A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 18
A luz vinda do corredor entrou na sala.
Ahin, segurando a maçaneta, estava encostado na porta, com os braços cruzados. A cabeça dele estava inclinada, como a de um cachorro, observando.
<Ahin.>
Enquanto ele olhava com uma expressão confusa, me perguntei se me reconheceu. No momento em que Ahin encarou Rune, abriu a boca.
“Evelyn, traga minha espada.”
A voz grave quebrou o silêncio. Já que ele estava usando um terno de gala, a espada que ele costumava embanhar na cintura não estava ali.
Evelyn, que havia se virado, sacudiu a cabeça.
“Não pode, meu Lorde. Ele é o filho da líder do clã dos leões.”
“Não é tarde demais para dizer que eu o cortei por acidente.”
“É tarde demais.”
“Então eu o corto duas vezes.”
“Nem mesmo uma vez, meu Lorde.”
Rune também era filho de uma líder de clã? E a busca de Ahin por sua espada era tão problemática quanto às respostas de Evelyn.
O cabelo rosa de Rune continuava voltado para a porta, a qual ele encarava com os olhos tremendo.
“Isso vai servir.”
De repente, Ahin agarrou a espada de um soldado que passava pelo corredor e se aproximou.
“Lorde Manionz, está se divertindo aí?”
A espada faiscou ao ser apontada para Rune.
“Lorde Grace?”
“Quer dizer que veio aqui para roubar o que me pertence?”
Falando agressivamente, seus olhos vermelhos contraídos eram assustadores.
Quando Rune escutou a palavra “roubar”, olhou para mim sem expressão. Nesse momento, seus olhos dourados se arregalaram tanto que pensei que iam cair.
“N-não, espera.”
Ele gaguejou várias vezes como se estivesse envergonhado.
“Tentativa de sequestro já é um grave crime por si só.”
Novamente, a voz fria de Ahin ressoou. Talvez para tentar apaziguar a atmosfera brutal, Evelyn entrou na sala, apontando para a tolha de mesa na qual eu estava enrolada.
“Lorde Manionz, não pensa que pode esconder a Senhorita Coelha que sequestrou com um mero pedaço de pano, certo?”
<Que sequestro?>
Rune, ainda parecendo muito confuso, me segurou. Fui erguida na mão dele e, ao me contorcer, vi uma pata branca como algodão que era muito familiar.
<E-eu voltei a forma de coelha…!?>
Quando? Como? Frustrada, fiquei encarando minhas patas.
Foi por isso que todos pareciam tão grandes, de repente.
Essa é a minha pata, certo? Quando estiquei as duas só pra ter certeza, Rune piscou como se estivesse esgotado. Ele não parecia ter percebido que eu tinha voltado a ser coelha até olhar para trás.
“Mas que demônios aconteceu!? Há um minuto atrás…”
<Espera, não!>
Quando Rune continuou falando sem parar, o chutei na boca para que se calasse.
“Ugh!”
Rune grunhiu de dor ao ser acertado nos lábios.
“O que está fazendo- Argh!”
Mais uma vez ele não pôde continuar a frase por outro golpe – desse ele conseguiu desviar, se contorcendo.
<Apenas pare de falar!>
Para começar, ele deveria manter o que viu aqui em segredo. Eu o olhei nos olhos, enviando mensagens ameaçadoras. O leão poderia ficar bem, mas a minha vida ficaria em perigo se descobrissem que eu me transformei em humana.
“Mais uma vez, você foi atrás de Vivi.”
Ahin, que se aproximou antes que eu percebesse, havia encostado a espada no pescoço de Rune. Os olhos vermelhos estavam franzidos, e seu rosto tinha um sorriso que lembrava um demônio. Eu fiquei paralisada de medo.
“Então, agora os filhos das chefes de outros clãs vem aqui roubar no meu território?”
Ahin me pegou da mão de Rune. Sem reação, Rune apenas olhou para ele.
“Confesse que veio sequestrar a coelha. Seu plano era levá-la embora escondida nessa toalha.”
