A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 48
Senti calafrios e olhei para meu pulso. A cauda negra enrolada parecia uma corda.
“Você está acordado?”
“….”
“Está tentando dizer que eu não devo chamar ninguém?”
Ahin, soltando meu pulso, bateu várias vezes com a cauda no espaço da cama onde eu estava sentada antes. Entendendo a mensagem, me sentei ali rapidamente e o observei. Os olhos dele tinham se fechado de novo, o que mostrava que deveria estar muito cansado. Depois de pensar, limpei o suor da minha testa e falei.
“Sabe… se está doente, eu posso tentar te curar?”
Nesse momento, os olhos do pantera negra se abriram. Os olhos misteriosos que eu não conseguia ler me encararam. Talvez porque a pergunta tinha várias implicações. Eu estava basicamente admitindo que tinha descoberto minhas próprias habilidades e os poderes dos meus feromônios. O pantera negra girou o pescoço e soltou uma bufada arrogante, como se minhas palavras não valessem o seu tempo.
“Não quer?”
Eu tinha me oferecido relutantemente. Também não queria usar meus feromônios e voltar a ser coelha.
“Bem, se quer ficar sentindo dor, problema seu. Não me importo se está doente ou não.”
Me sentindo ofendida, dei as costas para Ahin. Ele era basicamente um predador apunhalando a presa pelas costas. Após um tempo, ele permaneceu deitado, sem se mover. Algo devia estar errado para Ahin estar tão desvalido… Admiti a derrota e me voltei para ele novamente.
“…Então, quer que eu te afague?”
Ash sempre ronronava quando eu afagava as costas dela. Zup. A cauda de Ahin se enrolou no meu pulso novamente, e minha mão foi levada até a coluna dele.
Ele devia ter sido honesto de uma vez. Erguendo as sobrancelhas, alisei o pantera negra com cuidado. Era uma oportunidade de demonstrar as habilidades que eu tinha adquirido ao praticar com Ash. A cauda de Ahin se mexia no ar. Pensei que ele devia estar expressando que estava gostando, mas logo percebi que ele estava desenhando letras no ar.
“V… I… D…A…?”
Logo percebi que ele estava dizendo que eu tinha quebrado minha promessa de não tocá-lo e agora ele ficaria com minha vida. Com raiva, dei um tapa nas costas de Ahin.
“Por que não se comporta!?”
A cauda, que tinha se erguido no ar pela surpresa, se abaixou de novo. Parecendo ter me escutado, o pantera negra ficou imóvel. Imaginei a razão pela qual Ahin não queria que eu chamasse um médico ou até mesmo Evelyn. Se ele causasse um alvoroço no meio da madrugada, teriam rumores depois.
[O próximo líder do clã ameaça a todos, mas precisa de ajuda no meio da noite.]
Por trás do poder, tinha o grande perigo de quererem usar o seu pescoço como alvo. Até mesmo a demonstração de uma pequena fraqueza podia ser fatal. Me lembrei que, mesmo quando tinha se ferido naquele dia, em vez de ir em um hospital, Ahin havia chamado um médico para atendê-lo privadamente dentro de seu quarto.
“Você está sentindo dor de verdade, não está?”
Os olhos da pantera abriram devagar. Pude ver o fogo da lareira refletido neles. De algum modo, ao olhá-los, fiquei paralisada. Logo, Ahin assentiu com a cabeça.
“Sabe, entre os coelhos…”
Passei a mão na pelagem negra enquanto falava.
“Mesmo que você seja fraco, os outros não vão te matar. Não existe essa regra.”
Ahin girou a cabeça para me olhar. Me foquei na cauda dele porque não queria fazer contato visual.
“Eu sou uma coelha…”
“…”
“Por isso, mesmo que Ahin demonstre fraqueza na minha frente, não vou te atacar. Então, não precisa ficar tão alerta.”
