A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 22
Eu flutuava no ar, em meio a nuvens brancas e passáros. O sentimento de voar era tão realista… Mas enquanto desbravava o céu com as patas dianteiras, de repente, ele ficou negro, e ressoou um trovão, que se parecia estranhamente com a voz de Ahin… Mas era dificil de entender…
“Vivi, se não acordar nesse instante, vou te comer.”
Mas o quê?! Abri os olhos quando recebi esse terrível aviso. Em minha visão enevoada, vi algo vermelho… Logo reconheci como sendo os olhos de Ahin, a centímetros do meu rosto.
<Argh!!>
Não podia acreditar que logo que acordei, a primeira coisa que vi foi o olho de um predador. Comecei a chutar com as patas traseiras as mãos que me seguravam, mas era inútil.
Ahin, rindo de mim, me colocou na cama. Tentei correr imediatamente, mas infelizmente, ele havia segurado minhas patas traseiras.
“Por que dormiu no chão?”
Com essa pergunta, congelei. Olhei para Ash, que, deitada no tapete, estava olhando para o outro lado.
“Ash te tirou da cama?”
Eu tinha saído com minhas próprias pernas… Mas não podia responder, então olhei para Ahin com cautela. O quanto ele sabia sobre o efeito dos próprios feromônios? Pela cara dele, não parecia saber o que tinha acontecido na noite passada.
Sem reagir, só fiquei olhando para o colchão. Ahin, batendo o dedo na coberta, impaciente, falou.
“Me responda.”
Não tendo escolha, apontei para Ash e assenti com a cabeça. Sinto muito, Ash, mas precisava te incriminar dessa vez.
“Mesmo?”
Ahin perguntou sem emoção.
“Nesse caso, vou ter que puni-la.”
Ele vai puni-la por isso?! Olhei para Ahin apressadamente. Ele tinha um sorriso maligno no rosto.
Olhando esse sorriso, me lembrei da história que havia escutado das criadas sobre como aquele que desobedecesse seu mestre no território das panteras negras teria sua garganta cortada.
<Espere!!>
“Ash vai ter que dormir no quarto de Evelyn a partir de hoje.”
Ufa. Ainda assim, era uma punição injusta.
“Ash.”
Com o chamado de Ahin, a pantera, que não entendia o significado das palavras ditas, se aproximou abanando a cauda.
<Ash, não é hora pra ficar feliz!>
Ter que dormir com Evelyn era cruel demais para ela. Senti pena de Ash e minha expressão ficou decaída.
Decidi tentar segurar o dedo de Ahin e implorar para que reconsiderasse, como já tinha feito no passado, mas quando me virei para ele, tive que tapar os olhos com as patas.
<Oh!>
A razão foi porque ele estava um pouco mais bagunçado que o normal. O problema era o seu roupão de seda. Ele tinha escorregado para baixo e a maior parte do seu torso estava de fora. Essa besta devia ter esquecido o fato de que coelhos também podem ser animais perigosos.
“Oh, você gostou disso? Desculpe por não ter percebido até agora.”
<Não!>
“Quer que eu tire o outro lado também?”
Qualquer um que ouvisse perceberia que ele estava se divertindo às minhas custas. Um som de batida na porta soou pelo quarto.
“Abra os olhos.”
De jeito nenhum que eu ia abrir. Sentia que faria mal ao meu coração. Meu corpo foi levantado no ar, mas mantive os olhos fechados, apesar dos repetidos sussurros do demônio me tentando – “Vivi, Vivi”.
Após ser segurada, acabei ficando com curiosidade. Depois de ter meu nome chamado mais vezes, acabei abrindo os olhos. E bem na minha frente…
“Senhorita Coelha, Ahhh~”
Com a boca tão aberta que dava para enxergar sua garganta, estava Evelyn, bem na minha frente. Eu nem sabia que ele tinha entrado.
<Argh!>
Fiquei tão assustada que chutei Evelyn no olho. Foi uma manhã esplêndida.
***
Num jardim pacífico, com uma bela paisagem e uma ponte sob um lago, a mãe de Vivi, Aven Labian, estava tomando seu chá da tarde, relaxada com sua xícara na mão.
Era um lugar entediante, pois não havia ninguém com quem ela pudesse se gabar. Por isso, desta vez, tinha convidado outras esposas nobres para a presente reunião.
“Escutei falar que a família Grace organizou um baile faz poucos dias.”
A mão de Aven, que estava segurando a xícara, estremeceu quando o assunto passou a girar em torno do clã dos panteras negras.
O território dos panteras negras era um dos assuntos mais desagradáveis para ela no momento. Ela já tinha enviado cavaleiros para a floresta perto da fronteira três vezes, mas nenhum deles havia retornado para relatar o que viu.
Essa fronteira era tão perigosa assim? No entanto, até então, muitos homens-besta lebres cruzavam a fronteira por ali e retornavam em segurança.
“Mas escutei um rumor estranho sobre o baile.”
De muitas maneiras, espalhar rumores era uma arma usada pelos nobres para aumentar suas posições. A esposa que falou sobre o assunto, Jeanne, sentiu que os olhos de Aven estavam grudados nela.
“Parece que o sucessor da família Grace gosta muito de animais de estimação. Ele levou seu pet como parceiro no baile.”
“Oh, céus! Levou o pet para o salão de bailes?”
“Sim, escutei diretamente de uma pessoa que compareceu. Sabia que era uma família cruel, mas também parecem ter hobbies estranhos.”
