A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 65
Aven engoliu o pânico quando as perguntas sobre a droga, que ela não esperava, apareceram. Ela não conseguiu esconder o tremor em seus olhos. Essa reação foi observada por Vivi, que estava atenta.
“E se alguém desse esse tipo de droga para uma criança recém-nascida, que ainda não tivesse passado por sua primeira humanização… O que aconteceria?”
A hipótese de Ahin virou uma realidade absoluta perante ela. Sentindo que ia perder a força nas pernas, Vivi se firmou com força. Era um alívio que ela não tivesse desmaiado. Em sua cabeça, já sabia, lá no fundo. Mas não queria admitir que todo o tempo que passou como coelha… Talvez ela quisesse ouvir de sua mãe que não era verdade.
‘No fim das contas, eu…’
Por causa das drogas, por causa da ganância de sua mãe, ela ficou presa no corpo de um coelho bebê a vida inteira. Ela segurou as lágrimas ao ranger os dentes. Não queria chorar ali.
Vivi, que estava tentando controlar sua respiração, de repente sentiu uma energia desconhecida girando em torno de seu corpo. Era como se alguém estivesse lançando feromônios por perto.
“Onde?”
Não era Aven, que estava bem na sua frente. Um suor frio escorreu pelas costas de Vivi, que estava com todos os sentidos em alerta. De repente, ela gritou para Aven.
“Abaixe-se!!”
“O que está fazendo-Ahhh!”
Ao mesmo tempo em que ambas se jogaram no chão, um dos muros foi destruído por uma explosão.
Boom!
Os escombros se espalharam ao redor.
“Ahhhh!”
“Corram!!”
A confusão do lado de fora do salão de banquetes, que parecia ter piorado, agora tinha invadido o lado de dentro. Se esquecendo de respirar, Vivi, esperando uma segunda explosão, levantou a cabeça. Havia algo queimando ao lado do muro, nem perto nem longe de onde ela estava. Não houve uma segunda explosão, mas o caos continuou. Os olhos violeta claro estavam levemente enevoados, e então ficaram cada vez mais vivos. Vivi, recuperando os sentidos, se sentou rapidamente.
“Será que…”
Os olhos dela estavam lacrimejando, e ela só conseguia pensar no fato de que nenhum banquete normal tinha explosões e incêndios. Talvez o fato dela ter entrado ali escondida pudesse ter algo a ver com isso… ela não podia ser pega na cena do crime.
‘….Se Ahin descobrir…!’
Vivi, puxando ambas as bochechas para de despertar do choque, imaginou caninos brancos faiscando na sua frente. A mente dela esfriou imediatamente. Ela tinha que sair dali. Se encontrar com Ahin em tal situação seria o caminho mais curto para o inferno.
“O que está acontecendo… Como pôde algo assim acontecer na mansão do líder do clã….”
Aven, ainda deitada debaixo de Vivi, falou com uma voz aturdida. Vivi, não querendo ver o rosto dela, ficou de pé, evitando seu olhar.
“…Alguém provocou isso usando feromônios. Você precisa sair daqui e ir para algum lugar seguro.”
“Senhora Aven!!”
Um homem vestido de armadura se aproximou das duas. Percebendo que ele era o cavaleiro que tinha vindo como escolta de Aven, Vivi deu as costas para ambos.
“Vá embora com seu cavaleiro.”
“E você?”
Aven, agarrando o pulso de Vivi, perguntou com os olhos brilhando.
“Para onde você vai?”
Aven não tinha sequer percebido que alguém tinha usado feromônios. Já Vivi, não apenas tinha notado, como estava preparada de antemão. Para um herbívoro, cujos sentidos não são dignos de nota, era uma coisa ótima.
“É perigoso andar por aí sozinha, filha.”
Ela não podia deixá-la escapar. Somente Vivi tinha restado para Aven, que agora estava à beira do precipício. Sentindo a força que sua mãe colocava em seu pulso, Vivi se virou para Aven.
“…Me solta.”
