A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 56
As orelhas de Ash se ergueram quando ela percebeu meu sinal. Eu não sabia se ela tinha compreendido, mas sua atenção agora estava em mim. Respirei fundo e abri bem meus olhos. Era agora.
<Aaaaashh!>
Com a pata traseira, tomei impulso chutando as costas de Meimi e voei pelo ar. Ash saltou e me segurou com a boca pela mochila no mesmo momento.
<Ash, corre!!>
A esperta Ash imediatamente começou a correr na direção do portão principal.
“Senhorita Coelha!!”
Meimi começou a nos perseguir, sacando uma adaga do avental. O grito dela ainda alertou os outros sobre a situação, e os guardas começaram a bloquear o portão, um por um.
“Ash. Pare e ponha a Senhorita Coelha no chão, devagar.”
Enquanto o cavaleiro apontava uma lança para Ash, Barra rosnou e pulou nele com toda a sua força. Mas eram muitos cavaleiros, todos bem treinados, e não tínhamos chance. Pensei que seria ok se eles fossem um pouco menos competentes… De repente, algo vindo do céu se aproximou como um raio e eu fui capturada.
Minhas patas balançavam no ar. Ao olhar para cima, vi que Quinn estava me segurando, o bico cravado na mochila. Mandar o espião dos céus se preparar para uma possível fuga não era trapaça?! Visualizei o sorriso de Ahin enquanto dava essas ordens para Quinn. Que predador meticuloso.
“Quinn, venha para cá.”
Meimi, suspirando de alívio, esticou o braço. Enquanto ele começava a diminuir de altitude para pousar, de repente seu corpo estremeceu.
<Quinn?>
As asas de Quinn começaram a bater mais devagar. Me assustei. Logo depois, ele começou a despencar, ainda me segurando pela mochila.
<Aaaaaah!!>
Agitei as patas, mas o chão ia ficando mais próximo. Logo, alguém nos apanhou. Quando abri os olhos para ver quem tinha sido, me congelei.
<…Vovô?>
Faziam 15 dias desde que tínhamos nos encontrado na biblioteca. Fiquei tão surpresa que comecei a ter soluços.
“Você continua me surpreendendo.”
<Hic!>
Lillian entregou Quinn, nocauteado, a um guarda. Olhei para Ash, ainda com esperança, e para a mochila em minhas costas, sinalizando.
“Lorde Lillian, boa tarde. Por favor, nos entregue a Senhorita Coelha. Não queremos machucá-lo.”
Meimi e os guardas haviam recebido a permissão de desobedecer às ordens dele. Eles fizeram um círculo ao redor dele. A tensão subiu.
“O que estão fazendo? Saiam do meu caminho.”
“Perdão, Lorde Lillian, mas…”
“Por acaso Ahin deu ordens a vocês?”
O vovô fez “tsk” com a língua, me segurando em uma só mão e erguendo a outra.
“Vou perdoá-los pela lealdade que demonstraram para com o seu mestre.”
Nesse momento, ele começou a esfregar o dedo indicador no polegar. Então, os guardas começaram a cair no chão, um por um.
“Argh!”
Percebi que ele estava usando feromônios, e chequei minha própria condição, apressada. No entanto, apesar de ser extremamente sensível aos feromônios liberados pelos outros, meu corpo estava intacto. Ele devia ter uma mira muito boa, e estava direcionando tudo apenas para quem queria atingir.
“Hm, nada mal.”
O vovô olhou Meimi, a única do grupo que tinha conseguido se manter de pé. No entanto, ela tinha a respiração pesada e pressionava a barriga com a mão.
“Meu neto arrumou uma escolta competente para esta aqui.”
<Mais do que isso pode ser…>
Ele continuou esfregando os dedos.
<Não, pare!!>
Tentei segurar os dedos do vovô com as patas dianteiras. Os olhos vermelhos e ranzinzas tremeram um pouco. Meimi, que estava estremecendo, eventualmente caiu no chão.
