A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 168
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- Capítulo 168 - História Extra 2
‘…Um morto?’
Depois de se despedir de Rune, Jenia, que estava andando com Shu e Bion, parou. Foi porque ela encontrou um menino deitado no chão, no meio dos arbustos.
“Shu, Bion. Esperem aqui.”
Jenia, se aproximando com cuidado, gentilmente levantou os lábios do jovem desmaiado. Não surpreendentemente, caninos, demonstrando que ele era um predador, apareceram.
‘Está respirando. Ele desmaiou?’
A mãe dela tinha lhe avisado que não chegasse perto de predadores bonitos. Ela tinha dito que o quão mais bela fosse uma besta, maior a chance de ela te devorar.
Jenia, preocupada com isso, encarou o garoto, que estava recobrando a consciência. Julgando por seus lindos olhos dourados, ele parecia ser do clã dos leões.
‘Ele também veio com a delegação do território dos Leões?’
Logo, Jenia percebeu vários traços em comum entre Rune e o menino. O cabelo cor-de-rosa era idêntico, apesar de que o de Rune era mais impactante.
O cabelo do garoto era liso, ao contrário do de Rune, que era encaracolado e desordenado. Eventualmente, encarando sem parar o rosto do garoto, ela falou.
“Ei…”
O jovem, que tinha acabado de despertar, olhou ao redor com olhos enevoados. Se agachando para ficar na altura dos olhos dele, Jenia o olhou fixamente.
“O que é você?”
“Quê?”
“Você é parente de Roni?”
O menino cambaleou, conseguindo se sentar no chão, e olhou para Jenia.
“Roni? Quem é… Ah.”
Depois de franzir as sobrancelhas com impaciência por um momento, ele retornou à sua expressão suave, como se a outra fosse uma ilusão.
“Meu tio.”
“Ele é seu tio? Escuta… você é um nobre?”
“Quê? Ah, sim.”
“Então Roni deve ser um nobre também. Bem que achei que era estranho que ele fosse amigo da minha mãe.”
Jenia, tendo resolvido o quebra-cabeças, apertou os punhos. Aquele homem fingiu que era um criado para ela. Enganou a grande Senhorita Jenia sem nenhuma vergonha.
Jenia, rangendo os dentes de indignação, de repente sentiu cheiro de sangue e parou. As costas da mão do menino estavam cheias de pequenos cortes.
“A propósito, por que estava deitado no chão?”
“Isso…”
“É bom que me responda de uma vez, sem me fazer esperar. Saiba que sou a segunda coelha mais forte dessa mansão.”
Os olhos do garoto tremeram um pouco perante a afirmação confiante de Jenia. Então, Shu e Bion, reagindo à palavra “coelha”, se aproximaram.
Alternando o olhar entre as duas panteras negras, que o rodeavam como se fossem delinquentes ameaçadores, ele abaixou os olhos e disse.
“O meu tio… me abandonou. Por isso, desmaiei de tristeza.”
“Roni te abandonou?”
Os olhos dourados estavam sombrios, como se fossem chorar a qualquer momento.
“Não pensei que ele fosse uma pessoa assim. Roni era alguém tão cruel? Ele me enganou uma segunda vez…”
Jenia, que não costumava ter pena de ninguém, não importa o quão miseráveis parecessem, abaixou as sobrancelhas.
‘Bem, ele me parece um pouco coitado.’
Pensando que poderia primeiro cuidar da mão dele com os feromônios de cura e então levá-lo até a mansão, ela se lembrou que Ahin odiava homens-besta do clã dos leões, e parou.
‘Mas, por que o papai odeia tanto os leões, para começar?’
Com os braços cruzados, ela pensou intensamente. O que teria acontecido no passado? Toda vez que, por razões diplomáticas, Vivi tinha que ir ao território dos leões, ele ficava de cama, fingindo estar doente. E ficava murmurando frases sem sentido que soavam um pouco como “coelha casanova”…
‘Hmm…’
Jenia, decidindo que a questão estaria resolvida com a permissão da pessoa mais poderosa do mundo, ou seja, Vivi, estirou a mão para o menino.
“Então, eu vou te recolher.”
“Você vai… me recolher?”
“Você foi abandonado, não?”
O garoto encarou a mão estendida de Jenia com uma expressão atônita. Mesmo que a mãe dele tivesse ordenado que ele fizesse de tudo para causar uma impressão positiva na menina coelha que tinha feromônios curativos, isso já era demais…
A ideia dele era seduzir Jenia Grace, que parecia ser fraca para rostos bonitos, com sua beleza, mas o insulto de que seria recolhido foi tão inesperado que ele nunca poderia prever, nem mesmo em sonhos.
Infelizmente, parece que a coelha que lembrava Ahin Grace tinha perdido todo o senso comum.
Enquanto o garoto seguia hesitando, a paciência de Jenia acabou e ela franziu a testa.
“Segure a minha mão de uma vez. A grande Senhorita Jenia está te oferecendo uma chance única, não percebe? Só porque é um nobre, não quer ser recolhido?”
