A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 5
Entrando no quarto mais cedo que de costume hoje, Ahin, de repente, me colocou na cama sem nem mesmo trocar de roupa.
Fiquei deitada de barriga para baixo o encarando. Houve um momento de silêncio completo.
“…Ei.”
‘O que foi? O que você tá olhando?’
Como sempre, eu, que só podia reclamar por dentro, me virei de costas para ele, já que o rosto dele estava me encarando perto demais.
Segundos depois, ele me pegou pelo pescoço e me aproximou, então lentamente falou.
“Hoje durante o treinamento… Não, quero dizer, o clã dos lobos me atacou novamente.”
Os caninos reluziam a centímetros de mim. Então fechei os olhos porque me senti tonta.
“E com isso, estou ferido.”
‘Ele está ferido?’
Abri meus olhos um pouquinho para ver se tinha algum machucado tão grande quanto o daquele dia.
No entanto, ao contrário da última vez, não haviam manchas de sangue em seu casaco azul-marinho decorado com abotoaduras prateadas. Também não sentia nenhum cheiro de sangue.
Ao olhar para ele interrogativamente, Ahin, que virou o rosto para o lado, apontou para sua bochecha esquerda.
“Aqui.”
Enquanto olhava para a bochecha branca, franzi o cenho. Era um arranhãozinho que iria se curar em um ou dois dias.
E ele estava falando como se estivesse ferido. Quando virei a cara para ele, ele piscou seus olhos vermelhos.
“Você não vai me curar?”
<Por que Vivi faria isso?>
E além disso, como é que alguém pedia a um coelho filhote que curasse um ferimento? Rindo desse pedido absurdo, eu fiz que não com a pata dianteira.
“Está dizendo que não vai fazer?”
<Não vou fazer.>
Enquanto eu continuava o ignorando, o sorriso desapareceu da boca de Ahin. Então ele me ergueu mais alto e me levantou no ar.
“Não tenho necessidade de uma coelha que nem mesmo sabe me curar. Ah~”
<Seu animal louco!>
Ahin abriu a boca e curvou a cabeça como se fosse me comer.
‘Oh, meu Deus!’
Bem acima dos caninos faiscantes, eu me debati.
Minhas patas traseiras estavam quase tocando os lábios dele.
Ahin, que parou no meio do movimento, sorriu.
“Está com vontade de me curar agora?”
‘Óbvio’. Assentindo rapidamente, ele me colocou de volta na cama. Ele se inclinou novamente e me ofereceu a bochecha.
Como diabos devo curar isso? Quando olhei para o arranhão irritada, Ahin franziu as sobrancelhas. Era como se estivesse me apressando em silêncio.
‘Vou curar, vou curar.’
Sacudi a cabeça olhando alternadamente para o machucado e minha pata dianteira.
Quando pensava que ele tinha tentado me engolir de uma só bocada, o que eu queria era fazer outro arranhão dando uma patada na mesma bochecha.
‘Não sei o que fazer’.
Como realizar o pedido desse maluco? Tinha que pensar em alguma maneira.
Era impossível passar algum tipo de pomada nele com o meu corpo de coelho.
Perdida em pensamentos, me aproximei da bochecha de Ahin e lambi o arranhão de leve enquanto as sobrancelhas dele se franziam novamente.
É claro, com isso o ferimento não vai se curar, mas era tudo que era capaz de fazer agora.
Ele ficou sem expressão diante do meu comportamento inesperado e sacudiu a cabeça.
“Isso é a cura?”
<O que mais você quer de mim? Se quiser, eu realmente te dou uma patada no rosto, quer?!>
Parecendo confuso, a expressão de Ahin se suavizou. De alguma maneira, suas emoções pareciam estar em conflito. Logo, ele arrumou a postura e suspirou descontente.
“Mas, bem…”
Os olhos vermelhos se moveram devagar até mim. Ahin me encarou por um momento.
“Isso não foi nada mau.”
Ele, parecendo satisfeito de algum modo, se levantou e andou na direção do banheiro.
Ele me mandou curar o machucado, mas sabia que não ia acontecer nada. Com irritação, chutei o travesseiro daquele pantera negra arrogante.
