A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 26
Um silêncio pesado seguiu. Como eu não havia respondido, Ahin me olhou, sem se mover.
Não conseguia nem respirar, então toquei em mim mesma por reflexo. O cabelo branco e comprido que estava no meu campo de visão e os dedos humanos confirmaram que eu não havia voltado à forma de coelha. No entanto…
‘Como…?’
O fato de que ele me reconheceu imediatamente e falou comigo em uma voz gentil… Várias perguntas surgiram.
‘Como … você…’
Então, escutei uma respiração pesada, e olhei apressada para Ash, cuja cabeça estava em meus braços. Ela respirava como se sentisse muita dor.
‘…Ash!!”
Oh, céus, por favor….!
Mesmo após pressionar o ferimento com as mãos, o sangramento não parava. Sangue escorria por entre meus dedos.
“Se afaste.”
Atrás de mim, senti Ahin se aproximar e uma jaqueta pesada ser colocada sobre meus ombros. Ela tinha o cheiro e o calor de Ahin.
Ahin ajoelhou-se e tocou o corpo de Ash. O pelo negro manchado de sangue se moveu com o toque. A manga de Ahin, que tocou no pelo, também se tingiu de vermelho. O toque dele foi de cima para baixo, examinando o corte na perna e na cintura.
“Os cortes são muito fundos. Ela não vai resistir até que o médico chegue.”
‘Mas…’
O que ele falou eliminou até mesmo minha menor esperança. A voz dele soava calma. Senti uma dor latejante e meus olhos se encheram de lágrimas.
Ash, Ash, não… Incapaz de falar, eu toquei a bochecha de Ash.
Minhas lágrimas caíram sem parar sobre o pelo negro, o manchando. Os olhos entreabertos de Ash pareciam quase sem vida, e suas pálpebras se fechavam devagar. A olhei até que não consegui enxergar mais nada.
‘Ash….’
Nunca tinha perdido ninguém. Toquei no rosto de Ash. Não a conhecia há muito tempo, mas a amava. Não queria me despedir de alguém que me mostrou tanta gentileza e arriscou a vida por mim. Doía como se um pedregulho tivesse esmagado meu peito. Logo depois, a cabeça de Ash desabou.
“Não!!!!”
Gritando, enterrei meu rosto no pescoço de Ash. O calor continuava ali, mas Ash, com os olhos fechados, não se moveu.
“Por favor, Ash, Ash!!!”
Quanto mais emotiva eu ficava, mais difícil era respirar. Talvez por ter chorado tanto, me sentia muito tonta.
“Espere.”
Ahin falou para impedir que eu me desesperasse. Ainda agarrada a Ash, fiz que não com a cabeça.
“Vivi.”
Mais uma vez, Ahin chamou meu nome. Quando virei para olhá-lo, encontrei olhos vermelhos que pareciam um abismo. Ainda encarando, ele estirou a mão na minha direção, o que me fez encolher automaticamente. A mão se aproximou e penteou o cabelo branco para longe de meus olhos.
“Olhe.”
Ahin tocou o ferimento de Ash como se não fosse nada demais. Surpresa, segurei o pulso dele para que parasse, pensando que o corpo deveria ser tratado com cuidado, mas então meus olhos se arregalaram quando escutei o que ele disse em seguida.
“O ferimento sumiu.”
“…Quê!?”
Não podia acreditar que o ferimento tivesse desaparecido. Mesmo nessa situação, ele ainda tem coragem de fazer brincadeiras. Eu o odeio. O encarei com um olhar assassino.
“Isso é absurdo.”
“Então olhe por si mesma.”
Ele segurou meu queixo e me forçou a olhar para Ash. Olhando para o local onde Ahin apontava, não pude acreditar.
“…Hein?”
As manchas de sangue ainda estavam ali, mas as lacerações tinham desaparecido sem deixar vestígios.
“Isso… isso…”
Frustrada, corri a mão pelo pêlo de Ash. Não apenas o ferimento na cintura, mas o corte na perna também havia sumido.
“Como isso aconteceu…?”
Meu olhar alternou entre Ahin e Ash. Ele apenas olhou de volta, sem dar nenhuma explicação. Senti um ar quente quando coloquei a mão na frente do nariz de Ash. Ela estava respirando.
Encarando as circunstâncias impossíveis, coloquei a cabeça próxima ao coração de Ash e grudei a orelha ali. Eram fracos, mas pude escutar batimentos.
“Você está viva….?”
Fiquei tão surpresa que quase parei de chorar. Estava certa que ela estava prestes a morrer…
“Ash.”
Me endireitando, segurei a cabeça de Ash. A escutei roncar. Parecia que estava tirando um cochilo.
“Ash, está dormindo?”
Ela havia desabado como se estivesse morta… Atônita, dei um tapinha em Ash. Ela colocou a língua pra fora, ainda dormindo.
“Ash, Ash!!”
A sacudi, mas não houve resposta. Ela estava mesmo apenas dormindo. A tensão desapareceu e de repente me senti exausta. Olhei para as minhas mãos.
Talvez por ter me humanizado, meus feromônios estavam uma bagunça. Talvez Ash tenha dormido porque sem querer liberei feromônios quando estava gritando.
‘Mas, e o que aconteceu com o ferimento?’
