A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 7
Um laço especial havia se formado entre a mãe de Ahin, Valence, e eu.
A hora do chá no roseiral, que sempre acontecia no mesmo horário, passou a ter um complemento secreto quando Meimi se afastava. Era uma prática para controle de feromônios.
Um dia, depois de comer, no roseiral, Valence sugeriu que eu aprendesse a controlar os feromônios no meu corpo aos poucos.
Sim, a estranha energia que eu tinha sentido naquele dia eram feromônios. Era teoricamente impossível, mas talvez fosse o primeiro passo para minha humanização.
Eu, que tinha um espírito de luta que ardia como fogo, esperava ansiosa por esse momento todos os dias, e, segundo a senhora Valence dizia, estava melhorando rapidamente.
É claro, não sabia dizer se era verdade ou se eram elogios vazios. Não podia, porque ela ficava mostrando um favoritismo absurdo comigo.
“Bebê, respire devagar. Se acalme, e vá.”
Sentada na mesa, eu respirava de forma constante de acordo com as instruções e me focava na energia. Essa energia se espalhava por meu corpo e parecia mais estável a cada dia de prática.
“A essa altura, os feromônios vão ficar tão fortes que ele vai ter vontade de encobri-los de novo.”
Era complicado… Não tinha ideia do que ela estava falando com “ele” e “encobri-los”. Sem explicar, ela falou em voz baixa enquanto bebia chá com leite.
“Não se apresse. Não me importo que siga seu ritmo.”
Assentindo, me foquei na energia como instruído.
Uns 20 minutos depois, a prática mais longa que consegui fazer, senti uma enorme fadiga.
Manejar esses feromônios gastava muita energia e eu estava precisando de uma soneca.
“Muito bem. É o suficiente por hoje.”
Valence, que acariciou minha cabeça enquanto eu suspirava, segurava um livro. Ela apertou os lábios e sorriu, parecendo confusa.
“Pode parecer estranho, mas… Por acaso, você sabe ler?”
Olhando para o sorriso dela, eu assenti.
Nunca escrevi na linguagem continental com minhas próprias patas, mas não tinha problemas em ler. Minha mãe não tinha perdido as esperanças que eu pudesse me humanizar eventualmente e, quando tinha dez anos, me fez aprender a linguagem ainda que só olhando e ouvindo.
“Deixarei esse livro com Meimi, então leia quando tiver tempo. Ele pode te ajudar, eu acho.”
A partir do momento que ela sentiu feromônios em mim, não mais me tratou como um coelho comum.
Foi assim desde o começo. No entanto, ela felizmente não falou a ninguém sobre isso.
Era difícil entender porque a pessoa que era a madame da mansão iria perder tempo comigo em primeiro lugar.
***
[A Teoria dos Feromônios]
Olhei para o livro com um sentimento estranho.
De volta ao quarto, imediatamente arrumei um lugar para o livro grosso com a ajuda de Meimi. Ela o colocou em um suporte de mármore para mantê-lo aberto e para que não caísse.
<Certo.>
Com um olhar sério, peguei uma página com minhas patas dianteiras. Era um pouco difícil virar a página com patas de coelho, mas não tinha outro jeito. Por enquanto, essa era a única maneira de obter mais informações.
[A Definição dos Feromônios]
[Feromônios são odores únicos e energias que somente possuem homens-besta, e se manifestam através de habilidades inatas, que podem inclusive serem usadas para lutar.]
Escutei que homens-besta coelhos geralmente têm feromônios relacionados ao ato de fugir, mas será que eu também? Não achava que tivesse nenhuma super velocidade como eles.
Talvez o próximo capítulo me dê alguma ideia. Verifiquei que estava sozinha no quarto.
[Feromônios e relacionamentos]
Eu não recebi a educação que os homens-besta costumam receber quando pequenos ou através de observar os outros.
[Há duas cerimônias de maioria de idade no continente. Uma aos 15 anos e outra aos 18. Os homens-besta jovens, por ainda não ter domínio de seus feromônios, podem acabar agindo impulsivamente por instinto. Por isso, somente é permitido o uso de feromônios em relacionamentos após os 15 anos, com moderação.]
<Bem….>
Franzindo o cenho, eu pulei esse capítulo sem ler o resto. Isso era algo que eu sabia sem precisar estudar por separado.
Em algum momento, os criados da mansão Labian começaram a pensar em mim como um coelho de estimação, não como um homem-besta. Apesar de eu poder pensar racionalmente, uma vez que não podia me expressar…
Foi na época quando minha cerimônia de maioridade de 15 anos tinha passado. A minha vida horrível não tinha mudado em nada de qualquer modo.
No entanto, havia um problema. Eu tinha um quarto luxuoso por ser membro da família, mas dormia numa almofada no chão, não na cama, por ter corpo de coelha.
Por isso, às vezes os empregados da mansão usavam meu quarto como um local para ter… encontros noturnos. No dormitório dos empregados, por dormirem muitas pessoas no mesmo local, era impossível. No estábulo havia germes.
‘Mesmo assim, isso é um pouco demais… o que tem de errado com vocês?’
A noite, no meu quarto, onde não deveria ter ninguém, às vezes eu escutava alguns barulhos. Eles olhavam para mim no início, mas depois ignoravam e seguiam em frente sem se importar.