“Finalmente nos reencontramos, não vou te deixar ir assim! Venha com a sua mãe.”
As palavras de Aven confirmaram para Vivi as suas intenções.
“Vamos conversar mais depois. Sobre a maldição e seus feromônios. Não podíamos conversar antes porque você era um coelho bebê…”
“…Não era impossível conversarmos porque eu era um coelho. A questão é que você nunca teve interesse no que eu tinha a dizer, mãe.”
Vivi, afastando a mão de Aven, mordeu o lábio. Apesar de ser difícil, com um pouco de dedicação, era possível compreendê-la. Como Ahin, que designou sinais para que ela comunicasse o que queria, ou Meimi, que observava seu comportamento e memorizava padrões para preparar o que ela necessitava. Além disso, ela sempre podia sinalizar sim ou não com as patas e cabeça. Ela podia ter tido várias conversas se ao menos tivesse havido algum interesse.
“Não vou com você, mãe.”
Vivi deu um passo para trás. A luz das chamas, à distância, coloria seus olhos de um tom escarlate. Era uma determinação na qual palavras não influiriam.
“Berderick.”
Aven, franzindo as sobrancelhas, ordenou ao cavaleiro.
“Capture-a.”
“…Está falando dessa senhorita…?”
“Enquanto não tem ninguém olhando, rápido. Mesmo que tenha que fazê-la desmaiar, vamos levá-la daqui.”
Seja o que fosse essa confusão, era algo bom para Aven que o banquete estivesse um caos. Se ela perdesse Vivi de vista agora, não sabia como faria para reencontrá-la. E não havia dúvidas que Ahin Grace estava de algum modo envolvido.
“Se apresse!”
“Sim, senhora!”
O cavaleiro se colocou entre Aven e Vivi.
“Não quero machucá-la, senhorita, então sugiro que coopere.”
Enquanto isso, Vivi deslizou o relógio de Ferenuim, que estava amarrado em seu tornozelo, para a mão, e engoliu em seco. Aven parecia determinada a fazer de tudo para forçá-la a ir para a mansão Labian. Trazer de volta uma criança que já foi abandonada uma vez seria uma fonte de muitas fofocas na sociedade aristocrática, o que afetaria a reputação da família. E isso era o que Aven detestaria mais que qualquer outra coisa.
‘…Por quê?’
Mesmo tendo feromônios poderosos, o oponente de Vivi era um cavaleiro profissional, que já treinava seu corpo e como utilizar seus feromônios na forma de ser humano por décadas. Quando o cavaleiro sacou a espada, a boca de Vivi ficou seca.
‘E agora?’
Do nada, uma luta corpo a corpo com um cavaleiro de alto nível. Tinha uma grande probabilidade que ela nem mesmo tivesse tempo de disparar seus feromônios, sendo nocauteada antes disso. Apesar de manter uma expressão fria no rosto, as pernas de Vivi tremiam por debaixo do vestido. Ela podia se render e sair correndo para se misturar à multidão… Ou dar uma cabeçada quando o cavaleiro se distraísse… Somente táticas absurdas surgiam em sua mente.
“Um incêndio, ajuda!!”
Um homem idoso veio correndo ao avistar o cavaleiro de Aven. Vivi, com os olhos cintilizando, deu um passo à frente, quando algo negro saltou sobre o homem.
“Ash?”
O cavaleiro, atingido em cheio, cambaleou e caiu para trás. Ash parou de pé entre ele e Vivi.
‘Ela tinha ficado com Restin… por acaso escapou?’
Vivi olhou para cima, tentando entender a situação.
“Quinn também?!”
A águia, após voar em um grande círculo, pousou no braço dela. O olhar dele estava cheio de críticas. Aparentemente, ela não tinha sido perdoada por sua fuga da mansão Grace. Vivi ficou pálida. A presença de Quinn significava que Ahin estava a par da situação e não devia estar muito longe.
“O que há com esses animais selvagens?!”
Aven perguntou. Enquanto isso, o cavaleiro, se erguendo, preparou a espada outra vez.
