A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 166
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- Capítulo 166 - História Extra 2
Ahin falou calmamente, conseguindo conter a onda de riso que estava prestes a explodir.
“Muito bem, filho. Ficou muito melhor que o penteado que você fez ontem no papai. Tenho certeza que o tio Quinn adorou.”
Ezer, acreditando completamente, olhou para Quinn, ansioso. Quinn, segurando o impulso de desfazer as ridículas maria-chiquinhas, tremeu. Ele não conseguia desviar do olhar puro de Ezer, com seus olhos vermelhos límpidos como um lago.
Com exceção do cabelo, que era branco como o de Vivi, Ezer parecia uma cópia de Ahin quando era criança. E Ahin, quando era pequeno, parecia um anjinho, desde que ficasse com a boca fechada.
‘Argh…’
Quinn, pensando que, ainda assim, não poderia aceitar esse penteado, sentiu algo perfurando suas costas. Era o olhar de Ahin, deixando claro que, se ele dissesse algo errado, teria seu campo de morangos destruído.
Derrotado pelo ataque dos malignos olhos vermelhos, Quinn abaixou a cabeça. Seu cabelo azul claro, preso acima das orelhas, quicou suavemente.
“Eu gostei.”
“…Mesmo?”
Ezer, cuja expressão desabrochou como uma flor de primavera, colocou as mãos nas bochechas e murmurou que agora ia colocar umas fitas.
Jenia, assistindo à cena e pensando que era patética, olhou para a pilha de envelopes luxuosos sobre a mesa de Evelyn.
“São cartas com propostas de matrimônio?”
Ops. Percebendo que deveria tê-las queimado antes, Evelyn rapidamente colocou as cartas em uma gaveta. Apesar de os gêmeos terem apenas seis anos de idade, cartas propondo matrimônios para ambos não paravam de chegar. Na verdade, todas mencionavam “compromissos”, mas não havia diferença de uma proposta de casamento.
Ahin, encarando Evelyn e decidindo que o mataria mais tarde, sorriu para Jenia. Ele estava muito nervoso que ela tivesse algum interesse em aceitar um dos noivados.
“Não é nada demais, Jenny.”
Ele chamou a atenção de Jenia ao usar seu apelido em uma voz calculadamente doce.
“Se não é nada demais, por que estão escondendo assim?”
Jenia, se movendo rapidamente, foi até a gaveta de Evelyn e a abriu. Sem ousar impedi-la, o secretário sacudiu a cabeça.
“Isso é meu diário secreto.”
“Deixa eu ver… Não é um diário. É uma carta propondo um compromisso.”
Depois de ler a caligrafia caprichada, Jenia perdeu o interesse e devolveu a carta à gaveta.
“Não quero fazer isso, firmar um noivado ou algo assim.”
“Sim, papai também pensa que não é uma boa ideia.”
“Sim. É como me falaram, preciso conhecer muitos homens antes de me comprometer com um.”
“…Como assim, conhecer muitos homens?”
O rosto de Ahin, que tinha um sorriso radiante, desabou em um instante. A energia alegre que fluia no gabinete se esvaiu. Ahin, Quinn e Evelyn, com expressões sombrias, falaram quase em uníssono.
“Que tipo de filha da-”
“Quem falou esse monte de m-”
“Vamos colocá-lo no calabouço e arrancar-“
O ajudante, que rapidamente cobriu as orelhas de Jenia com as mãos, arregalou os olhos. Felizmente, um outro ajudante já tinha bloqueado as orelhas de Ezer ao mesmo tempo. No entanto, tendo ouvido ao menos as palavras de Jenia, Ezer se desvencilhou e perguntou.
“Irmã, do que está falando? Não vai viver comigo para o resto da vida?”
“Isso mesmo, Jenny. Você vai viver com o papai e com Ezer para o resto da vida.”
“Papai, Ezer. Uma mulher-besta lebre tem um coração muito volúvel, que muda a toda hora. Acho que é melhor que cada um vá para o seu lado.”
Quem diabos tinha ensinado isso para ela?! Ahin, Quinn e Evelyn estavam aterrorizados com as palavras de Jenia, enquanto ela continuava a falar.
Se Lillian estivesse ali, não havia dúvidas de que ele já estaria gritando e correndo atrás do culpado. Ahin, engolindo os palavrões que chegaram à sua garganta, falou, com cuidado.
