A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 81
‘O que é que estou fazendo?’
Me perguntei como Ahin ou Evelyn reagiriam se me vissem assim. Nesse momento, o coelho ferido, que estava liderando a manada, parou de repente. Então, ele saltou para dentro de um arbusto, e só pude ver o seu bumbum redondo.
<Quer que eu te siga?>
Quando entrei atrás dele e, atravessando o arbusto, coloquei a cabeça para fora do outro lado, vi uma área sem árvores onde estava estacionada uma carruagem sem brasão. Após olhar ao redor, rapidamente sinalizei a Ash para que parasse de caminhar.
Porque tinha acabado de ver Ahin e minha mãe.
***
Por que esses dois estavam juntos no meio da floresta fronteiriça? A mente de Vivi estava em branco. Quando ela percebeu que aquela visão era real, sua mente se despertou como se alguém estivesse gritando em sua orelha. Ela empurrou Ash para trás de uma pedra enorme.
<Vamos nos esconder por enquanto.>
Os coelhos ainda estavam no arbusto, com apenas as cabeças para fora. Ahin, olhando para trás, percebeu imediatamente as bolinhas de algodão o espiando.
‘Quantos amigos ela trouxe?’
Ao perceber a manada de coelhos no arbusto, ele não conseguiu parar de sorrir. Porque, mesmo a essa distância, parecia que Vivi tinha sido copiada inúmeras vezes. ‘Aparentemente, as famílias de coelhos eram numerosas’
Ele pensou consigo mesmo, sorrindo, e falou.
“Ei, coelhos selvagens, por que vocês se parecem tanto com Vivi? São tão minúsculos quanto ela.”
Os olhos de Vivi ficaram em chamas. Ash conseguiu impedi-la de saltar e chutar no ar.
“Vieram assistir um show? Não acho que seja uma cena agradável de ver.”
Ahin estava mais interessado no grupo de coelhos iguais a Vivi do que na situação. Aven, tremendo, tentou chamar a atenção dele.
“O que você quis dizer com a extinção da família?”
Estaria ele implicitando que mataria todos os membros? Com essa frase inesperada, Vivi colocou a cabeça para fora da pedra. A expressão de Aven, que ela podia ver sobre o ombro de Ahin, não era boa.
“Eu faço as perguntas. Afinal, você me causou muitas inconveniências me fazendo vir até aqui.”
“Já foi suficiente quando você me atrapalhou na noite do banquete! Como sequer sabia quem eu era?”
“Ah, aquele dia? Eu já sabia de tudo, e você não fez nenhum favor a si mesma.”
Sem fala, Aven cobriu a boca com as mãos.
“Você tinha me investigado?”
Vivi, finalmente entendendo o que acontecia, lambeu os lábios, que estavam secos. De qualquer modo, ambos Aven e Ahin estavam envolvidos no ataque à sua carruagem. Feliz por ter uma excelente audição como coelha, ela encarou as costas de Ahin.
<Mentiroso….>
Ela odiava quando ele não lhe contava as coisas, mas nunca antes tinha mentido.
“Quantas vezes você deu a droga à Vivi?”
Ahin perguntou, checando o relógio de bolso.
“Droga… Do que está falando?”
“Da mistura feita com a árvore de Blum. Eu já sei de tudo, então fale de uma vez. Se me disser a verdade, te darei uma informação que sei que você quer muito. Vou te contar como Vivi se humanizou.”
Essas palavras estimularam a mente de Aven como se fossem de açúcar. Enquanto isso, Ash, preocupada com Vivi, colocou sua pata dianteira próxima a pata de Vivi.
<Estou bem, Ash. Quero escutar o que ela vai responder…>
Ela queria saber o que foi feito com o seu corpo. As duas ficaram assistindo, de patas dadas.
“Por que eu faria….”
“Não pense em escapar, apenas me responda agora.”
Aven olhou ao redor. Ahin parecia estar sozinho, mas podia ter um companheiro oculto em alguma parte. Ela sussurrou, encarando a manada de coelhos suspeitos.
