A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V2 04 - Hora da rota do Dr. Mordred! (2)

Ambas as pessoas carregavam buquês, que colidiram no ar – e então ambos caíram no chão.

“Ai…”

“Ah, eu sinto muito”, desculpou-se Cecilia, levantando-se de um salto e correndo até a pessoa com quem havia esbarrado.

“Você se machucou? Se sente bem?”

“Hum, estou bem”, respondeu uma garota usando óculos redondos e grossos e um jaleco branco que ia até o chão. Ela era baixa, tinha cabelos cacheados e parecia mais jovem que Cecília.

De sua parte, Cecilia olhou com olhos arregalados quando a reconheceu.

“Oh! Você é aquela…”

“Hum? Já nos encontramos antes?” perguntou a garota, perplexa. Não era de admirar que ela não se lembrasse: Cecilia só cruzou com ela uma vez, no dia em que foi visitar Emily pela primeira vez. Quando se cruzaram, Cecilia sentiu uma estranha sensação de déjà vu. Isso foi tudo.

“Ah…” ela se esquivou, procurando o que dizer enquanto pegava o buquê da garota do chão. Um cartão onde se lia EMILY estava anexado a ele.

“Espere, você também está aqui para ver Emily…?”

“O que você está fazendo aí?” veio uma voz.

Cecilia se virou e viu Mordred enfiando a cabeça para fora de um quarto de hospital, que devia ser o de sua irmã. Quando seu olhar pousou na garota ao lado de Cecilia, ele abriu um sorriso.

“Vejo que você também está aqui, Grace. Obrigado.”

“Não tem problema,” Grace respondeu, sorrindo suavemente de volta.

Assim que todos entraram no quarto de Emily, as apresentações começaram.

“Esta é Grace Martinez. Ela está pesquisando audiologia em um laboratório aqui no campus.”

“Olá, meu nome é Grace. Prazer em conhecê-lo.”

“Ah, prazer em conhecê-la!” – disse Cecilia, apertando a mão estendida de Grace.

Em seguida, Mordred apontou para Cecilia.

“E este é um aluno da academia, Cecil Admina. Ele é um ano mais velho que você.”

“Entendo. Meu Senpai, então. Mais uma vez, é um prazer conhecê-lo,” disse Grace educadamente.

“Eu sou seu Senpai? Mas você não é um estudante de pesquisa?” Cecilia perguntou franzindo a testa, um pouco confusa.

“Grace não é uma estudante pesquisadora. Ela também frequenta a academia, mas é muito talentosa, então eles concederam a ela uma aceitação especial no programa de pesquisa.”

“Estou principalmente no laboratório durante o dia”, explicou Grace.

“Oh, uau”, Cecilia exclamou. Ela deve ser um desses prodígios. Além de serem admitidos nos laboratórios, pessoas como Grace também estariam dispensadas de frequentar as aulas na academia.

“Há vários anos, as chamadas telefónicas neste país tinham uma qualidade de som fraca. Grace aqui trabalhou para melhorar isso e é responsável por elevar o calibre aos nossos padrões atuais. Você está atualmente pesquisando o… fonógrafo, certo?”

“Sim. Já temos versões grandes, então agora estou criando versões o mais compactas possível.”

“Ooh, Grace, você é realmente incrível! Mas por que alguém que pesquisa Obstruções conhece alguém que pesquisa audiologia?” Cecilia perguntou, ingenuamente.

Mordred franziu a testa. “Hum? Eu já contei que estou pesquisando Obstruções?”

“Oh! Não! Eu ouvi isso do Gil! Gil me contou! Ele disse que você visitou a casa de campo que os Sylvies possuem! Eu gostaria de ter ido também!” ela se engasgou.

Não foi Cecil quem falou com Mordred sobre sua pesquisa sobre Obstruções – foi Cecilia.

“Ah, entendo. Vocês dois são muito próximos, então.”

“Ahaha, obrigado…”

Suor frio escorria por sua bochecha. Foi difícil escapar.

“De qualquer forma, como vocês dois se conhecem?” Cecilia perguntou, colocando energia em sua voz para disfarçar seu lapso.

O olhar de Mordred caiu para sua irmã, dormindo na cama ao lado dele.

“Bem, Grace salvou Emily.”

“Salvou?”

“Sim. Ela foi a primeira pessoa a chegar ao local depois que Emily foi atacada.”

Emily foi atacada nas primeiras horas da madrugada, enquanto ainda estava escuro lá fora. Quando ela saiu de casa para pegar o jornal, uma pedra a atingiu e ela desmaiou. Pouco antes de o culpado atirar outra pedra, Grace correu e o criminoso fugiu do local. Emily escapou da morte graças à rapidez com que conseguiu receber tratamento.

“Minha irmã deve sua vida a ela.”

“Entendo”, reconheceu Cecília.

‘É por isso que o Dr. Mordred confia tanto nela…’

Assentindo, Cecilia lembrou-se do sorriso de Mordred ao ver Grace. Então ela percebeu algo e virou a cabeça para a garota.

‘Então isso significa que Grace viu o Assassino?’

Ela engasgou um pouco ao perceber que poderia conseguir alguma informação de um lugar inesperado.

Escolhendo as palavras com cuidado, ela perguntou: “Mas é tão assustador como quem fez isso ainda está foragido, não é? Você… por acaso você viu como ele era?”

“Infelizmente… não vi”, admitiu Grace balançando a cabeça. Então ela mordeu levemente o lábio inferior.

Mordred colocou a mão em seu ombro. “Está tudo bem. Mesmo que o tivessem capturado, ele não se lembraria de nada.”

“Hein? O que isso significa?”

“O agressor de Emily estava possuído por uma Obstrução. Houve, de fato, outras testemunhas que disseram que uma névoa negra emanava do corpo da pessoa.”

‘O que?! Então isso significa que não foi o Assassino quem fez isso?’

Não deveria haver nada sobre uma Obstrução possuindo o Assassino. Ao menos, esta foi a primeira vez que Cecilia ouviu falar disso.

“Então talvez essa Obstrução seja a razão pela qual Emily não está acordando…”, postulou Mordred, acariciando suavemente a testa de sua irmã.

Quando Gilbert apareceu, a visita já havia terminado e Mordred e Grace já haviam partido. Gilbert e Cecilia caminharam lado a lado do hospital de volta aos dormitórios, discutindo – obviamente- sobre Emily.

“Então é possível que o Assassino não a tenha atacado?”

“Sim, embora não possamos ter certeza ainda. Não joguei o jogo até o fim, então há muitas coisas que simplesmente não consigo verificar…”

Gilbert coçou seu queixo. Parecia que algo havia ocorrido com ele.

Depois de alguma hesitação, ele falou. “Ei, eu posso perguntar algo a você? Como é que Grace conseguiu salvar Emily?”

“Hum?”

“Não é estranho? Aconteceu tão cedo que ainda estava escuro lá fora. Não parece que elas eram vizinhas, então por que Grace estava andando pela casa do Dr. Mordred?”

“Verdade…”

Ele tinha razão. Embora o assunto não tenha surgido, Cecilia teve a sensação, com base na conversa, de que os dois pesquisadores se conheciam antes do ataque. Era difícil acreditar que ela simplesmente precisasse passar pela casa de Mordred no meio da madrugada.

“Essa Grace pode estar escondendo alguma coisa”, ponderou Gilbert. A barriga de Cecília deu voltas.