A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 9
O vapor da água quente umedeceu o ar do banheiro.
“Eu sinto muito.”
Talvez porque não pode me ajudar durante o incidente com o leão no jardim, Meimi, que estava me lavando com um pano molhado, falou.
“Rune Manionz é um nobre de alto ranking do clã dos leões que comparece em todas as negociações.”
Por isso, o leão chamado Rune Manionz não podia ser detido por qualquer criado ou cavaleiro. O fato de negociarem com alguém do alto escalão comprovava o tamanho do poder do Território das panteras negras.
‘Acho que vou parar de fazer caminhadas por enquanto.’
Homem-besta leão, Rune Manionz, negociações. Lembrando de tudo que tinha passado ao longo do dia, eu relaxei enquanto escutava Meimi continuar a falar.
Quando fui levada de volta ao quarto após um banho mais longo que o normal, comecei a ficar nervosa.
Ahin deveria chegar em breve, e ele não deixaria passar o incidente do jardim. Antes de me deixar, ele falou que eu cheirava a leão.
‘Tenho que me esconder.’
Se não posso fugir daqui, que tal me ocultar? Mas a maioria dos lugares seriam óbvios demais para ele me achar.
Fiquei procurando, mas era muito injusto. Eu não conseguia diferenciar o cheiro de um leão, não importava o quanto me concentrasse no olfato.
O leão que encontrei disse que eu tenho cheiro de pantera negra, e Ahin resmunga que tenho cheiro de leão. Os predadores têm os sentidos muito aguçados, diferente de nós, herbívoros.
‘Aqui também não serve.’
Infelizmente, embaixo da cama eu ficaria totalmente visível devido à decoração perfurada da madeira. Correndo por todo o quarto, de repente minhas orelhas ficaram de pé.
Escutei o som das armaduras dos guardas saudando do lado de fora. Era óbvio que estavam fazendo a posição de “sentido” porque Ahin tinha aparecido.
Logo depois, ouvi um som de ranger e a porta abriu e fechou. Com a respiração presa, embaixo da mesa, escutei passos.
Enrolada como uma bola de nervosismo, eu fiquei brava porque não deveria ter razões para me esconder.
‘Quem ele pensa que é?’
Eu não fiquei com cheiro de leão porque quis. Fiquei repetindo que não deveria me preocupar com nada, mas meu corpo continuava paralisado, só escutando os sons.
“Argh…”
Nesse momento, escutei Ahin grunhindo de dor. Levantando a cabeça por reflexo, fiquei ansiosa pelo som que chegava às minhas orelhas.
<Não me diga que…! E se ele foi atacado por um homem-besta lobo e ficou tão ferido quanto da vez passada?>
Escutei então o som de algo caindo, como se Ahin tivesse desmaiado.
Não podia mais ficar escondida sem fazer nada.
Sai correndo de debaixo da mesa, e vi algo inacreditável.
Eu tinha sido enganada.
Após compreender a situação, fiquei parada como se estivesse em transe. Ao contrário do que tinha imaginado, Ahin estava perfeitamente bem, sentado no sofá, e, assim como Evelyn, ao seu lado, parecia estar contendo o riso. O som de algo caindo parecia ter sido Ahin se jogando no sofá.
Ahin, que estava segurando uma gargalhada, esticou a mão para mim.
“Por que estava se escondendo? Vem cá.”
“Este Evelyn está comovido que a Senhorita Coelha tenha corrido para salvar o Lorde Ahin. Que espírito tão nobre…!”
Eu realmente odeio essas panteras negras. A raiva me consumia e os encarei com ódio. Ahin inclinou a cabeça ligeiramente, e ficou recebendo meu olhar mortal.
“Evelyn, esse olhar não é nada mau.”
“É mesmo? Senhorita Coelha, por favor continue encarando o Lorde Ahin dessa maneira.”
“Quero comê-la.”
“Avisarei o cozinheiro imediatamente.”
<Ei, Evelyn!>
Finalmente, não consegui mais conter a raiva, então pulei em Evelyn e o mordi no tornozelo. Ele fingiu estar ferido e cambalear, o que me deixou ainda mais irada.
“Ela ainda fede a leão.”
Meu corpo, agarrado à perna da calça de Evelyn, estava sendo levantado no ar.
“Ela não foi banhada?”
A testa de Ahin, que estava massageando a parte de trás do pescoço, estava franzida.
‘Eu tomei banho. Meimi me esfregou bastante com o pano.’
Assim que assenti com a cabeça, a expressão dele endureceu de novo.
O que diabos significava isso de estar com o cheiro do leão? Enquanto o olhava, assustada, Evelyn falou, talvez para quebrar a tensão.
“A propósito, Lorde Ahin. Já faz um mês que a Senhorita Coelha chegou à mansão. Não está na hora de darmos um nome à ela?”
Evelyn estava me olhando com uma expressão complicada. Bem, acho que é natural devido às circunstâncias…
Quando eu e Meimi nos dirijamos ao jardim, sempre escutava os cavaleiros dizerem.
[A Senhorita Coelha está passando, arrume a postura.]
[A Senhorita Coelha está ali.]
[Senhorita Coelha…]
Sempre faziam um alvoroço. Não sei exatamente como esse apelido se difundiu, mas eles me tratavam quase como se tivesse um ranking alto por causa de Ahin.
Na verdade, acabei me acostumando, mas sabia que a situação em si era bizarra. Não seria estranho que eu não pensasse que era estranho?
“Dar um nome?”
