A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 82
Ahin inclinou a cabeça para o lado. Ele não sabia se Aven estava apenas fingindo ou se realmente não sabia de nada. Então ele parou, ao perceber que, na verdade, não importava.
“Não sei.”
“Como?”
“A propósito, ouvi falar que no local onde começou o incêndio eles guardavam relatórios de compras e vendas feitas por várias famílias do território, incluindo os da família Labian.”
“Então, por isso, suspeita do meu marido?”
“Bem, de um jeito ou de outro, os relatórios acabaram sendo salvos, e o líder decidiu examiná-los com cuidado agora, usando o fogo como estopim.”
A boca de Aven secou ao escutar isso. Tais relatórios normalmente continham o orçamento de cada família e os registros do que elas haviam comprado e vendido. No entanto, o dinheiro que havia entrado no caixa dos Labian era muito superior ao que havia sido registrado, porque a maioria dos negócios que a família fazia eram ilegais. Vendo a expressão derrotada de Aven, Ahin sorriu.
“Aposto que muitas famílias poderiam ter interesse em queimar esses papéis, mas não seriam os Labian os principais suspeitos? Ouvi falar que muitos de vocês tem feromônios com poderes relacionados a controlar o fogo…”
Se o marido dela caísse, a família inteira iria junto. Aven se forçou a falar.
“É muito comum ter poderes de fogo entre nobres do território das lebres. É ridículo assumir que foram os Labian só por causa disso.”
“Isso cabe ao líder julgar. Mas acho que você não pode falar nada, quando comprava drogas ilegais para forçadamente dar à sua filha.”
“…”
“O navio onde Kairi estava também não estava carregando drogas quando afundou? Ouvi que o destino dele era o Qatar.”
Aparentemente, as investigações de Ahin tinham inclusive chegado aos negócios da família Labian na região do Qatar. Os olhos violeta claro tremeram. Apesar de ele não ter nenhuma prova, se chegasse a contar tudo ao líder do clã das lebres…
“O Qatar é uma região neutra…”
Ahin deu um passo para frente e Aven retrocedeu, cambaleando.
“Mas já que o principal supervisor de lá é o próximo líder do clã dos leões, uma vez que uma pessoa for pega, não será fácil escapar ileso. Ele não é uma pessoa normal, também.”
Um vento frio soprou sobre o corpo de Aven.
“…Além disso, o Qatar está sob proteção do território das Panteras Negras. E, agora, resolvi me aliar ao líder do clã das lebres. Bem, ao menos, vou dar umas informações a ele sobre a família Labian…”
“Como ousa…”
“Olhe o pescoço.”
Ela tocou na garganta, por reflexo. Como os Labian eram uma família nobre intermediária, não tinham chance de ganhar se fossem acusados por uma família mais proeminente. E se fossem julgados culpados pelo incêndio, caso o líder do clã fosse muito misericordioso, na melhor hipótese, eles perderiam seu título de nobreza e passariam a viver como plebeus.
“…Saiba que se a família Labian for extinta, isso causará problemas para Vivi no futuro.”
“Que engraçado você dizer isso, quando ela jamais sequer foi colocada no registro da família.”
“Ela não se humanizou…!”
Aven parou a frase no meio, sabendo que sua desculpa não iria servir. As famílias registravam seus filhos na ocasião da humanização definitiva por mero costume, mas não era isso que mandava a lei.
“Vivi não vai morar no território das lebres no futuro. Então, não fará nenhuma diferença se os Labians forem extintos ou não.”
Os olhos vermelhos brilhavam como o de uma besta faminta. Aven, cambaleando, acabou caindo sentada em uma pedra. A lâmina da espada, próxima demais, a fez ter calafrios.
“Me… me poupe…”
Aven, tremendo, notou que Ahin olhava para outra direção. Ela seguiu seu olhar e estreitou os olhos para conseguir enxergar.
‘….Uma pantera negra?’
O animal saiu do meio dos arbustos. Era a mesma pantera que havia saltado em cima do cavaleiro dela para proteger Vivi durante a noite do banquete.
