A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 98
“Mesmo após procurar o continente inteiro, nunca obtive tal informação…”
Valence estava buscando informações por quase uma década, mas nunca tinha escutado essa história antes. Então, ela se lembrou do subordinado de Ahin, o homem-besta águia.
“Então ele saiu por aí juntando dados… Acho que os rumores de que os homens-besta águias são extraordinários não existem em vão.”
Demonstrando sua surpresa, ela alisou o queixo. De fato, as informações que podiam ser coletadas por alguém que podia voar por aí e escutar de tudo eram bem diferentes das limitações de homens-besta que estavam presos ao solo.
“Espera um minuto.”
Ahin, se perguntando se Vivi poderia estar acordada e ouvindo tudo, cobriu o nariz cor-de-rosa dela com um dedo. Com dificuldade de respirar, ela franziu a testa e começou a chutar com as patas traseiras.
‘Ela está dormindo.’
As habilidades de atriz dela eram péssimas. Quando fingia dormir, ela ficava como uma estátua, sem nunca mover um músculo. Tendo obtido sua confirmação, Ahin respondeu.
“Na verdade, Quinn levou anos até obter essa informação. E, mesmo que eu vá até o território dos ursos, pode ser que não consiga descobrir mais coisas.”
“Mesmo assim, quem diria que essa águia que você recolheu seria assim tão útil. O lixo de uns é realmente o tesouro de outros.”
Pensando em uma certa coelha que tinha sido recolhida depois de Quinn e como a palavra “tesouro” encaixava muito bem com ela, Valence piscou para a bolinha de algodão. Os olhos dela se curvaram gentilmente, sem que ela percebesse.
Notando o olhar da mãe, Ahin cobriu Vivi com a mão esquerda enquanto a segurava com a direita.
“Não fique olhando tanto assim. Vai desgastar ela.”
A coelha bebê adormecida ficou completamente oculta atrás da grande mão.
“…Vou deixá-la aqui na mansão, quando for para o território dos ursos.”
“Na mansão?”
Que decisão contraditória para alguém que não queria nem mesmo que os outros olhassem para a coelha. Sem palavras, Valence piscou algumas vezes.
“A viagem até o território dos ursos vai ser longa. O que você vai fazer sem ela, se tiver um ataque mais sério?”
“Bem, então eu morrerei.”
“Por que não quer levá-la junto?”
Quando Valence fez essa pergunta, Ahin se lembrou da sensação perigosa que ele tinha sentido quando absorveu os feromônios de cura.
Esfregando os lábios, ele olhou para sua mão, ao sentir que Vivi estava acordando.
Ela piscou devagar os olhos sonolentos. Ahin, suportando a vontade súbita de colocá-la em sua boca, sorriu radiantemente.
“Pode dormir mais.”
Vivi caiu no sono outra vez, abraçando o polegar de Ahin como se fosse um travesseiro.
Ainda olhando a coelha dormente, ele falou.
“…Eu vou contar para ela quando tudo estiver certo.”
Evitando tardiamente responder a pergunta, Ahin saiu do escritório.
Valence, olhando para a porta fechada, suspirou pesadamente.
Ela estava feliz de ter tirado a saia de bailarina da coelha enquanto ela dormia, já que parecia desconfortável.
A aparente obsessão de Ahin com Vivi fazia com que ela se preocupasse em como ele reagiria se um dia a perdesse.
Ao contrário de seu título inicial de lanche de emergência, Vivi agora era uma parte indispensável da família Grace.
***
Três dias antes do aniversário de Ahin, Lillian sorriu ao passear no jardim da mansão, sem nenhuma razão em particular.
Ele sentia como se estivesse rejuvenescendo, pois seu corpo estava cheio de energia. Cada dia estava sendo mais satisfatório que o anterior. E a razão disso estava bem no meio da mansão Grace.
Era por causa de uma certa coelha bebê.
Ela era a estudante mais entusiasmada e esforçada que Lillian já tinha tido. Há dois dias, ela tinha colocado tanto poder na prática de feromônios que ele tinha enxergado a imagem de uma pantera negra sobreposta à bolinha de algodão.
