A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V2 02 - Começam as férias de verão do inferno (1)

“Bem-vindos de volta, senhorita Cecilia e mestre Gilbert.”

“Olá!”

“Oi.”

Com a chegada das férias de verão, Cecilia e Gilbert voltaram para a propriedade da família Sylvie. Naturalmente, Cecilia usava um vestido, digno de uma dama.

Seus pais, os funcionários da casa e os empregados ficaram muito felizes com seu retorno.

Os irmãos foram para seus respectivos quartos e começaram a desfazer as malas. Dito isto, era apenas uma visita de duas semanas.

Como a mansão já estava abastecida com o guarda-roupas de ambos, eles não trouxeram muita bagagem. Cecilia, no entanto, havia embalado todo o seu equipamento para se travestir para garantir, então ela tinha o dobro de bagagem que Gilbert.

‘Eu realmente me sinto muito mais à vontade com roupas como essa’, ela pensou, sorrindo enquanto tocava a barra da saia. Ela não odiava ser Cecil, mas se sentia mais relaxada no modo feminino. Embora ela tivesse se acostumado a usar peruca e faixa no peito, eles ainda eram incrivelmente restritivos.

Ela continuou guardando suas coisas em silêncio. Quando ela estava quase terminando, alguém bateu na porta.

“Entre”, ela disse, e Gilbert colocou a cabeça pelo vão da porta.

“Você terminou de desfazer as malas?” ele perguntou.

“Sim! Quase!”

“Becky fez chá para nós. Scones também.”

“Ah! Mesmo? Já vou descer!”

Becky era a criada pessoal de Cecilia. Seus scones eram excepcionais, então sempre que Cecilia estava em casa, ela implorava para que ela os preparasse todas as semanas.

Assim que Cecilia soube que sua comida favorita estava esperando, ela abriu um sorriso radiante, que conseguiu fazer um sorriso aparecer nos lábios de Gilbert também.

“Ok, então estarei esperando em nosso lugar de costume.”

“Entendi!” ela respondeu alegremente, e Gilbert saiu do quarto satisfeito.

O lugar habitual deles era a sala de música da mansão. Foi ali onde seu pai aprendeu violino, e ela e Gilbert aprenderam piano com um instrutor particular. A sala tinha fechadura e era perfeitamente à prova de som, e por isso eles agora a utilizavam para ter conversas confidenciais.

Naturalmente, as conversas privadas em questão envolviam a vida passada de Cecília.

Mas, por alguma razão, todos ficaram nervosos com a ideia de os irmãos adotivos se trancassem juntos naquele lugar.

Principalmente a outra criada de Cecilia, Reyna, que sempre demonstrava uma preocupação bizarra por ela toda vez que ela saía da sala de música.

“Nada aconteceu, certo? Você está fisicamente intacta-?!”

Então, ela ficava vermelha antes que Gilbert a interrompesse com um sorriso sombrio, como ele sempre fazia.

Do ponto de vista de Cecília, ela estava apenas tentando manter um relacionamento amigável com o irmão, mas talvez a reação estranha das pessoas ao redor fosse devido às ações diferentes que ela tomou, causando uma estranha reviravolta no destino deles. Talvez ninguém tivesse visto os irmãos tão próximos, já que eles não se davam bem no jogo Otome.

‘Nesse caso, terei que fazer um trabalho melhor, mostrando a todos o quão forte é o nosso vínculo!’

Ela estava tentando mudar o bad end que estava predestinado para ela – sua morte inevitável. Começando pelas menores coisas, ela precisaria fazer progressos constantes para desafiar seu destino.

Depois de desfazer as malas, Cecília dirigiu-se à sala de música. Quando ela abriu a porta, encontrou Gilbert ali, lendo enquanto esperava sua chegada.

“Você está atrasada.”

“Desculpe. Demorou um pouco mais do que eu pensava”, ela admitiu, envergonhada, enquanto se sentava ao lado dele. Seus olhos brilharam ao ver a pilha de doces.

“Oh! Os scones da Becky! Eu tenho desejado eles há tanto tempo!”

“Que bom.”

“Hum?”

“Antes de sairmos da escola, escrevi uma carta para ela e disse que você ficaria emocionada se ela as fizesse.”

