A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 66
“O que você está fazendo!?”
Aven gritou para o cavaleiro, que hesitava. Quando ele apontou a espada, Vivi levantou a mão, como se fosse usar seus feromônios a qualquer instante. Os pés de Ahin, se movendo como se ele estivesse possuído, aceleraram muito.
No dia em que ele tinha voltado à sua forma verdadeira, Vivi tinha usado feromônios nele e voltado a ser coelha. Ele só conseguia pensar nisso. Vivi, focando seus feromônios na palma da mão, de repente arregalou os olhos. Porque uma mão enorme apareceu por trás e tapou seus olhos. Os feromônios que estavam sendo concentrados sumiram como se evaporassem.
“Não faça isso.”
Por trás de si, Vivi escutou uma voz grave.
“Não use seus feromônios.”
A textura fria dos botões e do escudo no paletó estavam tocando as costas indefesas de Vivi. Não acreditando em seus ouvidos, ela girou a cabeça e afastou a mão que cobria seu rosto com a sua, para conseguir ver.
“Ahin…?”
As bochechas de Ahin, que tinha corrido bastante, estavam vermelhas.
“Como você chegou aqui?”
Ele olhou para Vivi, que piscava, confusa. Em vez de gestos e mímicas, ter uma voz que chamava seu nome preenchia um certo vazio em seu coração. A mão de Ahin, coberta pela de Vivi, estava tensa. Ele murmurou, deixando escapar sua satisfação.
“Acho que prefiro que você fique na forma humana.”
‘Depois de falar várias vezes que era bom que eu fosse uma coelha, e que se fosse humana, seria complicado?!’
Vivi, engolindo a resposta, franziu os lábios. Ahin, olhando para a direção onde estavam Aven e seu cavaleiro, tinha uma expressão de puro ódio. Como esperado, esse olhar era assustador para ela. Vivi apenas olhou para a frente também, em silêncio. Era difícil lidar com o toque das roupas dele na parte de trás de seu corpo, mas ela ainda podia sentir o hálito dele em seu pescoço quando falava, fazendo-a ficar super alerta.
Ainda por cima, a mão de Ahin se moveu sobre a de Vivi, que a cobria. Logo, os dedos dos dois estavam entrelaçados. Vivi gritava silenciosamente por dentro, mas continuava parada, apenas olhando para o cavaleiro.
Enquanto isso, Ahin, suspirando de alívio por tê-la encontrado, se perguntou porque Vivi parecia petrificada, prendendo a respiração e não se movendo em absoluto. Assim que ela viu que ele a olhava, seu rosto se contorceu como o de um hamster, e ela continuou olhando para frente sem dizer uma palavra. Ahin encarou o cavaleiro, que estava trêmulo. E então, Aven Labian, atrás dele. E chegou a uma conclusão.
“Você tentou sequestrá-la.”
Ahin deu um passo à frente, bloqueando Vivi da vista dos dois. Ela ficou completamente oculta por trás do corpo dele.
“Melhor guardar essa espada, antes que eu corte fora sua mão inteira.”
Aven e o cavaleiro empalideceram.
“V-vocês aí!!”
Um criado da mansão, saindo do salão de banquetes, gritou. Tossindo, ele afastou a fumaça, que se alastrava cada vez mais, e gritou novamente.
“O incêndio não está sob controle, então evacuem para o prédio principal, agora!!”
Outros guardas, que estavam à procura de Ash, se aproximaram, relutantes. Aven pensou que já era impossível prosseguir, e então encarou Ahin com as sobrancelhas franzidas.
‘Qual é a relação entre esses dois?’
A atitude de Ahin não era a de quem protegia um mero coelho bebê. Ela podia ver que a hostilidade que ele tinha demonstrado antes, no salão de banquetes, também era por causa de Vivi.
“Vivi.”
Ela tentou colocar a cabeça para fora da barreira-Ahin, mas ele rapidamente moveu o corpo para que ela não conseguisse enxergar, causando uma batida da testa em suas costas duras.
“Ai!”
Vivi, sentindo dor como se seu nariz estivesse quebrado, socou Ahin nas costas. Então, ela sentiu a dor de um punho quebrado.
“Vivi, você é a única coisa que restou para sua mãe.”
Aven, entregando essa frase significativa, girou o corpo e começou a andar na direção do prédio principal. O escolta fiel a seguiu rapidamente.
“O que ela quis dizer…?”
“Não.”
O corpo de Vivi, que estava dando passos na direção de Aven inconscientemente, foi bloqueado pelo braço de Ahin. Eles precisavam evacuar para o prédio principal, também. Uma estátua desabou no meio de chamas, espalhando ainda mais uma fumaça espessa.
***
Ahin não falou uma única palavra durante todo o caminho até a mansão. Era estranho. Evelyn, que estava nos esperando do lado de fora da entrada, fez uma reverência. Ele então relatou que o incêndio não era grave e que já estava apagado, e que também o líder do clã das lebres queria falar com Ahin. Vários assistentes os rodeavam. Eu apenas o encarei como se tudo estivesse normal, e Evelyn não comentou nada. Isso era um mal sinal – significava que ele tinha detectado que Ahin estava de mau humor.
“Vivi, me espere.”
Ahin parecia nervoso, mas saiu com os assistentes. Deixada no quarto de hóspedes da família Grace junto a Ash e Quinn, olhei para fora da janela.
‘Sim, eu causei preocupação para ele. Mas todos erram, então me perdoe de uma vez.’
Tudo tinha acontecido há poucas horas, mas parecia que tinham passado dias. A noite tinha sido de pura frustração e eu não tinha conseguido cumprir nenhum de meus objetivos. Minha mente estava uma bagunça, e eu já não queria pensar em mais nada. Enquanto olhava o lado de fora, sentei em uma cadeira como se despencasse. Minhas pernas estavam fracas.
