A Relação simbiótica entre uma lebre e uma pantera negra - Capítulo 162

“Lorde Ahin, em que está pensando? Tem alguma preocupação?”

Ahin despertou de seus pensamentos com a voz que o chamava, e olhou para a pessoa em questão.

“Por que veio aqui?”

“Perdão, mas não foi o Lorde Ahin quem disse que eu poderia aparecer na mansão quando quisesse?”

“Isso foi quando eu era jovem.”

Era o pai de Evelyn, Cedric Evelyn. Ahin o encarou, pensando que, exceto pela barba e rugas, era idêntico ao filho.

“Deixando isso de lado, a quantidade de presentes que você anda enviando para Vivi está aumentando demais esses dias. É quase um por semana.”

“Ela não é a futura senhora do clã das panteras negras? Peço perdão por ser capaz apenas de oferecer presentes insignificantes.”

Cedric Evelyn olhou para Ahin, fingindo enxugar lágrimas. Da última vez que tinha visto Ahin, com 20 anos de idade, ele estava na fronteira entre um garoto e um homem, e parecia ter um fardo que não conseguia carregar.

Mas agora, ele tinha se tornado um homem perfeito e um líder exemplar, não mostrando nenhum desconforto por trás de seus olhos. Seu sorriso deslumbrante até mesmo evocava uma ilusão de felicidade.

Apesar de Ahin ter se tornado mais sólido, as conversas elogiosas de Evelyn sobre a coelha tinham ficado gravadas na cabeça de Cedric Evelyn.

“Então, após o casamento você passará a ser o secretário da Senhorita Vivi”]

“É uma pena, mas, apesar de minha alma estar com a Senhorita Coelha, meu corpo permanecerá ao lado do Lorde Ahin, como sempre.”

No fim das contas, seu filho tinha querido dizer que pretendia ganhar o favor de Vivi de agora em diante. Ele tinha aprendido bem com o pai, pois, uma vez que tinha detectado alguém mais poderoso, tinha corrido para puxar o saco dessa pessoa.

“Cedric Evelyn. Você educou o seu filho à sua imagem.”

“Ah, fico envergonhado com tais elogios, Lorde Ahin…”

Nesse momento, Evelyn, que estava atrás de Ahin e ouvindo toda a conversa, interviu.

“Não era um elogio, cale-se.”

“Sim.”

Ahin olhou ao redor da sala de visitas espaçosa onde estavam, ignorando Evelyn, que murmurava lamentos.

Na sala, também se encontravam Valence e Lillian, que estavam presentes para a primeira reunião familiar em muito tempo, e Quinn, que tinha sido forçado a comparecer em forma humana.

Lillian, conversando com Valence, falou irritado quando seus olhos encontraram os de Ahin. 

“Por que a minha nora não foi convidada para a reunião de família?!”

“É verdade, Lorde Ahin. Nossa Jovem Senhora Coelha deve estar com o coração partido.”

Evelyn concordou e estava prestes a sair para chamar Vivi quando Ahin gesticulou para acalmá-los e trouxe o tópico principal.

“Eu os chamei para essa reunião justamente para discutir sobre ela.”

Assim que Vivi se tornou o assunto, todos os olhos se grudaram em Ahin.

“Ela anda estranha esses dias.”

No momento em que essa frase foi proferida, os olhares de todos na sala de visitas mudaram significativamente. Evelyn sussurrou.

“Acho que não faz sentido que o Lorde Ahin descreva outra pessoa como estranha.”

Ele foi atingido pelo feromônio de dominação que Ahin liberou silenciosamente e caiu no chão, desmaiado. Ahin não tinha misericórdia, ainda mais quando se tratava de Vivi. Quinn suspirou, feliz por ter ficado calado.

“Vivi anda escondendo algo, ultimamente.”

Ahin cruzou as pernas e colocou as mãos sobre os joelhos.