Aven pensou que poderia ser um falso rumor, mas também sabia que muitos nobres tinham preferências excêntricas.
“Já que ele é um homem-besta pantera negra, o pet era uma pantera?”
“Bem, nesse ponto a história ficou estranha, mas… Não era uma pantera, e sim um coelho bebê. Parece que até mesmo a líder da família Grace elogiou o animalzinho.”
Nesse momento, Aven deixou sua xícara cair no chão, causando um pequeno alvoroço. Seu rosto estava pálido. Jeanne olhou para ela, ansiosa.
“Oh, Lady Labian, está bem?”
“Escorregou de minhas mãos… Peço perdão pela confusão.”
Criados com panos se aproximaram correndo. Felizmente, o vestido não havia se molhado muito, então o processo foi rápido. A atmosfera voltou ao normal assim que os pedaços de porcelana e líquido haviam sido limpos.
“Mudando de assunto, escutaram que o segundo filho da família Polton vai se casar?”
O tópico sobre panteras negras acabou e novas fofocas começaram a ser discutidas. Aparentemente muito esforço havia sido feito nos convites para a cerimônia, o que fez as esposas conversarem alegremente. Aven manteve um sorriso desconfortável enquanto mexia as mãos por debaixo da mesa.
***
A fonte sobre as quais as suspeitas recaiam era o território dos lobos.
Drogas estavam sendo vendidas em vários territórios. A região fronteiriça entre os territórios das panteras negras, leões e lobos estava muito prejudicada por isso.
Durante as reuniões entre os clãs das panteras negras e dos leões, o assunto era discutido com frequência. A aliança estava forte, e os dois clãs estavam tentando resolver juntos o problema.
Rune, sentado na mesa, olhou para Ahin, que parecia ainda mais estranho do que o habitual. Era como se ele só estivesse ali por ser obrigado.
Estava se balançando na cadeira como se não estivesse lá. Do início ao fim da reunião, ele ficou olhando para o nada com os olhos vidrados.
Desde que Rune podia se lembrar, Ahin deixava bem claro quando estava de mau humor ou irritado, e por isso, não apenas os membros do clã das panteras mas também os dos leões fingiram não percebê-lo de propósito, evitando contato visual com ele.
“Essas drogas são um tipo de feromônio que é único a machos, e causa vício. Se for usado muitas vezes, leva à morte.”
“Obtivemos algumas informações dos cavaleiros guardando a fronteira.”
Vendo que a reunião fluia bem, Rune olhou para Evelyn, de pé ao lado de Ahin. Ele também parecia mais estranho do que o normal hoje, com seu rosto marcado por uma grande marca avermelhada, por alguma razão. Rune, notando que os olhos dele estavam inchados, sussurrou.
“O que aconteceu com seus olhos?”
“Fui golpeado por uma lutadora.”
Rune tinha pensado que o culpado era Ahin, mas, inesperadamente, a resposta dada em tom sério indicava que ele havia lutado com alguém e perdido. Rune, também em tom sério, perguntou.
“…Uma lutadora?”
“Ela é invencível, e ainda por cima não para de treinar esses dias.”
“É alguém famoso?”
“É uma mestra que poucos conhecem.”
Ele tinha enfrentado alguém assim? A técnica dessa pessoa devia ser poderosa, considerando que a região do inchaço era muito pequena, indicando um golpe preciso.
Rune voltou a olhar para Ahin. Ele continuava sem expressão, sem nem mesmo usar seu sorriso falso habitual.
Como se para distrair sua atenção, Evelyn, que se moveu rapidamente, saiu do lado de Ahin para se posicionar atrás da cadeira de Rune.
“Senhor Evelyn, o que está fazendo?”
O secretário de Rune, que tinha sido empurrado de sua posição, perguntou com raiva.
“Às vezes, é necessário sair do caminho para sobreviver”
“Estamos no meio de uma reunião. Não é hora para brincadeiras.”
Ele empurrou Evelyn com o ombro, que sussurrou.
“Senhor Restin, eu nunca brinco. Minha vida está realmente ameaçada neste momento.”
“Ameaçada…?”
Depois de ouvir o sussurro, o secretário de Rune olhou para Ahin.
Provavelmente Ahin não devia estar de bom humor, julgando por sua expressão. Se Evelyn cometesse algum erro, não seria surpreendente se ele puxasse a espada no ato.
Mas o secretário de Rune, que não entendia isso, estava chateado. Ele bateu o ombro contra Evelyn.
“Não fique tão perto, está encostando em mim. É desagradável.”
“Não, Senhor Restin. Como pode dizer coisas tão cruéis quando minha vida está em jogo?”
“Você é alguém que só pensa no “hoje”, de qualquer modo.”
“Está enganado. Eu sou um homem-besta que sempre planeja ver o nascer do sol do dia seguinte~”
A resposta sem emoção dele fez com o que o secretário de Rune estremecesse. Mas então ele parou, e não foi porque Evelyn ganhou a briga.
“Lorde Manionz.”
Os dois homens-besta, que estavam lutando com os ombros, firmaram uma trégua quando uma voz grave ressoou. Ahin, ainda estirado em sua cadeira, chamou Rune. Os lábios que não tinham se movido durante toda a reunião de abriram.
“…Durante o baile,”
Quando Ahin fez uma pausa, um estranho silêncio se seguiu. Rune se endireitou em sua cadeira, nervoso. Ahin, que abriu a boca novamente, perguntou, falando devagar.
“…Aconteceu algo de diferente?”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.