“Como isso poderia acontecer…!”
De repente, começou um alvoroço do lado de fora da porta, e eu e Rune viramos a cabeça ao mesmo tempo. Uma horda de empregados da mansão estava ali, lançando olhares assassinos. Evelyn tinha os braços cruzados.
Até mesmo Meimi estava ali, com seu rosto inexpressivo ligeiramente franzido e a mão no bolso do avental. Devia ser ali que ela guardava suas adagas.
Senti pena de Rune, que foi tachado de sequestrador de coelhos. Olhando para ele, que tinha uma cara como se o mundo estivesse contra ele, escolhi apenas olhar para longe.
***
Só uma hora depois Rune foi liberado, após explicar várias vezes que “havia entrado na sala e visto a coelha, com a toalha de mesa caída em cima, e estava apenas tentando levá-la de volta ao salão de bailes.”
‘Devo estar louco…’
Rune andou pelo salão, parecendo esgotado. Nos seus olhos de peixe-morto havia uma centelha de ter sido injustiçado. Não esperava ser acusado de sequestro de coelhos.
A coelha havia feito muito sucesso entre as panteras. A atmosfera era tranquila, mas ele pôde sentir que Valence Grace direcionava palavras e gestos carinhosos à coelha.
Rune, que parou de andar, mordeu os lábios. Essa coelha bebê era muito poderosa.
‘Se isso acontecer de novo, é capaz de realmente me matarem.’
O cabelo ondulado dele estava despenteado. Lembrando do incidente, ele se recordou do odor de pantera negra que havia sentido na mulher.
Ela estava coberta com feromônios como se tivessem sido colocados para marcar território de uma forma obsessiva. Ele se perguntou se o pantera negro arrogante havia se apaixonado, mas a atitude dele em relação à coelha parecia mais de um dono em relação a seu pet.
Além disso, a coelha era uma mulher-besta, e aparentemente estava mudando entre as formas humana e animal sem que ninguém soubesse, e parecia que queria que ele guardasse o seu segredo.
‘É possível… que Grace não saiba que ela é uma mulher-besta?’
Aquele pantera tão astuto? Por mais que pensasse, essa hipótese não fazia sentido. E se ele não sabia, porque a enterrou em feromônios?
Além disso, homens-besta, após passarem por sua humanização, não conseguiam ficar mais que a metade de um dia em suas formas verdadeiras. Então era estranho que a coelha, que tinha virado um ser humano, conseguisse manter sua aparência animal por tanto tempo. Se houvesse algo tão suspeito assim, não deveriam ter desconfiado logo?
‘O que mais ela está escondendo….?’
Antes dos ataques do clã dos lobos começarem e a coelha aparecer, a aliança entre as panteras e leões era definitiva. Agora, começaram a surgir perguntas.
Rune colocou as mãos nos bolsos. Apesar da pequena comoção, o baile havia terminado com sucesso. Mas ele não estava tranquilo. Engoliu em seco.
***
Assim que Ahin me carregou até o quarto, me joguei no sofá, exausta. Minha vontade era de chorar.
Evelyn estava ali, olhando com atenção. Era difícil manter a calma naquele momento. O que havia sido tudo aquilo? O comportamento dessas panteras negras era imprevisível.
Ahin me encarou e ordenou.
“Evelyn, passe uma mensagem minha para Vivi.”
“Pois não, Lorde.”
<Eu estou escutando, não há necessidade disso.>
Me lembrando do momento em que tentei falar com Rune, fiz esforço para vocalizar. Obviamente, ao contrário daquele momento, nenhuma voz saiu.
“Vivi, estou desapontado com você.”
‘Mas que diabos ele está dizendo?’
Eu havia saído correndo do salão de baile após começar a sentir aquela dor. Do ponto de vista de Ahin, talvez eu tivesse tentando fugir da mansão. Me sentia culpada, mas mesmo agora, continuava achando que correr foi a melhor escolha naquele momento.
“Diga a ela que estou desapontado.”
“Senhorita Coelha, o Lorde Ahin te odeia.”