No final do dia, ele não estranharia se ela começasse a escalar árvores.
E quando ele lembrou do seu neto sendo expulso da biblioteca por ela, toda vez que tentava interromper as práticas, Lillian quase riu alto sozinho.
“Vivi, não acha que já está praticando por tempo demais?”
“Vivi, olha a hora…”
“Vivi, para com isso e vamos brincar.”
Ele nunca poderia ter previsto que a imagem de seu neto, que tinha sido arrogante desde bebê, sentado no chão de braços cruzados enquanto esperava uma coelha praticar com seus feromônios pudesse ser tão satisfatória.
“Vivi, você é tão chata. Queridinha do professor.”
No final, ele não suportou calado e acabou brigando com a coelha naquela manhã.
Quando Ahin foi chutado para fora da biblioteca por uma coelha furiosa, que mastigava suas calças, Lillian quase chorou de emoção.
Sua estudante era realmente a melhor. Orgulhoso, Lillian sorriu largamente para o céu.
“Rindo sozinho? Enlouqueceu de vez?”
Uma voz ecoou por trás dele. As rugas de Lillian enrijeceram ao reconhecer quem falava.
“Como ousa dizer tais grosserias? Você não mudou nada.”
Lillian, encarando o dono da voz, fez uma carranca. Ezran, o avô materno de Rune, era seu inimigo há muitos anos.
Não era o bastante aparecer do nada, mas o homem ainda era super musculoso e cabeça de vento, típico de um leão.
“Ezran, seus músculos ainda fazem meus olhos doerem.”
Lillian, não escondendo sua irritação, alisou a própria barba.
“Se você está aqui, onde está Rune?”
“Ele veio comigo, mas saiu andando pela mansão, procurando alguém.”
Ezran dobrou os braços, indicando que não sabia quem era. Os músculos de seus braços saltaram.
“E onde está Ahin?”
“Meu neto está ocupado trabalhando, ao contrário do seu.”
“Cuide de sua boca.”
Os criados da família Grace, ao verem os dois anciões soltando insultos amargos um para o outro, se afastaram rapidamente.
Os dois homens se encararam.
“Por que veio falar comigo? Falta do que fazer?”
Depois de muitos insultos, Lillian, decidindo não lidar com isso, girou.
“Espere! Tenho uma pergunta.”
Ezran, sacando um jornal do bolso, foi atrás dele.
“Por que está me seguindo?”
“Quero te perguntar sobre essas fofocas. Rune não quis falar uma palavra sobre o assunto.”
Lillian entendeu o que Ezran queria saber imediatamente. Os artigos de jornal com aquelas fofocas ficaram populares no território das lebres.
Lillian balançou a cabeça.
“E você acredita nessas besteiras? Ezran, deve estar caduco.”
“Não é isso. Sabe que rumores sobre Rune e Ahin não devem circular livremente.”
“Ugh, quem se importa. Ao menos seu Rune está bem, tirando o fato de ter olho de peixe-morto.”
“Pois o seu Ahin está ótimo, tirando o fato de ter um parafuso a menos!”
Os criados se mantiveram escondidos, para evitar a confusão.
“Mas, a sua reação…. Não me diga que ficou preocupado?”
Lillian olhou para Ezran, que parecia aflito.
“Bem, é óbvio que tudo aqui é mentira. De jeito nenhum o meu Rune iria correr atrás de uma dançarina, e, ainda por cima, uma que chamam de “Ninfa”, em primeiro lugar.”
“…”
Era uma reação natural, mas Lillian se sentiu extremamente ofendido. Como ele não respondeu, Ezran continuou.
“O que há com isso de “Ninfa”, para começar? Quem, em sã consciência, usaria esse título?”
Ezran prosseguiu, irritando Lillian cada vez mais.
“Quando vi que esse tipo de fofoca estava circulando, fiquei furioso. Sinto pena de Ahin também. Imagina, dizerem por aí que ele está caído por uma coelha? Isso é tão ofensivo à honra da família que nem dá para rir.”
Lillian começou a suar frio. Essa fofoca não estava extremamente próxima da realidade?
