A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 3

Os olhos vermelhos estavam brilhando bem na minha frente. Um silêncio ensurdecedor continuou por vários segundos.

Com os olhos entreabertos, Ahin se virou na minha direção e sacudiu a cabeça.

Finalmente me toquei e me enfiei embaixo do travesseiro, cavando um túnel entre ele e as cobertas.

“Você vai sufocar aí dentro.”

Infelizmente, ele levantou o travesseiro e me revelou por completo, de modo que era inútil me esconder de novo. A boca de Ahin, que estava comprimida, formou um sorriso.

“Você vai chorar outra vez?”

Eu não estava chorando naquela hora. Abri a boca para protestar, mas senti um fardo frio no meu coração.

Na verdade, toda vez que me lembrava desse fato, era como se alguém estivesse cutucando meu peito com força.

Era tão doloroso como se eu estivesse engasgada por comer algo depressa demais.

Fazia muito tempo que eu sabia que não tinha o amor de minha família, mas o choque de ter sido completamente abandonada por eles foi maior do que eu pensava.

Ahin, que me olhou, logo falou em voz baixa.

“Você tem medo de ser comida?”

Não era óbvio? Escondendo meus sentimentos de incredulidade, eu balancei a cabeça rapidamente. Olhei para ele implorando por minha vida.

Ahin inclinou a cabeça lentamente. À medida que fazia o movimento, seus cabelos prateados caíam levemente em cima de sua orelha.

“Então, chore mais.”

‘O quê?’

Minha boca se abriu ligeiramente, e fui incapaz de esconder a surpresa em meus olhos.

Tinha visto que ele era obcecado por isso de lágrimas, mas não imaginei que fosse um fetiche.

Infelizmente, não tive outra opção, então me esforcei para derramar lágrimas.

Fiz o meu melhor. No entanto, o problema era que as lágrimas, que geralmente caiam sem problemas, pareciam forçadas a retornar e logo paravam.

Mesmo que eu arranhasse meus olhos com as patas dianteiras, nada resolvia, e eu só conseguia respirar.

Ahin, que estava olhando para mim enquanto fazia meus esforços, logo fez “tch” com a língua.

“Te falta coragem. Eu vou te comer depois de amanhã, então faça o que puder.”

‘O que é que ele está tentando fazer?’

Tinha muitas reclamações a fazer, mas era a vida.

Meu prazo de sobrevivência foi aumentado em um dia. Assim que me senti aliviada, Ahin puxou minhas patas traseiras e as colocou sob as cobertas.

Depois de um tempo, ele falou com uma voz um pouco rouca.

“Fique quieta e não tente mais fugir ou eu vou me irritar.”

‘Tenho certeza que vai.’

Me sentindo ferozmente rebelde por dentro, fechei os olhos. Se eu fizesse essa pantera negra ficar nervosa mais uma vez, acho que realmente iria acabar mordida por aquelas presas.

Eu não pude dormir por várias razões diferentes.

Foi uma longa noite.

***

Assim que amanheceu, Ahin me entregou a uma pessoa e saiu.

Assim como Evelyn, a empregada se referiu a mim como “Senhorita Coelha” e se apresentou como Meimi.

Ela tinha cabelos ruivos curtos e olhos grandes que lhe davam uma sensação de inocência, mas era muito calada para que eu conseguisse obter qualquer informação.

Seja me dar um banho ou um lanche.

Ela apenas desempenhou suas funções em silêncio, sem dizer uma palavra.

Mais do que isso, senti uma estranha sensação de distância entre Meimi e eu. Imaginava que ela deveria pensar que eu era um fardo.

As panteras negras tinham uma aura ameaçadora maior do que os homens-besta coelhos que eu tinha visto até então, e até mesmo essa criada possuía caninos afiados que ficavam brilhando.

Se ela mordesse a minha garganta, morreria imediatamente.

‘O que diabos são essas panteras negras?’

Quando saí do quarto com Meimi pela primeira vez, não consegui evitar ficar boquiaberta. O quarto era luxuoso, mas o tamanho do corredor era algo como eu nunca havia visto antes.

Paredes de mármore e decorações caras, e o teto era alto o suficiente para deixar seus olhos arregalados.

Considerando que Ahin parecia ter um parafuso a menos, pensei que seria um desses homens ricos excêntricos. Achava que ter esse tipo de mansão só seria possível se você fosse um nobre no Território das Panteras Negras. À primeira vista, valia duas vezes mais do que a mansão Labian.