“Que tipo de creti-… caham, que tipo de pessoa falou essas coisas para você, filha?”
Uma voz suave saiu com um sorriso, como que para compensar o linguajar. Os ajudantes espiaram Ahin, cujos olhos não estavam sorrindo. Era fácil prever o que aconteceria com essa tal pessoa.
Jenia, ainda procurando coisas interessantes na mesa de Evelyn, respondeu casualmente.
“Hmmm. Se eu falar quem foi, papai vai castigar essa pessoa?”
“Não, nunca. Você já viu o papai castigando alguém?”
Ahin, que tinha mantido o papel de pai doce, benevolente e gentil na frente dos gêmeos até então, exclamou com confiança.
“Bem, não é como se o papai pudesse castigar essa pessoa, mesmo que quisesse.”
Jenia, encontrando uma garrafa intitulada “spray afasta-predador” na gaveta de Evelyn, o usou imediatamente. Evelyn, recebendo uma dose na cara, caiu no chão, grunhindo.
“Foi a mamãe.”
Ahin, tendo obtido a resposta, sentiu como se o chão se rompesse por debaixo de seus pés. Só tinha uma pessoa no mundo com quem Jenia usava tal título, e quem ela respeitava e obedecia.
A identidade da tal pessoa não era outra senão Vivi Grace.
***
Senti um calafrio estranho. Estava assinando documentos e sacudi a cabeça. Meu instinto herbívoro disparou do nada, como se fosse uma lâmina me perfurando.
Olhei para cima e meus olhos encontraram os de Ash, que se surpreendeu. Era porque ela estava roubando a cesta de frutas na mesa lateral.
Ash, correndo com tudo, desapareceu pela porta do gabinete em um segundo. Enquanto eu encarava a porta, que tinha sido batida com força, me estremeci pelo calafrio estranho.
“…Alan, tranque as janelas. Agora.”
“É por causa do pólen? Se for assim, por que não muda o seu gabinete para o segundo andar? Por que insiste em ficar no térreo?”
Alan, que havia se tornado uma pessoa próxima ao longo dos anos, continuou reclamando. Ao mesmo tempo, no entanto, suas mãos se moviam nas trancas de cada janela.
Estranhamente, minha ansiedade ainda não desapareceu, e esfreguei os braços, que estavam com calafrios. Os nervos de meu corpo gritavam para que eu fugisse.
Fazia anos que não sentia isso. Era como se tivesse voltado à época na qual cheguei à mansão, quando todos meus sentidos estavam sempre ligados no máximo.
‘Há perigo…’
Ainda não entendia a razão, mas decidi sair para investigar, e então saltei e agarrei a maçaneta.
“Alan, sabe porque eu fiz questão que o meu gabinete fosse no andar térreo?”
“Como? Ah, não…”
Depois de trancar todas as janelas, Alan, que até mesmo tinha fechado as cortinas, me olhou, confuso.
“Se algum problema acontecer, é mais fácil fugir estando no térreo.”
Depois de responder com seriedade, abri a porta com força. Mas não pude dar um único passo, porque já tinha uma pessoa me esperando ali mesmo.
“Vivi, precisamos conversar.”
Os olhos curvados de Ahin pareciam especialmente inofensivos hoje. Ainda assim, sentindo um medo que fez todo meu corpo se estremecer, comecei a fechar a porta, devagar. Aquele sorriso inofensivo era o sorriso mais ameaçador do mundo.
“Por que está fechando a porta outra vez? Por que está a trancando?”
A voz de Alan, confusa, ressoou por trás de minhas costas. Limpei o suor frio que tinha fluido em meu rosto com as costas da mão.
“É que tinha algo… algo…”
“Não era algo, era o Lorde Ahin… Espere, por que está abrindo a janela que acabei de trancar, Jovem Senhora Vivi?”
Puxei a escada secreta que tinha escondido e a passei pela janela, sem hesitar. Em menos de um minuto, já estava no canteiro de flores.
A única maneira de sobreviver a uma besta com os caninos à mostra era escapar.
***
Comecei a brincar de pega-pega em plena luz do dia e corri até meu coração explodir. Ahin, me seguindo sem dificuldade, perguntou numa voz que nem mesmo estava ofegante.
“Vivi, por que está correndo?”