“Não, não. Eu agradeço por me recolher.”
O menino negou com a cabeça e pegou a mão de Jenia, apressado. Então, se ouviu o som de algo caindo.
Os dois olharam para a direção de onde veio o barulho.
“O… o que é isso?”
Era Ezer, agachado no chão, com lágrimas nos olhos, e Quinn, com as asas tapando o bico. Ezer ergueu a cabeça e apontou para o menino.
“Você não pode recolher um leão, irmã! E eu vi! Ele estava fazendo uma expressão muito maligna!”
“Como?”
Jenia imediatamente olhou para o garoto, mas seu rosto não mostrava nada além de inocência. Era claro que Ezer só podia estar mentindo.
“Ezer, está mentindo outra vez. Vou contar para o papai.”
Irritada, Jenia deu as costas para o irmão e para Quinn, que estavam interrompendo o seu romance. Ao mesmo tempo, os olhos de Ezer encontraram os do menino.
<Está me atrapalhando. Some daqui. Agora.>
Interpretando corretamente a mensagem que o garoto formou com os lábios, Ezer tapou a boca com as mãos. Ele precisava relevar para todos a verdade sobre esse leão enganador, o mais rápido possível.
***
“Ash, não é por aí. Esse é o caminho da plantação de morangos de Quinn. Ele vai ficar zangado se você se aproximar.”
Apesar dos meus avisos, Ash continuou caminhando devagar. Ela deve ter se divertido com o desespero de Quinn quando a viu pisoteando sua plantação de morangos da última vez.
‘Bem, ao menos isso significa que eles estão mais próximos um do outro.’
Enquanto passeava pelo jardim, de repente ergui a cabeça e olhei para o céu. Era a hora do crepúsculo.
O céu estava tingido de vermelho, marcando o início da noite. Ahin não ligava muito, falando que ele apenas sinalizava a hora de ir jantar, mas eu tinha uma estranha afeição pelo pôr-do-sol.
Quando eu era jovem, não podia me mover como queria. Mas sempre olhava pela janela neste horário. Nos dias em que as criadas da família Labian fechavam as cortinas, eu não tinha opção a não ser abaixar a cabeça, pensando que era uma pena.
Assistir ao pôr-do-sol era um hábito que eu mantinha até hoje, mesmo depois de me humanizar definitivamente, ter me formado na Academia, me casado e ter filhos gêmeos.
‘Por quê?’
Pela primeira vez, refleti sobre esse hábito que tinha desde a infância. Uma sensação de que algo não batia surgiu em mim.
Por que eu amava essa hora do dia, sem nenhuma razão? Queria chutar que não deveria existir razão nenhuma, mas olhando bem, sentia que estava esquecendo de algo muito importante.
‘Por quê….?’
Será que era alguma memória da infância que eu tinha esquecido por ser dolorosa e solitária demais? O vento levantou meu cabelo solto.
“Não pode tocar na coelha bebê sem cuidado.”
Meu cabelo voou para a frente do meu rosto, obscurecendo minha visão, e fiquei petrificada.
“Ao contrário de nós, eles são criaturas muito frágeis.”
Olhos vermelhos e uma voz suave frente a uma janela onde se podia ver o céu alaranjado. Obviamente, essa memória distante parecia estar fixada em meu inconsciente. Será que eu tinha ignorado por pensar que era um sonho?
Enquanto estava parada e ansiosa, algo puxou a barra de minha saia.
“Guerreira, Guerreira~”
Surpreendida, olhei para baixo. Eram os filhos de Lile, que tinham completado 5 e 4 anos, respectivamente.
“Por que está olhando para o céu? Tem algum predador voando por aí?”
“Ah… Eu só estava pensando um pouco.”
“Pensando? Sobre o passado?”
Me inclinei e coloquei minhas mãos nos ombros das crianças. Lile veio correndo, e, olhando a cena, deu um peteleco em cada filho.
“Vocês dois, já falei que não podem chamar a Jovem Senhora Vivi dessa maneira! Ela é alguém muito importante!”
“Por quê não? A Senhora Valence falou que a Jovem Senhora Vivi era uma heroína. Que salvou o território das panteras negras do perigo!”
“Bem… Isso é verdade, mas esse título é um pouco…”
“Lile, tudo bem. Eu não me importo.”
Agitei a mão, em resposta.
“Me trate do mesmo jeito que antes, está bem?”
“Mas…”
“Ah, de novo com isso… Não somos amigos?”
“É verdade. Bem, Senhorita Coelha.”
Ele sorriu torto, e inclinou seu corpo enorme para ficar no mesmo nível dos meus olhos. Me lembrei dos dias em que ia ao estábulo e conversávamos, junto com Ash e Jane.
“É estranho pensar que Lile se casou com uma mulher-besta pantera negra. E uma cavaleira da mansão, ainda por cima…”
“Depois do anúncio do seu casamento com o futuro líder do clã, o continente inteiro ficou alvoroçado. Depois disso, o casamento entre predadores e herbívoros ficou muito mais popular.”
