A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 77
O líder do clã, vendo que eu hesitava, tentou adivinhar.
“Se é sobre a investigação do incêndio, não se preocupe. Fui eu que dei a permissão para você sair, em primeiro lugar.”
Como esperado, a influência de Ahin tinha funcionado.
“Quer saber algo mais?”
Os poderes que tinham os feromônios de cada líder clã eram informações que todos sabiam. Mas perguntar sobre o ataque de feromônios de Ahin… era algo que eu não podia falar. Eventualmente, sacudi a cabeça, e o senhor, que esperava, sorriu.
“Seja o que for, vá perguntar ao velho Lillian. Ele não é diretor da Academia Belhelm por nada. Provavelmente te dará uma resposta melhor do que eu jamais poderia.”
O líder do clã das lebres, dando as costas, começou a ir embora. Então, ele girou e falou.
“A propósito, sabe o que significa quando um predador deixa uma marca de mordida no pescoço de alguém?”
Tocando meu pescoço, por reflexo, neguei com a cabeça.
“Quando for conversar com Lillian, não fale sobre isso. Ele é muito antiquado e pode ter um ataque.”
Rindo sozinho, ele saiu com um secretário, que apareceu de repente. De algum modo, parecia que o criado estava o arrastando para dentro.
Mas, como ele deixava uma informação como essa e ia embora? Não conseguia tirar a mão do pescoço, e só fiquei ali parada, com o cabelo voando ao vento. Vim fazer uma pergunta, mas saí com uma questão muito maior na cabeça.
***
Não podia ter combinação pior. Quando voltei à carruagem e vi que ali tinham entrado Evelyn e Ash, suspirei. Não acreditava que teria que viajar por tanto tempo e num espaço tão pequeno junto com Evelyn e Quinn, até o território das panteras negras. Ia ser um inferno. Mas não podia falar nada, então me sentei, apoiando o queixo na janela. Logo Ahin apareceu do lado de fora, bem na minha frente.
“Você parece um cão abandonado.”
Nem sabia dizer que tipo de insulto era aquele. Ahin, se erguendo, sorriu. Sem energia para discutir, me endireitei, apressada.
“Ahin, venha conosco.”
O que significava: como pôde me deixar sozinha com esses dois?
“Eu já falei, seguirei um pouco mais tarde.”
“Mas quando?”
A boca de Quinn, talvez por causa da minha insistência, formou uma linha rígida. Era uma visão assustadora, então me afastei um pouquinho. Logo, ouvi uma voz preocupada.
“Amanhã.”
“Amanhã?”
“Sim, vou tentar voltar na madrugada de amanhã, se conseguir.”
“Não precisa mais ficar, então venha conosco agora.”
Os olhos vermelhos tremeram quando falei isso. Era uma visão rara. Logo, ele desviou o olhar para Quinn e Evelyn, e perguntou, com uma voz refrescante.
“…Por acaso quer que eu vá junto para não ficar sozinha com esses dois?”
Minha mão, na moldura da janela, tremeu. Ele tinha acertado mais da metade, e isso apareceu em minha expressão antes que eu conseguisse controlar.
“Senhorita Coelha, ouvir isso deixa esse Evelyn muito chateado.”
Evelyn, expressando seu desapontamento, se calou após levar uma chicotada da cauda de Ash. Quando parei de olhá-lo e voltei para Ahin, o sorriso dele estava mais frio, de algum modo. Ele se inclinou e murmurou para mim.
“Vivi, suas orelhas estão aparecendo no topo da sua cabeça.”
“Quê?!”
Até onde eu sabia, não era possível uma transformação incompleta. Ou se humanizava ou não… Mas seria possível, por eu não ter me humanizado definitivamente!? Em pânico, apalpei minha cabeça. Mas só cabelo se enrolou em meus dedos, e não achei orelha de coelho nenhuma. Após tocar minha cabeça por completo, olhei para Ahin com desprezo no olhar. Ele fez cara de inocente e sussurrou outra vez.
“Talvez tenha sido a cauda que apareceu.”
“Por que está sendo malvado, do nada?”
Determinada a não ser enganada de novo, franzi a cara. No entanto, a mão que desafiava o cérebro queria tocar na área ao redor dos lábios de Ahin através da janela. Consegui contê-la, mas não antes de fazer um leve movimento na direção dele. Percebendo-o, Ahin rapidamente fechou a janela da carruagem. Supus que isso queria dizer que a despedida tinha terminado. No entanto, ele voltou a abrir a janela, até a metade, e falou em voz baixa.
“O Ferenium está com você?”
Em vez de responder, mostrei o relógio de bolso, amarrado em meu pulso como um bracelete.
“Preciso recarregar o relógio com feromônios mais tarde. Só tem mais uma carga agora.”
Então, se afastando, ele falou.
“Desculpe por não voltar junto com você.”
Tadak. Ouvi um barulho de algo caindo atrás de mim. Evelyn tinha derrubado a pilha de documentos que carregava. Percebi, ao virar, que Quinn estava encarando Ahin boquiaberto, tanto que parecia que seu queixo ia se soltar. Evelyn se curvou e começou a apanhar os papéis do chão da carruagem.
“Ah, esses documentos são tão escorregadios…”
“Que seja. Vivi, tem algo mais a dizer?”
De repente, me lembrei das palavras do líder do clã das lebres. Apontei para a marca em meu pescoço, atualmente coberta pela capa.
“Sobre isso…”
Estava falando tão baixo que tive que me aproximar de Ahin para que ele escutasse. Ele respondeu igualmente sussurrando.
