A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V1 08 - Extra: A melancolia de Gilbert
Esta é uma história que se passa cinco anos antes do início da nossa história…
Há várias pessoas que odeio.
Especificamente, meus pais e irmãos, que não fizeram nenhum esforço para me ver desde que vim morar com os Sylvies. Ell, o jardineiro que obviamente tem uma queda pela minha irmã adotiva Cecilia. Também não suporto Hans, o soldado que lhe ensina esgrima, e Donny, que por alguma razão conquistou sua confiança.
Também desprezo todos os aristocratas aqui neste baile real que estão tentando obter o favor de um garoto de onze anos para cair nas boas graças da Casa Sylvie.
E eu odeio as garotas que consideram meu sorriso uma permissão para passar seus braços pelos meus.
De todos eles, porém, o que eu mais odeio é…
“Ah, Gilbert. Você também está aqui.”
“Vossa Alteza.” Oscar Abel Prosper.
Nosso príncipe herdeiro e noivo da minha irmã. Ele é quem eu mais detesto.
Ele vem direto para mim, com um sorriso amigável nos lábios. Parece que já faz muito tempo desde que ele se tornou a personificação das palavras ‘teimoso’ e ‘autoritário’.
“Já se passaram cerca de três meses desde que nos conhecemos na festa no jardim na primavera. Então? Como você está?”
“Muito bem, obrigado. Você também parece bem, Alteza.”
“Eh, não posso reclamar.”
Eu odeio o jeito que ele pode me olhar de cima, já que ele é uma cabeça mais alto. E ele cresceu um pouco em relação ao ano passado também. Algum dia vou atingir meu pico de crescimento… Mas ainda não o alcancei.
Eu coloquei um sorriso formal no meu rosto.
“Ouvi dizer que o plano para suprimir a revolta do clã Meltt no sudeste foi ideia sua, Alteza.”
“Eu só criei o conceito inicial. Nosso conselheiro militar, Marquês Girardan, desenvolveu um plano viável. Ainda sou muito inexperiente e não tenho o poder de meter o nariz na política.”
“Mesmo assim, meu pai elogiou o plano original. O chamou de engenhoso, até.”
“Estou muito feliz em ouvir isso. Mas eu sei que você poderia ter pensado em algo melhor, Gilbert. O brilhantismo do herdeiro dos Sylvie não chegou apenas aos meus ouvidos – chegou também aos do meu pai.”
“…Obrigado.”
Detesto especialmente a maneira como ele demonstra essa falsa modéstia, embora seja extremamente trabalhador e realizado. Quão fácil teria sido para mim odiá-lo se ele ainda fosse o mesmo príncipe tirano autoritário que costumava ser.
Se ao menos minha irmã adotiva inventasse algo e rompesse o noivado…
A vida realmente não acontece do jeito que você deseja.
O príncipe se aproximou de mim e abaixou a voz.
“A propósito, como está Cecília?”
“…Ela está bem.”
“Tudo bem, então algum dia eu gostaria de…”
“Vossa alteza não pode vê-la.”
E aqui está, a principal razão pela qual desprezo o príncipe.
Ele tem uma queda pela minha irmã. Além do mais, ele se apaixonou por ela à primeira vista quando tinha seis anos e manteve esses sentimentos desde então.
Estou ciente de como isso soa vindo de mim, mas ele é muito persistente.
Eu gostaria que ele já tivesse desistido dela…
“Você não pode simplesmente me deixar vê-la?”
“Não cabe a mim decidir. A saúde dela está muito ruim para ela se encontrar com vossa alteza.”
“Mas você acabou de dizer que ela está bem…”
“Como acabei de explicar, tudo se resume a ela estar bem o suficiente para se encontrar com você.” Eu o rejeitei categoricamente.
Ele franziu a testa e soltou um gemido frustrado.
“Então isso significa que ela não está bem?
“Ela é capaz de seguir com sua vida.”
“Então…”
“Aparentemente, ver você drena a energia e a resistência dela,” eu disse , propositalmente fazendo com que parecesse um boato, então deu a impressão de que minha irmã não queria vê-lo.
