A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V2 06 - Repressão (4)
Três dias depois de Cecilia desenvolver esse mal-entendido de proporções épicas, ela se viu no quarto de hospital de Emily com Dante. Mordred estava lá com eles, inquieto. Ele continuou olhando para Dante com uma expressão preocupada entre as sobrancelhas.
Lançando um olhar de lado para Mordred, Dante colocou a mão sobre os olhos de Emily.
Uma rajada de vento forte o suficiente para agitar as cortinas explodiu.
“Uau!”
Uma luz fraca envolveu Emily e convergiu em torno de seu coração. O vendaval cessou simultaneamente.
“Pronto. Está feito.”
“Isso realmente funcionará?” Mordred perguntou, olhando de Emily para Dante e vice-versa. Descolado como sempre, Dante apenas encolheu os ombros. “Talvez?”
“Talvez?”
“Eu nunca usei meus poderes dessa maneira antes. Por que você simplesmente não pergunta a ela se funcionou ou não?” ele sugeriu, olhando para Emily.
Mordred e Cecilia fizeram o mesmo.
“Hora de você acordar, bela adormecida.”
Assim que Dante disse isso, as pálpebras de Emily se agitaram. Lentamente, elas se abriram para revelar as íris da mesma cor que a de seu irmão.
“Emily?”
“Onii-chan…?” ela perguntou com voz rouca. Mordred tapou a boca com a mão e começou a chorar.
* * *
Dante e Cecilia voltaram juntos do hospital.
Segundo o médico de Emily, ela precisaria de fisioterapia para recuperar o uso dos músculos atrofiados, mas desde que fizesse isso sem problemas, ela poderia receber alta a qualquer momento. Eles a examinariam amanhã para ter certeza de que não havia nada de errado com seu cérebro ou corpo.
“Nunca pensei que essa seria uma forma de acordá-la”, murmurou Cecilia, lembrando-se do milagre que acabara de testemunhar.
Dirigindo-lhe o mesmo sorriso despreocupado de sempre, Dante girou a pulseira em seu pulso.
“Meu artefato não serve apenas para colocar criaturas para dormir. Isso me permite controlar o próprio sono. Quer dizer, só posso usá-lo para acordar pessoas nesta situação específica, mas quando ouvi o que aconteceu com ela, tive a sensação de que funcionaria.”
Aparentemente, era a isso que ele se referia há três dias, quando disse que a situação de Emily o lembrou de algo.
‘Pensando bem, Dante foi o único que não estava lá quando a visitamos pela primeira vez…’
Se ele estivesse lá com eles naquele dia, eles poderiam ter conseguido despertá-la mais cedo.
‘Mas acho que no final tudo acabou bem, já que foi melhor colocarmos Bernard atrás das grades de qualquer maneira.’
As autoridades prenderam Bernard e o transferiram para uma cela de prisão. Ninguém poderia dizer como seria sua sentença, mas seria quase impossível para ele herdar o título de sua família depois disso.
Ele não era filho único, então poderia muito bem ser expulso da Casa Broussais. Se isso acontecesse, no entanto, ele pelo menos seria libertado dos grilhões que o prendiam à Casa Coulson. Isso provavelmente seria uma coisa boa para ele no longo prazo.
Claro, isso era fácil para Cecilia dizer.
‘Lá vamos nós – esse é um caso encerrado!’
Ela se sentiu verdadeiramente feliz pela primeira vez em muito tempo. Ela estava se preocupando com tudo ultimamente, apenas para que tudo se resolvesse assim. Isso naturalmente fez maravilhas em seu humor.
Cecilia também não contou a Mordred sobre o Assassino.
Mesmo tendo sido ferida por ele, Lean disse: “Por que se preocupar? Não vou acabar nessa situação de novo, então não me importo!”
No final das contas, eles decidiram que todos aqueles que conheciam o segredo da identidade do Assassino iriam mantê-lo para si.
‘Tirando isso, sinto que estou esquecendo alguma coisa…’
Cecilia olhou para o céu enquanto caminhava ao lado de Dante.
