A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 54
Ahin, permanecendo deitado, se focou no calor da pata que tocava os seus dedos. Ela havia chorado tanto que os pêlos de suas patas dianteiras estavam úmidos. Ele estava super alerta, mas fingiu que estava dormindo. Por que ela havia chorado? Ele não tinha ideia, então se sentia preocupado. Ela teria tido um pesadelo? A pergunta permanecia ali. Submerso na dúvida, Ahin, segurando a vontade de se levantar, prendeu a respiração.
O toque da pata em seus dedos encorajou ele a ter paciência. A pergunta que estava na ponta da sua língua rolou de volta em sua garganta para ser engolida, pois ela poderia fugir novamente. Era sempre assim. O corpo dela era tão pequeno como uma migalha, então parecia que, algum dia, o vento a levaria. Por isso, ele evitava fazer perguntas.
Sentindo um calor se espalhar por sua mão, Ahin ficou aliviado. Isso já tinha se repetido várias vezes. Mesmo pensando que Vivi, que seguia fugindo e desaparecendo, era algo que dava muito trabalho, ele sempre ia procurá-la do mesmo jeito. Como no conto de fadas no qual uma garota persegue um coelho suspeito carregando um relógio e acaba indo parar em outra dimensão, Ahin, quando se deu conta, estava seguindo as pegadas de uma coelha da mesma maneira.
Essa mansão era um lugar onde os fracos não sobreviviam. E ele não sabia o que a tinha preocupado tanto ao ponto de ela se esconder embaixo da cama. A consciência de Ahin começou a oscilar. Ele precisava resistir aos feromônios de Vivi. Suas pálpebras ainda pesavam. Então, sua cabeça se virou no chão. Vivi tocou na mão dele com preocupação.
<Ele está dormindo?>
Parecendo estar adormecido, Ahin respirava tranquilo. Vivi esfregou sua bochecha contra a mão estirada. Olhando para o cabelo prateado todo desarrumado, ela sentiu um peso no coração. Ninguém tinha ido procurá-la. Como ele sempre encontrava onde ela estava?
<…Por quê?>
Isso fazia ela querer confiar nele. Sentindo que as lágrimas iriam sair novamente, ela engoliu em seco. Olhando pela janela, viu nuvens pesadas, e que já começava a chuviscar.
“Os pais de Vivi podem ser pessoas ainda piores do que eu tinha imaginado.”
Vivi, sacudindo a cabeça para dispersar esses pensamentos, olhou para a varanda. O som da chuva ressoava. Ahin, ainda fingindo dormir, abriu um pouco os olhos quando sentiu um movimento. Vivi havia saído do quarto e ido à varanda, onde estava estapeando Quinn.
Quinn, que estava bêbado dos feromônios e debaixo da chuva, acordou após dois tapas.
<Quinn, levanta! Você vai pegar uma gripe se ficar aqui na chuva!>
Vivi, que parecia estar determinada, bateu em Quinn outra vez. Ele, então, se levantou devagar.
<Eu ainda não gosto de você, mas…>
Se não fosse por Quinn, ela não teria descoberto aqueles fatos, nem entrado ou saído daquela prisão. Vivi olhou para ele com simpatia. Quinn, que tinha despertado totalmente, respondeu ao olhar dela com a sua arrogância de sempre.
Ahin, que estava assistindo a interação entre um coelho bebê e uma águia, a qual mostrava que eles tinham criado um laço em algum momento, fechou os olhos rapidamente quando viu Vivi saindo da varanda e retornando para dentro.
O segundo destino dela foi o sofá, onde havia um cobertor pendurado. Olhando para cima, Vivi puxou a ponta do cobertor e colocou toda sua força para movê-lo. A boca de Ahin começou a tremer perante essa cena. Quase não aguentando e rindo alto, ele mordeu a parte interior da bochecha. Ela continuou tentando por muito tempo. Eventualmente, tendo falhado em trazer o cobertor, Vivi retornou para o lado de Ahin e ficou parada.