“Porque você está me perseguindo!!”
“Estou indo atrás porque você começou a correr. Por que não para?”
Percebendo que ele tinha me alcançado e estava correndo lado a lado comigo, freei rapidamente. Se tentasse fugir mais, iria exaurir minhas últimas forças.
Agarrei o pulso de Ahin e o puxei para a biblioteca do anexo. Era afastada da mansão principal, e ali ficavam guardados os livros velhos. Felizmente, não havia ninguém por lá.
Respirei fundo e olhei para Ahin, estreitando os olhos.
“S-Sobre o que você quer conversar…?”
“Você normalmente não sairia correndo só porque eu falei isso. Pensa que alguém aqui vai te ameaçar?”
Eu sabia que não tinha maneira de que me ameaçassem. Mas já conhecia Ahin há muito tempo e sabia que, quando fazia aquela expressão, era porque eu tinha feito algo de errado.
Então, para evitar um interrogatório, meus pés fugiram por instinto.
“Bem, então, o que está acontecendo?”
“…”
“Eu fiz algo de errado?”
Me preparando, apertei os punhos com força. Essa pequena coragem virou cinzas e desapareceu no instante em que Ahin trancou a porta da biblioteca.
“Coelha casanova.”
Os olhos vermelhos de Ahin brilhavam com uma luz assustadora. Ele se aproximou e eu recuei, mas a distância estava diminuindo cada vez mais.
A palavra “casanova”, que eu não ouvia há anos, fez minha mente divagar. Pensei e pensei em que razão poderia haver para eu ser interrogada daquele modo.
Será que eu tinha falado meus pensamentos em voz alta sem perceber? Anteontem, eu tinha participado de uma reunião de nobres e tomado vinho…
Depois de pensar em mil hipóteses, comecei a balbuciar.
“Eu só pensei por um momento que o cabelo prateado do cavaleiro que estava escoltando a Senhora Liat anteontem era bonito, porque me lembrou o de Ahin. Fora disso, não fiz mais nada!”
“…Então você pensou que outro homem era bonito?”
“…Não é por isso que está me interrogando?”
“Não. Mas agora mais um pecado foi adicionado.”
Eu tinha pulado na fogueira por conta própria. Percebendo o erro que tinha cometido, empalideci. Se não era isso, não conseguia entender a razão de Ahin estar fazendo isso.
“Ah…!”
Enquanto continuava a retroceder, bati em algum objeto e perdi o equilíbrio.
“Vivi!”
A expressão de Ahin mudou e a cena pareceu passar em câmera lenta. Ele agarrou minha cintura e girou. Minhas costas atingiram um sofá de veludo, em vez do chão.
Foi muito rápido. Então, dentro dos braços de Ahin, abri meus olhos e me levantei rapidamente.
“Ahin, você está bem? Não se feriu?”
O toquei por todas as partes para ver se não haviam arranhões, mas ele estava intacto. No entanto, permaneceu deitado no sofá, cobrindo os olhos com as mãos.
“Está vendo? A única coisa que Vivi quer é o meu corpo.”
“Q-quê?! Do que está falando?”
Essa besta tinha levado uma pancada na cabeça ou algo assim? Me sentindo uma coelha pervertida, tirei as mãos do corpo de Ahin rapidamente. Depois de um tempo, estreitei os olhos.
“…Está fingindo que eu fiz algo de errado só pra rir da minha cara, não é?”
Imaginei que ele iria rir e admitir, mas Ahin não o fez. Em vez disso, ele me puxou e me abraçou outra vez. Grunhi quando meu nariz bateu com força em seu peito duro.
“Ugh…”
“Por que você falou aquilo?”
A voz de Ahin, que sussurrava, não continha nenhum humor. No fim, desisti de sair dos braços dele e em vez disso girei a cabeça, para conseguir respirar.
“Do que está falando?”
“Quanto mais homens você conhecer, melhor. Por que falou isso?”
Enquanto inclinava a cabeça, as memórias surgiram em minha mente. Logo em seguida, Ahin continuou.
“Eu não sou o suficiente?”
A voz dele não estava tremendo, mas, por alguma razão, senti que ele estava prestes a chorar.
Tradução: Nopa.
Revisão: Holic.
Gabriela
Scan volta aquiiii
Geovane
Já tenho minha mais nova personagem favorita