A Vilã, Cecilia Sylvie, decidiu se travestir - V01 04 - Rixa de Irmãos (1)
Quase uma semana depois de voltar da viagem escolar…
“Ei, Gil.”
“Sim?”
“Vamos, não aja desse jeito…”
“Estou agindo como sempre,” Gilbert fungou.
Seu humor estava no nível mais baixo de todos os tempos. Cecilia franziu a testa, inspecionando-o, enquanto caminhavam juntos dos dormitórios para a academia.
Ele estava muito desanimado ultimamente. Embora ele respondesse quando ela falava com ele e almoçasse com ela se ela o convidasse, suas respostas eram ainda mais curtas e grossas do que o normal.
Eles não brigaram. Alguma outra coisa devia estar incomodando ele.
‘Aposto que é isso…’
Cecilia olhou para algumas alunas gritando juntas em um banco. Eles estavam segurando um livro.
“Aqui está, o famoso romance de Madame Neal! Minha amiga finalmente me emprestou!”
“Esse é aquele romance com personagens que realmente se parecem com o Príncipe Cecil e o Príncipe Oscar, certo? Ooh, eu queria ler há tanto tempo!”
“Carol disse que chorou lendo. Os olhos dela estavam todos vermelhos esta manhã!”
“Eu realmente mal posso esperar!”
Enquanto brilhavam de felicidade, os olhos das duas garotas se fecharam e elas caíram em devaneios. Cecilia sentiu suas bochechas ficarem magras de exaustão só de observá-las.
A história de Lean, de alguma forma, se tornou popular entre as estudantes.
Aparentemente, ela mesma imprimiu várias cópias de sua fanfic e as deixou espalhadas pela biblioteca da escola. Seu co-conspirador na impressão dos livros foi Jade, é claro, que ultimamente se envolveu com o negócio de impressão.
Apenas três dias depois, todas as alunas se apaixonaram por sua criação.
Aliás, o pseudônimo da autora, “Madame Neal”, era um anagrama de Lean.
Quando o livro começou a se espalhar, Cecilia pediu para se encontrar com Lean para entender por que ela estava fazendo isso. Segundo ela, foi porque queria fazer mais amigos que compartilhassem seus “interesses”.
Mesmo que ela tivesse atraído Jade para sua teia, evidentemente, ele sozinho não era suficiente. Arrastar as pessoas para o inferno com ela, explicou Lean com orgulho, significava expô-las a histórias que ressoariam com elas.
“Minha maior preocupação no momento é ser a única criadora deste tipo de conteúdo. Portanto, vou treinar outros autores do zero!”
O tom animado de Lean reverberou novamente em seu ouvido. Esta era uma garota agressiva.
A razão por trás do mau humor de Gilbert devia ser a história que Lean havia escrito.
“Estou surpreso com o quão tolerante você está sendo com tudo isso, Cecil,” Gilbert falou de modo ríspido, sua boca virada em uma expressão azeda. Ele a chamou de Cecil porque eles estavam em público.
“Se acostumando com ter seu nome sujo, e envolvido com o príncipe, ainda por cima.”
“Não é nada explícito e, embora os personagens possam ser baseados em Oscar e em mim, os nomes são diferentes. Não vale a pena fazer barulho…” Cecilia suspirou.
Lean realmente modelou seus personagens em Oscar e Cecil, mas já que ela alterou seus nomes para publicação, Cecilia perdeu o direito de reclamar. Lean poderia acabar com qualquer uma de suas objeções simplesmente insistindo que eram personagens originais. No entanto, todos podiam intuir vagamente quem eram os modelos a partir de seus maneirismos e estilos de falar.
“Discordo. Romance original ou não, não gosto disso nem um pouco”, afirmou Gilbert categoricamente. Ou seja, ele não gostou de ver Oscar e Cecil flertando e se beijando na história. Ele olhou para o texto como se fosse sujeira.
“E o pior é que você realmente se aproximou de Sua Alteza…”
Sua voz ficou ainda mais deprimida. Ele parecia bastante perturbado pelo fato de Oscar e Cecil terem desenvolvido um relacionamento estranhamente amigável desde que voltaram do acampamento escolar.
Cecilia coçou a bochecha, sorrindo timidamente. “Muita coisa aconteceu na viagem. Aprendi que Oscar não é um cara tão mau, afinal. Embora eu admita que fiquei muito preocupada quando descobri que dividiríamos o quarto.”
“Como é? Compartilharam um quarto?”
“Ops.”
Os olhos de Gilbert se arregalaram enquanto ele olhava para ela com completa e absoluta descrença.
Ela começou a suar frio. Como ela o conhecia há tanto tempo, ela estava bem ciente de que acabara de atingir um ponto sensível.
Ele parou imediatamente antes de pisar duro até ela. Tentando se afastar dele, Cecilia acabou com as costas pressionadas contra a parede.
“O que isso significa, você dividiu um quarto com o príncipe? No acampamento da escola? Vocês não tinham quartos individuais?”