Além disso, descobri que Ahin ocupava a posição de jovem mestre da mansão, a julgar pela declaração de Meimi:

“Convidamos a Senhorita Coelha de acordo com as instruções do jovem mestre.”

Quanto mais eu descobria, mais surpresa ficava.

Gostaria que Meimi pudesse me contar um pouco mais, mas infelizmente ela não abria a boca a menos que precisasse.

Enquanto eu dava um passeio no jardim, hesitei quando vi o portão principal à distância.

Era mais do que suficiente para permitir a passagem de alguém do tamanho de um bebê coelho.

Olhando-o, senti que lembrava a porta de uma gaiola.

Fiquei conflitada entre o desejo de fugir e a ideia de que seria mais seguro estar aqui dentro.

“Então chore mais.”

“Eu vou te comer depois de amanhã, então faça o que puder.”

Quando Ahin, com um sorriso assustador, veio à minha mente, ela ficou em branco. Levantei os olhos um pouco enquanto alternava entre as grades do portão principal e os cavaleiros.

Meimi estava de frente a um cavaleiro que parecia ter alto ranking e conversando com ele.

‘Será que terei outra oportunidade como esta?’

Achava que não. Não tinha como sair do quarto normalmente, pois eu nem mesmo conseguia abrir a porta.

Somente pular da cama ao chão já era um desafio impossível.

‘Bem, preciso fazer o que puder.’

Parece que a minha conversa interna havia chegado ao fim.

Nervosa, eu rapidamente me virei para o portão principal. Em vez de ficar inerte sem fazer nada, não parecia tão ruim ao menos tentar escapar.

<Saiam do caminho de Vivi!>

Em um instante, eu ultrapassei todos os cavaleiros e quase cheguei ao portão…

De repente, uma adaga voou na minha frente, com uma velocidade de arrepiar os cabelos, e ficou presa no chão à minha frente.

‘Argh!‘

Escorreguei e rolei no gramado parando a centímetros de me cortar com a lâmina fincada.

‘Adaga … Adaga… De onde…?’

A lâmina afiada da adaga brilhava sob o sol.

Eu fiquei congelada no chão, e alguém me segurou com cuidado. O dono da mão era ninguém menos que Meimi.

“Senhorita Coelha, é perigoso fora da mansão.”

A adaga continuava cravada no chão e eu olhei para ela e para Meimi alternadamente e fiz bico.

‘Ah, lá fora é perigoso, ok, e o que é essa adaga? Por que uma criada tem tais habilidades em atirar facas?’

Fui levada de volta para a mansão nos braços de Meimi, ainda petrificada. Esse lugar era estranho. Era muito estranho aqui.

***

Quando a noite caiu, Meimi me levou para o quarto de Ahin.

Sentada em uma almofada do sofá, eu estava bastante exausta pelo que tinha acontecido naquele dia, mas não conseguia relaxar. Em pouco tempo, o pantera negra entraria pela porta.

No entanto, ao contrário das expectativas de que logo ele chegaria, a espera foi ficando cada vez mais longa.

Depois de muito tempo, Ahin, que apareceu quando a porta se abriu, parecia cansado.

Enquanto eu esticava o pescoço para enxergá-lo, endureci com o cheiro forte que chegou ao meu nariz. Sem entrar em detalhes, o casaco preto de Ahin estava coberto com o sangue de algum desconhecido.

‘O quê?’

Ao contrário de mim, que estava congelada, ele não parecia ligar e tirou a jaqueta manchada de sangue. Manchas de sangue também estavam espalhadas pela camisa preta que foi revelada.

Depois de um tempo, outro homem-besta vestido de branco entrou no quarto, guiado por Evelyn.

Olhando para a maleta de remédios que trazia em suas mãos, esse homem-besta parecia ser um médico.

“Não é tão profundo, mas precisa ser suturado.”

O médico, após pedir permissão, rasgou a camisa de Ahin com mãos hábeis. Endurecida por completo, eu não tive escolha a não ser assistir o processo com a mente em branco.

Eu nunca vi uma ferida ou tratamento assim antes.

“Tenha cuidado para não deixar a ferida abrir. Eu estarei de volta pela manhã.”

Após enfaixá-lo, o médico saiu do quarto com uma saudação silenciosa.

Ahin, o médico e Evelyn agiam como se fossem velhos conhecidos, considerando que provavelmente já haviam se machucado no passado.

“Isso é obra de um homem-besta do clã dos lobos?”

Evelyn, que pegou a roupa ensanguentada que caiu no chão, perguntou em voz baixa.