‘Não pode ser…’
O olhar de Aven, buscando Vivi, de repente se dirigiu ao solo. Ela não encontrou a mulher humana que procurava, mas ali estava o coelho bebê que ela tinha visto por cerca de vinte anos.
“Por que virou coelha novamente…?”
Aven não era a única pessoa surpreendida. Os olhos de Ahin também estavam arregalados. Ele tinha percebido a presença de Vivi por seus feromônios, mas não esperava que ela estivesse na forma de coelho. À medida que ela se aproximou, ele embainhou a espada. Caminhando em silêncio, ela parou próxima ao pé de Ahin.
“Estava me perguntando quando você ia sair dali.”
Eles olharam um para o outro. Novamente, Ahin não conseguia entender a expressão de Vivi. Ele continuou falando.
“Sim, eu tinha percebido que você estava ali.”
Vivi estreitou os olhos. Ahin reconheceu uma expressão desconfiada.
“Mais ou menos na metade da conversa.”
Para ser exato, tinha sido logo depois de ele dizer que ela era uma pessoa com a qual ele se importava. Naquele momento, as emoções de Vivi haviam se agitado e ele sentiu os feromônios pelo ar.
<…>
Depois de escutar a resposta de Ahin, Vivi estava convencida. Ahin havia decidido eliminar a família Labian. Ele também queria matar os pais dela, e parece que estava prestes a pôr o plano em prática. Mas isso tudo foi feito sem informar a Vivi. Ela estava estranhamente calma perante a situação. Até mesmo os feromônios, que tinham ficado perturbados, estavam bem controlados. Ahin, que sentiu como se ela estivesse em um lugar distante, apesar de estar ao seu lado, se ajoelhou.
“Quer que eu te segure?”
A mão dele parou no ar quando ela negou com a cabeça. Vivi olhou para Aven, sentada no chão atrás dela. Ela estava em frangalhos, por dentro e por fora.
“…Vivi…”
Aven deu a Vivi um olhar mais emotivo do que jamais tinha dado para sua forma coelha. Assim que a filha dela tinha surgido, Ahin Grace, que estava louco como uma besta assassina, tinha relaxado imediatamente. Até mesmo a pressa e impaciência dele tinham desaparecido. As mãos trêmulas de Aven se esticaram para Vivi. Se Vivi escolhesse salvar Aven, ela acreditaria que tudo poderia dar certo. Vivi olhou para a mãe silenciosamente.
<Vamos embora.>
Então, dando as costas para ela, Vivi puxou a barra da calça de Ahin e saiu andando. Ele a seguiu sem dizer nada. As reações de Vivi estavam muito estáticas. Ele ficou preocupado que ela tivesse virado um coelho de verdade. No entanto, ele percebeu. Era a reação de alguém que tinha largado completamente o laço de afeição que ainda restava para com sua família. Preocupado que essa frieza pudesse um dia ser direcionada a ele, Ahin ficou incontrolavelmente ansioso, e chamou Vivi.
“Vivi.”
Ela girou a cabeça, não parando de caminhar.
“Tem certeza que está satisfeita com isso?”
Era uma pergunta sobre Aven, que tinha ficado para trás, sentada no chão em silêncio. Olhando para trás por um momento, Vivi logo estirou a pata dianteira na direção de Ahin.
<É o suficiente.>
Só para garantir, antes que ela negasse outra vez, ele rapidamente a pegou e colocou no bolso, olhando para trás. Os seguindo, não estava apenas Ash, mas também uma fila de coelhos, alinhados como soldados, que ele não tinha ideia de como tinham conhecido Vivi nem por que a seguiam. De longe, pareciam que bolas de algodão estavam enfileiradas, se movendo. Ahin, confuso, foi para o local onde Jane estava amarrada. Vivi estava sem expressão nenhuma, com a cabeça para fora do bolso, olhando para o nada.
“Você sempre volta a ser coelha nos momentos mais importantes.”
Ahin falou, com uma voz gentil.