Ahin, que olhava entre mim e Evelyn, respondeu com a voz seca. Antes que percebesse, ele tinha me pegado e eu estava de barriga para cima no sofá. Ele ainda parecia zangado pela história misteriosa do cheiro de leão.
“Um nome…”
<Solte Vivi, estou tonta!>
Eu resisti desesperada, mas não conseguia me desvirar. Ahin, que estava segurando meu pescoço com o dedo, de repente cutucou minha bochecha.
“Está tudo bem. Ela já tem um nome, de qualquer forma.”
Isso foi uma fala com significado profundo. O encarei e ele me olhou de volta.
Ahin sorriu de leve. Meu inimigo parecia brilhar, como de costume.
“Não estou certo?”
Fiquei boquiaberta e assenti. Queria perguntar como ele tinha tanta certeza disso, mas novamente me frustrei por não conseguir falar.
***
Evelyn, que estava organizando documentos, se retirou, e antes que eu percebesse, já era tarde da noite e eu estava sonolenta.
Mas Ahin, em vez de se deitar, espalhou um grande pedaço de papel no carpete. Após esse ato inesperado, ele deu um sorriso suspeito e me carregou sem nenhum aviso.
<Isso é muito irritante.>
Pega pela nuca, eu olhei para ele. Como aquele homem-besta leão tinha provado, os predadores são muito rudes.
Ele me cutucou na bochecha enquanto continuava a lhe lançar um olhar maligno.
“Já te disse, se ficar me olhando assim, fico com vontade de te comer. Não é brincadeira.”
Para completar essas palavras, o canino revelado entre os lábios entreabertos de Ahin brilhou. Cansada, resolvi apenas ficar quieta. Não é que eu esteja com medo, é só o sono, falei para mim mesma.
Ele prosseguiu pegando um tinteiro de sua mesa.
Comecei a ter um mal pressentimento, e Ahin começou a mergulhar minhas patas traseiras na tinta preta. Lutei contra ele, mas logo minhas patas estavam encharcadas de preto.
<O que está fazendo!?… Oops.>
A tinta respingou no rosto de Ahin porque eu resisti violentamente. Fiquei apreensiva por um momento, mas ele não reagiu e me colocou no chão.
Bem em cima do papel.
“Muito bem.”
Não consegui entender o que ele queria, então o olhei com questionamento. Entendendo meu olhar, Ahin deu um tapinha no papel.
“Escreva o seu nome.”
Escutando essa ordem inesperada, eu fiquei petrificada. Desde o começo, a pergunta que não saiu da minha cabeça voltou à tona.
O que ele pensa que eu sou, exatamente? Seria estranho se me considerasse um coelho normal, mas seria muito improvável ter descoberto que sou um homem-besta. Ele devia ter muitas perguntas, mas não podia escutar as respostas.
Ahin acariciou minhas costas ao ver que eu estava hesitando. Ele falou em voz baixa, com um sorriso no rosto.
“Quando um animal ganha um nome, a pessoa se afeiçoa a ele. Não acha que se você tiver um nome, vai viver mais tempo?”
Oh, isso foi assustador. Tremendo, eu comecei a caminhar com as patas molhadas de tinta sobre o papel.
Splash. Splash. Splash.
Me movendo um passo de cada vez, deixei impressões de pequenas patas no papel branco. Elas eram muito pequenas, mesmo lado a lado.
Splash.
Depois de finalmente conseguir escrever “Vivi”, eu apontei para o papel como se tivesse feito um trabalho excelente.
<Ufa…>
Não sabia que escrever meu nome seria tão exaustivo, física e mentalemnte. De fato, o olhar penetrante que eu sentia cravado em minhas costas, mesmo sem ver, era a pior parte.
A expressão de Ahin, a qual eu me virei para olhar após recuperar o fôlego, era indecifrável.
Fiquei ansiosa enquanto o encarava. Talvez eu fiz algo errado? O nome Vivi é estranho, ou tem algum significado diferente aqui no Território das panteras negras?
Olhei ao redor por tempo, e Ahin, ainda vidrado no papel, aprontou para a própria mão.
“A tinta de seus pés vai sujar suas mãos”, parecia dizer. Depois de um tempo, ele fez contato visual comigo.
Um estranho silêncio se seguiu. Ahin tinha olhos calmos como um lago, ao contrário de mim, que estava o evitando, nervosa.
Então, ele disse.
“Vivi.”
Era um nome que eu não escutava há muito tempo. Depois de um certo ponto, ninguém na mansão Labian me chamava pelo nome.
Além disso, era estranho escutar meu nome numa voz rouca e baixa. Mas Ahin, que não me deu um momento para pensar no assunto, de repente me carregou e pôs a boca em minha nuca.
<Que, o quê!??>
Me debati, desesperada. Não ficava mais surpresa com ele me inalando do nada, mas dessa vez senti dentes sólidos cravados na minha nuca.
Não estava doendo, mas era intimidador demais. Quando eu continuei resistindo, Ahin, removendo os lábios, disse.
“Fique calma. Só estou apagando o cheiro de leão.”
Mais uma vez, ele aproximou o rosto e me mordeu de leve na nuca com suas presas. Nesse momento, um cheiro que eu nunca tinha sentido chegou ao meu nariz.
Talvez sejam feromônios de pantera negra? Mas não consegui ficar especulando sobre isso. Fiquei tonta como se o cheiro tivesse me deixado bêbada de repente.
‘Estou sufocando…’
Os feromônios no meu corpo não estavam normais. Pude sentí-los se revolvendo.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.