A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 47
Quando é que eu conseguiria ganhar de Ahin no discurso? Desistindo de refutar que meu rosto era sim humano, chutei o meu cobertor para longe. Era a minha pequena rebelião.
“O que está fazendo?”
Ele voltou a enrolar a coberta sobre mim, e logo fiquei parecendo uma pupa, antes lagarta e prestes a emergir como uma besta malvada.
“Não chute o cobertor.”
Tendo me advertido, ele se virou para o meu lado, e fizemos contato visual. Olhando para ele, consegui falar.
“Ei, Ahin.”
“Sim?”
“…Você realmente não estava sentindo dor de verdade?”
Ele talvez estivesse fingindo estar doente, mas o suor frio que eu tinha visto me incomodava.
“Vivi.”
“Sim?”
“Falando em dor, você me disse que se transformar em humana era muito doloroso.”
Ele se lembrou. Me sentindo estranha, rolei para o outro lado. Mas o cobertor, que estava todo enrolado, fez ser muito difícil me mover, e acabei com a cara enterrada nos travesseiros.
“Eu escutei que você se encontrou com meu avô na biblioteca.”
Ahin puxou a ponta do cobertor e me ajudou a ficar virada para cima novamente. Abri e fechei a boca algumas vezes, até conseguir falar.
“Talvez Meimi já tenha te falado, mas ele tentou me levar para o templo.”
Após um momento de silêncio, Ahin, deitado de lado, apoiou o queixo na mão. Eu, olhando para o teto, me lembrei de coisas que me fizeram ficar ansiosa.
“Amaldiçoada! Essa coelha certamente foi amaldiçoada por Deus!”
Naquele momento, muitas emoções tinham passado por mim. Não queria falar isso para Ahin, no entanto.
‘E se eu realmente estiver amaldiçoada…?’
De repente, minha visão foi bloqueada por algo quente. Meus olhos foram tapados pela palma da mão de Ahin.
“Por que cobriu meus olhos?”
“Se você chorar agora, pode ser um problema.”
A voz dele estava rouca. Eu não conseguia entender a mente dessa besta.
“…Eu não vou chorar.”
“Só para garantir. Continue falando desse jeito.”
Eu suspirei. Após ser enrolada em um cobertor e ter os olhos tapados por uma mão, a situação era estranha demais para ter uma conversa séria. Mas, mais estranhamente… eu me senti confortável.
“Eu odeio o templo. Ele pode não ter culpa do que aconteceu comigo, mas me senti abandonada pelas palavras do sacerdote. Então a ideia de ser levada para vê-lo novamente… eu odeio isso.”
“Eu sinto muito.”
As palavras de Ahin me fizeram ficar muito surpresa. Chacoalhei a cabeça. Mas a mão que tapava meus olhos continuava ali persistentemente, então não consegui olhar o rosto dele.
“…Eu odeio cestas mais ainda.”
Quanto mais eu falava, mais coisas que eu odiava surgiam. Não gostava de portas fechadas, de caninos afiados, nem do Avô de Ahin, que falava coisas malvadas. Mas se eu falasse esse último em voz alta, poderia ter problemas, então fechei a boca e escutei Ahin falar.
“Então você usou feromônios no meu avô porque suas emoções saíram de controle ao pensar em ir ao templo dentro de uma cesta. E ele usou feromônios para se defender, e como resultado, você os absorveu e virou humana.
Ele era um predador rápido para entender as coisas. Não havendo mais nada a explicar, assenti. Pude sentir uma certa hostilidade ao próprio avô nas palavras de Ahin.
“Por que você não chutou ele com tudo na cara?”
“Quê?”
A mão, que estava sendo usada como venda, foi retirada enquanto eu estava boquiaberta. O rosto de Ahin, finalmente visível, tinha um sorriso.
“Vou arrumar uma chance em breve, então mantenha os pés preparados.”
Ele iria arrumar uma chance? Para que eu chute o idoso? Fiquei confusa sobre o que eu deveria fazer. Inconscientemente me aproximei, e ele imediatamente rearrumou o cobertor, me colocando em um casulo. Era como se estivesse sendo mumificada. Comecei a chutar e socar para tentar liberar os membros.
“Ahin, qual é o problema com você?”
“Não importa o quanto eu pense, Vivi vai tentar me tocar. Então essa é a prevenção.”
“Eu prometo que não vou te tocar, então me deixe livre.”
Assim que consegui liberar um braço, ele rearrumou o cobertor mais outra vez. Segurando a ponta da coberta, Ahin perguntou em voz baixa.
“Você promete, valendo sua vida?”
Como podia apostar minha vida assim tão facilmente? O olhei com ódio, mas ele apenas sorriu. Fiquei vermelha de raiva e respondi.
“Não vou te dar minha vida!”
“Então, não acredito em você.”
Ahin acrescentou um outro cobertor como se estivesse construindo um castelo sobre mim. Tentei ir para longe dele friamente, mas acabei me contorcendo para o outro lado da cama como uma minhoca.
