A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 68
Assim que vi aquele sorriso pendurado em seu rosto pálido, senti que ia perder a cabeça. Dizem que os olhos das panteras negras são tão belos como rubis, mas porque os predadores tinham que ser assim tão bonitos? Assim que desviei dos olhos dele, voltei à realidade ao ver os caninos afiados. As histórias de terror que escutava das criadas quando era jovem tinham virado realidade. Eu senti que estava pronta para ceder meu pescoço para Ahin em um piscar de olhos.
Cobri os olhos semicerrados de Ahin com a palma da mão. Ele não resistiu à sensação de uma mão friazinha. Os cílios se moviam por baixo, tocando minha palma repetidamente. Fazia cócegas. De repente, senti um sutil feromônio sendo emanado por Ahin. Ele estava se controlando bem para não exalar feromônios próximo a mim desde que descobriu que sou sensível a eles. Era estranho.
Ahin parecia meio fora de controle por causa da dor, também. Os pêlos do meu corpo se arrepiaram enquanto eu tentava raciocinar.
‘Não pode ser…’
O fenômeno de agora podia ter a ver com a vez anterior, quando Ahin voltou à forma de pantera negra. Se a razão pela qual o corpo dele se transformou foi para facilitar o controle de seus feromônios… Que eu soubesse, além de Ahin, só tinha uma pessoa que tinha dificuldade para controlar os próprios feromônios.
‘Um ataque de feromônios.’
Ele parecia estar com muita dor. Tirei a mão dos olhos de Ahin. Ele os manteve fechados, respirando irregularmente.
“Você está tendo um ataque de feromônios?”
Ao contrário de mim, Ahin conseguiria livremente ir de sua forma verdadeira para a humana.
“Vou me virar. Esse lado está doendo mais.”
Girando no sofá sem me responder, ele deitou de costas e relaxou. Era uma mostra óbvia de que estava me ignorando.
‘Qual é o seu problema?’
Encarando as costas teimosas, pus as mãos nos seus ombros, puxando com força. Inesperadamente, Ahin virou para onde eu queria. No entanto, os olhos vermelhos não pareciam dispostos a me responder.
“Acho que meu neto precisa ficar perto de você o tempo todo.”
O vovô estava falando de um ataque de feromônios? Não conseguia entender, mas nesse momento, pensei que Ahin precisava que eu injetasse feromônios nele. Não precisava me preocupar com nada além disso. Então, comecei a concentrar meus feromônios. Um segundo depois, Ahin puxou meu braço. Como estava sentada na beira do sofá, perdi o equilíbrio e caí sobre o peito dele. Pisquei envergonhada, olhando para o rosto de Ahin bem de perto.
“O que está fazendo?”
“Não os use”.
“Por que não? Meus feromônios podem ajudar a acalmar o seu ataque.”
“Se você usar seus feromônios, vai voltar à forma de coelha e sentir dor.”
Apertei os lábios. Como esperado, Ahin era muito esperto, tendo percebido como tudo funcionava após testemunhar a situação apenas uma única vez, na noite em que voltou a sua forma original.
“Acho que prefiro você na forma humana.”
Ele disse que era melhor que eu fosse uma coelha, mas agora queria que eu fosse humana. A mudança era, ao mesmo tempo, desagrável e fazia meu coração acelerar. Que contraditório…
“Ahin, acha que temos tempo para ficar discutindo sobre isso?”
“Sempre há tempo para discutir.”
É inútil…. Talvez por causa da febre, ele estava se comportando como uma criança.
“O que está acontecendo…? Ahin!!”
Pude perceber o corpo de Ahin se contraindo por um momento. Ele soltou um gemido abafado. Nem ousei imaginar a dor que ele deveria estar sentindo, quando nunca demonstrava nem mesmo um desconforto normalmente… Ahin segurou meu pulso como se estivesse lendo meus pensamentos e fosse me parar no instante em que eu tentasse usar meus feromônios.
‘Que besta teimosa.’
Procurando um meio-termo, me lembrei do momento no qual eu ia enfrentar o cavaleiro dos Labian.
“Ahin, me escuta.”
Resolvi tentar convencê-lo.
“Quando eu uso meus feromônios, meu corpo volta a forma de coelho, provavelmente, como um mecanismo de defesa, já que eu ainda não consigo controlá-los muito bem.”
O suor estava se formando nas têmporas dele.
“Ou seja, se você aplicar seus feromônios dominantes em mim ao mesmo tempo, talvez eu não volte a ser coelha. Eu poderia usar o Ferenium, mas acho que você em pessoa será capaz de controlar melhor a dosagem. Me entende?”
Ahin, com os olhos fechados, parecia incapaz de responder. No entanto, ele não tinha largado meu pulso, com uma tenacidade impressionante.
“Ahin?”
Mesmo após dar um tapinha em sua bochecha, ele não mostrou reação. Apressada, colei a orelha no peito dele. Felizmente, pude ouvir a fraca batida de seu coração.
“Você me assustou…”
Com o rosto pálido, olhei para Ahin sem me mover.
‘Por favor, melhore…’
Já tinha começado a soltar feromônios de cura, mas a condição dele não se alterou. Eu só tinha aprendido como disparar meus feromônios, mas não sabia como injetá-los.
‘Seria menos doloroso se você cooperasse comigo… Se não vai morrer um desses dias…’
Me ajoelhei no chão e olhei para Ahin. O pescoço dele entrou no meu campo de visão.
‘Para injetar feromônios, é necessário colocá-los dentro da corrente sanguínea ou das vias aéreas, mas…’
Não tinha muitas opções, mas talvez fosse possível. Abaixando minha cabeça, determinada, me aproximei do pescoço de Ahin. Ao mordê-lo, percebi que tinha esquecido de um fato muito importante. Eu não tinha caninos para perfurar a pele.
