A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 46
Fingindo não perceber que Ahin estava ali, continuei abraçando Meimi com ainda mais força. Esperava que ele entendesse a deixa e fosse embora.
“Meimi.”
Ao ouvir o chamado dele, Meimi, ignorando minha tristeza, forçou meus braços para longe.
“Então, vou me retirar.”
Em um segundo, ela se tornou uma traidora e saiu do quarto após uma despedida silenciosa. Estávamos nos entendendo tão bem… Meus braços ainda estavam estirados, mas a porta se fechou com frieza.
“Vivi.”
A voz grave de Ahin ressoou, enquanto eu me dirigi à porta.
“Aonde você vai, essa hora da noite?”
“Pantera negras são animais noturnos.”
“Sim, mas e daí?”
Ash estava dormindo no quarto de Meimi esses dias. Continuei inventando qualquer desculpa para não olhar para ele.
“Vou levar um lanchinho noturno para Ash.”
“É um pouco inesperado, quando você mesma já teve o cargo de ‘lanche’.”
Essa besta maldosa.
“Bem, então vou indo.”
“Boa viagem.”
Abri a porta enquanto Ahin acenava. Os guardas parados do lado de fora do quarto me olharam, surpresos. Os olhos vermelhos deles estavam cravados em mim. Olhos de predadores sedentos de sangue.
“O que aconteceu?”
“…Ah, nada.”
Não suportei a encarada dos guardas e voltei para dentro do quarto correndo. Após fechar a porta, percebi que Ahin tinha entrado no banheiro. Não queria que ele me visse voltando e risse da minha cara, então me dirigi para a varanda. E, encostada no vidro da janela interior, vi que, empoleirada no parapeito, do lado de fora, estava a águia espiã de Ahin.
“Sai daqui!”
Apesar de me ver batendo no vidro, ela apenas me ignorou. Pantera negra, cavalos, águias. Realmente falavam sério quando diziam que os pets se pareciam com os donos. Com a águia me encarando, não consegui sair e fechei as cortinas para que ela não pudesse me ver.
Escutei água correndo dentro do banheiro. Talvez por eu estar ali, Ahin estava se preparando para ir dormir sem a ajuda de nenhum empregado. De algum modo, nervosa como se fosse a primeira vez que estava naquele quarto, mordi meus lábios. Já era difícil dormir na mesma cama que Ahin como coelha, mas se eu tivesse que passar a noite aqui como humana…
Era quase uma tortura! Tinha que usar meus feromônios para voltar a forma de coelha. Mas me preocupava retornar à forma humana depois… Enquanto eu perambulava nervosamente pelo quarto, o som da água foi diminuindo. Talvez ele tivesse acabado de tomar banho.
‘Essa não.’
Precisava me acalmar. Era a mesma rotina de todos os dias… Mas apesar de dizer isso para mim mesma, meus pés continuavam vagando pelo quarto. Finalmente, achei um lençol para me cobrir, e me atirei no sofá. Quando a porta do banheiro se abriu, me deitei e me cobri com o lençol.
“Vivi, não está com fome?”
Ahin, que saiu do banheiro, se sentou no assento ao lado da minha cabeça. Parando pra pensar, não tinha comido o dia inteiro… Estava com muita fome, mas era mais urgente lidar com essa situação primeiro.
“Não estou com fome nenhuma.”
Assim que falei isso, meu estômago grunhiu como um desesperado. Fiquei com muita vergonha. Ahin, segurando a ponta do lençol, riu.
“Se comer logo antes de dormir pode ter dor de estômago, então aguente com só um copo de leite por agora.”
Gotas de água escorriam de seu cabelo para sua camisa. Essa besta fazia mal para o meu coração. Tentei não mostrar nenhuma reação, sentando e aceitando a xícara quente. Enquanto bebia o leite, meus olhos se arregalaram.
‘Oh, meu Deus!’
Todos viveram esse tempo inteiro comendo essas comidas deliciosas sem mim… Tendo esvaziado a xícara em segundos, deitei de novo no sofá com uma expressão satisfeita.
“Vivi, venha para cá.”
Ahin, após retirar a xícara e secar seu cabelo, sentou na cama. Chegou o momento… girei no sofá de modo a ficar de costas para ele.
“Boa noite.”
Ele nem poderia reclamar que eu não cumprimentei devidamente. Felizmente, minha voz saiu estável, sem revelar minha agitação. Ainda estava apavorada. Não sei o que ele ia fazer. Quando o espiei com o canto do olho, vi que Ahin olhou para baixo descontente, e logo depois, caiu deitado na cama de uma só vez, grunhindo de dor, apertando o peito e respirando pesadamente. Ele parecia ter ficado doente de repente.
“Isso é demais.”
Era ter trabalho demais só para rir da minha cara. Me girei novamente e o ignorei. Tic toc. Mesmo após vários minutos, ainda podia ouvir Ahin agonizando. Quando o olhei novamente, ele estava jogado na cama, apertando os lençóis como se sentisse dor.
“…Ahin?”
Me levantei, com ansiedade nos olhos. Ele parecia suar frio… e, se estava fingindo só para rir da minha cara, seria bom, mas e se realmente estivesse com dor…
“Não sei quanto tempo vou durar, então quero logo ver meus bisnetos.”
As palavras do Avô Lillian, que, pelo que falou, podia sofrer de alguma doença, ficaram na minha cabeça.
“Ahin.”
Finalmente, chutei o lençol e me aproximei da cama. A testa de Ahin realmente estava coberta de suor, quando a olhei de perto.
“O que eu faço?”