“…Antes de ela completar 4 anos, dei a droga umas três vezes.”
“Você é realmente louca. Ninguém viu isso acontecer, nenhuma das vezes?”
“Sim, mas eu falei a eles que era um elixir fortificante.”
“Que incrível. Quando é que uma droga ilegal se transformou em elixir?”
Ela não respondeu ao sarcasmo de Ahin. Os olhos dele estavam tão ameaçadores que ela desviou o olhar.
<Três vezes…>
Vivi tinha uma vaga memória de ter tido um resfriado forte quando era muito pequena. Era algo que ninguém lembraria, mas a dor que parecia tê-la partido ao meio tinha feito com que a memória permanecesse vívida. Naquele dia, sua mãe tinha se agachado friamente e a verificado várias vezes.
“Você também deu a droga ao seu segundo filho, Kairi Labian?”
Os olhos de Aven se estreitaram. Ao se referir assim sobre Kairi, ele estava demonstrando que realmente tinha mandado investigar a família inteira. Ela respondeu sacudindo a cabeça.
“Então quer dizer que você pensou no assunto e concluiu que a humanização atrasada de Vivi poderia ter sido um efeito colateral das drogas.”
“…Na época, eu escutei falar que outras famílias fizeram o mesmo e as crianças se humanizaram normalmente.”
“É verdade. O caso de Vivi foi especial.”
Enquanto isso, Vivi estava concentrada na conversa, mas não conseguiu evitar que os coelhos se aproximassem e a cercassem. Logo, sua visão estava bloqueada por pêlos e ela estava ensanduichada no meio da manada. Será que eles estavam tentando consolá-la? Talvez fosse um instinto protetor de coelhos. Infelizmente, era impossível se comunicar com eles, pois a linguagem dos animais era diferente.
<Eu não estou triste, está tudo bem.>
Vivi, afastando um pouco as bolas de algodão felpudas, apurou os ouvidos outra vez.
“Na verdade, estou grato a você por ter abandonado Vivi no nosso território. Por isso, pensei em deixar sua família em paz ou algo assim. Se ao menos você não tivesse ficado interferindo desse jeito, eu ia ser bonzinho.”
“…”
“Sim, se ao menos não fossem pelas drogas, eu não mataria vocês. Afinal, são os pais de Vivi.”
Aven não sabia se as palavras de Ahin eram sinceras. As palmas das mãos dela, que estavam cerradas como se ela estivesse determinada, já estavam encharcadas de suor. Enquanto isso, Vivi estava com calafrios. A eliminação da família Labian. Tinha sido por isso que Ahin tinha mandado ela embora do território das lebres e ficado para trás, sozinho.
“Vocês mulheres nobres sempre ficam enfiadas dentro de suas mansões, então seria um incômodo deixar pra te matar outra hora.”
Ahin, cansado desse jogo, estalou o pescoço para os lados. As leis para assassinato eram mais pesadas no território das lebres do que no das panteras negras.
“Se você não tivesse tentado sequestrar Vivi, não teria se encontrado comigo hoje.”
Aven sentiu a mudança no comportamento de Ahin e prendeu a respiração. Talvez, usando o fato de que era mãe de Vivi, ela ainda conseguisse escapar dessa situação com vida.
“Eu apenas queria minha filha de volta…”
Os olhos dela, da mesma cor violeta claro que os de Vivi, brilharam quando ela acrescentou, em voz baixa.
“Vivi não pareceu me odiar, também…”
“Quanta falta de vergonha na cara.”
“O quê?”
“Se Kairi Labian não tivesse morrido, você nem teria se interessado por ela, não é?”
<Kairi… morreu?>
Vivi se paralisou, sem palavras. Sua mente ficou em branco. Essa notícia tinha aparecido como se fosse uma história sobre alguém muito distante. O seu irmão menor, de quem ela não era próxima… As lembranças de ele a insultando e a cutucando com o dedo surgiram em sua cabeça. E agora, ela nunca mais o veria … era indescritível. Mas, uma coisa era certa. A insistência de Aven em não largar Vivi certamente tinha surgido da ausência de Kairi. Não por sentimentos, mas por necessidade. Vivi parou de se sentir tão emotiva.