“Usaram o feromônio que paralisa o corpo.”

Ahin, que deu um sorriso frio, disse de forma bastante áspera. Observando, pude ver que sangue vermelho foi respingado em todo o cabelo prateado.

“Vou mandar recolherem o corpo em vez de entregá-lo ao chefe do Território dos lobos. É algo relevante para eles, então eles virão pegá-lo.”

“Mandarão cerca de 30 pessoas para cá, provavelmente. Se fizerem isso, não teremos problema mesmo que cortemos o pescoço de um oficial de alto escalão.”

“Espera.”

Os olhos de Ahin, que estava sentado no sofá esfregando os ombros, focaram em mim.

“Oh, ela estava aí.”

Hoje, aqueles olhos vermelhos pareciam ainda mais assustadores e meu corpo tremia. Ainda olhando para mim, Ahin cruzou as pernas de maneira gentil.

“Ele estava invadindo e ameaçando meu clã. Você é alguém que eu trouxe.”

Agora ele estava dizendo isso para mim.

“É assim que funciona, senhor?”

“Isso mesmo.”

Ahin, que lançou um olhar perplexo com as bobagens de Evelyn, inclinou a cabeça para o lado.

Então ele se levantou, aproximou-se lentamente do sofá onde eu estava e sentou-se.

“Venha aqui.”

Hesitei por um momento quando vi a grande mão se estender e então caminhei até a palma.

E subi. Não tive coragem de me rebelar nesta atmosfera.

“Como esperado, ela é muito inteligente para um coelho. Consegue entender o que estou dizendo.”

“Mas a possibilidade de ser uma pessoa é inexistente, meu Lorde.”

“E quanto àqueles que cortei o pescoço na floresta? Quando encontramos este coelho.”

“Nós ordenamos que os corpos fossem recuperados hoje, mas as panteras negras da floresta já tinham os dilacerado.”

Ahin fez “tch” com a língua, e me virou de cabeça pra baixo.

Eu fiquei congelada com meus pés para cima. Ele parecia realmente concentrado no que eu faria.

Enquanto evitava o olhar penetrante, rapidamente juntei meus pés dianteiros e girei o corpo, deitando de barriga pra baixo. Não era tão difícil assim me virar.

Ahin baixou os olhos e acariciou minha cabeça como se estivesse satisfeito com a postura servil que adotei.

“Raciocínio rápido.”

Então, por favor, me ponha sobre a mesa.

Esperando ser colocada de lado. Mordendo meus lábios, eu secretamente dei uma olhadela.

Como esperado, a família de Ahin parecia estar em uma posição bastante elevada no território das Panteras Negras.

Ocorreu-me que as empregadas da minha família sempre reclamavam do conflito entre o clã das panteras negras e o clã dos lobos, e que havia uma guerra.

***

Bem tarde da noite, me levantei com cuidado e olhei para Ahin, que estava deitado.

Talvez fosse por causa do ferimento, mas hoje ele estava expondo as costas largas, não tendo se enrolado.

Talvez ele tivesse sido atacado pelas garras de um lobo? Os meus olhos, que vagavam ao redor, permaneceram nas bandagens manchadas de sangue.

‘Deve doer.’

Ahin agiu como se estivesse acostumado, mas foi cortado e suturado e estava bem mal.

Suas costas estavam cheias de pequenas cicatrizes, à parte dos ferimentos que sofreu hoje.

‘Isso é obra de um homem-besta do clã dos lobos?’

“Usaram o feromônio que paralisa o corpo.”

A imagem residual de mais cedo passou pela minha cabeça. Enquanto olhava para as bandagens manchadas com sangue, de repente o mundo começou a girar.

<O que, o quê!?>

Ahin, que acordou do nada, agarrou meu corpo e o levou para perto de seu nariz.

Por ser carregada repentinamente, lutei, surpresa, quando senti no pescoço um hálito quente.

Ele não tinha decidido me comer de repente, sem aviso… certo!?

Mexi as patas traseiras, desesperada, mas as mãos de Ahin não mostraram nenhum sinal de afrouxamento.

Uma voz grave saiu da boca dele, que ficou com o nariz na minha nuca por alguns segundos.

“Seu pescoço…”

Quando virei minha cabeça, fiquei chocada.

Os olhos vermelhos de Ahin estavam arregalados. Os olhos do inimigo, que estavam sempre afiados, estavam surpresos.

“Cheira a feromônios.”

Tradutora: Nopa.

Revisão: Holic.