***
Estava dormindo profundamente, mas, do nada, me despertei com uma sensação de perigo. Após alguns segundos, percebi que eram meus instintos de herbívoro mandando um alerta sobre uma coisa negra que estava na cama. Após a encarar, suspirei de alívio.
‘Ufa, é apenas Ash…’
Que susto. Fechei os olhos e abracei o travesseiro, mas, de repente, meu sangue congelou. Ash deveria estar no quarto de Meimi e ela não era tão grande assim. Não, exceto por ter o mesmo pelo negro, Ash e essa pantera negra eram completamente diferentes. Olhando bem para os olhos da besta ao meu lado, não vi nenhuma cicatriz, o que queria dizer que ele também não era Barra.
‘Não, não… Preciso me acalmar…’
Devia estar sonhando. Como poderia uma pantera negra completamente desconhecida estar aqui? Continuei tensa. E se não estivesse sonhando? Me belisquei para verificar, mas doeu muito. Então decidi com firmeza.
‘Já que não é Ash, preciso fazer algo.’
Eu havia desmaiado ao ver aquelas panteras saindo dos arbustos. Estava na hora de aprender a lidar com elas. Com determinação nos olhos, rolei para fora da cama num único movimento, aterrizando com firmeza, e corri para a varanda. Após fechar a porta de correr de vidro, soltei a respiração.
“Ufa…”
Enxuguei o suor frio e olhei pelo vidro. Definitivamente não era Ash. Aquela pantera era muito maior e tinha um rosto menos delicado. Me esforcei para engolir as lágrimas. A pantera estava deitada de barriga para cima, e podia ver que era tão musculosa quanto Barra. A cauda parecia que poderia me mandar voando com uma abanada, e os caninos eram visíveis mesmo com a boca fechada…
“Não posso entrar aí.”
Me sentei no chão deprimida, as lágrimas começando a cair. Após enxugá-las por uns minutos, comecei a raciocinar novamente. Esse era o quarto de Ahin, e naturalmente todas as panteras negras além de Ash estavam proibidas de entrar ali. Então, ouvi um barulho de asas e vi que a águia se aproximava de mim, andando pelo parapeito.
‘Oh, é verdade, você estava aqui.’
Fiquei apavorada ao ver o bico e garras afiadas chegando perto… Mas nesse exato momento, elas não pareciam tão grandes, e não importava tanto. Talvez, se eu tivesse me humanizado quando criança, não tivesse tanto medo assim de predadores.
“Ei.”
Olhei para a águia e perguntei.
“Quem você acha que é aquela pantera negra?”
Surpreendentemente, a águia voou e bicou minha cabeça suavemente. Parecia uma provocação.
“Não faça isso!”
Agitei os braços, e dessa vez, ela voou até pousar na minha cabeça e bicou o vidro. Forçada pelas garras que cobriam minha cabeça, olhei para o local onde ela indicava. E vi roupas caídas no chão ao lado da cama, as mesmas que Ahin estava usando quando eu adormeci. Meu olhar foi da camisa branca e das calças pretas até chegar novamente na pantera. Olhando para o conjunto, fui forçada a admitir que essa besta ameaçadora não podia ser ninguém mais que o próprio Ahin.
“Por que ele voltou à forma original?”
Homens-besta geralmente preferiam nunca voltar às suas formas originais. Para começar, ficavam impossibilitados de se comunicar. Além do mais, especialmente no caso de Ahin, ele era muito mais forte como humano. Se transformar na forma de pantera só traria desvantagens para ele.
Será que estava entediado? Ou foi para rir da minha cara? Nunca conseguia entendê-lo… No entanto, após observar por muito tempo, a pantera negra não se moveu nenhuma vez. Fiquei olhando e roendo as unhas de nervosismo. E me lembrei de uma razão que fazia os homens-besta voltarem para sua forma animal – quando havia algo de errado com seu corpo, ele se transformava sozinho.
Quando se estava na forma animal, era relativamente mais fácil controlar os próprios feromônios. Eu mesma tinha muito mais facilidade de fazê-lo na forma de coelha. Me lembrei de quando Rune ficou preso na forma de leão após inalar aquela droga… Depois de pensar um pouco, me despedi da águia.
“Então, vou voltar pra lá.”
Para agradecer a ela, segurei sua asa e fiz um aperto de mão, e cuidadosamente voltei ao quarto. Andei silenciosamente, tentando me aproximar da cama.
“…Ahin.”
Toquei nele levemente e sussurrei, mas a besta não se moveu um centímetro.
“Sua pantera negra malvada. Predador maldito.”
O resultado foi o mesmo, mesmo após eu xingar. Não me diga que ele não estava respirando!? Me aproximei rapidamente e coloquei a mão trêmula na frente do nariz dele. Felizmente, senti uma respiração constante.
“Ahin, você está dormindo?”
Sentada na beirada da cama, perguntei nervosa.
“…Está doente? Quer que eu chame um médico? Ou Evelyn?”
Onde podia encontrar um médico nessa mansão enorme? Mexendo os pés, me lembrei dos guardas que ficavam na porta do quarto.
“Espere só um minuto!”
Assim que me levantei, senti algo macio se enrolar em meu pulso.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.