“Como você é grosseiro.”
Aven, criticando Ahin, falou com uma voz fraca.
“Ei, a culpa da morte do seu filho não é minha. Aliás, sequer vale a pena chorar a morte de um filho, quando você enviou Vivi para a barriga de uma pantera negra?”
A fala de Ahin fez com que Ash e Vivi se entreolhessem, constrangidas.
“Já chega!”
A conversa tinha voltado ao início. Cansado dessa repetição, Ahin sacou a espada.
“Pensei que eu hesitaria em te matar por ser a mãe de alguém com quem eu me importo.”
Ele riu. Não tinha nada que valesse a pena salvar ali, incluindo a pose de Aven, ainda fingindo ter a dignidade de uma nobre.
“Mas não, posso te matar sem problemas.”
Os homens-besta podiam ser muito mais cruéis que os animais. Ahin se sentia doente ao imaginar que Vivi tinha vivido sua vida inteira sob tal crueldade. Ele não tinha ideia de como seria sua personalidade se tivesse ficado isolado e maltratado por tanto tempo assim.
Mas Vivi era gentil e tinha compaixão com os demais. Ele não podia deixar existir nenhuma única possibilidade de algum dia ela voltar a viver em tal ambiente.
“Não fique chateada. Vou mandar os outros Labians para te seguir logo, logo.”
Sentindo a urgência provocada pela atitude de Ahin, Aven gritou, se esquecendo de sua dignidade.
“Você ainda não me respondeu!! O que quis dizer com extinção da família?!”
Ahin falou devagar, com os olhos no grupo de coelhos.
“Durante o incêndio, no meio do baile, por que ninguém da família Labian veio te procurar? Vivi e você ficaram para trás até que todos tinham fugido. Então, por que ninguém veio atrás de você? Nem mesmo o seu parceiro de baile se preocupou com onde você estaria?”
Confusa, Vivi ficou de pé na pedra, se esquecendo de que devia se esconder. Haveria uma conexão entre o fogo e os Labian?
“Isso…”
Aven, incapaz de responder, ficou gaguejando. O seu marido era esse tipo de pessoa. Obviamente ele colocaria sua própria segurança primeiro e evacuaria sozinho junto aos outros nobres. Mas se ele fosse o culpado pelo incêndio, a história seria diferente… Aven havia dito ao líder do clã das lebres que o incêndio tinha sido proposital e pedido que ele investigasse. Seu rosto ficou pálido quando percebeu que poderia ter cometido um grave erro. Ahin olhou para o céu, quase completamente escuro.
“O fogo na mansão Amon começou justamente no local onde eram armazenados os documentos importantes, como os orçamentos anuais e registros de importação e exportação de todos os nobres do território das lebres. Não acha que o líder pareceu tranquilo demais, mesmo após papéis tão cruciais serem perdidos?”
Quando Aven foi dar seu testemunho, ela se lembrou como o líder estava relaxado, mais preocupado em obter chocolate quente. Ele parecia ser um homem decente, mas não se preocupava com aparências. Os dedos de Aven tremiam. Ignorando sua ansiedade, Ahin continuou.
“É quase impossível tocar fogo na mansão do líder de um clã, ainda mais durante um baile, onde a segurança fica mais intensa. E mesmo que conseguissem, seriam pegos na saída.”
Sua espada, que apontava para o chão, adicionava ao clima sombrio que Aven sentia.
“Acha que a segurança estava relaxada demais? O suficiente para que seu cavaleiro escolta andasse por aí com uma espada?”
“…Não pode ser…”
“Tenho certeza que nada mudou, tocando fogo ou não. Eles provavelmente guardavam os documentos realmente importantes num lugar separado.”
Ahin estava sorrindo largamente, o que fez Aven recuar.
“Mas… o que isso tem a ver com meu marido não ter vindo me procurar?”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.