Ele negou com a cabeça e começou a balançar a perna de impaciência, mas Ezran, que estava ocupado tagarelando, nem percebeu.
“Aliás, essas dançarinas são todas mulheres sem-vergonha, para começar.”
“Como ousa chamá-la de sem-vergonha?!”
Ezran, surpreendido com Lillian, que havia gritado, arregalou os olhos. Percebendo que podia ter exagerado, Lillian tossiu para disfarçar.
“Caham. Bem, tenho certeza que ela é uma ótima moça, se você a conhecer bem.”
“Do que diabos você está falando…?”
Teria o velho enlouquecido de vez? Ezran examinou Lillian com seriedade.
Normalmente, ele era uma pessoa que golpearia com sua bengala qualquer um que falasse a sílaba “fo” de “fofoca”. Mas estava estranhamente passivo.
Ezran, que ia falar novamente, contraiu os ombros ao ouvir um rugido alto de alguma besta. Quando ele girou a cabeça naquela direção, viu um pilar de fumaça.
***
Enquanto isso, Vivi, parada no meio de uma arena traçada no chão, estava posicionada como uma coelha guerreira.
O vento soprou suavemente. Os olhos dela, afiados, se focaram em Ash e Barra, que a cercavam.
Os dois panteras negras se abaixaram, se preparando para dar o bote.
Vivi, concentrando os feromônios nas patas dianteiras na quantidade necessária para nocautear os dois de uma vez, de repente, sentiu um calafrio.
Quando ela levantou a cabeça, Ahin, que estava assistindo tudo da janela de seu escritório, dois andares acima, sacudiu uma cenoura para ela.
Sua intenção certamente era caçoar de Vivi, que, como um coelho bebê, não conseguia roer cenouras, a não ser que fossem raladas.
<Ele só quer me distrair.>
Ahin balançou o vegetal. Vivi estava praticando o controle de seus feromônios dia e noite, e por isso não se encontrava com ele há dias. Quando ela voltava para o quarto, adormecia em segundos. A cenoura era uma maneira de Ahin indicar para ela como seu coração se sentia solitário.
Vivi o encarou, estreitando os olhos. Esse predador maldoso devia estar querendo provocá-la com a cenoura. Ela estava dormindo pouco esses dias e andava irritável.
Ela voltou os olhos para sua frente outra vez.
<Podem vir.>
Ash e Barra não eram tão assustadores como costumavam ser.
Ela sentia que suas habilidades estavam melhorando a cada dia, agora que tinha um professor a orientando da maneira correta.
“Grrra!”
Barra abriu a boca, para expor os caninos, esperando assustar Vivi. No entanto, apesar de ter concordado em servir de parceira de luta para ela, Ash ainda não conseguia se acostumar com a ideia e já estava alcançando seu limite.
“Senhorita Ash, faça o que tem que fazer.”
Meimi reclamou, enquanto observava a prática de uma distância. Ash se aproximou de Vivi… e, não conseguindo mostrar os caninos para ela, acabou se deitando de barriga para cima ao seu lado.
<Ash…! Não era para fazer isso…>
No entanto, enfraquecida, ela começou a coçar a barriga de Ash, com lágrimas de emoção. Até mesmo Barra assistia.
Ahin, sacudindo a cenoura sem motivação, fixou o olhar em outro ponto atrás da coelha que estava abraçando a pantera negra.
Próximo da arena, estavam Lillian e o avô de Rune, Ezran.
‘Parando para pensar, o clã dos leões ia chegar hoje para se hospedar e esperar o banquete.’
Ahin, imaginando que Ezran teria vindo como o representante do clã dos leões, de repente ficou paralizado.
Do outro lado da arena, ele enxergou um homem com cabelos ondulados que ele definitivamente não queria ver. Não havia necessidade de confirmar sua identidade, pois bastava olhar o tom cor-de-rosa de seus cabelos.
Uma impaciência mal vinda fez o estômago de Ahin se embrulhar.
Rune estava tentando se aproximar de Vivi assim que tinha chegado, além de ter vindo para a mansão Grace, ignorando a carta de Ahin.
Esquecendo que tinha uma cenoura na mão, ele saltou da janela diretamente para o chão.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.