“Ah, hum, bem… Tivemos que tirar a sorte e então, por coincidência…”
“Sorteio…?” Gilbert repetiu, seu rosto escurecendo a cada segundo. Ele olhou para ela com seus olhos negros como obsidiana. E a parte mais assustadora foi como seu rosto estava meio coberto pela sombra.
Ela torceu as mãos nervosamente. “Ah! Mas eu não fui descoberta! Até dormimos na mesma cama, mas ele não descobriu nada!”
“Na mesma… cama…?”
A expressão de Gilbert ficou em branco em um instante. Naquele momento, Cecilia aprendeu em primeira mão o quão aterrorizante podia ser um rosto inexpressivo.
“Por quê? Ele te forçou contra a sua vontade?” Gilbert exigiu.
“Umm, bem… Muita coisa aconteceu e eu fiquei com medo…”
“Você foi para a cama dele voluntariamente ?”
“Bem… Apenas aconteceu,…?” ela guinchou, antes de ouvir Gilbert ranger os dentes de frustração. Ela se preparou para uma bronca.
Mas isso nunca aconteceu; ele não gritou nem levantou a voz. Longe disso, ele se virou e foi embora. Seus passos eram largos, como se ele não estivesse esperando que Cecilia o alcançasse.
“Ei! Gil, espere!”
“Desculpe. Acho que não posso olhar para você agora.”
“Por-por que você está tão bravo?! Isso é diferente do seu mau humor normal, não é? Eu fiz alguma coisa?” ela gritou atrás dele. Ele ficou tão furioso que a deixou em pânico.
Ele continuou andando cada vez mais longe. Ela o alcançou e agarrou o braço dele para detê-lo, mas ele a afastou.
“Gil, por favor!”
“Deixe-me em paz por um tempo. Vou falar com você quando me acalmar.” Ele latiu, deixando-a sozinha enquanto ele entrava rapidamente na escola.
Ela o observou partir com uma expressão tensa no rosto. “Caramba. Eu realmente o irritei…”
* * *
O duque Coulson, um parente distante da casa do duque Sylvie, teve três filhos.
Os dois primeiros eram terrivelmente brilhantes, tão talentosos que qualquer um deles poderia herdar o título. Seus pais os adoravam, dando-lhes tanto amor quanto era humanamente possível.
No entanto, o mais novo deles – Gilbert – teve dificuldades em receber a mesma educação e era frequentemente chamado de imitação de araque de seus irmãos.
Ele morava em um anexo separado do resto da família e seus pais só vinham vê-lo uma vez por mês. Ele ansiava pelo afeto de sua mãe e apelou à ela inúmeras vezes, mas ela nunca o cedeu. Sempre coube aos criados cuidar e brincar com ele.
Eles eram sua família, mas não agiam como tal.
Esse era o lugar de Gilbert na Casa Coulson. A conversa sobre ele ser adotado na Casa Sylvie começou bem quando ele começou a se desesperar completamente com sua vida lá.
Na época, o duque Sylvie estava ansioso porque tinha uma filha de cinco anos, mas não tinha nenhum herdeiro homem. A tradição antiga ditava que apenas os homens poderiam herdar nobrezas hereditárias. Exceções eram permitidas para casos muito incomuns, mas eram bem raros.
Os nobres tinham o dever de deixar herdeiros. Por isso, o duque Sylvie selecionou os Coulsons para adoção, pois eles tinham três filhos.
A princípio, o segundo irmão mais velho de Gilbert iria embora. Se as coisas corressem bem, ele herdaria o ducado Sylvie. No entanto, permanecia a possibilidade de que, se os Sylvies tivessem um filho homem mais tarde, o segundo irmão mais velho pudesse ser ignorado. A duquesa ainda era jovem e poderia muito bem engravidar novamente.
Devido a essa preocupação, a Casa Coulson escolheu Gilbert, já que não importaria se ele fosse negligenciado.
No dia em que ele partiu para a mansão Sylvie, nem um único membro de sua família veio se despedir dele.
“Eles simplesmente me abandonaram?” Gilbert perguntou a um servo.
O servo curvou-se profundamente e disse-lhe: “Por favor, tenha uma boa viagem.”
Os Sylvies deram a Gilbert uma recepção calorosa. Na verdade, eles ficaram muito felizes por recebê-lo.
Sua nova irmã adotiva, Cecilia, ficou especialmente emocionada, gritando: “Finalmente tenho um irmão mais novo!” e abraçando-o.
Apesar de como ela o recebeu, Gilbert não gostou dela no início.
Isso era um eufemismo: ele a odiava. A desprezava. Como alguém que não poderia herdar o título de família, ela estava na mesma posição que ele, mas seus pais a adoravam e mimavam. O amor deles era tão forte que ela quase se afogava nele.
“Por que as coisas são tão diferentes, embora nossas circunstâncias sejam as mesmas?”
Esse pensamento o atormentou depois de vir morar na mansão Sylvie.