Engolindo em seco, recuei na cama, reuni toda minha coragem, fechei os olhos com força e abri meus braços.
“Pode vir.”
Não consegui abrir os olhos depois disso. O rosto de Ahin na forma de pantera negra era tão difícil de encarar quanto sua forma humana, mas por razões diferentes. Passou-se um longo tempo, e então, senti algo pesado. Ao abrir os olhos, só enxerguei pelos pretos. Ahin havia enterrado o pescoço na minha cara. Por isso, em vez de dizer que eu estava abraçando uma pantera negra, era mais como se uma tivesse se jogado em cima de mim.
Segurando a vontade de entrar em pânico, abracei com cuidado o corpo dele.
‘Ai, meu Deus.’
Estirei o braço e afaguei suas costas. O pelo em contato com meus dedos era muito macio. O tempo parecia passar devagar. Com a cara ainda soterrada pelo pescoço de Ahin, falei.
“Eu menti quando disse que não me importava se você estava doente ou não.”
O pantera negra se aproximou ainda mais, como uma criança pedindo colo. Fiquei sufocada no meio do pelo, e respirei fundo. Era como acariciar um gato do tamanho de uma pessoa, só que era o gato mais assustador do mundo.
“Desculpe por falar isso.”
Depois disso, comecei a liberar feromônios com cuidado. Se não conseguisse curá-lo, pensei que, pelo menos, podia fazer Ahin dormir confortavelmente. Não sabia se estava funcionando, mas senti meus feromônios cobrirem todo o corpo de Ahin.
Enquanto acariciava a cauda negra, percebi algo. Era um alívio o fato de que ele estava na forma de animal, e não de pessoa, durante a noite. Pensei que essa poderia ser uma das razões pelas quais ele havia dito que se eu não fosse uma coelha, poderia ser um problema. Essa relação estranha entre nós não podia durar muito mais. Me deitei nas costas macias e murmurei.
“Não fique doente…”
E, após alisá-lo por mais um tempo, caí num sono profundo.
***
O sol da manhã entrava pela porta da varanda, que estava aberta. Quando abri os olhos, Ahin já tinha voltado para a forma humana e estava completamente vestido. Por outro lado, após usar meus feromônios nele, eu tinha voltado à forma de coelha.
Olhando para a roupa, com um brasão elegante e decorada com fios dourados, parecia que o Ahin na forma de pantera tinha sido apenas um sonho. De qualquer maneira, eu não era fisicamente capaz de falar sobre o que aconteceu com ninguém na minha forma atual.
Sem poder fazer perguntas, desci da almofada e me aproximei do prato de feno que estava no chão, mastigando com força. Evelyn, após cumprimentar seu mestre, entrou no quarto, o que piorou ainda mais meu humor.
“A coelha– não, quero dizer, vai para o escritório, meu Lorde?”
“Sim.”
Enquanto Evelyn falava com Ahin, olhei através do vidro da varanda e vi a águia ali, voando de uma maneira que parecia debochada. Em um instante, voltei a mastigar o feno com toda a força, como se fosse destruí-lo.
<Qual é a sua!?>
Ela havia bicado minha cabeça essa madrugada. Com ódio, mordi, soquei e chutei o feno, a encarando enquanto fazia isso. Talvez pelo choque, a águia pousou no chão. Então, parei de atacar o feno, arfando pelo esforço. E, ao virar a cabeça, vi três pares de olhos vermelhos me encarando. Ahin, Evelyn, e o servo de Ahin. Os olhares eram um fardo para mim.
“Lorde Ahin.”
Evelyn, me encarando sem nenhuma expressão, falou.
“É como eu tinha dito. A Senhorita Coelha certamente é a reencarnação de algum general comandante de guerra.”
“Você pode estar certo. Ela conseguiu dominar Quinn, o que não é fácil.”
<Quinn?>
Enquanto limpava o feno espalhado, olhei para fora. Então o nome da águia era Quinn.