“O que você está fazendo?”
Ahin falou com uma voz fraca. Eu fui descoberta. Parei de morder e me levantei rapidamente.
“Eu não consigo furar um buraco no seu pescoço.”
Substituindo o olhar triste que levava antes, os olhos de Ahin mudaram, ficando tão intensos quanto os de uma besta faminta. Era como se estivessem ardendo. Ele puxou o pulso que ainda segurava como se estivesse faminto.
“Ah!”
Num piscar de olhos, o rosto dele estava a poucos centímetros. Eu podia sentir seu hálito quente sobre mim.
‘Os lábios…’
Eu queria evitar isso tanto quanto possível. Me lembrando daquele dia, no Qatar, contraí os dedos do pé. Enquanto isso, senti os feromônios de Ahin, que estavam tão misturados e confusos que era absurdo. Após hesitar um pouco, abaixei os lábios.
Os feromônios de Ahin, que agora me eram familiares, fluíram para dentro. Sentindo-os se espalhar em meu corpo, empurrei meus feromônios de cura mais adiante. Mais do que um beijo de língua, era uma missão para entregar mais feromônios para o outro.
“…Ah.”
Quando os lábios dele se afastaram por um momento, soltei um barulho involuntário. Ahin tinha uma sede insaciável. Meus dedos correram pela parte de trás de sua cabeça e apertei o cabelo dele. O som da respiração no ar silencioso fizeram meus sentidos ficarem mais apurados. Quando a respiração de Ahin começou a se normalizar, eu exalei através dos lábios. Ainda ajoelhada no chão, tinha passado tanto tempo que minhas pernas estavam dormentes.
Levantei a cabeça devagar. Os lábios macios, que tinham ficado grudados nos meus por muito tempo, se separaram. Eu pude ver os olhos vermelhos enevoados. Talvez o efeito sonífero dos feromônios de cura estivesse sendo ativado. Não sabendo que tipo de expressão eu mesma estava fazendo, cobri a bochecha com as costas da mão. Ela estava muito quente.
“…Você está bem?”
Me respondendo com um sorriso indefeso, Ahin moveu sua mão, que estava atrás de sua cabeça, para minha bochecha. Seu polegar roçou-a de leve. Logo depois, os olhos dele se fecharam e seu braço se derrubou sobre o sofá.
Ahin dormiu com uma aparência como eu nunca tinha visto antes. Ainda segurando meu pulso, sem soltar.
***
Os líderes da maioria dos clãs passavam o papel para seus sucessores quando chegavam a uma certa idade. No entanto, o clã das lebres tinha uma regra diferente, e o líder só era substituído quando o anterior morresse. A transferência de poder era feita após o funeral.
O Lorde Amon, o chefe do clã das lebres, estava vivendo uma velhice tranquila, porém solitária, com todo o poder e honra sendo guardados para seus filhos. De vez em quando, seu secretário trazia chocolate quente para ajudá-lo.
“Já está bem de açúcar hoje, senhor.”
Colocando cubos de açúcar em seu chocolate quente, o líder estreitou os olhos.
“Você não pôde falar nada quando eu estava bebendo chocolate ontem com o Lorde Grace.”
“Meu senhor, quero que viva muitos anos.”
Com muita experiência em lidar com seu mestre, o secretário abriu as cortinas da sala de estar.
“A confusão foi grande.”
A manhã tinha sido caótica. Na noite anterior, o salão de banquetes foi atingido por um incêndio. Até a madrugada, a atmosfera da mansão não tinha se acalmado.
“Bem, é só o aniversário de um velho, e me acenderam uma vela tão grande. Que emoção.”
“Ainda bem que ninguém morreu.”
No fim, o banquete de aniversário tinha sido encerrado cedo. Os nobres do território das lebres tinham voltado para suas casas, e só tinham ficado aqueles nobres que eram de outros territórios e estavam hospedados na mansão Amon.
“Com licença.”
A conversa entre os dois foi interrompida pela entrada de um criado. Aven, que estava visitando bem cedo de manhã, o que era considerado uma descortesia, foi guiada por ele. Ficando cara a cara com o líder, ela fez uma reverência.
“É uma honra voltar a encontrá-lo.”
“Pode sentar. A que devo a visita? Pensei que tivesse voltado para sua casa na madrugada.”
O líder bateu a mão em sua barriga volumosa, sorrindo. Aven, que já tinha cumprimentado, foi direto ao ponto.
“Na noite passada, o senhor conseguiu investigar a causa do incêndio?”
“Esse velho ficará aqui sentado, meus filhos estão investigando. O ar aqui é seco, então pode ter sido uma combustão instantânea que se espalhou.”
Ele preparou uma segunda xícara de chocolate quente, com mais cubos de açúcar. O secretário, a uma distância, fez que não com a cabeça. O ignorando, ele começou a beber, e falou.
“Se o nível de açúcar no sangue baixar, é um problema, sabe. Se ao menos estivesse um pouco mais doce…”
Encarando-o, Aven se decepcionou. Era a primeira vez que falava a sós com o líder, mas ele não parecia ser nem um pouco confiável, ao contrário de sua reputação no passado.
‘Eu devia ter ido procurar o futuro líder,’
Ela se arrependeu por um momento, mas logo se endireitou. De qualquer maneira, qual filho herdaria o clã ainda era incerto, e o que ela queria era apenas manter Ahin Grace ali por mais tempo, então não importava com quem falasse.
“Vim contar sobre o incêndio. Como estava presente no momento que começou, quero dar meu testemunho.”
Ela então deu o seu cubo de açúcar para o líder, evitando o olhar do secretário, e sorriu suavemente.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.