Mas ele ainda não cedeu. Depois de uma pausa, ele respondeu: “Diga à Cecília que ela não precisa se preocupar tanto com a minha visita.”
“Você não está ciente de que sua posição como príncipe herdeiro torna esse pedido impossível?”
“Ela e eu seremos marido e mulher algum dia. Ela não precisa…”
“Atualmente, vocês não são nada mais do que estranhos,” eu interrompo, a grossura da minha voz surpreendendo até a mim mesmo.
Não tenho absolutamente nenhuma intenção de permitir que eles se casem. Farei tudo ao meu alcance para anular o noivado.
O príncipe tinha que desistir de ser tão teimoso. Agora ele deve ter entendido que é inútil me perguntar mais nada.
“Eu entendo que não posso vê-la. Nesse caso, posso pedir-lhe que lhe dê o meu habitual presente de melhoras? Tentei escolher algo que uma garota da idade dela gostaria.”
“Tudo bem…”
Não posso rejeitar um presente que o príncipe herdeiro escolheu pessoalmente, então, quando a festa terminou, o levei para a mansão e fui para o quarto da minha irmã adotiva.
Lá, ela estava deitada na cama, fingindo estar doente.
“Gil, você está de volta!”
“Estou”, disse, meu coração aquecendo com o sorriso de orelha a orelha que ela ofereceu para me receber em casa.
Esqueci os sentimentos melancólicos de imediato e entreguei a ela a caixa que o príncipe me passou.
“Este é um presente de um nobre que estava preocupado com sua ausência na festa.”
Isso não era mentira. A família real era tecnicamente considerada nobre.
“Ah! É da mesma pessoa de sempre? Uau!” ela se entusiasmou, o que me deixou irritado.
Ela sempre reage assim quando dou presentes do príncipe.
“Essa pessoa e eu temos muito em comum!” Ela sorriu, suas bochechas rosadas enquanto desfazia o embrulho.
Essa é outra coisa que odeio nele. Ele não a vê há anos, mas sempre consegue encontrar os presentes que ela adora. E mais uma vez…
“Uau! Este bolo chiffon parece delicioso! Gil, agradeça à pessoa que me deu isso em meu nome!”
Como sempre, seu presente foi um sucesso.
Ela olhou para o bolo de chiffon em êxtase e depois puxou minha manga.
“Ei, Gil.”
“O que foi?”
“Você quer comer esse bolo inteiro juntos esta noite sem contar para a mamãe e o papai? Aposto que um chá da meia-noite ultrassecreto seria muito divertido!”
Ela sorriu para mim e eu assenti. Eu ajo assim todas as vezes; Eu nunca a recusei nenhuma vez. Mas também ainda tenho meu orgulho.
“Você vai engordar, sabe?” Eu disse, fazendo um comentário sarcástico.
Com isso, suas bochechas incharam de raiva.
“Então vamos dividir uma fatia!”
“Você diz isso agora, mas eu já vi isso antes. Você sempre acaba comendo quase tudo no final.”
“Tão cruel! Isso é porque é você quem me dá sua parte!”
“Porque você me olha comendo com um olhar tão ganancioso e faminto que sou forçado a ceder.”
“Urgh…”
Ela estava fazendo beicinho, então provavelmente fui muito cruel com ela. Em pouco tempo, ela acabaria em completo mau humor.
Peguei a caixa de bolo dela e me levantei.
“Gil?” Ela perguntou, olhando para mim.
Eu sorri para ela.
“Você queria uma fatia, certo? Vou pegar uma faca, então espere aqui. Você quer o seu sabor habitual de chá?”
“Sim! Obrigada!” ela gritou, balançando a cabeça tão feliz que fico totalmente indefeso diante dela. Isso já aconteceu tantas vezes antes que me tornei incapaz de recusar nenhum de seus pedidos.
Sai do quarto dela com a caixa de bolo na mão. Meus passos foram leves enquanto caminhava até a cozinha.
Eu odeio o príncipe.
Mas só por hoje, estou um pouquinho grato a ele.
Cinco anos antes daquele dia fatídico…