A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 25
O dia em que Ahin havia encontrado Vivi foi o mesmo dia no qual uma ameaça à sua vida foi entregue pelo clã dos lobos. Não importava o quão agressivos nas invasões territoriais eles haviam sido, isso já era demais.
Entrar na floresta próxima à fronteira com o território das lebres havia sido fácil, e logo ele encontrou dúzias de homens-besta lobos tentando emboscá-lo. Não foi difícil transformar todos eles em cadáveres em questão de segundos. No meio da pilha de corpos, Ahin olhou ao seu redor.
‘Onde está Evelyn…’
Seus pensamentos estavam cheios de irritação. Evelyn, que se auto-intitulava “um mero secretário”, evitava ao máximo se envolver nas lutas. Assim que o primeiro homem-besta lobo apareceu, ele havia evaporado.
“Lorde Ahin, estarei rezando para que se mantenha seguro”
Após dizer isso, ele saiu correndo. Às vezes, Ahin suspeitava que Evelyn tinha uma centena de pescoços sobrando. Ele havia então usado essa raiva contra os lobos.
“Vamos acabar com isso de uma vez. Quem é que completa a maioridade e não consegue tomar a forma humana, afinal?”
Ahin escutou alguém falando nas proximidades. O ar estava pesado. Ash e as outras panteras que o acompanhavam começaram a rosnar baixinho. Ahin, que estirou a mão para sinalizar que fizessem silêncio, começou a seguir os homens, ficando a uma certa distância.
“Ei, não estamos chegando perto demais da fronteira?”
Quanto mais ele se aproximava, mais claras ficavam as vozes.
“Temos que deixá-la mais adentro ou podem surgir problemas. Fomos ordenados a deixá-la morrer na mão das panteras negras.”
Aparentemente, alguém queria morrer nas mãos dele. Se era o que desejavam, ele não teria misericórdia. Ahin, sorrindo, puxou a espada de sua cintura. O som da fricção do metal contra a bainha ressoou.
“O que foi esse barulho!?”
O homem-besta, percebendo sua presença, perguntou. No momento seguinte, a lâmina apareceu perante seus olhos.
“Argh!”
“Ugh!”
O pescoço dos dois homens-besta lebres, que não tinham conseguido oferecer qualquer resistência, foi cortado. Os olhos vermelhos de Ahin, da mesma cor que o sangue em sua espada, se voltaram para uma cesta no chão.
Era pequena demais para conter um ser vivo. Nem mesmo uma pantera negra recém-nascida caberia ali. No entanto, Ahin sentiu um cheiro curioso vindo da cesta.
Suas sobrancelhas se ergueram. O que seria aquilo? Ao levantar a tampa da cesta com a ponta da espada, ele viu uma coelha bebê enrolada em forma de bola, tampando os olhos com as patas dianteiras.
“Um coelho filhote?”
Era tão pequena que poderia ser engolida por qualquer pantera negra selvagem que vivesse na floresta sem nem mesmo mastigar. Além disso, ela estava produzindo feromônios que Ahin nunca tinha sentido antes.
“Ash, se afaste.”
Quando viu Ash, que havia se aproximado lambendo os beiços, Ahin acenou para que ela se afastasse. Desviando o olhar da coelha para os homens mortos, ele pensou que seria bom interrogá-los para saber mais sobre o animalzinho. Como já era impossível, ele fez “tsk” com a língua.
Quando pegou a coelha pela pele do pescoço com a mão que não segurava a espada, o animal começou a chutar o ar, parecendo apavorado.
‘Deveria matá-lo?… Talvez não.’
Ahin, observando de perto, deu um sorriso seco. Era muito bonitinha. A coelha se contorcendo desesperada para escapar era divertida.
“Você está chorando?”
Talvez porque havia sentido que sua vida estava ameaçada, seu pelo branco estava molhado pelas lágrimas. Ahin, sentindo algo diferente, lambeu os lábios. O cheiro daquelas lágrimas parecia delicioso. Quanto mais ela chorava, mais os feromônios no ar, que no início eram sutis, ficavam mais fortes.
“Chore mais.”
Fazendo o contrário do que ele havia dito, a coelha se petrificou. Ela abriu a boca e depois desmaiou. Era como assistir um show de uma coelha só.
‘Vou mantê-la viva por enquanto.’
Como foi abandonada na floresta que pertencia a família Grace, isso queria dizer que ela pertencia a ele agora. Os passos de Ahin, que havia colocado a coelha dentro de seu bolso, soavam satisfeitos.
***
Um cheiro pungente dominava a floresta. O número de cabeças de homens-besta lobos empilhadas crescia. Ahin, ainda golpeando com a espada, ouviu Evelyn gritar.
“Senhorita Ash!”
Ele não escutava Evelyn gritando fazia muito tempo. Quando se virou por reflexo, a porta da carruagem se abriu e a pantera negra saltou para fora. Os cavaleiros que estavam dentro saltaram, e Evelyn, puxando a própria espada, se aproximou de Ahin.
“Evelyn?”
Ahin não compreendeu. Os olhos vermelhos seguiam o local onde Ash havia desaparecido. Um dos homens-lobo aproveitou para erguer sua espada.
“Argh!!”
Ahin, girando o corpo, cortou o pescoço do homem rapidamente.
“A Senhorita Ash, do nada, pulou para fora da carruagem segurando a Senhorita Coelha na boca!”
Evelyn, que se aproximou, explicou com uma expressão perplexa. Logo, os homens lobo começaram a rodear os dois, tentando cercá-los. Ahin, apontando a espada para eles, perguntou.
“Por que ela fez isso?”