“Você escreveu? Ah, Gil, obrigada!”

Ele realmente era um irmão dedicado. Realmente a chateava que as pessoas pudessem pensar que ela não se dava bem com alguém tão amável.

Cecilia pegou um scone. Eles estavam recheados de chocolate, seu favorito. Isso devia também ser obra de Gil.

“Hummm!”

Ela mordeu, segurando um prato por baixo para evitar derramar as migalhas. O scones estava crocante, e os sabores de manteiga e chocolate doce se espalharam por seu paladar.

“Hummm!”

Ela quase desmaiou com o sabor nostálgico. Por mais viciantes que fossem, ela não pdoa comer muitos – eles não eram exatamente saudáveis.

“Você tem um pouco de chocolate no rosto.”

“Ah, obrigada!”

Gilbert passou o dedo no canto dos lábios dela.

“Você não é mais uma criança,” ele murmurou com tristeza, mas ela não se importou  nem um pouco.

Embora…

“Tudo o que faço é confiar em você, Gil. Você sempre tem que me ajudar na escola.”

Isso a fez se sentir um pouquinho patética, especialmente porque ela era a irmã mais velha.

Lambendo as migalhas do dedo, Gilbert olhou novamente para o livro.

“Você não precisa se preocupar com isso, ok? Não é a primeira vez que você precisa de ajuda.”

“Bem, acho que você está certo, mas…”

“Além disso, é melhor que eu dê cobertura a você antes que ocorra um incidente sério, em vez de ajudar apenas depois que as coisas já atingiram uma crise. Se tiver que limpar sua bagunça, prefiro fazer isso mais cedo.”

“Ok, sim, você pode ter razão, mas…!” Cecilia gritou, incapaz de dizer uma única palavra em defesa de si mesma, embora quisesse se opor.

Enquanto ela esfregava o rosto, em agitação emocional, seu irmão adotivo parecia prestes a bufar. Então, num tom muito mais gentil, ele disse: “De qualquer forma, estou fazendo isso porque quero, pura e simplesmente. Então não deixe isso te incomodar.”

“Ah, Gil…”

“Dito isto, eu gostaria que você mantivesse a cabeça um pouco mais fria,” ele acrescentou, com um sorriso sombrio.

Ela baixou o olhar e murmurou um “desculpe” após uma pausa. Ela amava Gilbert, mas aquela cara que ele fazia era tão assustadora. Ela queria que ele parasse com isso.

Cecilia terminou seu bolinho e depois se virou para encarar Gilbert.

“Ei, há algo que você gostaria que eu fizesse por você?”

“Para você fazer por mim ?”

“Sim. Como eu disse há pouco, me sinto mal por você estar sempre me protegendo! Pelo menos deixe-me fazer coisas para você durante as férias de verão! Eu cuidarei de tudo que você precisar!”

Gilbert estreitou os olhos.

“Você vai cuidar de mim?”

“Sim! Vou até cozinhar para você!”

Ele lançou-lhe um olhar sinistro. “Prefiro viver, obrigado.”

Implacável, ela colocou a mão sobre o coração e proclamou heroicamente: “Neste verão, darei tudo para você! Use-me como quiser!”

Por um momento, os olhos de Gilbert se arregalaram. Então ele a examinou. “Você realmente deveria estar dizendo isso?”

“Claro! Você está sempre fazendo muito por mim!”

Ele murmurou após uma pausa: “Por que você nunca entende que precisa ser mais inteligente com coisas como essa?”

Ele agarrou a mão dela, que estava apoiada no sofá e se aproximou até que seus rostos quase se tocaram. Cecilia recuou instintivamente, mas ele colocou a mão no braço atrás dela, prendendo-a.

“Mas se insiste, há uma coisa que eu quero que você faça. Você está pronta?”

Cecilia ficou olhando, horrorizada.

“Está falando… “daquilo”?”

“Sim.”

Cecilia se sentou no sofá com a cabeça de Gilbert em seu colo enquanto ele olhava diretamente para ela, brincando com mechas de seu cabelo loiro mel.

“Tenho estado tão exausto ultimamente. Eu queria fazer algo que me relaxasse.”