<Meimi!!!>
Consegui saltar para o chão e corri até Meimi.
“Ela está bem, apenas gastou um pouco de energia. Está apenas dormindo confortavelmente.”
Ao ouvir as palavras do vovô, corri para a frente de Meimi e abri as patas dianteiras para bloqueá-lo. Ash e Barra, mostrando os dentes, também passaram a guardar Meimi, cada um de um lado meu.
“Você é corajosa. Vai fazer outra competição de feromônios com esse velho aqui?”
Não queria isso. Chacoalhei a cabeça.
“Oh, então você não quer usar feromônios.”
Tap, tap. Os sons dos passos dele ficaram cada vez mais próximos. Quando levantei a cabeça, vi um longo cabelo branco trançado.
“Os empregados da mansão disseram que você tem conhecimentos de etiqueta nobre.”
O vovô me segurou na altura dos olhos dele. O rosto enrugado me encarou. Ele parecia estar com dificuldades em aceitar a ideia de ter uma conversa séria com um coelho.
“…Você é membro do clã das lebres?”
Eu hesitei e assenti devagar.
“Sim. Você não poderia ter feromônios a não ser que fosse uma mulher-besta. Naquele dia, dormi mais do que tinha feito em anos.”
O olhar poderoso se fixou em mim.
“Mas seus feromônios não são do tipo que apenas fazem dormir. Você deve saber do que estou falando. Para ter esse tipo de feromônio…”
Ele percebeu que eu tinha poderes curativos? Apenas ficou implícito… Sem falar mais nada, ele me pegou e me colocou dentro da mochila de Ash.
“Pode ir.”
Antes de entender essas palavras, ele se aproximou e sussurrou.
“Na velocidade de uma pantera negra, vocês podem alcançar meu neto antes que ele cruze a fronteira.”
Pang. Tendo recebido um tapa na bunda, Ash começou a correr. Minha visão ficou borrada pela velocidade. Resistindo ao vento forte, olhei para trás. O vovô, após ficar nos olhando por um tempo, começou a ir para a direção da mansão.
“Acho que meu neto precisa ficar perto de você o tempo todo.”
Pensei tê-lo ouvido sussurrar isso logo antes de dar o tapa em Ash. Mas não consegui entender direito… O som do vento acertando minhas orelhas encobriu todo o resto.
***
Valence, sentada na mesa de chá dentro da estufa, ficou esperando por um longo tempo. A coelha bebê pela qual ela esperava nunca apareceu, e no seu lugar, surgiu Lillian, carregando… uma gaiola?
“Sogro, essa não é a águia de Ahin? Por quê…?”
“Eu o tranquei aqui porque pareceu que, se eu o deixasse solto, iria atrás dela para trazê-la de volta.”
Quinn, aprisionado na jaula, gritou em indignação.
“Tsk. Você é barulhento que nem seu dono. Fique aí dentro.”
“…Sogro, não me diga que…”
Valence, percebendo que Vivi, Ash e Barra não estavam em lugar nenhum, franziu a testa.
“Não se preocupe. Eu não toquei num único pêlo da coelha.”
Lillian se sentou na mesa no lado oposto a Valence, que ficou nervosa por Quinn, que continuava grunhindo. A criada de Valence serviu chá ao novo comensal e se afastou. Lillian, bebericando, falou.
“Te garanto que não fiz nada com ela. Apenas dei um empurrãozinho porque parecia que ela queria seguir meu neto.”
“…Parece que até meu sogro se comoveu com a determinação da bebê. Bem, não se pode evitar, afinal, ela é tão fofinha…”
“Eu só fiz isso para me vingar de Ahin!”
Lillian, que estava vermelho, negou, dizendo que nunca pensou algo do tipo. Valence, o ignorando com um sorriso gentil, piscou para Meimi, que estava de pé junto às outras criadas.