<Ele vai ficar com frio. Devo acordá-lo…?>
Já que o estado atual dele tinha sido causado pelos feromônios dela, ela teria que bater nele para despertá-lo, como tinha feito com Quinn, mas tinha medo das consequências. Além disso, seria um pecado arranhar esse rosto, que parecia uma escultura.
Após perambular ao redor dele, Vivi, com cuidado, abriu os lábios de Ahin com suas patas dianteiras… Mas assim que viu os caninos, ela os fechou e se afastou rapidamente.
‘Ela fez isso outra vez…’
Respirando fundo, Ahin, se esforçando ao máximo para não abrir os olhos, apertou os lábios. Eles estavam formigando. Agora ela estava examinando a barriga dele. Ele nunca tinha recebido um check-up de um coelho antes. A testa dele se franziu involuntariamente.
‘Vivi…. Por favor…’
A chuva continuava caindo enquanto Vivi pensava nos caninos. Ela costumava desmaiar só de vê-los, mas não estava tão assustada dessa vez. Depois de ver Ahin na prisão, e o cadáver ensanguentado… Aquela era a personalidade real dele. Vivi, apertando os lábios, caminhou até o pescoço de Ahin. Ele estava exposto, pois a roupa de dormir tinha vários botões abertos. Se ele ficasse assim, iria se resfriar com certeza. Ela então abraçou o pescoço, pensando em aquecer a garganta dele. Ela sentia a respiração dele, subindo e descendo.
Era assustador, mas ela não tinha escolha. Na floresta, no templo, no baile, em Qatar, no estábulo, e agora… Ahin era a única pessoa que sempre a encontrava quando ela desaparecia. Um sentimento estranho surgiu em meio ao medo. Era frágil como vidro. Vivi, pensando que não sairia nada de bom disso, empurrou esse sentimento para longe.
A madrugada foi longa.
***
Dias depois de eu ter me escondido embaixo da cama, continuava sendo tratada como uma paciente. Eu não podia explicar porque tinha chorado naquele dia. Médicos vinham me checar com frequência e sempre pegava Ahin me encarando. Seu olhar parecia sempre dizer “o que há de errado com você?”. Eu acenava com a pata dianteira, indicando “não é nada”, no modo automático.
Resmungando, olhei para o quarto, que estava ocupado desde de manhã cedo. O quarto de Ahin, que normalmente era bem espaçoso, estava apertado de tantos empregados fazendo preparativos. Percebi que hoje era o dia no qual ele partiria para o território das lebres.
<Ele não vai me falar nada.>
Estava claro para mim que eu não seria levada junto, uma vez que ele iria como o representante de sua família. Era natural fazer diplomacia em outros territórios. No entanto, a atitude de esconder completamente tudo de mim era suspeita. Barra se aproximou de Ash, que o ignorou por completo e se grudou em mim. Eu, dando tapinhas nela, verifiquei a mochila marrom que Ash levava, e que eu tinha pedido a Meimi que preparasse. O relógio com o Ferenuim e uma muda de roupas, só para garantir, estavam dentro. Eu própria usava uma miniatura da mesma mochila, contendo feno extra para um caso de emergência. Depois de verificar que, entre eu e Ash, tudo que eu precisava para a jornada estava pronto, me aproximei do cabide onde estava o casaco que Ahin usaria hoje.
<Meimi, por favor.>
Esticando as patas, Meimi me pegou e me colocou dentro do bolso do casaco. Entrei bem fundo ali, e, estando confortavelmente aninhada em um lenço de seda, relaxei e fechei os olhos. Os últimos dez dias tinham sido de muita reflexão, confronto interno e ressentimento. Considerando a teoria que Ahin havia exposto na prisão, eu havia tentado criar outras. Quando não estava fazendo isso, estava sendo examinada por mais um médico que aparecia.
<Estou realmente me acostumando a ficar dentro de bolsos…>
Após pensar muito, cheguei a conclusão que, enquanto eu não soubesse da verdade, não conseguiria resolver a questão da minha humanização, nem nada mais. Minha família pensava que estava morta. Precisava encontrar meu pai ou minha mãe, e saber a verdade, seja qual fosse. Tinha que ir.