“Tive que fazer uma abertura para injetar os feromônios em você. Por que pergunta isso, de repente?”
“… Só queria saber se não tem outro significado além disso.”
“Então Vivi não sabe, apesar de ter mordido meu pescoço já duas vezes?”
“…”
Fiquei sem fala ao ouvir essa pergunta. Eu só conseguia me lembrar daquela uma vez, durante o ataque de feromônios…? Ahin começou a abrir o colarinho, como que para mostrar a prova.
“Hm, a mordida foi fraca, então talvez a marca já tenha sumido…”
“Espera aí!!”
Consciente de que Evelyn e Quinn estavam olhando e escutando, dei um tapa da boca de Ahin para que se calasse. Com o som do tabefe, Ahin colocou a mão sobre a boca, com os olhos arregalados. Quando percebi o que fiz, minha mão começou a tremer.
Tadak. Os papéis caíram mais uma vez das mãos de Evelyn. Criados passando, cavaleiros e até mesmo o cuidador de cavalos pareciam estar olhando na nossa direção. Não acredito que dei um tapa no próximo líder do clã das panteras negras num lugar com tanta gente olhando!
“Ah, foi sem querer…”
Eu não seria executada por esse crime, certo? Ahin retirou a mão dos lábios, que estavam vermelhos.
“Você me deu tapa pela segunda vez.”
A voz grave dele me tirou da loucura. Controlando minha expressão, fechei a janela completamente e me endireitei em meu assento.
“Ele parece estar bem. Vamos embora.”
“Disciplinando o Lorde Ahin dessa forma… Como esperado da líder da divisão de cavaleiros do clã das panteras negras. Desde a primeira vez que a vi, senti que seria uma excelente general…”
“Evelyn, você merece mais um tapa do que Ahin.”
“Que cruel. No entanto, ouvir isso me emociona. Me dê três tapas, então.”
A carruagem trepidou para fora da mansão Amon. Com a ajuda de Ash, dei três tapas em Evelyn e olhei para trás. A visão de Ahin, ainda parado ali, foi desaparecendo. Logo, não podia mais ver a mansão. Esses últimos dias tinham sido muito exaustivos, uma série de partidas e reencontros. Logo, a carruagem já tinha entrado na floresta que estava na fronteira, levando ao território das panteras negras.
***
Sentada na frente de Quinn, comecei a mandar sinais para ele movendo as sobrancelhas. Uma vez que ele testemunhou a cena com Rune, precisava garantir que ele ia ficar de boca fechada. Se Ahin escutasse, iria entender errado e poderia ser um grande problema. Quinn me respondeu ao fazer uma expressão ameaçadora. Parecia que eu continuava sendo odiada.
‘Mas não sei o porquê.’
Apesar de ter sido apresentado como o pássaro mensageiro de Ahin, ele tinha me levado para dentro da prisão subterrânea. E tinha habilidades muito boas, pois tínhamos entrado e saído sem sermos descobertos…
“Senhorita Coelha, se ficar com a bochecha grudada no metal da carruagem, vai se resfriar.”
Evelyn, sem tirar os olhos dos documentos, falou. Ele parecia estar tentando se esquivar da minha guerra de olhares com Quinn. Me endireitei e tossi para disfarçar.
“Quinn, como você acabou trabalhando para Ahin?”
“Bem, posso responder no lugar dele?”
Quinn lançou um chute quando Evelyn falou, mas, parecendo estar acostumado, ele desviou com maestria.
“Ele só fala quando é estritamente necessário, então permita-me responder.”
‘Quer dizer que aquela fala de “coelha maldita” era algo estritamente necessário?’
“A senhorita já observou a cicatriz no olho de Barra?”
Naturalmente, podia me lembrar bem dela. Parecia uma marca bem antiga. Quando assenti com a cabeça, Evelyn tocou o próprio olho.
“Esse ferimento foi feito por Quinn, há muitos anos.”
“Quê?”
“Quinn, lutando contra Barra e arrancando seu olho… foi uma batalha magnífica.”
“Ele atacou uma pantera negra na forma de águia?”
“Sim. Que loucura, não acha?”
Depois disso, evitei olhar para o lado de Quinn, que parecia ainda mais perigoso depois dessa.
“Ele estava tão fraco que não conseguia voltar à forma humana, então, se não fosse tratado, teria morrido. Mas então, o Lorde Ahin o recolheu.”
Parece que Ahin andava recolhendo muita gente ultimamente. Não podia falar isso em voz alta, então me repreendi por dentro.
“Desde então, ele ficou na mansão Grace, mas não obedece a ninguém, nem mesmo à Senhora Valence. No entanto, faz tudo que o Lorde Ahin manda.”
Evelyn, explicando em voz baixa, me ofereceu uma cesta de frutas. Enquanto eu escolhia, ele me encarou.
“Por isso, quando o Lorde Ahin recolheu a Senhorita Coelha, me perguntei se seria algo parecido. No entanto, ele manteve a Senhorita Coelha dentro do bolso o tempo todo, enquanto Quinn, sequer trouxe para a mansão ele mesmo, pedindo que alguém o carregasse, verdade?”
Quinn, olhando para a cesta de frutas, assentiu levemente. Evelyn, tendo sua confirmação, de repente falou com uma voz pesada.
“Você deveria ter fugido.”
“…Quê?”
Estava tudo bem, mas, do nada, isso?
“Você deveria ter fugido ali mesmo na floresta, logo antes de ele te recolher.”
“Mas, por quê…?”
Sem entender, deixei cair a maçã que estava segurando. Ela rolou no chão e desapareceu na boca de Ash, em segundos.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.