“Mas ainda assim, você é um cavalo. Não foi difícil se aproximar dela?”
“No começo, ela teve um mal-entendido e pensou que eu era um homem-besta gorila, então conversávamos sem restrições. E, quando mostrei minha forma verdadeira para ela, ela me agarrou pelo pescoço, gritando que eu era lindo.”
“Ah, entendo…”
Afinal, a forma real de Lile era, surpreendentemente, um cavalo branco, e ela era uma cavaleira. Caminhei um pouco mais, com as crianças de Lile me rodeando, como se tivessem algo a dizer.
“Guerreira, Guerreira…”
“Fomos ao mercado hoje, e achamos algo incrível lá!”
“Oh, é mesmo? O quê?”
Fingi estar interessada enquanto o menino fazia uma concha com a mão, sussurrando com entusiasmo.
“É um segredo, mas… Vimos um predador mais bonito que o Lorde Ahin.”
“Ah, impossível.”
Ri e neguei com a cabeça. Essa Vivi pode garantir que não existe uma besta mais bela que Ahin neste mundo.
“Não, é verdade! O mercador me falou o nome dele, também! Era… Edie… Edi…”
“….Está falando de Lorde Edith?”
“Sim, isso mesmo! Olhe isso!”
O menino puxou algo das roupas. Era uma pequena pintura de Lorde Edith, que ainda era assunto de conversas entre os residentes do território. Recebendo a pintura, olhei com cuidado para o rosto de Lorde Edith, que eu já tinha visto em outros retratos antes.
‘Quê….’
Era apenas um pedaço de papel comum, mas a sensação era de encarar um Lorde Edith vivo e respirando. Enquanto o olhava, boquiaberta, memórias de minha infância começaram a surgir sem aviso prévio.
“Vivi, se continuar se afastando, não vou mais te levar quando eu sair.”
Apesar de serem de uma época distante, as memórias surgiram com clareza. Eu tinha uns quatro anos de idade. Foi o dia em que minha mãe me levou pra fora da mansão Labian pela primeira vez. O local era uma mansão ainda maior.
As esposas que estavam reunidas na sala de estar estavam ocupadas fofocando. A conversa sobre eu estar na forma de coelho bebê não durou muito, e elas logo se esqueceram de minha presença.
Uma hora, duas horas, três horas. Quanto mais durava a conversa, mais minhas patas traseiras doíam.
Após esperar todo esse tempo nos pés de minha mãe, vi que a porta estava entreaberta, por uma das senhoras que tinha entrado.
Era algo interessante para ver, depois de eu já ter cansado de ficar olhando aquela sala. Não estaria bem dar uma saída e olhar ao redor, e depois voltar? Pensando assim, vi que minha mãe não me olhava e deslizei pela fresta da porta.
Quando saí no corredor, com uma sensação de liberdade, ouvi um “bam” tenebroso às minhas costas. A porta tinha se fechado por completo.
“Vivi, se continuar se afastando, não vou mais te levar quando eu sair.”
Não…! Bati na porta com força, mas não tinha nenhum sinal de que ela voltaria a abrir.
‘…O que aconteceu depois….?’
Sacudindo a cabeça, olhei o céu outra vez, para evocar os fragmentos de memórias que tinham surgido em minha mente. Quanto mais eu olhava as luzes do pôr-do-sol, mais difusas ficavam as cenas, como se fosse um livro sendo folheado rápido demais.
“O que é isso? Você está chorando?”
Um homem tão belo que questionei se o que eu estava vendo era real, acompanhado de um menino que parecia ter a minha idade. Olhos vermelhos… Então, ele tinha aberto a porta para que eu pudesse entrar novamente.
“Ela me deixou… E depois que eu abri a porta para uma outra pessoa, pela primeira vez na vida.”
“Está triste?”
“Um pouco.”
Me apoiei do outro lado da porta, sentindo um pouco de pena pelos lamentos do menino. Ele tinha me feito o favor de abrir a porta, fazendo com que minha mãe não brigasse comigo, então pensei em ao menos me despedir apropriadamente.
Juntei minha coragem e coloquei a cabeça para fora, e vi as sombras dos dois se alongando no corredor tingido de vermelho.
“Vamos, a mamãe está nos esperando.”
As costas do menino, sendo puxado pelo homem, estavam ficando mais distantes. Me senti estranhamente triste.
<Já vão embora? Esperem…>
Incapaz de dizer essas palavras, me senti tão impotente que tive vontade de chorar, por alguma razão.
Nesse momento, o rosto do menino, que inesperadamente se voltou para mim, brilhou com a luz do pôr-do-sol. Aquele era o primeiro sorriso com real gentileza que eu recebia de outra pessoa.
“Até a próxima…”
Falando o último fragmento de memória em voz alta, mordi meu lábio com tanta força que sangrou.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Geovane
Hmmmmmmm
Lucien
Owwn q fofo ela se lembrando do passado tbm 😍