<Essa besta maldosa!>
O algodão estava prestes a saltar para fora.
***
Depois do dia em que a conheci no roseiral, a mãe de Ahin começou a sempre tomar chá no exato horário em que eu saia para meu passeio pelo jardim.
Graças a isso, a atividade deixou de ser um passeio e virou uma estranha festa do chá diária com ela.
“O clima está ótimo.”
<Verdade.>
Fechei meus olhos, sentindo a brisa gentil. O céu estava ensolarado sem nenhuma nuvem, e o cheiro de rosas se espalhava no ar com o vento suave.
No início, a mãe de Ahin, que tinha os mesmos olhos e presas, me fazia ficar desconfortável, mas à medida que a encontrava, deixei de ter dificuldades.
Ficar na mesa mastigando feno enquanto ela tomava chá era agradável. Além disso, graças às conversas dela, eu obtive informações novas.
Por exemplo, a de que Ahin, que tinha tido sua cerimônia de maioridade esse ano, estava sempre ocupado enfrentando os lobos. Parando pra pensar, as expressões dele eram uma mistura de menino e jovem rapaz.
A voz gentil dela continuava ressoando enquanto eu me perdia nos meus pensamentos, sentindo a brisa.
“Que graça, a maneira como você mastiga é adorável.”
“Bebê, me dê a pata.”
“Coma isso.”
As contribuições dela me fizeram ganhar peso em pouco tempo.
Ahin, que descobriu a existência das festas de chá, apertou minha barriga me perguntando se eu era um porco ou um coelho.
A mãe de Ahin se apresentou como Valence Grace e pediu que eu a chamasse de Valence. Claro, isso seria se eu pudesse falar.
A mansão dos Grace era muito estranha, mas talvez os nobres de alto ranking do território das panteras negras achassem isso normal.
“Eu quero tentar uma coisa.”
A expressão de Valence, que estava me olhando mastigar o feno, mudou.
Esticando a mão, ela me segurou no ar de repente.
“…Bebê.”
Olhei para ela, que falou com uma voz mais grave que o normal. Valence, tocando minha nuca com os dedos, abriu a boca novamente.
“Tente prender a respiração por um momento e faça força nas veias do seu corpo.”
Prender a respiração e fazer força nas veias?
Não sabia o que ela queria, mas a expressão dela era tão séria que parei de respirar, como ordenado. Tentei focar minha mente, e comecei a sentir uma energia estranha fluindo em meu corpo.
<O que, o que é isso?>
Nunca senti isso antes. É isso que ela queria que eu fizesse? Refletindo, eu reuni força o suficiente para sentir as veias bombeando.
Depois de um tempo, ouvi uma voz generosa dela.
“Você é muito inteligente. Bom trabalho.”
Ela esticou o dedo e acariciou minha cabeça. Enquanto recebia esse toque, refleti sobre o que seria essa energia que eu tinha acabado de sentir.
***
Hoje foi um dia diferente do normal. Ahin, que não saiu do quarto mesmo depois do amanhecer, me levou para uma carruagem por algum motivo.
Evelyn, que chegou pouco depois, também estava na carruagem. O portão da frente da mansão se abriu com um estrondo.
Desde que eu havia chegado ali, era minha primeira vez saindo da mansão. Era meio assustador, mas eu não tinha escolha a não ser ficar animada.
‘Uau… ‘.
O cenário fora da janela que Evelyn me mostrou mudava rapidamente. Agora, era uma rua ladeada por torres altas e telhados verdes. Só de olhar para algumas partes da cidade, pude perceber que o nível do Território das panteras negras superava os outros territórios.
Era incrível. Senti que o pequeno mundo que eu conhecia estava desmoronando. A experiência de encarar o mundo de fora de repente era demais para minha cabeça.
Foi um momento feliz e ao mesmo tempo desesperador. Um pouco hesitante, coloquei minha pata dianteira para fora da janela.
Será que um dia conheceria o mundo por mim mesma, não sendo levada aqui e ali por outros? O vento fresco de alguma forma parecia desanimador.
