no lado esquerdo. No geral, ele deva uma impressão delicada e graciosa.
‘Zwei?!’
Ela se conteve para não gritar o nome dele. Zwei verificou se ela estava realmente bem, disse-lhe para tomar cuidado e saiu.
‘Eu… eu o encontrei!’
Seu irmão gêmeo não estava lá, mas isso já era um progresso notável. Ela o seguiu, tomando cuidado para não ser notada.
Cecilia seguiu Zwei atrás da escola. Não havia mais ninguém por perto e Zwei parecia estar esperando por alguém. Cecilia se escondeu para observá-lo.
‘Por que ele veio aqui? Se ele não tiver nada melhor para fazer, eu gostaria de falar com ele, mas seria suspeito se eu aparecesse agora.’
Ninguém deveria ficar atrás da escola quando havia uma festa no pátio. Se ele a visse, sem dúvida presumiria que ela o havia perseguido. Parecer uma canalha arruinaria suas chances de despertar o afeto dele.
‘Vou voltar para onde tem mais gente e encontrar uma desculpa para conversar com ele…’
“Eu sei que você está aí. Saia.”
Ela já tinha se virado para sair, mas isso a fez congelar, assustada. Quando ele a notou?
‘T-talvez tudo fique bem se eu sair humildemente e me apresentar?’
Ela se preparou para sair das sombras…
“Espero que você tenha trazido o que eu pedi!”
Mas aquela voz profunda não pertencia a Zwei. Cecilia se agachou novamente e observou três estudantes se aproximando de Zwei. O corpulento do meio se comportava de uma maneira que deixava evidente que ele era um filho mimado de uma família de novos ricos. Ele estava flanqueado por um garoto que parecia ser bom apenas para brigas e outro que parecia ter prazer em intimidar os outros.
‘Um chefe e seus dois capangas…’
Cecilia franziu a testa, desconfiada do que iria acontecer. Zwei deu um passo em direção aos outros meninos.
“Eu… eu trouxe!”
“Então o que você está esperando? Você quer que seu amiguinho morra?”
Um dos subordinados tirou um grande saco das costas e estendeu-o. Algo estava dentro, tentando freneticamente se libertar.
“Coco!”
O animal dentro da sacola miou em resposta à voz de seu dono. Os meninos capturaram o gato de Zwei.
‘Isso é tão cruel…’
Cecilia mordeu o lábio inferior. O outro subordinado pegou uma faca e apontou para o saco que balançava.
“Apresse-se ou você verá um pouco de sangue.”
“N-não, por favor, não machuque Coco!”
“Eu não recebo ordens de crias do diabo!”
O chefe do trio chutou Zwei no estômago quando ele tentou se aproximar do saco, fazendo seu corpinho voar. O menino bateu em uma árvore. Ele gemeu baixinho e se levantou com dor.
“N-não a machuque – eu tenho o dinheiro!”
Ele tirou algumas notas do bolso do peito. Cecilia estava testemunhando um garoto rico extorquindo dinheiro de outro – era uma quantia considerável.
O chefe dos valentões pegou o dinheiro e embolsou-o sem hesitar.
“Eu precisava disso. Meu pai me cortou minha mesada por gastos excessivos. Dá pra acreditar?”
“Eu te dei o dinheiro. O que mais você quer?”
“Hmm, que tal esse broche? Dê-me isso também.”
Ele agarrou Zwei pelo colarinho e apontou para seu peito, onde brilhava um broche com uma grande pedra preciosa verde. Provavelmente venderia por um preço alto.
“Você não vai dizer não para mim, vai?”
“Eu-eu não posso dar-”
“Cale a boca e entregue!”
‘Não posso ficar parada e não fazer nada!’
Cecilia pegou uma vassoura que estava encostada na parede ao lado dela e saiu correndo de seu esconderijo. Ela correu para o chefe dos valentões e balançou a vassoura nele sem perder o impulso, atingindo-o no plexo solar. O garoto desabou com um gemido. Seu ataque repentino deixou seus lacaios estupefatos.
“Que diabos?!”
Porém, não demorou muito para que aquele mais acostumado a lutar se recuperasse. Ele tentou esfaquear Cecilia com sua faca, mas ela usou o Artefato de Gilbert para repelir a lâmina. Ele tilintou como se estivesse atingindo metal, a força do ricochete enviando a faca para o ar. Cecilia pegou a adaga e apontou para o pescoço do outro subordinado.
“Seu jogo acabou. Devolva-lhe o dinheiro e o gato, e eu deixo vocês irem.”
“O que você está-?”
“Faça o que eu disse e vão embora!”
Ela olhou para eles. Os valentões estremeceram e trocaram olhares.
“V-Vamos dar o fora!”
“Certo!”
Os subordinados levantaram o chefe pelos braços e saíram correndo. Cecília relaxou a tensão em suas costas e tocou o artefato para liberar seu feitiço protetor.
‘Não foi assim que imaginei meu primeiro encontro com Zwei…’
Ela poderia ter ficado escondida até o fim, mas isso simplesmente não estaria de acordo com sua moralidade.
‘Pelo menos não causei uma má impressão nele, então acho que isso funciona.’