“Vocês não notaram algo estranho esses dias?”

Normalmente, eles pensariam que Ahin estava imaginando coisas, mas Valence e Quinn, se lembrando de algo, colocaram as mãos no queixo.

Valence se lembrou de um incidente bizarro há poucos dias, quando Vivi tinha dormido em seu quarto. Normalmente, ela tomava a forma de lebre, rolava por toda a cama, e até mesmo chutava a cabeça da líder do clã, sem parar.

No entanto, naquela noite, ela tinha dormido calmamente, com as mãos sobre a barriga, como se tivesse sido enfeitiçada. A noite inteira passou e não houve sequer uma ameaça de soco ou chute.

Vivi parecia envergonhada toda vez que seus hábitos de sono eram mencionados, por isso, Valence se lembrava bem daquela noite. Ela falou:

“…Os hábitos de sono dela melhoraram radicalmente.”

Lillian alternou o olhar entre Valence e Ahin, confuso.

“A minha nora tem algum problema com seus hábitos de sono?”

“É um problema crônico.”

“É um problema crônico.”

Ahin e Valence responderam em perfeita sincronia, fazendo Ahin franzir a testa. Ele não tinha percebido isso, apesar de dormir com Vivi em seus braços todas as noites. Mas, parando para pensar, fazia um tempo que ele não tinha sentido a emoção de levar um chute dela.

‘Mas é possível mudar os hábitos de sono assim, do nada?’

Ela tinha períodos nos quais se acalmava mais, então podia ser que a observação de Valence fosse uma mera coincidência. Ahin bateu com o dedo na mesa e olhou para Quinn. Ele abriu a boca e tornou a fechá-la.

“Quinn, se percebeu algo, fale.”

Quinn, espantado, hesitou. Ele se lembrou do fato curioso que tinha presenciado. Como de costume, Evelyn tinha bradado que a Jovem Senhora Coelha era uma excelente governante, ao que Quinn, como sempre, tinha respondido que era apenas uma coelha maldita.

No entanto, o resultado dessa situação cotidiana foi incomum, pois Vivi, em lugar de pisar com força no chão, irritada com os dois, começou a chorar cachoeiras. Sentindo-se culpados, Quinn e Evelyn se petrificaram como estátuas por um longo tempo.

Se ele revelasse esse segredo aqui, os Grace, que eram todos monstros, iriam arrancar todas as suas penas como punição.

E seu cúmplice, Evelyn, estava desmaiado e incapaz de prestar qualquer apoio. Depois de uns segundos, Quinn falou, com cautela.

“Ela anda com as emoções à flor da pele ultimamente.”

“Emoções à flor da pele? Como assim?”

Quinn se recusou a dar mais detalhes e voltou a forma de águia. Era suspeito, mas, essa informação, combinada com os outros depoimentos, fez com que Ahin coçasse o queixo. Uma sensação de desconforto o dominava.

A primeira coisa estranha que ele tinha notado em Vivi eram seus hábitos alimentares. Ela até mesmo tinha acordado no meio da noite outro dia, pedindo um filé.

“Ahin… Quero muito comer um filé. Não, necessito de um.”

“A essa hora?”

Vivi estava babando e parecia prestes a sair correndo até a cozinha. Ele conseguiu convencê-la que aquilo seria difícil de digerir e chegou a um meio-termo oferecendo almôndegas, mas continuou achando estranho o fato de que ela parecia estar com um apetite para carne muito maior que o habitual.

Para começar, ela era uma herbívora, e desde que tinha se humanizado em definitivo, Vivi era vegetariana, há muitos anos. O chef da mansão disse que a quantidade de carne que ela estava ingerindo não era nada para se preocupar, mas Ahin ainda assim não conseguia parar de pensar nisso.

“Não sei a razão, também.”