Ele estaria com febre? Toquei sua testa, meus olhos começando a lacrimejar. Os ombros de Ahin estavam tremendo e ele colocou os braços sobre o rosto. Talvez estivesse com calafrios da doença… Engatinhei na cama para olhar o rosto dele pelas laterais. Mas tudo que pude ver eram suas orelhas e pescoço.
“…Cara.”
Logo, o paciente falou, com uma voz trêmula.
“…Sua cara está muito engraçada…Hahaha!”
‘Esse maldito…!’
A doença dele pedia um tratamento imediato. Depois do diagnóstico, peguei um travesseiro da cama e acertei com força na cabeça prateada.
“Vivi… Não consigo respirar…Hahaha!”
“Cala a boca!”
Ele bem que podia estar doente de verdade! Bati de novo com o travesseiro, rangendo os dentes.
“Agora você usa ferramentas em vez de me chutar com as patas.”
De repente, Ahin rolou e segurou meus pulsos. O cabelo prateado, que estava desarrumado por causa do ataque de travesseiros, caiu sobre seu rosto.
“Por que está me evitando?”
Antes que eu conseguisse soltar os pulsos, Ahin começou um interrogatório.
“Você não olhou na minha cara uma única vez hoje.”
Isso é porque estava super consciente da situação, e não conseguia olhar para Ahin, deitado na cama. Agora que era uma mulher adulta, como ele podia não se importar em dividir o quarto!? Parecia que não tinha mudado nada em absoluto para ele.
O encarei com um olhar maligno. Esse predador não tinha ideia do que se passava pela minha cabeça. Ou talvez não… a julgar pelos feromônios sexuais que senti sendo liberados no baile… talvez os nobres daqui fossem mais casuais quanto a essas coisas que as pessoas comuns.
Mas mesmo com as reações de Meimi e dos guardas, que pareciam muito chocados pela revelação da minha identidade, Ahin parecia não ter nenhuma intenção de escondê-la. Como se fosse um segredo que seria revelado de qualquer modo, então, não havia razão para se preocupar. O problema da cama poderia ser resolvido se eu voltasse à forma de coelha, mas a posição de Ahin certamente iria sofrer com rumores a partir de amanhã.
“Vivi, consigo escutar sua cabeça dando voltas.”
Ahin sorriu e segurou uma mecha do meu cabelo.
“Por que não diz o que está pensando?”
A voz grave estava próxima demais. Olhando para qualquer lugar menos para ele, consegui responder.
“Enquanto estiver na forma humana… vou dormir no sofá.”
Mesmo que conseguisse meu próprio quarto, seria difícil entrar e sair dele sozinha caso me transformasse em coelha de repente.
“Por quê?”
“Você, realmente…”
Era impossível que ele estivesse perguntando por realmente não saber. Apertei os lábios de reprovação, e Ahin ficou girando a mecha de meu cabelo entre os dedos.
“Sabe, eu já passei por dificuldades piores.”
Do que ele estava falando, de repente?
“Uma vez, você, dormindo, me chutou na testa com a pata traseira. E outro dia, esfregou os bigodes no meu nariz.”
“…Eu estava dormindo.”
“E uma vez, colocou a pata dianteira dentro da minha boca. Cada dia eu passava por uma dificuldade diferente.”
Decidi ignorar… Estava tão envergonhada que corei até as orelhas.
“Ah, e aquele dia que você entrou na minha camisa?”
“Eu pensei que era um lençol!!”
Cobri o rosto, que estava queimando ao me lembrar dessas memórias embaraçosas. Ahin sorriu, girando a mecha de cabelo outra vez.
“Como pode ver, sempre é você que me toca. Então, é só você não fazer isso, e podemos dividir a cama sem problemas.”
Justamente porque pensei que isso não funcionaria que decidi dormir no sofá! Mas sem poder falar isso, me desvencilhei e pensei em fugir.
‘Mas, para onde…’
Me sentei na cama porque estava encurralada, no final. Por acaso, todas as noites eu fazia coisas assim? Queria cavar um túnel entre os travesseiros e me enterrar de vergonha. Pela primeira vez, lamentei ter um tamanho maior agora.
***
No fim das contas, não consegui argumentos para não usar a cama e acabei deitada do lado oposto, quase na beirada. A atmosfera era pesada, e eu estava carregada de preocupações. Era uma noite onde havia um predador e uma presa, como sempre, mas Ahin insistiu que ele não me tocaria, e sim o contrário.
“Vivi, nem pense em tentar me tocar enquanto durmo.”
“Eu não vou!!”
Tendo recebido esse papel de coelha louca, rolei nervosamente para a beirada. Era muito estranho, estava ao mesmo tempo aliviada e frustrada por não estar na forma de coelha. Nem mesmo sabia se ser capaz de falar, no momento, era uma coisa boa.
“Não puxe o meu cobertor.”
Ahin, como sempre, se cobriu completamente, deixando apenas a cara de fora. O olhei com o canto do olho, e mais uma vez, parecia uma lagarta dentro de sua crisálida. Nunca tinha escutado de um predador que era fraco contra o frio.
“Vivi, seus olhos estão arregalados de novo.”
“Eles sempre foram desse jeito. Agora que eu sei como é minha forma humana, já me acostumei.”
Respondi, orgulhosa. Mesmo enquanto Meimi me arrumava, não parei de me olhar no espelho.
“E como você se descreveria?”
“Como eu me descreveria…?”
Não esperava essa pergunta. Virada de costas para Ahin, toquei meu rosto, um pouco envergonhada.
“Bem, o nariz é redondo, e os olhos são grandes, e…”
“Tem certeza que você é uma humana?”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.