A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 167
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- Capítulo 167 - História Extra 2
“De jeito nenhum!”
Sacudi os braços apressadamente e agarrei as bochechas de Ahin. Minha intenção era arrumar sua expressão, mas acho que usei força demais, e, com as bochechas esmagadas em minhas mãos, ele me encarou sem expressão.
“Não sei a quem Jenia puxou, mas ela parece admirar garotos bonitos.”
“Não puxou à mãe, uma tal coelha casanova?”
“Para com isso. Há alguns dias, os nobres da casa Istina visitaram a mansão. Ela ficou de mãos dadas com o filho deles, e, depois que foram embora, do nada, ela me falou que queria noivar com ele. Então eu falei para ela parar de brincadeiras…”
Eu tinha tentado falar com ela de várias maneiras diferentes, mas Jenia não me escutou, parecendo estar totalmente fixada nessa ideia. Assim, não tive opção a não ser falar aquilo.
“Em resumo, Jenia estava decidida. Ela ainda é um bebê nos nossos olhos, mas um compromisso é algo que não pode ser rompido com tanta facilidade, certo?”
“….”
“Ahin?”
Ele permaneceu em silêncio. A maneira como ele inclinou a cabeça, sem me olhar nos olhos, não era muito diferente dos gêmeos.
“Se não vai me responder, vou embora.”
Fingi me mover, olhando para baixo.
“Pensa que vai embora?”
Quando eu estava me desvencilhando de Ahin, uma força desconhecida me puxou para baixo. Percebi que eram os feromônios de dominação.
“Ack!”
Caí em cima do peito dele outra vez. Sua risada baixa fez cócegas em meus ouvidos, e meu ponto de visão mudou. Ahin, que tinha se virado e agora estava em cima de mim, fechou os olhos como se estivesse tomando sol em um refrescante dia de verão.
“Me perdoe dessa vez. Da próxima vez, mesmo que você me ataque, vou deixar passar.”
Isso podia mesmo ser dito por alguém que chegou ao ponto de usar feromônios de dominação em mim? Senti ressentimento, mas sabia que, se o expressasse, uma tempestade ainda pior viria.
Em vez disso, selecionei uma pergunta com cuidado e falei.
“Então, na vez seguinte a essa, não vai me perdoar?”
“Bem…”
Ahin respondeu segurando meu braço e beijando meu pulso. Depois de muito tempo, seus olhos voltaram a fazer contato visual comigo, e eles pareciam queimar perigosamente.
“Como posso não te perdoar?”
Ele murmurou e começou a deixar marcas em meu corpo.
“E-Ei…! Estamos na biblioteca!”
“E isso importa?”
Mordi o lábio, sem palavras. Essa frase me fez sentir culpada pelo lugar de leitura ser usado para esses fins.
“Você já deveria ter imaginado isso quando eu tranquei a porta.”
Até mesmo a maneira como ele apontou para a porta com o queixo era arrogante e sensual.
“…Besta irritante.”
“Relaxe as costas.”
As mãos dele se moveram para a parte de trás de minha cintura. Pouco depois, minha visão começou a piscar, cintilando em preto e depois iluminado, repetidamente. Eventualmente, ficou manchada por lágrimas biológicas.
Quantas vezes Ahin tinha me dito que era a última vez? Em minha consciência, que desvanecia, tentei contar o número de vezes, inutilmente. Quando ele repetiu a promessa pela décima vez, senti que ia desmaiar e adormeci.
***
Em uma tarde de primavera, as flores desabrochavam. Jenia, que estava fazendo uma caminhada ao ar livre, se viu numa situação complicada.
Ela tinha subido numa árvore acompanhando os ágeis Shu e Bion, mas, agora, estava com medo de descer.
Se fosse Ezer, ele poderia ter mudado para sua forma verdadeira e escalar para baixo com facilidade. Pela primeira vez na vida, Jenia ficou com inveja da forma de pantera negra do irmão, e fez um bico. Ela não costumava andar por essa parte da mansão, e não tinha nenhum criado por perto. Ela estava numa situação desesperadora, não tendo opção além de esperar que algum guarda passasse por perto durante sua patrulha.