A pele estava intacta, de modo que era difícil de acreditar que ela tinha sido ferida, se não fossem as manchas de sangue para provar.
‘Isso… é possível?’
Olhei para Ahin, que estava examinando as patas traseiras e dianteiras de Ash. Podia ver meu rosto sem nenhuma expressão refletida nos seus olhos vermelhos. Teria sido graças aos poderes de Ahin? Falei baixinho.
“…Ahin.”
Ao me escutar, os olhos de Ahin se arregalaram e se voltaram para mim. Um silêncio seguiu. Me olhando, ele abriu os lábios devagar.
“…Quem é você?”
Ele falou como se eu fosse uma completa estranha. Fiquei chocada com essa forma de agir, como se não me conhecesse. A atmosfera era fria demais para ser uma piada.
“Perguntei o seu nome.”
Ele falou com a voz grave. Ele me chamou de Vivi agora há pouco. Sendo acusada injustamente, eu apertei os lábios.
“Eu…”
Olhei para baixo, mordendo os lábios.
“…sou Vivi…”
Assim que me escutou, ele se virou para a parede. Logo, seus ombros começaram a tremer. O que tinha de errado com ele? Enquanto olhava a estranha reação, meu rosto endureceu.
Ele devia estar rindo da minha cara. Esse pantera negra não conseguia ficar um segundo sem se divertir às minhas custas ou parecer que vai morrer.
‘Essa… besta malvada!’
Enquanto eu ficava brava, de repente Ahin esticou os braços e segurou as bordas da jaqueta. Logo fui puxada para mais perto dele. Enquanto a distância diminuía, prendi a respiração.
“Nós…”
O rosto dele trazia um sorriso largo enquanto segurava a jaqueta azul marinho. Era um rosto tão angelical que parecia pertencer a alguém incapaz de matar um inseto.
“…não temos muita coisa para conversar?”
Em contraste com meus sentimentos complexos, a voz de Ahin parecia muito tranquila. Enquanto os olhos vermelhos cintilavam, um sinal de alerta tocou em minha cabeça. Era claro que ele iria querer me interrogar.
‘Preciso… fugir.’
Precisava me afastar dele, ou minha vida poderia estar em perigo. Além do mais, estar tão próxima a ele sem que eu usasse nenhuma roupa era outro problema.
Assim que tentei me desvencilhar, senti uma vertigem. Os feromônios no meu corpo se agitaram como se estivesse explodindo.
“Vivi!”
Ahin me inclinou para que deitasse no chão, segurando meu tronco nos braços. Ele segurou meu queixo e forçou a minha boca a se abrir.
“Não pare de respirar.”
Enquanto eu inalava, sentia que meu corpo parecia queimar. Comecei a suar. Não podia enxergar direito, mas uma voz grave soou próxima ao meu ouvido.
“Seu corpo ainda não consegue lidar com os próprios feromônios.”
Na minha visão turva, vi olhos vermelhos brilhando.
“Vá se acostumando com calma.”
Mesmo mal conseguindo me manter consciente, tentei focar minha energia. Os feromônios estavam correndo por toda parte. Tentei concentrá-los num único ponto, mas era como tentar agarrar água, e logo eles caiam por entre meus dedos. Quando viu que eu não estava melhorando, Ahin, me olhando de cima, falou.
“Posso te ajudar?”
Queria obter ajuda. Estava tão cansada que podia morrer. Pisquei com a visão enevoada. Mas então, me arrepiei do nada. Era meu instinto animal pressentindo perigo. Com dificuldade, murmurei.
“Não… não precisa me ajudar… eu consigo…”
Tenho um mau pressentimento sobre essa ajuda. Consegui esticar o braço e empurrar o rosto de Ahin para o outro lado. Ele começou a rir.
“Se eu ajudasse, você sentiria menos dor.”
A vontade de ajudar de Ahin não era nem um pouco confiável. Tentei empurrar o rosto dele de novo, mas cabelos prateados fizeram cócegas em minha bochecha. E logo, ele enterrou as presas no meu pescoço.
“Ah!”
Um calafrio percorreu meu corpo. Ao mesmo tempo, os feromônios dele começaram a fluir. Os dois feromônios se misturaram e me senti tonta como se estivesse bêbada.
“Respire, respire.”
Ahin, removendo os dentes de meu pescoço, alisou minhas costas. Quando inalei, senti algo quente na garganta outra vez. Não podia afastar a ansiedade de que estava prestes a ser devorada por um predador. Tentei me desvencilhar com dificuldade, mas as presas me perseguiam.
Depois de um tempo, os feromônios se estabilizaram e respirar ficou mais fácil. A vontade de vomitar desapareceu e a dor também se acalmou.
Era como se os feromônios de Ahin, que foram absorvidos por meu corpo, estivessem forçando os outros feromônios a se submeterem.
“Ufa…”
Um suspiro de alívio saiu. Após ficar mais confortável, me espreguicei, recuperando o fôlego. Então, os olhos de Ahin, que ainda estavam no meu pescoço, se moveram para a porta. Ele tinha uma expressão irritada.
‘…Por quê?’
Olhei na mesma direção. E logo…
BAM!
Alguém bateu na porta com tanta força que pensei que ela iria quebrar.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.