“Ah, isso mesmo. O professor não tem te convocado muito ultimamente?”

“Sim, para discutir minha antiga família.”

Ele estava se referindo à sua família biológica, os Coulsons. A Casa Coulson, parente distante da Casa Sylvie, era um clã ilustre que produziu gerações de ministros do governo e outros funcionários nomeados para servir a nação. No entanto, isso também incutiu neles um forte sentimento de elitismo, e eles desprezavam aqueles que não eram seus parentes. As tendências arrogantes do atual senhor e dama eram ainda mais pronunciadas. Na verdade, eles alegaram que “insetos indesejáveis se grudariam” aos seus filhos se eles os mandassem para a Academia Vleugel, como a maioria de sua turma fazia, então eles se recusaram a mandá-los.

“Está acontecendo alguma coisa com a Casa Coulson?”

“Muito, aparentemente”, respondeu Gilbert, baixando o olhar e recusando-se a entrar em detalhes. Embora ele não parecesse deprimido com a situação, ele parecia estar realmente farto dela.

‘Será que algo aconteceu?’

Graças à sua educação, Gilbert não tinha muita consideração por sua família biológica. Ele cortou todo contato com eles e se recusava a falar sobre eles, então eles não tinham falado sobre isso até agora. Mas e se ele estivesse sofrendo em segredo enquanto Cecilia não sabia?

Ela acariciou a testa dele com apreciação, e os olhos do garoto ficaram semicerrados de contentamento.

‘Gil ainda é apenas uma criança também.’

Satisfeita por seu irmão, que sempre agiu de maneira tão madura, ter deixado que ela o mimasse assim, ela também abriu um sorriso.

“Ei, você estava falando sério quando disse que me dedicaria o seu verão inteiro?” perguntou Gilbert, segurando a mão que acariciava sua testa.

Ela sorriu e assentiu. “Claro! Ah, exceto nos dias em que tenho planos!”

“Quais planos?”

“Ummm, vou pedir ao Hans para me dar algumas aulas e prometi a Donny que o ajudaria com os trabalhos escolares. E pedi a Becky e Reyna para me ensinarem a cozinhar e para arrancar ervas daninhas com El. E…”

Cecilia recitou sua lista de planos para o verão, contando cada item nos dedos. Hans era o instrutor de espadas, Donny era o filho do mordomo da família Sylvie e Becky e Reyna eram suas criadas. El era um jovem jardineiro.

“E você ainda poderá arranjar tempo para mim?”

“Claro! Hum, provavelmente.”

Com sua resposta vaga, Gilbert entrelaçou os dedos.

“Desmarque com todos.”

“O quê?”

“Você disse que me permitiria tudo o que eu pedisse, não foi? Desmarque com todos eles.”

Gilbert levou as mãos de ambos, entrelaçadas, aos lábios. O leve e suave toque deles fez as bochechas de Cecilia incendiarem.

“Você vai me deixar ter você só para mim, não é?” ele insistiu, em um sussurro meloso que fez cócegas nos ouvidos de Cecilia.

Mesmo que Cecilia tentasse puxar a mão de volta, ele não parecia ter nenhuma intenção de deixá-la ir..

‘Esse cara realmente é um protagonista de um jogo otome ! Seu charme é fora de série!’

Ela abanou as bochechas coradas com a outra mão. Se ele podia fascinar assim sua própria irmã, qualquer heroína de que ele gostasse estaria em sérios apuros.

‘Ele adora ser mimado ultimamente.’

Se Cecilia tivesse insistido em cuidar dele assim há alguns meses, ele teria bufado e encerrado as coisas ali mesmo. Embora ela estivesse incrivelmente feliz por ele permitir que ela o acariciasse, isso também a deixou terrivelmente nervosa.

Enquanto a observava abanar as bochechas, Gilbert murmurou: “Estou começando a sentir que duas semanas são suficientes para que algo aconteça.”

“Para que aconteça o quê?”

“Oh, vai saber,” ele respondeu com um sorriso fácil.

Cecilia franziu a testa, intrigada. Desde que ela o conhecia, ela nunca teve a menor ideia do que ele estava pensando.

“Oh! Mas não posso desmarcar os planos que fiz com Lean.”