A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 29
Os dois homens, que estavam olhando para cima sem expressão, olharam um para o outro. Era um ato muito suspeito. Rune me pegou e passou uma perna pelo parapeito da varanda, como se fosse pular.
“Eles são suspeitos, então vou capturá-los.”
Por que estava falando como se pedisse minha permissão? Ele iria fazer isso de qualquer maneira…
Sem hesitar por um segundo, ele saltou. Por reflexo, fechei os olhos, e quando os reabri, já tínhamos aterrissado em segurança. Na nossa frente, os dois homens, com o rosto pálido, seguravam algum objeto. Eles tinham pele escura, característica que Ahin havia me ensinado indicar o clã das hienas.
Rune me olhou como se perguntasse: “O que faço? Devo nocautear qual dos dois primeiro?”
Faça o que quiser. Queria que isso tudo acabasse antes que alguém precisasse de um médico. Encarei Rune com intensidade. Mesmo nessa situação, esses predadores não tinham nenhum senso comum.
Se eles começassem a usar feromônios aqui, poderia ficar em problemas. Sem saber do perigo de uma eventual transformação, Rune me pôs no chão e puxou a espada em sua cintura. Woosh, ela cruzou o ar.
“Oh, uma espada.”
Só então os dois demonstraram ter notado a presença de Rune, que, surpreso, ficou parado enquanto eles davam um passo para trás.
“O que está acontecendo?”
Os olhos dourados de Rune foram dos homens para Ash, que estava do meu lado.
“Vocês dois, só estão tendo uma conversa?”
“…O quê?”
“Então, por que não me dão isso que estão segurando?”
O homem-besta hiena segurou o objeto com tanta força que parecia que as veias de seu braço iam explodir. Ele olhou para Rune e então para mim, e falou.
“Você cria um coelho de estimação? Que hobby estranho.”
“Quê…?”
“É o que estou vendo. É estranho para quem tenha senso comum, não acha?”
Rune me olhou, aturdido. Fiquei sinalizando para ele com as patas, desesperada.
<Não é hora de perder tempo olhando pra mim!>
O homem-besta hiena aproveitou a distração dele e correu para atacar. A atmosfera de Rune mudou em um segundo. Desviando do punho do homem, ele se posicionou atrás dele e lhe deu um golpe na nuca.
O homem caiu do chão, desmaiado. Os olhos dourados se voltaram para o homem restante.
“Droga!”
Devido ao ataque, percebendo a diferença de força entre eles, o homem tentou fugir correndo.
“Para onde vai? Está com pressa?”
Rune esticou o braço e pegou o homem pelo colarinho. Em vez de continuar tentando fugir, ele levantou o braço de repente.
“Cuidado-!”
Rune, que não conseguiu terminar a frase, deu as costas para o homem para me proteger com o corpo. Escutei o som de algo se rompendo e um pó cinzento voou pelo ar.
<Pó…?>
Não conseguia manter os olhos abertos. Não sabia como estava Rune. De repente, tudo ficou preto. Percebi que um pano havia me coberto, me impedindo de enxergar completamente. O que era isso? Depois de me contorcer e chutar, consegui sair debaixo do tecido preto e o analisei.
<Isso não é uma roupa…?>
Era bem familiar. Definitivamente, era a camisa que Rune estava usando.
<Por que a roupa dele caiu…?>
Assim que senti um calafrio, uma sombra caiu sobre mim. Quando virei minha cabeça, no lugar onde Rune tinha estado, havia um leão com uma juba brilhante olhando para mim. Uma besta selvagem imponente. Sem exagero, sua pata dianteira era maior que o meu corpo inteiro.
<Oh…>
Meus olhos trêmulos passaram por suas garras afiadas e se fixaram na juba. As roupas caídas, o sumiço de Rune, e o leão no lugar onde ele estava.