“Senhora Aven, esses predadores…”
Ele colocou a mão sobre a boca, envergonhado. Uma pantera negra e uma águia, servindo a uma mulher-besta lebre. Vivi, de pé entre os animais, com o cabelo e o vestido voando ao vento, não parecia real.
“Tenho certeza que você é capaz de lidar com uma ou duas bestas.”
“Mas terei que usar meus feromônios… Isso pode ferir a sua filha.”
“Já falei que está tudo bem se ela desmaiar.”
Os olhos de Vivi se moveram de um lado a outro. Ainda não tinha ninguém por perto, e as poucas pessoas à distância estavam ocupadas evacuando ou tentando apagar as chamas. Ela estava grande demais para montar em Ash e fugir. E caso tentasse deitar no chão e ser arrastada, não tinha confiança que a força dos seus braços seria suficiente para conseguir não se soltar. Vivi voltou a pressionar o relógio sob a palma da mão. Com os olhos sobre o homem, ela se inclinou para Ash. Se ela ativasse o Ferenium e lançasse seus feromônios no cavaleiro ao mesmo tempo… seria possível não retornar a forma de coelha? Se fosse uma batalha de feromônios, e não de força, ela ao menos tinha alguma chance. Respirando fundo, Vivi começou a evocar os feromônios de seu corpo. Era uma aposta.
***
Depois de ouvir uma explosão não identificada, Rune pulou uma ponte e correu na direção do caos sem hesitar. Também era para lá que Ash tinha ido após conseguir se desvencilhar de Restin.
“Cuidaremos do incêndio em breve, evacuem para o prédio principal da mansão!”
Correndo da direção oposta às pessoas que evacuavam, Ahin sentiu uma pontada no estômago. A causa era a pessoa que estava correndo para o mesmo lado que ele, Rune. Ahin grudou os olhos nele enquanto corria, queimando de impaciência.
“Lorde Manionz, o que tem nessa direção?”
Agora que a presença de Ash na mansão tinha sido descoberta, Rune, pensando que era impossível que Ahin não tivesse deduzido, respondeu irritado.
“Não sabe? É a coelha.”
“E por que está indo para o lugar onde ela está?”
“É claro que é porque estou preocupado – ack!”
Rune, que foi chutado de repente, caiu dentro do lago.
“Você é louco?!”
Rune puxou o cabelo cor-de-rosa ensopado para trás. Ahin parou na beira do lago, olhando para seu corpo meio submerso.
“Apenas fique aí e esfrie a cabeça.”
“O quê? Por que isso?”
“Porque você não deve ser a pessoa que tem que se preocupar com ela.”
Ahin, soltando uma voz maldosa, deixou o lago. Os olhos que puderam ser vistos através do cabelo prateado estavam com uma expressão que Rune nunca tinha visto antes. Na verdade, ele não se lembrava de Ahin sequer demonstrar emoções em absoluto. Ao menos, desde que o pai dele tinha morrido… Sentando no lago olhando para o nada, Rune riu sozinho. Ele devia ter cruzado alguma linha que não era para ter sido cruzada.
Ahin seguiu correndo, não vendo quase ninguém, exceto as pessoas que tentavam conter o incêndio. Ele parou e cerrou os punhos. Até que olhou a uma distância e viu. Aven Labian, seu cavaleiro escolta, e… Vivi.
O vento, aquecido pelas chamas, soprou. Levantando os olhos do vestido cor de prata, ele olhou para o cabelo branco que flutuava. À primeira vista, ele pensou ter se enganado, pois ela se parecia com uma verdadeira mulher nobre. Onde ela arrumou esse vestido, e quem fez esse penteado? Era absurdo, mas ele não conseguia tirar os olhos dela.
Aquele pequeno corpo sob a luz da lua, que parecia que iria desaparecer a qualquer momento… apesar de estarem juntos todos os dias, Vivi continuava a crescer em um ritmo inacreditável toda vez que Ahin não estava.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.