‘A questão do Assassino está praticamente resolvida e acordamos Emily. Espere, por que eu estava tentando tirá-la do coma mesmo?’
“Oh!”
Ela parou no meio do caminho, com uma expressão de compreensão em seu rosto. Dante se virou e percebeu.
“Cecil?”
“Desculpe, Dante! Vá em frente sem mim! ela gritou.
“Hein?”
Cecilia se virou e saiu correndo, deixando-o comendo poeira enquanto ia direto para o laboratório de pesquisa de Grace.
* * *
“Então… é por isso que preciso que você se torne a Donzela Sagrada! Por favor!” Cecilia implorou, cabeça baixa.
“Absolutamente não”, Grace respondeu categoricamente. Sua rejeição veio tão rápido que Cecilia tropeçou para frente.
“Mas por quê?”
“Estou ocupada gravando a voz de Mordred. Além disso, parece que a Casa Sylvie vai me conceder algum financiamento, então preciso trabalhar para melhorar o fonógrafo também.”
“Ah, vamos lá! Pense nisso! Você poderá ficar com o Dr. Mordred o quanto quiser se você se tornar a Donzela Sagrada!”
‘Embora você teria que estar em um relacionamento com ele’, foi o que ela por pouco conseguiu não deixar escapar. Nenhum benefício surgiria em levantar essa barreira agora.
E, além disso, ela tinha a sensação de que as coisas estavam se desenvolvendo bem entre os dois por conta própria, de forma bastante inesperada. Quando Mordred olhava para Grace, seus olhos suavizavam ainda mais do que quando ele olhava para sua irmã. O mesmo acontecia com ela.
Mas ela balançou a cabeça. “Só estou interessada em quem dá voz a ele. Não tenho interesse no homem em si.”
“O quê?!”
“Bem, não vou mentir e dizer que não estou atraída por ele. Mas no final, ele é apenas um recipiente para suas cordas vocais.”
“Essa é uma maneira terrível de descrevê-lo!” Cecilia reclamou, incrédula. Grace e Mordred se importavam tanto um com o outro, mas era assim que ela o via?
‘Talvez ela seja muito densa para perceber seus próprios sentimentos?! Poderia ser isso?’
Ela estremeceu, totalmente cega para como o sujo reclamava do mal lavado.
“Então, de qualquer forma, você terá que abandonar essa ideia, Cecilia”, disse uma voz familiar do fundo da sala. Cecilia olhou por cima do ombro de Grace e encontrou Lean acenando para ela. Quando ela entrou no laboratório, Cecilia imediatamente se curvou diante de Grace, então ela nem percebeu que Lean estava lá.
“O que? Por que você está aqui, Lean?”
“Oh, acabei de discutir algo com Grace”, ela respondeu.
Cecilia disse a Lean que Grace também transmigrou para o mundo. Ela planejou se reunirem as três em algum momento, mas evidentemente não houve necessidade de marcar uma data, afinal.
Com um sorriso nos lábios, Lean apontou para Cecilia.
“Você deveria ser a Donzela Sagrada!”
“Exatamente. Essa é a maneira mais simples.” – concordou Grace.
“Por favor, não sejam ridículas! Se eu fizer isso, vou morrer! Vocês sabem disso, não é?” Cecilia lamentou.
Ambas as mulheres trocaram olhares.
Lean disse: “Bem, sim, nós sabemos. Certo?”
“Mas você provavelmente conseguirá resolver de algum modo, não é? Eu não sei como, porém”, acrescentou Grace.
Embora parecessem totalmente opostas por fora, elas eram bastante semelhantes em sua essência. Cecilia estava perdendo o juízo.
“Vocês duas estão agindo como se isso não tivesse nada a ver com vocês!”
“Bem, é porque não tem”, Grace respondeu, dando de ombros.
“Verdade.”
“Vocês duas tem muito, muito a ver com isso!” Cecilia gritou. Sua lamentação soou alta o suficiente para ser escutada mesmo fora do laboratório de pesquisa.