“Mas, eu me pergunto… Ele deve ter tido uma razão para deixá-la para trás. Estou preocupada com a reação de Ahin se ela realmente alcançá-lo.”
“Pfft. Ele é um neto ingrato que só causa desgosto ao avô.”
“Bem, vou mandar uma carta avisando para que ele se prepare. Meimi, tem algo com o qual eu possa escrever?”
Meimi retirou um pequeno bloco de notas do bolso de seu avental, o qual Vivi costumava usar para escrever anotações enquanto lia na biblioteca.
“Eu só tenho isso, senhora. Se desejar, posso ir até a mansão buscar algo mais adequado…”
“Não, está bem.”
Valence, tocando a folha de papel que era tão pequena que cabia na palma de sua mão, cobriu a boca por um momento. Foi porque Vivi tinha escrito várias palavras rudes nas primeiras folhas, em algum momento de raiva. Ela sorriu e folheou até encontrar uma página em branco, a qual destacou.
[Como pode imaginar, sua coelha está indo atrás de você. Cuide bem dela.]
Lillian, curioso, se inclinou para tentar ler a mensagem.
“…O que você escreveu?”
“Sogro, pensei que não se importava com a coelha.”
Valence não mostrou o conteúdo, dobrando o papel na metade.
“Hilla.”
Então, ela esfregou o polegar no dedo indicador e logo um enorme pássaro surgiu. Era uma coruja marrom, a qual, voando imponentemente, pousou na mesa de chá… E começou a dormir.
“Ora, ora… Ela parece estar com muito sono.”
“Sempre quis te perguntar… Por que usar um pássaro noturno como mensageiro? Um pombo ou águia seria mais útil.”
“Ela nunca falhou até hoje.”
Valence colocou o bilhete em um bolso que estava amarrado em uma das pernas da coruja.
“Hilla, por favor.”
Com a ordem, a coruja alçou vôo. No entanto, ao passar por um arbusto, algo caiu. Ninguém tinha reparado que Quinn tinha conseguido pôr o bico para fora da gaiola e aberto um buraco na bolsa de correspondência, rasgando a maior parte do bilhete. A coruja seguiu viagem, e o resto do bilhete ficou perdido no meio das flores.
***
Panteras negras são impressionantes quando correm. Na velocidade em que Ash se movia, tudo ao meu redor não passava de um borrão. A tensão e o nervosismo faziam eu apertar os punhos. Não conseguiríamos passar pela alfândega da fronteira sozinhas, então tínhamos que alcançar Ahin antes que ele chegasse ali. Era a primeira vez na qual eu ia procurá-lo sozinha. Me perguntava se ele se sentiu ansioso assim nas vezes em que tinha ido me procurar no passado…
<Impossível.>
Chacoalhei a cabeça. Aquela besta não poderia…
“Vivi, por acaso fugir é seu hobby?”
Toda vez que ele me encontrava, podia ver o cabelo prateado desarrumado e a respiração ofegante. E um sorriso gentil que encobria a raiva. Mordendo os lábios sem razão, franzi a testa. Consegui ver, a uma distância, os pilares de pedra que demarcavam o portão sul da floresta próxima a fronteira. Percebi que isso significava que estávamos próximos à fronteira em si, o que me deixou muito nervosa. Felizmente, os guardas que patrulhavam por ali não enxergaram Ash e Barra, que se esgueiraram com facilidade. Me perguntava em que ponto da floresta Ahin estava agora… Ash, parando de correr, começou a farejar para tentar localizá-lo. Ao sair da mochila, pude ver a floresta com clareza.
<Aqui é…>
Era a segunda vez que eu vinha aqui, a primeira sendo quando Ahin me recolheu. Uma névoa espessa cobria a floresta. Ash andou em círculos, tentando localizar as carruagens. Consegui ver marcas de roda, e tentei indicá-las para ela. No entanto, ela não estava olhando para mim e não percebeu. Quando estiquei as patas para tentar novamente, Barra se colocou no meu caminho.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.