<Bem…>
Esse predador só poderia ser Rune em sua forma animal. Mas por que ele havia se transformado de repente? Estava entediado? Alguém me responda! Meu coração estava disparado.
O olhar da besta se fixou em mim. O meu, nos caninos que apareceram por seus lábios entreabertos.
<Ai, meu Deus!!>
As pernas dele começaram a se mover. Minha cabeça dava voltas.
***
Ahin, que entrou na pousada, tirou o seu chapéu de seda. Tendo arrumado seu cabelo, um tanto emaranhado, ele olhou para o pôr do sol. Havia visitado vários grêmios de mercadores de Qatar, mas não descobriu nada sobre as drogas. Não sabia se estava procurando nos lugares errados ou se a informação era insuficiente, mas não podia ficar longe da pousada por muito tempo, então havia retornado antes de escurecer.
“Lorde Ahin.”
Ele virou a cabeça para olhar Evelyn enquanto cruzava o jardim, tingido pela luz vermelha. Evelyn levou muito tempo abrindo e fechando a boca.
“…O Lorde vai continuar mantendo a Senhorita Coelha ao seu lado?”
“Por que, de repente?”
“Por enquanto, ninguém sabe que ela é uma mulher-besta. Mas o Lorde sim, e não ia mantê-la como animal de estimação sem um motivo.”
Virando-se completamente, Ahin encarou Evelyn com uma expressão calma. Embora ele estivesse inexpressivo como sempre, havia uma leve preocupação em seu tom. Evelyn realmente não se importava com as outras pessoas, mas, pela primeira vez, a aparição da coelha bebê parecia ter afrouxado os seus limites.
Não era à toa que ele sempre vinha cumprimentar e zombar de Vivi. Ahin, com os olhos curvados, percebeu o que Evelyn estava tentando dizer. Foi um incidente de vida ou morte para Vivi. Além do fato de ter sido perseguida por lobos na mansão, o incidente confirmou que não havia nenhum lugar seguro no Território das Panteras Negras para viver com um corpo de coelho.
Portanto, já que ela não era um animal de estimação, não seria melhor mandá-la de volta ao seu território de origem, onde teria conhecidos e não enfrentaria tantos perigos? – Essa foi a implicação.
“Nesse lugar, os fracos morrem. O Lorde esqueceu?”
Ahin, que estava sem palavras, ergueu os cantos da boca. Os olhos vermelhos criavam uma aparência brilhante, mas ao mesmo tempo perigosa.
“Foi você quem me aconselhou a aproveitar a vida ao máximo.”
Ahin deu uma explicação vaga enquanto colocava o chapéu de seda na cabeça de Evelyn. O secretário tirou o chapéu e franziu a testa. Isso significava que a coelha era útil para Ahin, apesar de não saber de que maneira.
Ahin, que ignorou o silêncio, embora o entendesse claramente, deu um tapinha no próprio queixo.
“Evelyn, estou com Vivi há meses…”
“Sim.”
“E ela ainda parece ter muito medo de mim.”
Era engraçado vê-la lutando para se desvencilhar na forma de coelha, mas foi muito estranho ver a expressão de pavor no seu rosto na forma humana.
“Bem, o que o Lorde fez foi….”
Evelyn relembrou o passado de forma sentimental. Ahin colocando a coelha em um prato sobre a mesa. Ahin entregando a coelha ao chef. Ahin e outros tentando queimar a coelha nas cinzas.
“Tenho certeza de que ela o odeia, meu Lorde.”
“Oh.”
Alcançando a resposta, Ahin assentiu.
“Então, a cara da repulsa de Vivi…”
Era isso que a expressão em seu rosto significava. O leve sorriso que Ahin estava construindo desapareceu completamente. Fazia sentido.
Evelyn calmamente acrescentou.
“O Lorde Ahin é tão inexperiente que ainda confia muito em mim.”
“Isso é uma ilusão.”
“De jeito nenhum.”