Shu e Bion pareciam preocupados, e circulavam pela parte de baixo da árvore, miando. Eles eram bons na força bruta, mas não eram muito espertos, o que era ruim para panteras escolta.
“Ei, essa árvore é onde eu costumo cochilar.”
Os olhos de Jenia se arregalaram quando ela ouviu uma voz debaixo da árvore, e colocou a cabeça para fora.
‘Um leão…?’
Um homem bonito com cabelos cor-de-rosa encaracolados e olhos de peixe morto dourados estava olhando para ela. Jenia franziu a testa e olhou para Shu e Bion, que mostraram uma reação curiosa.
Normalmente, ao encontrar-se com um homem-besta desconhecido, eles rosnavam e o ameaçavam. Mas, em vez disso, estavam tocando a barra da calça do homem com as patas dianteiras, como se já o conhecessem. Jenia, relaxando um pouco, perguntou com curiosidade.
“Você conhece Shu e Bion?”
Ele respondeu.
“Nos vimos uma vez, no passado.”
“Então você já veio aqui na mansão? Que estranho, nunca te vi antes. Como é seu nome?”
“Rune.”
“Roni? Que nome esquisito.”
Sem corrigi-la, Rune estirou os braços para Jenia. O galho onde ela estava sentada era fino e parecia prestes a se quebrar.
“Pule. Eu te pego.”
“Como eu posso confiar… Ah!”
O galho quebrou sem aviso prévio, e o pequeno corpo dela despencou. Jenia, esperando uma dor que não veio, abriu os olhos devagar. O rosto do homem, muito mais bonito de perto, estava na sua frente.
“Roni, agora que te vejo de perto, você é tão bonito como o meu pai.”
“Não creio que esse elogio seja particularmente agradável.”
Rune, curvando o canto da boca, colocou Jenia no chão. Batendo a poeira de seus calções pretos, ela tocou seu cabelo. As tranças que Meimi tinha feito com tanto cuidado estavam uma bagunça.
“Meu cabelo ficou pendurado nos galhos e se desarrumou…”
“Eu ajeito para você.”
Rune tirou o paletó e o colocou numa pedra próxima. Sentando em cima dele naturalmente, Jenia olhou para Rune, enquanto ele enrolava as mangas para ajudá-la.
Ao contrário de sua roupa elegante e atmosfera aristocrática, ele parecia estar acostumado a servir.
“Por que você está falando comigo tão informalmente? Não sabe quem eu sou?”
“Eu não sei. Deveria?”
“Não. Como me salvou, vou te dar uma boa recompensa.”
“É uma honra.”
Quanto mais ela o observava, mais ele parecia relaxado demais para ser um nobre. Mesmo sua tática de trançar cabelo era mais delicada que a do servo exclusivo de Ahin, Yuan.
Então, percebendo porque ela estava vendo esse homem pela primeira vez agora, Jenia bateu palmas.
“Entendi. Você deve ser um servo que veio junto com a delegação do clã dos leões que chegou hoje na mansão.”
“Bem… Eu não queria vir, mas fui obrigado. Me disseram que tinha que me mexer e fazer algo, para variar.”
Rune se lembrou das reclamações de sua irmã, que continuaram até ele entrar na carruagem para a mansão Grace. Ele teve que vir para supervisionar o seu sobrinho travesso.
‘Parando para pensar, ele deve ter uma idade próxima a dela.’
Então, Rune olhou para Jenia, que o lembrou de seu sobrinho, que ele estava originalmente procurando quando a encontrou. Jenia, olhando de volta, falou.
“Você parece triste. Por que está sorrindo?”
A mão de Rune, que estava diligentemente trançando as mechas prateadas, parou por um momento. Depois de alguns segundos, ele voltou a trançar.
“Desculpe, deu para perceber?”
“Sim. O que foi? Se eu puder ajudar, o farei como recompensa por ter me ajudado. Mesmo tendo ficado presa em uma árvore, eu sou muito capaz.”
Dessa vez soltando uma risada genuína, Rune deu de ombros. Ela realmente era a filha de um nobre poderoso, pois já falava desse modo com tão pouca idade.