“Não tenho ideia. Uma flecha quebrou a janela e entrou na carruagem, talvez ela tenha se assustado?”
A janela quebrou? Ahin começou a sorrir após ouvir a explicação de Evelyn. Após chutar um dos lobos que se aproximou, Ahin se voltou para a direção por onde Ash tinha desaparecido.
“Evelyn, limpe o que restou. Vou atrás de Ash.”
“Eu, sozinho?! É impossível, meu Lorde.”
“Não, você consegue.”
“…Se eu ficar em perigo, voltará para me ajudar?”
“Bem… Se vira.”
Ahin sorriu ao contragolpear outro lobo. Seu cabelo prateado voou quando ele jogou o homem para longe e saiu correndo.
Logo ele alcançou os cavaleiros que haviam ido atrás de Ash. Eles arregalaram os olhos quando viram Ahin se aproximar.
“Lorde Ahin?!”
“Voltem e vão ajudar a Evelyn.”
Os cavaleiros, se entreolhando, entenderam a ordem e começaram a retornar ao local onde estava a carruagem. Como haviam restado poucos homens-besta lobos vivos, deveria ser fácil acabar com eles.
Ahin, continuando a correr, franziu a testa. Ash havia ido mais longe do que ele imaginaria. Olhando ao redor, ele farejou o ar. A brisa carregou um aroma peculiar. Os feromônios que ele havia injetado em Vivi indicavam a direção.
Ele apertou os lábios enquanto corria na direção dos feromônios. A voz do homem-besta lebre que ele havia matado na fronteira ecoou em sua cabeça.
“A-a coelha, ela é um homem-besta.”
No momento em que ele a encontrou, Vivi tinha feromônios muito fracos, que só podiam ser sentidos por aqueles com sentidos muito aguçados.
“Ela já tem dezoito anos.”
No entanto, com o passar do tempo, os feromônios de Vivi haviam se tornado cada vez mais fortes. Fortes demais para alguém que nunca tinha se humanizado.
Já tinham sido quatro vezes. O número de vezes em que coisas curiosas haviam acontecido. A primeira vez foi no dia em que Ahin colocou seus feromônios para encobrir o cheiro de Rune. Ele estava descontente com o fato de que ela trazia o cheiro do leão em si, então a cobriu completamente com seus próprios feromônios. Depois disso, estranhamente, Vivi havia desmaiado e ele próprio dormiu profundamente.
A segunda foi no dia do baile. Os feromônios de atração vulgares daquela mulher-besta raposa. Vivi de repente havia saído correndo do salão e desapareceu. Era incomum que ela se comportasse daquela forma. Além disso, Vivi, que costumava se fingir de morta quando via um predador do qual tinha medo, naquele dia, havia erguido a pata conforme o sinal de emergência que eles haviam criado. Essa situação aumentou as suspeitas de Ahin.
A terceira foi no dia em que ele havia mordido o pescoço de Vivi, que estava mais desesperada que o normal. De algum modo, ela parecia não querer receber os feromônios de jeito nenhum. Para descobrir o porquê, Ahin havia colocado tantos feromônios quanto pôde para ver o que acontecia, mas havia dormido profundamente logo depois. E, quando acordou, Vivi, que tinha medo de olhar até mesmo para os caninos da Ash, estava dormindo aninhada no meio de suas patas.
“…Ela é uma aberração que mesmo após completar a maioridade, não passou pelo processo de humanização.”
Quando o caminho terminou e ele se viu perante um matagal, Ahin lambeu os lábios. Como imaginou, Ash havia procurado o local mais deserto possível.
‘…Isso é irritante.’
A quarta situação era a de agora. Ele moveu os pés enquanto cortava o mato alto e os galhos com sua espada. Ash havia saltado da carruagem após a janela quebrar, carregando Vivi. O ar estava cheio de feromônios dele e dos homens-besta lobos devido à batalha.
Todos esses eventos tinham em comum os feromônios. Para ser mais exato, Vivi absorvendo feromônios de outras pessoas.
Uma barraca. A testa de Ahin se franziu. O que parecia um depósito abandonado, caindo aos pedaços, estava no meio do mato. O cheiro de sangue estava no ar. Além dos feromônios dele próprio, absorvidos por Vivi, também podia sentir outros desconhecidos misturados. Imaginando o pior, ele correu mais rápido.
Assim que cruzou a porta velha, a sola de seu sapato encostou em uma poça de sangue. Dois corpos estavam no chão, os pescoços destroçados por algum animal feroz. Os olhos vermelhos de Ahin caminharam até o centro da barraca. E ele parou de respirar por um momento enquanto a mão que segurava a espada a apertou com força.
‘Uma garota…?’
Uma mulher que ele nunca tinha visto antes estava sentada com Ash em seus braços. O cabelo dela, branco e extremamente comprido, cobria seu corpo, que, não fosse por isso, estaria completamente desnudo.
Os olhos de Ahin, que estavam nos pés descalços da mulher, foram para seu rosto. Os olhos, violeta claro, estavam tremendo.
Ahin, determinado a conseguir um médico o quanto antes, olhou para fora. A vegetação balançou com o vento. Não havia nenhum sinal de Evelyn ou dos cavaleiros, ou dos homens-besta lobos. Fechando a porta, ele inclinou a cabeça e olhou novamente para a mulher. Alternou entre seu rosto pálido, cabelo branco e olhos com lágrimas.
Ali na barraca, no meio de todos os feromônios misturados, o cheiro que ele havia injetado em Vivi tanto quando tinha sido possível emanava daquela mulher. Ahin fechou os olhos devagar e os reabriu.
“…Vivi.”
Não seria possível que ele não a reconhecesse.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.