A resposta de Vivi, dando de ombros, indicava que ela estava bem, mas Ahin não acreditou. Os hábitos alimentares mudaram do nada. Os hábitos de sono, que ela não tinha conseguido corrigir por anos, melhoraram, e Vivi, que tinha uma personalidade tranquila, de repente estava com os nervos à flor da pele.

Podiam ser mudanças pequenas e difíceis de perceber, mas Ahin se preocupava porque estavam acontecendo ao mesmo tempo.

“Mãe, quando é o próximo check-up de Vivi?”

“Na próxima lua cheia.”

“Falta muito tempo. Vou falar com a médica dela hoje mesmo…”

De repente, a porta da sala de visitas se abriu, interrompendo a conversa. Alan, que parecia apressado, percebeu seu erro ao entrar sem bater e abaixou a cabeça.

“E-Eu sinto muito!!”

Por que esse cara tinha que ser o secretário pessoal de Vivi? Ahin esperou ansioso para ver o que ele tinha a dizer.

Alan, após recuperar o fôlego, entregou notícias que pareceram uma bomba.

“A Jovem Senhora Vivi está desmaiada.”

“Como?”

Ahin saltou da cadeira, com os olhos escurecendo. Ele sabia. Esse leve desconforto que ele sentia, como uma goteira irritante, tinha resultado em uma ameaça do tamanho de um tsunami.

***

Ronna, a médica que estava tratando Vivi na enfermaria da mansão, olhou para trás. Talvez as notícias já tivessem sido entregues, porque ela podia ouvir passos se aproximando pelo lado de fora.

Bam!

Ahin abriu a porta com toda a força, fazendo com que a médica se assustasse e corresse para as cortinas, para se esconder. Ash, Barra, Shu e Bion estavam na frente da cama, onde Vivi estava deitada.

“Vivi!!”

Ele se aproximou rapidamente, e seu coração afundou. Foi porque Vivi, que estava com os olhos fechados e segurando um buquê de flores, lembrava um corpo deitado em um caixão.

O rosto dela estava pálido, e seu cabelo branco amassado, o que fazia parecer que ela iria desaparecer, aumentando a ansiedade de Ahin.

Bam!

“Minha nora desmaiou?” O que significa isso?”

Lillian e Valence, passando pela porta com tudo, fizeram com que Ahin despertasse do transe. Ronna, ao ver que todas as figuras mais importantes da mansão estavam juntas, fez uma reverência apressada.

“Eu cumprimento à líder do clã e aos lordes!!”

“Olá. Explique.”

O rosto de Ronna, perante o clima gélido, ficou pálido. Ela tentou falar, mas seus lábios tremiam. Meimi, que estava parada no canto, vendo isso, deu um passo adiante.

“Estávamos na estufa, quando a Jovem Senhora de repente desmaiou, por isso eu a trouxe aqui. E então…”

Ela encarou Ronna, estreitando os olhos, para apressá-la. A parte seguinte deveria ser explicada pela médica. Ronna, se esforçando, gaguejou.

“A-ah, era só uma anemia leve, então não precisam se preocupar. Como sabem, esse é um sintoma comum no início da gravidez…”

Assim que ela terminou de falar, um silêncio frio seguiu, como se tivessem derramado um balde de água gelada sobre todos. Todos os presentes ficaram petrificados, com exceção de Meimi, que já tinha ouvido isso de Ronna mais cedo. Quem quebrou o silêncio foi a voz de Lillian, que rugiu.

“Repita o que você falou.”

“É só uma anemia leve, não precisam se preocupar.”

“Não, a parte depois disso.”

“É um sintoma comum no início da gravidez…”

Ronna, percebendo tarde demais, tapou a boca com as mãos.

‘Como pude fazer isso!’

A reação deles indicava que Vivi ainda não tinha dito que estava grávida para ninguém. As mãos de Ronna começaram a tremer. Ela não sabia se iria conseguir lidar com os problemas de ser a médica exclusiva de Vivi.

Tradução: Nopa.

Revisão: Holic.