A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V1 04 - Rixa de Irmãos (6)
Depois de sair do pátio, virar por um corredor e estar quase fora do prédio da escola, ele encontrou a única pessoa que não queria ver aquele dia.
“Aí está você, Gilbert.”
“Vossa Alteza…” ele sibilou, as palavras saindo em um gemido apesar de si mesmo. Isso fez Oscar semicerrar os olhos para Gilbert por apenas um segundo antes de piscar e voltar a ter uma expressão suave. Gilbert tentou passar correndo por Oscar para chegar aos dormitórios.
“Ei, não me ignore,” ele exigiu, agarrando o braço de Gilbert para impedi-lo de fugir.
Gilbert encolheu os ombros. “Estou com pressa!”
Ele nunca havia falado ou agido tão rudemente com Oscar antes. Como um dia serviria ao rei como seu súdito, ele queria manter o relacionamento deles nominalmente agradável.
Seu próprio senso de interesse próprio, juntamente com uma análise de custo-benefício, havia permeado todas as suas interações até agora.
Atualmente, porém, ser sensato era pedir demais.
Oscar apenas suspirou, evidentemente não ofendido nem um pouco.
“Eu não sabia que você poderia ser tão emotivo.”
“Oh? Eu sempre fui assim. Agora, se você me der licença.”
“Estou dizendo para você esperar um segundo!” ele protestou, bloqueando o caminho.
“Saia da minha frente!” Gilbert rugiu. Felizmente, não havia mais ninguém por perto para testemunhar a briga, porque os nobres famintos por fofocas teriam adorado testemunhar o príncipe herdeiro atacando o filho de um duque.
“Escute-me – é sobre Cecil!” Oscar conseguiu dizer, o que fez Gilbert se congelar.
“Ele está na enfermaria agora. Eu só queria te contar-”
“Ele não está ferido, está?!” Gilbert interrompeu em voz alta. Sinos de alarme soaram em sua cabeça quando ele chegou à conclusão de que o Assassino realmente a havia atacado.
“Sim, mas-“
Assim que Gilbert ouviu isso, ele girou nos calcanhares e partiu. Oscar seguiu logo atrás, gritando para ele parar, mas desta vez Gilbert ignorou seus apelos. Quando chegou a porta da enfermaria, ele acelerou. Sem verificar quem estava lá dentro, ele abriu a porta e gritou: “Nee-san!!”
Só Cecília estava lá dentro, sentada num banquinho, de costas para a porta. Ele pôde distinguir as bordas de uma gaze branca em seu rosto e uma bandagem enrolada em seu tornozelo.
“Ah, Gil!” ela disse, virando-se para encará-lo com uma expressão alegre no rosto. Assim que viu que ela estava sã e salva, Gilbert caiu contra a parede.
Embora ele cobrisse o rosto com uma das mãos, sua expressão era de puro alívio.
“Que bom…”
“O que houve?”
“Ah, acabei de ouvir de Lean que você não veio às aulas hoje. Fiquei preocupado que talvez o Assassino tivesse feito algo com você…”
“Gil…” ela parou, a culpa tomando seu rosto quando ela o viu expressar uma preocupação genuína por ela.
“Você não foi atacada, certo?”
“Não. Minha própria falta de jeito fez isso comigo..”
“O que você quer dizer? O que você fez?”
Ela riu timidamente. “Cai na encosta de uma montanha.”
“O quê?!”
Olhando mais de perto, ele viu que o uniforme escolar dela estava coberto de sujeira e que as folhas ainda estavam presas na peruca.
“Mas graças à minha caminhada, consegui encontrar isso aqui!”
Ela anunciou com orgulho, levantando um vaso de flor de genciana que estava no chão.
Ele se deu conta. “Espere, você quer dizer que subiu a montanha para colher isso?!”
“Sim. Lembrei que você nunca foi muito apegado a nada, a não ser pela genciana que te dei há muito tempo. Você até a transformou em um marcador de página para guardar para sempre, então pensei que você realmente devia amar esse tipo de flor!”
Ali, no vaso, havia uma flor igual à que ela lhe deu quando criança.
“Desta vez eu também cavei as raízes! Assim você pode mantê-la por mais tempo, né?”
“É por isso que você faltou à aula e ficou toda machucada? …Você é realmente estúpida”, disse ele, apesar de um sorriso que não conseguiu conter, curvando seus lábios para cima. Embora seu sorriso estivesse em guerra com a testa franzida, a felicidade estava vencendo.
Toda aquela felicidade não vinha da genciana, mas do fato de ela ter se lembrado de algo de tanto tempo atrás.
Cecilia estendeu o vaso para o irmão, baixando a cabeça.