“Bem, eu vou te desculpar.”
Quando Vivi olhou para cima, ele mostrou deliberadamente o sorriso deslumbrante que sabia que ela preferia.
“Se você me implorar, isto é.”
Ele era uma pantera negra, mas ao mesmo tempo, parecia uma raposa astuta. Vivi, suspirando pesadamente, se enfiou mais fundo no bolso, colocando a pata dianteira para fora em um aceno, para repreendê-lo. Ela não queria pensar em nada naquele momento. A floresta estava completamente escura. Ash, que enxergava muito bem mesmo sem luz, liderava o caminho.
“Vá dormir. Quando você acordar, estaremos na mansão Grace.”
O galopar de Jane magicamente fez Vivi se sentir extremamente cansada. Ahin, Ash e os coelhos continuaram andando pela floresta. Vivi piscou vagamente, olhando para a lua. Era uma noite refrescante e triste, na qual ela tinha terminado de abandonar a família Labian por completo.
***
Comparado com o frio que estava fazendo recentemente, era um dia particularmente quente. Acordada pelos raios do sol, eu me remexi. Queria aproveitar o calorzinho por mais tempo. Mas por que parecia que eu tinha dormido por muito tempo? O lugar onde eu estava deitada era uma almofada muito macia. Enquanto esfregava os olhos, me levantei de supetão ao ouvir um som estranho. Ahin tinha dito que eu estaria na mansão Grace quando acordasse…
<Bem, estou, de fato, dentro da mansão.>
Para ser exata, numa almofada colocada no chão do campo de treinamento. E os cavaleiros ao meu redor estavam no meio de sua rotina, chocando as espadas uma contra a outra. Mas eram espadas de madeira. Era menos assustador do que eu tinha imaginado. Até agora, tinha evitado passar por essa área da mansão de propósito.
“Está se sentindo bem?”
Havia alguém do meu lado. Era Meimi.
<Estou bem…>
Mas por que estava dormindo no campo de treinamento? Enquanto passava um pano aquecido em meu rosto, ela explicou.
“A senhorita dormiu um dia inteiro.”
Então, Meimi explicou que Ahin tinha me carregado para todo lugar que fosse naquela almofada… Até mesmo para o campo de treinamento, quando tinha chegado a hora de se exercitar. Esfreguei a cabeça com as patas dianteiras.
<Ele realmente é louco!>
“Ash foi para a floresta fronteiriça encontrar Barra, por isso estou inteiramente encarregada da segurança da senhorita Coelha.”
Essas duas palavras, “Barra” e “floresta” fizeram meus pelos se arrepiarem. Percebi que os sons das espadas tinham parado enquanto Meimi explicava que Barra só obedeceria alguém que julgasse ser mais forte do que ele, e por isso Ash tinha que ir.
<O treinamento acabou?>
Enquanto olhava para os cavaleiros, percebi que todos estavam me olhando, e, ao serem pegos, voltaram a bater as espadas mecanicamente. Não pareciam nada naturais.
<Que estranho.>
O som das espadas de madeira parou outra vez quando eu desci da almofada. Fingindo espaná-la devagar, me virei de supetão. Os cavaleiros estremeceram e voltaram a bater as espadas.
<….>
Tendo perdido o timing, um dos cavaleiros foi atingido na cabeça pela espada do parceiro e caiu no chão. Eu agora estava certa que eles estavam me observando. Olhei para Meimi.
<O que há com eles?>
Se ajoelhando, ela silenciosamente abriu um jornal que só se publicava no território das lebres. Além disso, não era um jornal comum, mas um periódico de fofocas que circulava pelas ruas.
“Ela está olhando o jornal!”
“Ela vai ler agora…!”
“Vejam, o jornal!!”
Pude ouvir as vozes dos cavaleiros, sussurrando um por cima do outro. Eles podiam tentar disfarçar, mas era inútil para minha audição de coelho.
<O que tem nesse jornal?>
Me sentindo ansiosa, o segurei rapidamente.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
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Aaaahh eu quero maaais🥺