A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 53
Ao dobrar a esquina, havia apenas um corredor vazio. Ahin recolocou a espada na bainha e olhou ao redor.
“Foi só impressão?”
No terceiro andar do subsolo, era quase impossível para alguém desaparecer assim. Evelyn, olhando ao redor também, falou.
“Pode ter sido um som emitido por algum prisioneiro.”
Os dois homens caminharam até a cela no início do corredor. O homem ali amarrado tinha sido apreendido recentemente, e era um assassino lunático. Os olhos do homem, que estavam perdidos olhando para o nada, se fixaram em Ahin. Ele então falou.
“Parece que vocês tem algo para perguntar. Querem que eu fale pra vocês?”
“Cale a boca. Você fede.”
Ahin, o encarando de cima, sorriu. Olhando para os olhos vermelhos, o homem começou a rir.
“Sabe, eu matei muitas pessoas, por isso eu sei. Você vai morrer em breve. Parando para pensar, seu pai também morreu jovem, não é?”
O homem mencionou o marido de Valence Grace, esperando desestabilizar Ahin. No entanto, este não mostrou nenhum sinal de agitação. Fazendo “tsk” com a língua, o homem pensou que isso não era nada divertido.
“Eu também matei muitas pessoas, por isso, sei.”
Ahin se aproximou devagar, o dedo indicador erguido.
“Você acaba de ser sentenciado à pena de morte.”
Então, ele esfregou o dedo contra o polegar, liberando um feromônio que foi direcionado diretamente para o corpo do homem.
“E vai ser bem doloroso.”
O homem começou a se contorcer enquanto a agonia permeava todo seu corpo. Tortura teria sido uma punição mais branda, pois era como se as veias e artérias do homem estivessem se desintegrando por dentro.
“Aaaaaarggggh!!”
Ahin, dando as costas para o grito, fechou e abriu os punhos. Era realmente estranho. Os feromônios dele eram tão fortes que podiam quebrar até mesmo um homem-besta poderoso com facilidade, mas quando ele queria suprimir os feromônios de Vivi, tinha que injetá-los diretamente na corrente sanguínea ou no trato respiratório dela, ou não era o suficiente. Isso era uma prova de que os feromônios de Vivi eram superiores aos dele.
“Já que é tarde, quer ir diretamente ao seu quarto, meu Lorde?”
Depois de sair da prisão, Evelyn puxou um relógio de bolso. Já era quase meia-noite.
“Bem…”
Ahin, parando a frase na metade, de repente levou o pulso ao nariz e farejou. Dava para sentir o cheiro de mofo e sangue. Ele então começou a desabotoar sua jaqueta, mexendo nos botões dourados. Enquanto a cheirava também, se lembrou que Vivi às vezes o evitava, fugindo. Será que ela o evitaria hoje também? Na sua memória, a bolinha de algodão rolava desesperada.
“Lorde, não vai?”
Ao escutar a pergunta, Ahin apontou para si mesmo.
“O cheiro de sangue está forte demais.”
“Acontece com frequência.”
Evelyn deu de ombros. Olhando ao redor, Ahin tirou a jaqueta e começou a tirar as abotoaduras e a gravata. As roupas dele iam diminuindo sob a luz do luar. Quando ele tirou a camisa, Evelyn deu um passo para trás e falou.
“Meu Lorde… Por que está se despindo?”
“Evelyn, vamos para o seu quarto.”
Após ouvir isso, Evelyn derrubou os documentos que levava.
***
Quando deu o horário, o guarda encarregado subiu na torre para tocar o sino que anunciava a meia-noite. Longe dali, havia duas pessoas que ignoraram totalmente o barulho, pois o dono do quarto cuja porta guardavam estava parado ali, sem grande parte das roupas. Devido à falta de explicação e choque de Evelyn, Ahin havia decidido que iria para um outro quarto vazio tomar banho e se trocar, e agora estava ali, com roupas de dormir. Ele encarou os cavaleiros, que o saudaram, nervosos. Eles conseguiram não olhá-lo nos olhos e manter a expressão neutra, mas estavam suando por dentro das armaduras.
‘Os olhos do Lorde Ahin….’
Dentro da cabeça deles, todos os tipos de pensamentos passavam. Há pouco tempo, Ahin havia trazido uma pessoa com roupas de trabalhador de estábulo para dentro, e feito um sinal para que os cavaleiros ficassem de boca fechada. Julgando pela cor lilás dos olhos da mulher, eles vagamente assumiram que ela poderia ser a mesma coelha que entrava e saía do quarto, e passaram a ficar extremamente nervosos depois disso. Talvez eles tivessem visto algo que não deveriam. E os pescoços daqueles que descobriam os segredos de seus amos nunca estavam seguros.
“Você, aí.”
“Sim, senhor!”
O cavaleiro, que respondeu em uma voz alta demais, parecia muito nervoso. Ahin, que não se importava com ele, enfiou o pulso no rosto do homem.
“E então?”
Os olhos do homem começaram a tremer.
“…S-sim?”
“Como está o cheiro?”
Ahin sacudiu o pulso e franziu a testa. O homem, tremendo, farejou.
“B-bem, o odor do Lorde está agradável como sem-”
“Já chega.”
Os olhos de Ahin pareciam satisfeitos e ele sorriu. Então, entrou no quarto, batendo a porta. Lá dentro, percebeu que os feromônios de Vivi dominavam todo o ambiente. Era muito provável que as emoções dela estivessem fora de controle.
“…Vivi?”