“Gil, sinto muito. Acho que realmente pensei que desde que eu fosse Cecil, podia fazer coisas que na verdade não podia. Isso foi um erro de minha parte, então entendo por que você ficou chateado.”
“Eu…”
“Além disso, eu sei que você queria que eu prestasse atenção em você também, e não apenas em Oscar! Você se sentiu excluído!”
Os olhos de Gilbert se estreitaram quando ela de repente passou a tratá-lo como uma criança. Realmente ficou claro que, não importa o que ele fizesse, ela sempre o veria como seu irmão mais novo. Mas antes que ele pudesse sentir pena de si mesmo, o que aconteceu a seguir atrapalhou completamente sua linha de pensamento.
Cecilia jogou os braços em volta dele em um abraço e depois deu tapinhas em suas costas como fazia quando eram crianças.
“Desculpe, Gil. Me desculpe, eu sou uma irmã tão inútil.”
Naquele momento, o que Lean lhe disse soou em seus ouvidos.
[Você não acha que está sendo presunçoso ao esperar que ele perceba as coisas sozinho? Ele nunca vai perceber os sentimentos que você não transmitiu a ele.]
Gilbert passou os braços em volta das costas dela e puxou-a para perto. Ela deu-lhe um sorriso suave e fraterno, como ele sabia que ela faria.
“Eu… Eu te amo,” ele deixou escapar, as palavras soando mais afetadas do que ele pretendia. Mas assim que começou, descobriu que suas emoções transbordavam dele como chá saindo de uma xícara quebrada.
“É por isso que me opus tanto a te ver com Sua Alteza, fiquei com raiva e disse tudo isso. Eu odeio ver outro homem tocar em você.”
“Gil…?”
“Eu te amo. De verdade.”
Ela olhou para ele em estado de choque por um tempo, congelada. Então, como se o gelo estivesse derretendo, um sorriso caloroso se espalhou por seu rosto e ela abraçou Gilbert com força.
“Eu também adoro você! Muito. Você significa o mundo para mim!”
A resposta dela não foi romântica – foi o que alguém diria ao seu irmão. Mas, por alguma razão, não foi tão desanimador.
‘Suponho que está bem assim por enquanto.’
Gilbert teria que continuar sendo proativo e perseguindo-a até que ela percebesse a verdade. Ele rasgou o juramento que fez para si mesmo de evitar fazer qualquer movimento ou dizer a ela como se sentia. Ele não precisava mais hesitar. No final, fazer uma tentativa ou cem equivaleria à mesma coisa.
Mas havia uma última coisa que ele queria confirmar.
“De quem você gosta mais, de mim ou do príncipe?”
“Você ou Oscar?” ela perguntou, piscando. “Você, com certeza!”
Ela declarou isso sem um pingo de hesitação. Gilbert sentiu como se um peso tivesse sido tirado de seu peito.
“Ei, Cecília, eu te amo.”
“Sim. Eu também te amo, Gil! Eu te amo mais!”
Ele sabia que ela não quis dizer isso romanticamente. Os sentimentos de Cecília por ele eram os de uma irmã em relação ao irmão.
Mas tudo bem. Ao menos ele era a pessoa que ela mais amava naquele momento.
Agora ele só precisava gradualmente passar por essa barreira até envolvê-la.
“Se você já recebeu tratamento, quer voltar? Vou acompanhá-la até sua sala de aula.”
“Sim. Ah, mas espere!” ela gritou, correndo para começar a se preparar para deixar a enfermaria.
‘Não vou deixar aquele príncipe nojento tirá-la de mim’, Gilbert jurou amargamente.
“Oh, céus! Eles se abraçaram!” Lean sussurrou, espiando Gilbert e Cecil por uma fresta na porta. Ela fez um retângulo com os dedos e os capturou dentro dele.
“Posso sentir a criatividade fluindo!” ela disse animadamente, seu corpo inteiro vibrando.
Ela sabia que Oscar havia levado Cecil para a enfermaria, pois os viu entrando juntos. Foi por isso que ela deu uma pequena cutucada em Gilbert. Ela esperava ver um pouco de drama, mas o que ela acabou vendo superou honestamente até mesmo suas expectativas mais loucas.
Alguém se aproximou dela. “O que você está fazendo aí?”
“Oh, Príncipe Oscar. Você acabou de chegar? Receio que você tenha perdido uma pequena cena maravilhosa”, Lean o informou, sorrindo de orelha a orelha e segurando seu caderno de desenho.
Ele deu uma olhada e disse em desaprovação: “Você vai fazer outro livro daqueles?”
“Sim! E pode ser meu melhor trabalho até agora! Terei que pedir a ajuda de Jade também!”
“Só não exagere.”
“Hum-hmm!” ela cantarolou, animada.
Pouco depois, histórias sobre o relacionamento de Gilbert e Cecil floresceram na biblioteca…