Por isso, essa viagem de Ahin para o banquete de aniversário do líder do clã das lebres era uma oportunidade que eu não podia perder. Uma chance que não aconteceria duas vezes: encontrar um membro da família Labian enquanto usava um escudo chamado Ahin. Era só uma questão de tempo até que ele descobrisse que a minha família era a família Labian. Talvez ele até já soubesse. Vendo que ele pretendia me deixar para trás, não conseguia dizer.
Determinada em usar esse pantera negra, para variar, agarrei a mochila com força. Não tinha um plano bem construído porque não tinha tido muito tempo, então meu coração disparou quando ele começou a vestir o casaco.
“Hm? Meu bolso não está mais pesado que o normal?”
“Eu coloquei um lenço para o senhor, Meu Lorde.”
Pude escutar as vozes dos empregados.
“Tem algo de errado…”
Sentindo a mão de Ahin entrando no bolso, coloquei a cabeça para fora de uma vez.
<Me leve com você.>
Eu, aparecendo com uma mochilinha nas costas, expressei que estava preparada para a jornada. Ahin me olhou e me retirou do bolso, me colocando no chão sem falar uma palavra.
<Pedi pra me levar junto!>
Segurei a barra da calça dele, mas ele sacudiu o pé como se não tivesse me visto.
“Então, vou indo.”
Ele parecia determinado a manter essa atitude de me ignorar. Os empregados também olharam para o teto.
<Ei! Olhe para mim!!>
Fiquei em pé nas patas traseiras para chamar a atenção.
<Ugh!>
Me joguei no chão, fingindo de morta.
Tentei entrar na mala que estava sendo preparada pelas criadas, mas uma delas me retirou e me pôs na almofada. Todos agiam como se eu fosse invisível. Impaciente, corri para Evelyn, minha última esperança.
<Evelyn. Por favor, convença Ahin.>
Segurando na ponta do sapato dele, lancei um olhar implorante. Evelyn, parecendo envergonhado, falou.
“Então, Senhorita Coelha, pode entrar no meu bolso…”
“Evelyn.”
Ahin o cortou, lhe lançando um olhar gélido.
“Pensando bem, ele já está completamente cheio, sinto muito.”
Evelyn, sendo obediente para variar, me ignorou como os outros.
<Que maldoso!>
Bati com o pé no chão em protesto, mas ninguém me olhou. O quarto ficou envolvido em silêncio. Pouco depois, a voz grave de Ahin o quebrou.
“Vamos embora.”
Sentindo que era minha última chance, corri e bloqueei o caminho dele até a porta. Ahin parou e me alertou.
“Saia do caminho.”
Chacoalhei a cabeça, negando, com as patas dianteiras bem esticadas. Ahin se curvou e me afastou friamente.
“Saia.”
<Eu não quero!>
Pela primeira vez, lutei para não me mover, sem desistir. A guerra de olhares tinha chegado ao seu ápice. Os empregados observavam paralisados, engolindo em seco. Estava com medo que ele fosse me chutar. Toquei a palma da mão de Ahin com as patas.
<Ahin, vamos…>
Olhando para ele com olhos desesperados, subi na mão dele e me sentei na palma.
<Vamos juntos.>
Mas Ahin, evitando meu olhar, me retirou e me empurrou no chão sem misericórdia. Eu rolei uma certa distância até conseguir parar.
“Levem as malas para a carruagem.”
Com a voz fria, como se não se importasse, ele ordenou aos servos.
<Espera!!>
Quando me recuperei do choque, corri para o lado de Ahin.
“Senhorita Coelha, você precisa ficar afastada…”
Os empregados, bloqueando meu caminho, tinham os olhos trêmulos. Eles começaram a sair carregando as bagagens, enquanto eu ficava ali, parada.
<Não acredito….>
Por entre as costas dos empregados que saiam, jurei ter visto Ahin, encostado na parede e parecendo triste, cobrindo os olhos com a mão.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.