“Agora, se você não pegar a marionete, vou te comer.”
Após o passeio espetacular, uma pequena boneca presa por fios flutuou em
na minha frente.
Com olhos bem abertos, eu trabalhei duro.
Ele a balançou em minha frente. Plaf! Ironicamente, no entanto, toda vez que ia conseguir pegá-la com as patas dianteiras, ela escorregava para fora do meu alcance.
<É porque as patas de Vivi são curtas demais.>
“Coelho gordo.”
Os movimentos de Ahin para agitar o fio como se estivesse brincando não poderiam
ser mais odiosos.
Assistindo a cena do outro lado, Evelyn soltou um leve suspiro.
“Lorde Ahin, você a colocou em um prato esta manhã. Se continuar com isso, ela pode chegar a odiá-lo de verdade. Veja, ela está com uma expressão de ódio nos olhos agora.”
Com as palavras de Evelyn, Ahin olhou para meu rosto, parando de sacudir o fio. Os olhos vermelhos piscaram através do cabelo prateado que caia em sua testa.
Logo depois, com um sorriso torto, ele respondeu com uma voz satisfeita.
“Esse olhar não é nada mau.”
“Entendi. Então, Senhorita Coelha, por favor, continue odiando o Lorde Ahin.”
“Isso também é bom. Acho que vou ficar animado.”
“Bem, se o senhor diz.”
A conversa deles era completamente bizarra para qualquer parâmetro de sanidade, até mesmo para mim, que não tinha conhecido muitos homens-besta ao longo da vida.
Frustrada, desisti e dei uma patada na marionete.
Puck, Pubbuck.
Em um instante, a boneca se transformou em um saco de areia.
“É um coelho invencível. Esse é o nascimento da primeira coelha lutadora da história.”
Evelyn, que tinha uma expressão muito séria no rosto, se aproximou. Zangada, o chutei na testa. Estas panteras negras tinham um talento especial para irritar as pessoas com a sua mera existência.
“Evelyn, ela deve te odiar muito.”
“Bem, Senhorita Coelha, por favor, entenda meu terno coração.”
‘Do que você está falando?’ Ahin, que pressionou minha bochecha, me levantou e me empurrou para dentro do bolso de sua jaqueta.
‘Isso dói!’
O toque implacável não mostrou nenhum sinal de mudança.
“Estamos quase chegando, Meu Lorde.”
O rosto do cocheiro apareceu através da pequena janela da carruagem. Uma vez que
a velocidade foi diminuindo gradualmente, pareciamos ter alcançado a nossa destinação.
Ao sair da carruagem, vi um grande edifício de pedra, e olhei assustada.
Azul. Um prédio ao qual eu não fui tantas vezes, mas o qual nunca poderei esquecer. A destinação de Ahin era o templo.
‘Não.’
Era o último lugar para onde eu queria ir porque tinha péssimas memórias do templo. Por que ele tinha que ir ao templo?
Enquanto lutava dentro do bolso, uma hipótese me surgiu como um raio.
Uma criança que não conseguiu ser humanizada. Os homens-besta pensariam imediatamente em ir ao templo para banhá-la com água benta e fazê-la ser abençoada. Claro, eu já passei por esse processo muitas vezes.
No entanto, como a humanização não aconteceu até a época de minha cerimônia de maioridade, visitei o templo novamente e então recebi o diagnóstico da maldição.
Ahin devia ter vindo ao templo para tentar descobrir como eu estava exalando feromônios, embora pareça um coelho normal.
Eu não conseguia me acalmar e continuei a me contorcer dentro do bolso.
“Se acalme.”
À medida que os chutes ficaram mais fortes, Ahin acariciou minha cabeça.
Mas desta vez não pude me render e afastei sua mão dentro do bolso.
<Nós não precisamos sair, então vamos voltar. Vivi não gosta do templo.>
Embora olhasse para ele ansiosamente, Ahin e Evelyn entraram no templo sem hesitar.
Tradutora: Nopa.
Revisão: Holic.
ABlossom
Amo essa novel, obrigada pela tradução 🥰🥰🥰