“Veja, ele já está ajoelhado aos pés dela. Há muitos anos, coelhos eram usados como o símbolo da dominação animal.”
O servo olhou para Evelyn com admiração, como se tivesse aprendido algo fascinante. Ahin, checando seu relógio de bolso casualmente, perguntou.
“Isso é verdade?”
“Obviamente, acabei de inventar.”
Em vez de ficar criando histórias, ele podia começar me respeitando. Mordendo os lábios, eu tremi. De acordo com Ahin, Evelyn já sabia que eu era uma mulher-besta. No entanto, ele continuava me provocando o tempo todo. Deixando meus planos de vingança para o lado, me aproximei do servo. Apesar de ser bem jovem, ele tinha ganhado o posto de servo exclusivo de Ahin, ou assim ouvi dizer.
“Precisa de algo?”
Esse servo sempre me cumprimentava quando me via. E mais do que isso, ele era o servo que eu tinha feito dormir no chão frio da biblioteca outro dia, depois de morder seu dedo. Além disso, ainda tinha roubado seu paletó e cinto.
<…Eu sinto muito.>
Ele deve ter ficado muito envergonhado ao se despertar e perceber que estava com peças de roupa faltando. Tinha feito isso por falta de outra opção, mas ao ver o rosto inocente dele, me senti mal.
Como não tinha outra maneira de demonstrar, toquei o sapato do servo com a pata dianteira. O olhei nos olhos, comunicando silenciosamente o que queria dizer. Não sabia se ele tinha entendido, mas ele se ajoelhou e ajudou a arrumar o feno que eu tinha espalhado.
“Pode deixar que eu limparei tudo sozinho.”
<Não, vamos fazer isso juntos.>
Enquanto eu juntava o feno com as patas, de repente fui erguida no ar.
“Vivi.”
Ahin, que me levantou e me levou para a frente de seu rosto, levantou as sobrancelhas em desaprovação.
“De novo esse hábito. Da última vez foi com Rune. Você é realmente infiel.”
Ele estava me classificando como uma coelha que cometia traição.
“Ela parece gostar de rostos bonitos, meu Lorde.”
Evelyn apontou para o próprio rosto, e então para o servo do outro lado. Naturalmente, eu e Ahin olhamos para ele, que tinha cabelo verde claro e um olhar inocente. Ao virar o centro das atenções, ele corou, envergonhado.
<Espera, por que está corando agora!?>
Um sorriso perigoso surgiu na boca de Ahin.
“Você me prometeu sua vida… Como pôde me abandonar?”
A performance dele, parecendo a de um amante enganado e jogado fora, chegou ao fim. Logo depois, caninos ameaçadores surgiram por entre os lábios rosados.
‘Estão se aproximando!’
Percebendo o padrão de sempre, comecei a chutar de modo que ele apenas conseguisse morder minhas patas. Ele inclinou o rosto e se aproximou ainda mais rápido.
<Não…!!>
Logo, os lábios de Ahin se aproximaram e… tocaram o topo da minha cabeça. Chu. E então se afastaram.
‘…O que foi isso?’
Minhas orelhas ficaram em pé e não conseguia fechar a boca de choque. Antes que percebesse, ele se aproximou de novo e novamente seus lábios me tocaram, dessa vez na bochecha. Chu. Então, a cabeça dele se afastou.
“Vamos continuar a nos dar bem, verdade?”
Ahin, que parecia ter mudado de método de tortura, me colocou dentro do seu bolso. Petrificada, sem compreender a realidade, toquei minha bochecha. Quando eu olhei para cima, Ahin estava sorrindo, seus olhos vermelhos curvados.
“Por enquanto, vou tomar isso no lugar da sua vida.”
Talvez eu estivesse enlouquecendo.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Lucien
Ahhhhhhh eu amo esses dois, é tão fofo e engraçado a relação deles 🥰