“O que vamos fazer?”
Enquanto Ash e Quinn me cercavam, comecei uma pequena reunião estratégica. Eu e Ash estávamos em perigo por termos descumprido as ordens de Ahin e causado confusão, e Quinn era culpado por ter falhado em ficar de olho em mim. A reunião seguiu com um clima deprimente. Quanto mais eu pensava no que tinha acontecido nos últimos dias, mais preocupada ficava.
“Grrr.”
Ash rosnou para expor sua opinião. Esperando que ela tivesse alguma solução, lhe dei a palavra. Mas ela apenas bocejou alto.
“Você deve estar cansada…”
Não descansamos nem um pouco, então ela tinha direito de estar com sono. Ignorando o bocão aberto, me virei para a águia.
“Quinn, a sua opinião para a mesa…”
Ele virou a cara, bicando uma cesta de frutas, sem cooperar.
“Entendi, prefere se manter calado…”
Eu, falando sozinha, fechei a boca. Precisava arrumar uma maneira de sair dessa situação. Todos ao meu redor eram animais, então estavam apenas sentados ao meu redor, na fossa. A noite estava terminando.
Com a cabeça apoiada na mesa redonda, de repente escutei barulhos e fiquei de pé rapidamente. Grudando a orelha na porta, ouvi as vozes de Ahin e Evelyn. Ahin ordenou que Evelyn levasse Ash com ele para outro quarto e mandasse uma carta para a mansão Grace através de Quinn. Pensei que a carta devia ser sobre ele ter encontrado Ash e eu por aqui. Evelyn perguntou o que deveria escrever, e Ahin disse que não poderia deixar isso passar. A voz era fria.
‘Não acredito que ele não vai nos perdoar!’
Quanto mais próximas as vozes ficavam, mais nervosa eu me tornava. Quando dei por mim, já estava escondida atrás da porta de vidro que levava para o banheiro do quarto de hóspedes. Podia sentir os olhares confusos de Ash e Quinn. Como Ahin tinha falado, parecia que fugir era meu hobby. Envergonhada, enterrei a testa no vidro. Logo, a porta do quarto se abriu e Evelyn levou Ash e Quinn embora.
“Vivi?”
Ahin olhou por todo o quarto, que parecia estar vazio, até se fixar em um ponto. Ele fez uma expressão como se algo fosse ridículo e foi direto para a porta. Ficamos cara a cara, com o vidro entre nós.
“Saia daí. Vamos conversar.”
“Certo…”
Ele estava certo, precisava sair. Tentei ser racional, mas estava tão nervosa que meu estômago doía. Eu era a causadora da expressão irritada dele, a qual costumava me fazer sentir desconfortável. Sob a luz da lamparina, ficava ainda mais assustadora. Logo, minha mão foi contra meu cérebro e trancou a porta de vidro.
Click.
Um silêncio indescritível seguiu.
“O que está fazendo?”
Ahin, falando devagar, tentou girar a maçaneta. Ficou olhando sem expressão para a porta, que não abria.
“O quê…”
Ahin, suspirando, colou as costas na porta de vidro.
“Então vamos conversar aqui mesmo. Não acho que vou conseguir controlar minha expressão, de qualquer modo.”
Eu enrolei a barra do vestido e também grudei as minhas costas contra a porta. Ahin parecia estar nervoso por eu ter percebido a verdade.
‘Mas por que foi tão difícil?’
Quando eu estava lidando com minha mãe e seu cavaleiro, consegui ficar de pé, apesar do medo. Estranhamente, perante Ahin, era diferente. Não era apenas medo, mas muitas emoções misturadas. O toque frio do vidro contra minha pele me fazia sentir calafrios.
“O que houve com sua mão?”
Uma voz contida ressoou em minhas costas. Ele estava se referindo a um curativo em minha mão.
“…Acho que me cortei em algo quando me humanizei.”
Essa era uma das razões pelas quais estar com Ahin era difícil. À medida que os dias passavam, eu comecei a gostar de passar tempo com ele, mas logo acontecia algo que me fazia ficar cautelosa. Mexi minha mão e fechei a boca.
“Vivi.”
Olhando com o canto do olho, vi que Ahin ergueu a cabeça, como se não quisesse deixar o silêncio continuar.
“Eu te deixei para trás na mansão porque nunca pensei que faria algo tão imprudente assim.”
A voz dele estava mais fria que o normal.
“Achei que você sabia. Que não existe lugar seguro no mundo para você, exceto aquela casa. Não tinha nada errado em ficar ali. Eu, se fosse você, priorizaria minha própria segurança.”
Ahin estava com raiva porque eu tinha agido independentemente, mesmo após chegar aqui, porque não o procurei.
“Eu…”
Endireitei minhas mãos, colocando-as sobre os joelhos.
“Se alguma situação assim ocorrer no futuro, farei a mesma coisa.”
“Do que está falando?”
“É porque você não me conta nada.”
Para ser exata, eu podia falar ainda mais alto. NADA.
“…Você nunca me contou. Sobre os poderes curativos dos meus feromônios, e que eu posso tê-los porque fui exposta à droga.”
Estava mordendo minha bochecha com força e senti gosto de sangue. No entanto, como estava finalmente falando do assunto, estava aliviada.
“Como você descobriu sobre a droga?”
“Qual você acha que foi a razão de eu vir até aqui sem te falar nada?”
Estava usando uma voz controlada, mas apertava a barra do vestido.
“Eu queria descobrir tudo. Sobre a maldição, sobre a minha família, sobre a droga.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.