“Estou dizendo que é sua imaginação.”
No meio da estranha guerra de nervos, um homem com roupa de funcionário passou por eles. Evelyn, que deixou para trás o homem ocupado, colocou a mão no peito.
“A Senhorita Coelha costuma falar com os olhos. Ela sente um forte carinho por este Evelyn. Dá para sentir pelos seus olhos ardentes.”
“Isso só quer dizer que ela te odeia mais fortemente.”
Wadadada. Um som estranho se aproximou.
Um pequeno animal passou correndo atrás deles, tão rápido que não tiveram chance de identificá-lo. Um grande leão então apareceu indo atrás dele, correndo como o vento, seguido de perto por uma pantera negra.
Ahin murmurou, olhando para as costas dos animais que estavam se perseguindo.
“…Acho que acabei de ver algo estranho.”
“Você viu um filhote de coelho correndo, um leão o perseguindo e uma pantera negra perseguindo o leão?”
“O coelho se parece com Vivi.”
“A pantera negra é semelhante a Ash.”
“E o leão?”
“Eu não sei….”
Talvez eles tivessem uma fazenda nas proximidades… Evelyn pensou isso e estremeceu ao olhar para o grupo de animais, longe o suficiente para parecerem formigas.
Ahin, que o encarou rígido, cerrou o punho e se endireitou. Uma sensação ruim tomou todo seu corpo.
“Por alí!”
“Oh, apresse-se, Lorde! Ficarei aqui o esperando.”
“Vou bater em você!”
Então, um grito foi ouvido e até mesmo os cavaleiros e Restin passaram correndo pela entrada da pousada. Um silêncio pesado cercou Ahin e Evelyn.
As duas figuras que trocaram olhares silenciosos começaram a tremer como se estivessem sincronizados.
***
Assustada, retomei a consciência gradualmente. Correndo sem parar, logo enxerguei as costas do homem-besta hiena a uma distância. Era o homem que fugiu enquanto Rune se transformava em leão.
‘Tenho certeza…’
Assim que o homem pulverizou o pó cinza, Rune se transformou na sua forma animal. Se não tivesse sido forçado, ele não teria escolhido se desumanizar para o combate. A droga que diziam estar relacionada aos feromônios passou pela minha cabeça.
<O que ela faz é forçadamente quebrar a humanização?>
Era possível. Rune tinha o sangue da líder do território dos leões, então os feromônios dele deviam ser de um tipo muito superior aos homens-besta comuns. Não seria fácil influenciar tal pessoa. Após tirar essa conclusão, ainda correndo, virei a cabeça para trás rapidamente, e percebi que não estava sozinha.
<Ack.>
Mecanicamente, fixei meus olhos para frente. O leão estava correndo em minha direção sem que eu percebesse. Oh, meu Deus, Rune em forma de leão era tão terrível que eu poderia desmaiar, não importava o quanto eu pensasse sobre isso. Ele era enorme. Até mesmo Ash, que o seguia, tinha uma expressão de preocupação. Talvez os predadores fossem mais assustadores quando corriam.
O cenário mudou rapidamente. As costas do homem-besta hiena correndo entre os prédios tingidos pela luz vermelha estavam borradas pelos meus olhos enevoados.
Eu estava sem fôlego e as minhas patas doíam. Correndo com rancor da besta invencível, eu me senti encurralada em um sentido diferente do que sentia na mansão Labian.
Presas que podiam ser facilmente vistas a qualquer hora, em qualquer lugar, e garras que podiam me rasgar de uma vez. Cenas sangrentas, cheiro de sangue e cadáveres com o pescoço dilacerado.
<…Vivi está com medo…>
Tudo era demais, tudo era assustador. Minhas palavras, não sendo ouvidas por ninguém, fluíam sem fim. Estava sozinha, correndo no meio de um lugar escuro. E a estrada embaixo dos meus pés parecia que ia quebrar como vidro.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.