Resistindo aos feromônios que tentavam adentrar nele, ele procurou pelo quarto. Mas Vivi não estava em sua almofada. Ele foi até a varanda, mas ali havia apenas Quinn, adormecido no chão, parecendo bêbado pelos feromônios.
“Onde você está?”
Vivi também não estava atrás da cortina onde ela gostava de se esconder. Ahin olhou embaixo da mesa, e em todos os lugares onde ela já havia se escondido antes. O banheiro estava vazio. Mesmo após passar de cabide em cabide no closet, não havia nada. Ela também não estava na estante ou na escrivaninha. Teria saído do quarto?
Ahin, quase perdendo a cabeça, se forçou a parar quando sua mão já estava na maçaneta. O odor dos feromônios estava muito forte, então ela tinha que estar em algum lugar ali dentro. Após olhar por todo o cômodo, ele pensou num lugar onde Vivi nunca tinha se escondido antes. Ahin deitou no chão e se esgueirou para debaixo da cama. O cabelo prateado ficou todo desarrumado enquanto ele tentava colocar a cabeça para dentro.
“…Te achei.”
Uma bolinha branca reluzia sob a luz da lua.
“Brincar de esconde-esconde com você é difícil. Você é muito profissional.”
Vivi levantou a cabeça de leve. O sorriso de Ahin desapareceu ao ver que os olhos dela estavam cheios d’água.
“Você está chorando?”
Vivi apressadamente tapou o rosto, esfregando os olhos com as patas dianteiras. Mas as lágrimas voltavam a brotar como uma fonte, não dando sinal que iriam parar.
“Venha pra fora.”
Ahin colocou o braço pelo espaço estreito, mas não conseguiu alcançar Vivi. Quando, no limite máximo, conseguiu quase tocá-la, ela o mordeu e correu para mais fundo. Ele sentiu como se ela o afastasse, não apenas literalmente.
“O que aconteceu?”
Ahin, olhando para o espaço debaixo da cama, ergueu as sobrancelhas. Toda vez que as emoções de Vivi se intensificavam, os feromônios o atingiam como ondas. Ele não sabia se conseguiria resistir aos efeitos por muito mais tempo. Os feromônios de Vivi estavam o atacando como hienas famintas. Quase indefeso, ele falou em voz baixa.
“Vivi.”
Ahin, chamando o nome dela, colocou o braço embaixo da cama novamente. Mas Vivi, assustada, se moveu mais longe, para a escuridão. Segurando a vontade de se levantar e erguer a cama inteira, ele esfregou o rosto. Quando inalava os feromônios das lágrimas de Vivi, ele normalmente se sentia eufórico. Mas a aparência dela agora, num lugar onde ele não podia alcançar, estranhamente o fez ficar nervoso. A maneira como ela tentava enxugar as lágrimas com suas pequenas patas brancas lhe dava um aperto no coração. Normalmente, ela chorava e saia correndo quando ele mostrava os caninos, mas essa reação de agora era diferente. Isso provava que as emoções dela estavam mais complicadas que as de sempre.
“O que aconteceu?”
Obviamente, Vivi não podia falar para responder. Ahin ficou extremamente frustrado por não conseguir ler os pensamentos, sentimentos, e nem mesmo a expressão dela. Ele esticou os dedos o máximo que pôde por debaixo da cama.
“Não pode sair?”
O corpo de Vivi estremeceu levemente. Ela cobriu os olhos com as patas, chacoalhando a cabeça para indicar “não”. Ela parecia querer ir cada vez mais fundo para esconder seu rosto e sentimentos.
‘Será que estou forçando demais?’
Ahin, a observando sem perder um único gesto, prendeu a respiração. O que ele deveria fazer: forçá-la a sair, ou deixá-la? A racionalidade dizia que a segunda opção era correta, mas a mão dele teimosamente rejeitava esse conselho. Continuando a hesitar, o que era incomum para ele, Ahin piscou.
“A coelha pode depender de você, mas não confia em você.”
Ele tinha uma vaga ideia da razão pela qual isso estava acontecendo. Vivi devia estar se escondendo embaixo da cama porque não queria mostrar seu lado fraco para Ahin. Parando para pensar, ela sempre se esforçava para não mostrar fraquezas. Talvez fosse por ter crescido em um ambiente onde ela tinha que ficar sozinha, sem ajuda de ninguém. Ahin pensou estranhamente que eles eram parecidos. O corpo de um bebê coelho, que parecia extremamente fraco, tinha uma grande força dentro de si.
Olhando para ela em silêncio, ele colocou um dos braços embaixo da cabeça, como um travesseiro. Então, manteve o outro braço esticado debaixo da cama, abrindo a mão e batendo de leve no chão com ela.
“Se quiser sair em algum momento, venha para mim.”
As orelhas de Vivi se agitaram no ar quando ela ouviu a proposta.
“Estarei te esperando.”
Após dizer isso, Ahin sentiu suas pálpebras cada vez mais pesadas. Ele não conseguia mais lutar contra os feromônios de Vivi, e se sentia como se fosse um boneco de algodão molhado. Era ridículo e ao mesmo tempo refrescante ser nocauteado por ela uma segunda vez. Bêbado, ele riu e abriu os olhos pesados.
“Dormir no chão não é tão ruim quanto eu imaginei.”
Um silêncio seguiu. Ele tentou não dormir. Os feromônios de Vivi passaram a ficar mais fracos, talvez porque estivesse se acalmando. Após ficar escondida no escuro por muito tempo, ela levantou a cabeça. Fingindo não perceber, Ahin fechou os olhos. Pouco depois, ele sentiu o toque suave de uma pata em sua mão. Era uma pequena bolinha de algodão.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.