Eles sabiam muito bem. Mesmo que eu me sentisse injustiçada, e de alguma maneira conseguisse expressar isso, nada aconteceria a eles. Isso era um fato.
Graças aos feromônios que podia sentir no ar todas as vezes que isso acontecia, não precisava estudar no livro sobre feromônios sexuais. A maior parte de meu tempo na mansão Labian era composto de memórias amargas como essa.
Depois de piscar várias vezes, botei a pata dianteira no livro novamente. Não tinha tempo para ficar relembrando o passado.
<Hein?>
Enquanto estava concentrada lendo, escutei algo atrás de mim.
Quando me virei, Ahin e Evelyn, que eu não tinha escutado entrar, estavam ali.
‘Já anoiteceu?’
Olhei para a janela e virei para eles de novo quando ouvi um som desagradável.
“Pffff….”
Ahin, cobrindo o rosto com uma mão, socou a parede com a outra. Evelyn, que sempre tinha o rosto sem expressão, estava com a boca tremendo.
<O que há com eles?>
Sem entender a situação, os olhei sem expressão, mas Ahin estava ocupado demais rindo. Já o vi debochar muito, mas nunca tinha visto ele rindo tanto desse jeito.
“Hahaha… Acabei de ver a coisa mais estranha de toda minha vida.”
Evelyn, que tinha retornado à sua expressão neutra, estava sem palavras.
“Uma coelha lendo um livro. Queria guardar essa cena em uma pintura.”
Só aí eu entendi a reação deles e olhei para o livro. Não podia ver por mim mesma, mas um coelho virando as páginas de um livro com a pata devia ser algo difícil de levar a sério.
Mas como eu era a pessoa em questão, não conseguia achar engraçado, então automaticamente lhes lancei um olhar maligno.
“Eu… Haha… Vou enlouquecer….”
“Lorde Ahin, calma. Se rir demais, a Senhorita Coelha vai ficar brava….”
A boca de Evelyn continuava tremendo enquanto falava. Qualquer um podia perceber que estava segurando o riso com a cara toda contorcida. Depois de ver essa expressão, Ahin socou a parede mais uma vez.
<Uffff….>
Respirando fundo, olhei para a janela com lágrimas nos olhos.
‘Como pensei, eu odeio essas panteras negras. Muito.’
***
Um dia, a mansão amanheceu excepcionalmente bem guardada. Os cavaleiros estavam mais atentos em suas posições e os criados pareciam mais nervosos que de costume.
Ahin saiu do quarto mais cedo do que o habitual e Valence me informou que devido à sua agenda, não teria tempo para nossa prática de feromônios.
E, o mais importante, Meimi não me levou para caminhar no roseiral próximo ao portão principal, e sim para os fundos da mansão.
Decidi caminhar ao lado de um pequeno lago que havia ali. Era um local agradável, então eu estava andando na grama e respirando ar fresco.
<O que será que está acontecendo?>
A atmosfera estava pacífica. Assim que tinha pensado isso, o cavaleiro que estava de sentinela mais adiante ficou petrificado.
<Hein?>
Meu corpo, que estava parado o encarando confuso, de repente foi erguido no ar. Apesar de eu ser cuidadosa, não tinha sentido a presença de ninguém. Quando olhei para ver se era Meimi me carregando, vi um homem-besta que nunca tinha visto na vida me olhando.
<Quem é você?>
Era um homem que nunca tinha visto durante todo o tempo em que morei na mansão. Suas roupas azul-escuras eram luxuosas demais para ser um empregado.
Vendo que o cabelo dele era cor-de-rosa claro e os olhos dourados, pensei que talvez fosse um herbívoro.
‘Dizem que há uma minoria de nós com olhos dourados, que são considerados muito belos.’
Quando pensei isso, senti uma certa conexão com essa pessoa. Mas, por quê?
Por que um herbívoro está numa mansão cheia de panteras negras? Se bem que vendo essa pergunta, a minha presença neste jardim também era difícil de explicar.
<Você está aqui de visita?>
Tentando colocar um ar de “bem-vindo” no rosto, me remexi. As perguntas só aumentavam, e o homem, me encarando, de repente aproximou o nariz de meu corpo.
“…Sinto cheiro de pantera negra.”
<Ele não é um herbívoro!>
Quando finalmente cheguei a essa conclusão, olhei ao redor apavorada. Os cavaleiros haviam se aproximado, mas tinham parado a uma certa distância.
Eles pareciam constrangidos, não fazendo nada para parar o homem. Era como se não tivessem o poder para interferir com ele.
<Por quê?>
Ele era alguém de status tão alto dentro da mansão que eu não tive permissão de encontrá-lo até agora? No entanto, os olhos dele eram dourados, e não vermelhos como os das panteras negras. Quando girei a cabeça de novo e olhei para Meimi, vi que ela estava com uma expressão de desagrado.
<Meimi!>
Enquanto pensava no que fazer, fiquei olhando entre Meimi e o homem. Pude ver um canino brilhando por entre os lábios dele. Ele era um predador?
Já que eu e Meimi estávamos juntas todos os dias, já tínhamos desenvolvido um tipo de telepatia. Ela notou minha pergunta silenciosa e assentiu. Um predador. Vou ficar maluca.
<De onde saiu esse predador?>
Automaticamente petrificada, olhei para o homem com olhos apavorados. O rosto dele, que até então me pareceu belo, parecia aterrorizante agora.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.