“Ei, Roni. Não ria e me fale. É sua única chance.”
Apesar de ela apressá-lo, Rune hesitou por um tempo, e então falou.
“A coelha que eu estava criando faleceu.”
Jenia, ficando momentaneamente chocada, olhou para Rune, boquiaberta. Claro, ele estava falando de um animal, mas a morte de um coelho era um tópico que não podia ser ignorado por uma mulher-besta lebre.
Rune, vendo os olhos arregalados da menina, acrescentou, apressado.
“Ah, mas não foi um acidente, apenas… Chegou o tempo dela. Ela partiu confortavelmente. Mas às vezes, sinto arrependimento…”
O próprio Rune não sabia porque estava falando de algo pesado com uma criança tão pequena. Talvez fosse porque ninguém na casa Manionz simpatizava com os sentimentos dele.
Eles velaram a coelha, mas não pareciam ter sentido a perda da mesma maneira que Rune. Ele tocou no peito, que parecia ter sido perfurado.
“Por que você sente arrependimento? Você a tratou mal?”
“Não, as pessoas diziam que era ela quem me maltratava. Mas não sei bem. Só me arrependo…”
Depois de olhar bem para Rune, que tinha oferecido essa explicação, Jenia olhou para si mesma. Apesar de ser algo de um futuro distante, ao pensar que algum dia Shu e Bion não estariam mais ali, ela também sentiu vontade de chorar.
“Ei, Roni.”
“Sim?”
“Como estou todos os dias com Shu e Bion, me disseram uma coisa. Às vezes, mesmo que você faça o seu melhor, você acaba tendo arrependimentos depois.”
“…”
“Mesmo pessoas que vivem 100 anos ainda têm arrependimentos, mas os animais passam menos tempo ao nosso lado, não é?”
Uma voz calma, que não parecia pertencer a uma criança, ressoou.
“Por isso, não temos opção a não ser sentir a dor com tudo e sempre mantê-los em nossa memória. Por isso, Roni, não se force a sorrir, pode chorar um montão.”
Quem disse isso a ela tinha sido sua mãe, num dia em que Jenia sonhou que Shu e Bion morriam e acordou chorando.
Vivi tinha dito essas palavras com serenidade, mas então, começou a chorar. Jenia se lembrava bem do rosto da mãe, com o queixo enrugado como uma uva passa.
“Como eu poderei me despedir de Ash quando esse dia chegar….? Eu não consigo…”
Eventualmente, os olhos de Jenia tinham tremido quando seu pai tinha surgido e carregado sua mãe chorosa para longe, com o rosto enterrado em um travesseiro.
“Se sente melhor?”
“Sim, mais do que eu pensei.”
Logo, a bela trança estava completa devido às hábeis mãos de Rune. Descendo da pedra, Jenia deu um tapinha em Rune.
“Bem. Então, até a próxima. O papai vai chorar se eu voltar muito tarde do passeio. Shu, Bion, vamos.”
As panteras negras, que esperavam calmamente, se puseram uma de cada lado da menina, como se fossem suas escoltas. Enquanto caminhava para a mansão principal, Jenia girou o corpo. Antes de ir, ela queria ver mais uma vez o belo rosto do homem com olhos de peixe morto.
“Ela é parecida…”
Murmurando isso, Rune acenou com a mão. Seus movimentos eram lentos, como se já estivesse cochilando.
“Dê lembranças a Vivi por mim.”
“Tudo bem. Cuide-se!”
“…Sim.”
Ele sorriu novamente e depois riu devido ao modo de falar dela, que parecia ser de alguém muito mais velho. Então, parando de acenar, Jenia parou por um momento. Algo estranho fez ela pensar.
‘…Dê lembranças a Vivi?’
Ela não se lembrava de ter mencionado o nome de sua mãe. Ele a conhecia? Como um mero servo ousava chamar sua mãe pelo nome?
Quando Jenia, cheia de dúvidas, girou outra vez, a área na frente da árvore já estava vazia.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Geovane
Gostei
Lucien
Ainda bem q ela não Xonou nele, já ia xingar o autor se isso acontecesse