A voz solene de Evelyn ressoou enquanto ele cumpria sua tarefa. Evelyn, se vai passar a mensagem, ao menos faça direito.
“Como pôde deixar seu acompanhante de baile e tentar fugir com um leão?”
“Por acaso a Senhorita Coelha prefere leões à panteras?”
Ele não estava nem mesmo tentando transmitir a mensagem. Ahin, que se levantou, olhou para Evelyn.
“Fale direito.”
“Senhorita Coelha, por favor fale de uma vez. Leão ou pantera?”
“Estou dizendo isso pra você, Evelyn.”
“Perdão, meu Lorde.”
Sem nenhum traço de arrependimento, Evelyn recuou. Me pergunto como o pescoço dele ainda estava grudado nos ombros ao lado de alguém como Ahin.
“Se manda.”
Eventualmente, Ahin tocou a espada embainhada, e Evelyn desapareceu do quarto tão rápido que me perguntei se havia se teletransportado.
Fiquei olhando para a porta, que havia se fechado sem nenhum som, e de repente fiquei petrificada. Apesar de dormir na cama dele todas as noites, a tensão surgiu uma vez que eu e Ahin estávamos a sós. Além disso, hoje eu havia arrumado um novo segredo que não podia contar a ele.
‘Como me humanizei…?’
Em frente a essa pergunta, a única resposta eram feromônios. Tinha acontecido com Ahin, quando me mordeu, e com aquela mulher-besta raposa. Em ambas as vezes, após receber os feromônios de outra pessoa de perto, a minha aparência havia mudado após sentir muita dor.
“Vivi.”
Quando levantei a cabeça após ouvir meu nome, Ahin, sentado no sofá, estava me olhando.
“Onde está a coroa que estava usando mais cedo?”
Só então percebi que o peso sob minha cabeça havia sumido, e fiquei arrasada. Mas era impossível que a coroa ficasse no lugar quando um coelho bebê se transforma em um humano e volta. A imagem de Wolfes, aplaudindo, e de Meimi, com seu rosto inexpressivo quase esboçando um sorriso, apareceu em minha mente.
“Bem, não importa.”
Com um sorriso, Ahin abaixou as mãos e me pegou no sofá. Apesar de ter diminuído a quantidade de vezes que me segurava rudemente pela pele da nuca, o toque hoje era cauteloso.
Além disso, hoje eu estava vendo-o de cima, porque havia se deitado e me segurava com as mãos erguidas acima da cabeça. O cabelo prateado estava ligeiramente despenteado e a gravata estava frouxa. Ver esses detalhes me deixou estranhamente tonta, e evitei contato visual.
“É natural que o leão fique curioso. Afinal, coloquei meus feromônios em você.”
Congelando, olhei para Ahin de novo. Os olhos vermelhos brilhavam.
“Por que há feromônios de pantera negra em você?”
Era o que Rune havia dito.
‘Mas, quando?’
Quando ele colocou esses feromônios? De acordo com a minha hipótese, poderia virar humana de novo a qualquer momento se sentisse feromônios fortes de perto novamente.
Além disso, exceto quando fui mordida por Ahin, nunca senti nenhum cheiro do feromônio dele. Será que é algo mais sutil, em vez de um cheiro forte que encobre outros?
Queria mais detalhes, então acenei com a pata dianteira para que ele falasse mais.
“De vez em quando você solta feromônios, como qualquer homem-besta, afinal. Não queria que percebessem, assim os escondi com os meus.”
Ahin me explicou, me balançando no ar. Sim, o senso dele deve ser bom se conseguia sentir feromônios saindo de mim nesse instante, e….
De repente, cobri a boca com as patas devido ao choque.
‘O que ele acabou de dizer..?’
Ele sabia que eu não era um coelho normal? De repente tive vontade de gritar. Ahin sorriu ao me olhar boquiaberta.
“Eu sei que você é uma mulher-besta que ainda não se humanizou.”
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Keke
Muito obrigado pela tradução 💖💖💖
Ele descobriu